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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

17.4.15

“Vocês não estão entendendo nada, nada, nada”

 17/abr/2015, 8h18min

"Vocês não estão entendendo nada, nada, nada"

Por Adeli Sell

Em 1968, em plena era ditatorial, a Globo fez seu terceiro FIL – Festival Internacional da Canção – onde venceu a canção "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim, cantada por Cinara e Cybele. "Pra não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré, foi a segunda colocada, com uma plateia majoritariamente favorável a esta. Virou um verdadeiro hino contra a ditadura, cantado em todas as passeatas realizadas país afora. Afinal, como ele mesmo disse naquele dia, "a vida não se resume a festivais".

Caetano Veloso apresentara a canção "É proibido proibir". Vaiado, saiu-se com esta frase: "Vocês não estão entendendo nada, nada, nada". E ele tinha razão. As pessoas ali não estavam entendendo nada, porque muitos apanharam logo depois pelo simples fato de fazer passeata e cantar Vandré. Era proibido.

A dimensão do maio de 68 de Paris e as comissões de fábrica no ABC deram o sinal para os militares que, para manter o poder, tinham que engrossar o caldo. Caetano tinha sacado que aquela plateia, que mesmo aplaudindo Vandré, não tinha entendido nada, tanto que na década seguinte os festivais foram para o beleléu. E o pau comeu… Estava-se longe do "Arrastão", cantado pela Elis Regina no primeiro Festival da Excelsior de 1965, na letra de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Longe de "Travessia" do Milton Nascimento, de 1967.

Vocês vão se perguntar, "por que isto agora"? Porque estamos em tempos bicudos, difíceis mais uma vez. E a História quando se repete é como farsa.

Em 1943, George Orwell escreveu "A revolução dos bichos", uma fábula que era uma crítica ácida ao stalinismo, aos processos de Moscou, aos horrores dos expurgos, na luta pelo poder. O mundo estava em guerra, e os EUA e a Inglaterra, mesmo sendo capitalistas, precisavam esconder os crimes stalinistas, dos "comunistas", porque dependiam do poder de Stalin para derrotar a Alemanha de Hitler. Por isso, as dificuldades de Orwell em publicar sua novela.

Os editores, os críticos, as pessoas não estavam entendendo nada, nada, nada na época também, tanto que aderiram às atrocidades do nazismo e baixaram a guarda para o stalinismo. E, agora, mais uma vez, muitos não estão entendendo nada, nada, nada. Pois, estamos num Estado Democrático de Direito, e pessoas vão às ruas pedir a volta da ditadura. Gente que não viveu os cárceres, as mortes, as torturas, a falta de liberdade, a censura.

Vocês que esbravejam contra tudo e todos precisam olhar para si, como dizia Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". Fazem barbaridades na sua escala privada, social e de trabalho. Tem gente que rouba o papel higiênico da repartição e vai para a rua achincalhar o vizinho que não pensa como ele. Focam num inimigo único, trabalhado por uma mídia que só muda o dono, seja O Cruzeiro do passado, seja a Veja de hoje.

É bom ter a lição de casa em dia, porque no Brasil, como em qualquer democracia, há o "princípio da personalidade", então se alguém cometeu um crime, o crime é dele, não do partido a que ele pertence, ou se esqueceram que em cada família expandida sempre existe um psicopata social, logo se o seu irmão é um falcatrua, não quer dizer que você também seja…Nem pode e nem vai pagar a conta da safadeza dele.

Vamos aprender com o passado, com a História. É chegada a hora de tirar lições. No Brasil, os partidos estão perdendo sua formação ética; seus parâmetros ideológicos estão se esfumaçando, mesmo os que insistem em dizer que não, pois até o PSOL tem um deputado de direita em seus quadros. Não deve ser o único.

Agora, um deputado aqui faz o que fez, e aí ninguém votou nele. Não, vocês não  votaram nele. Eu não votei nele. Quem votou, então? Vocês condenam a corrupção, o que é justo, correto, porque eu também nunca pratiquei mal feito, e fui parlamentar e executivo público. Pertenço a um partido por 35 anos, o que não me contamina quando alguém comete crimes.

Como disse Tarso Genro dias atrás: "A incriminação coletiva do Partido dos Trabalhadores, agora já em andamento em relação também a outros partidos, é uma velha técnica fascista". Por isso, peço desculpas pelo "vocês", vou tirar "pessoas" deste coletivo que foram às ruas por causa justa, mesmo que não estejam entendendo tudo o que está acontecendo.

E o debate continua. Afinal, ainda não estamos proibidos de escrever e nem de falar. Também espero que perguntar e refletir não sejam ações nunca impedidas. Afinal, ainda é proibido proibir.

Adeli Sell é consultor e escritor.

http://www.sul21.com.br/jornal/voces-nao-estao-entendendo-nada-nada-nada/



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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz