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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

30.5.07

"En la alegría serás invencible.
Nunca dejes de hacer cantar tu corazón."
Albert Einstein
"Sólo se ve bien con el corazón:
lo esencial es invisible a los ojos."
Saint Exúpery
"Es bueno amar tanto como sea posible,
por que ahí radica la verdadera fuerza,
y que el que mucho ama realiza
grandes cosas y se siente en paz."
Vincent Van Gogh

28.5.07

IGUALDADE RACIAL

Direitos Humanos 25/05/2007 Copyleft




Ministra defende Estatuto e cota, e anuncia pacote para quilombola

Parlamentares realizam audiência com Matilde Ribeiro e tentam agilizar tramitação do Estatuto da Igualdade Racial e do PL que institui cotas em universidades. Governo vai apresentar pacote com projetos para comunidades quilombolas.

Jonas Valente - Carta Maior

BRASÍLIA – Em 2003, o governo Lula inovou ao criar a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Em 2007, início do segundo mandato presidencial de Lula, a renovação do ‘endereço’ da questão racial na Esplanada dos Ministérios reforçou o sinal de prestígio, mas isso não foi suficiente para abafar as críticas de que demandas históricas do movimento negro ainda caminham a passos lentos. Talvez a mais emblemática delas seja o Estatuto da Igualdade Racial, cujo Projeto de Lei (6264) foi apresentado em 1995, mas até hoje não foi votado pelo Congresso Nacional.
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Em audiência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias na última quarta-feira (23), a ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) defendeu a aprovação do estatuto e do PL 73/99, que prevê a reserva de vagas para afro-descendentes nas universidades brasileiras. A ministra recebeu o apoio do secretário de Promoção da Igualdade Racial da Bahia, Luiz Alberto, ex-deputado historicamente envolvido com o tema. “Que o estatuto e o projeto das cotas nas universidades seja aprovado. É necessário que a Casa cumpra este papel”, disse ele.
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Se passar pelo Senado, o Estatuto da Igualdade Racial aguarda a constituição de uma comissão especial para a apreciação antes de votação em definitivo na Câmara. Já o PL 73/99 foi aprovado em comissões e já teria sido enviado ao Congresso, mas um recurso do ex-deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) pediu sua apreciação em plenário.
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Segundo a deputada Janete Pietá (PT-SP), já foi solicitada reunião com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, para discutir os dois projetos. Matilde Ribeiro saudou a audiência e destacou sua importância para retomar uma agenda legislativa em prol da igualdade racial. Na última semana ela esteve no Senado para reunião semelhante na Comissão de Direitos Humanos. “Sabemos que os parlamentares têm que adquirir consciência da importância desta lei, para que as bancadas possam colocar como prioridade”.
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Na avaliação dos parlamentares presentes à audiência, todos simpáticos à causa, é preciso agilizar a aprovação destas medidas, que consolidariam políticas públicas importantes, impedindo que em uma próxima legislatura ou mandato presidencial os programas criados possam ser desativados. “Tudo que é dado é tirado, tudo que é conquistado é mantido”, afirmou Carlos Santana (PT-RJ), que assumiu a presidência da frente parlamentar voltada para a causa da igualdade racial.
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A deputada Iriny Lopes (PT-ES) caracterizou o atual período como “perigoso”, pelo aprofundamento da disputa de alguns projetos na sociedade, entre as quais ela destacou os relativos às políticas afirmativas para negros. Para Luiz Alberto, já desde o ano passado vem se intensificando uma reação contra medidas a favor da população negra. Ele citou a insurgência de vários intelectuais contra o projeto de cotas e a recente reportagem da Rede Globo com denúncias sobre irregularidades no reconhecimento de áreas quilombolas na Bahia,
duramente contestada por entidades quilombolas.
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Pacote para quilombolas
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A ministra Matilde Ribeiro aproveitou a polêmica sobre o tema para divulgar que o governo está finalizando um pacote de ações junto às comunidades quilombolas.
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Segundo informações da Seppir, há 3,4 mil comunidades desse tipo no País. Nos últimos quatro anos, 1000 foram certificadas, 400 entraram em processo de regularização e 31 receberam titulação de terras. O conjunto de medidas será amplo e envolverá 25 ministérios.
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A ministra também reafirmou a defesa da política desenvolvida pelo governo federal para as comunidades quilombolas. “Todo processo é baseado por Leis, normas e regras que dão base às ações públicas. Não há o que contestar do ponto de vista da Lei e dos direitos dos quilombolas que estão na nossa Constituição”, afirmou.
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Questionada sobre o montante de recursos para sua pasta desenvolver estas ações, ela afirmou que o orçamento de R$ 19 milhões é insuficiente para atender às ações necessárias em sua área. “Sabemos que demandas históricas são imensamente maiores que o orçamento. Quanto mais recursos melhor”, disse. O problema tem sido crítica recorrente do movimento negro, para quem a simples existência da Seppir é muito pouco para começar a pagar a dívida histórica que o Estado brasileiro tem para com a população negra.

Debilita-se a ditadura dos monopólios midiáticos

24/05/2007


Frente às debilidades políticas e ideológicas da direita, os grandes monopólios da mídia mercantil assumem a função de diirigentes da direita latino-americana. Não é novidade para nós. Eles foram peças essenciais para preparar o clima do golpe militar de 1964 no Brasil, em que, com exceção do jornal Última Hora – fechado pela ditadura militar – toda a imprensa privada brasileira pregou a derrubada do governo democraticamente eleito pelo povo brasileiro, convocando as FFAA a instaurar a ditadura militar que vitimizou o povo brasileiro durante mais de duas décadas.
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No período atual, os grandes grupos oligárquicos que dominam a imprensa do continente voltam a desempenhar esse papel. As várias eleições latino-americanas têm em comum uma totalitária frente opositora contra os candidatos a que se opõem essas oligarquias: Lula, Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Lopez Obrador enfrentaram esse mesmo bloco opositor. Provavelmente Kirchner enfrentará o mesmo problema.
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Um bloco que constitui uma frente continental, solidária na defesa dos seus interesses corporativos, que se chocam frontalmente com a construção das democracias no continente. Porque nunca teremos democracias sem que exista um processo democrático de construção da opinião pública, que seja transparente, pluralista, público.
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Um dos instrumentos da ditadura midiática privada é a apropriação monopolista do espectro radioelétrico, um bem limitado, de caráter público. Atualmente, 80% dos canais de televisão aberta e das emissoras de rádio na Venezuela pertencem ao setor privado, cujas opções políticas são amplamente minoritárias no país, conforme atestam as eleições, certificadas na sua lisura por todos os organismos internacionais presentes nas eleições presidenciais que relegeram a Hugo Chávez para a presidência do país.
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Das 709 rádios, 706 pertencem a empresas privadas e três a entidades estatais. Dos 81 canais de televisão, 2 são estatais e 79 privados. Dos 118 jornais, dos quais 12 são de caráter nacional e 106 regionais, todos são privados.Termina, no próximo domingo, o contrato de concessão de um dos principais representantes da oligarquia privada da mídia venezuelana – Radio Caracas Televisão - que participou ativamente no golpe militar – frustrado pela decidida ação popular – de abril de 2002, apoiado pelo governo dos EUA e por vários órgaos da mídia brasileira. Em reunião com o efêmero chefe do governo golpista, Carmona, os magnatas dos monopólios privados – entre eles Marcel Granier, proprietário de RCTV – disseram que podiam “garantir o apoio da midia”.
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Um apoio que foi muito mais do que isso: a mídia privada foi o grande incitador do golpe, deu toda cobertura à derrubada do governo legitimamente eleito pelo povo venezuelano, deu ampla cobertura ao congraçamento dos golpistas no palácio presidencial e suspendeu qualquer cobertura, substituída por desenhos animados dos EUA, quando o povo entrou em cena e restituiu o poder ao presiente que havia democraticamente eleito.
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Seguindo a mesma orientação de só informar o que lhes interessa e da maneira que lhes interessa, a imprensa brasileira anunciou uma suposta grande marcha da oposição para sábado passado, dia 19. A manifestação foi um fracasso. Os próprios orgáos de imprensa da oposição venezuelana, que a convocaram, que anteriormente falavam de centenas de milhares e até um milhão em manifestaçoes anteriores, desta vez teve que se limitar a falar de dezenas de milhares. Como foi um fracasso, a mídia brasileira não mencionou a manifestação, mesmo vários deles tendo correspondentes em Caracas.
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O governo venezuelano não agiu imediatamente ao golpe fracassado de 2002. Esperou cinco anos, até que termine, no dia 27, o contrato de RCTV, para não renová-lo, substituindo-o por uma TV pública, que começa suas transmissões à zero hora do dia 29, com o nome TEVES (Você se vê, em castelhano) – Televisão Venezuelana Social.
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Com isso, avança o pluralismo, se enfraquece a ditadura dos monopólios privados da comunicação. Ao contrário do que propagam as expressões nacionais desse oligopolio em cada um dos nossos países que, como sempre, principalmente quando afeta diretamente sua posição monopolista, reflete a realidade da cabeça para baixo.
Postado por Emir Sader às 12:06

26.5.07

Monocultura do eucalipto expulsa homem do campo

25/05/2007 09:44
Reportagem: Luiz Renato Almeida
duração: 2'27" tamanho: 433 Kb clique aqui para ouvir

Porto Alegre - A expansão das monoculturas do eucalipto no Brasil deve prejudicar os pequenos agricultores e gerar a expulsão dos trabalhadores do campo. A avaliação é do coordenador da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Marcelo Calazans.

Ele avalia que os empregos gerados pelas grandes empresas de celulose, como Aracruz, Stora Enso e Votorantim, são apenas temporários e reduzidos, se comparados com o tamanho dos investimentos. A compra de grandes extensões de terra também gera impactos nos recursos naturais, que inviabilizam o trabalho no campo.

“Esse tipo de trabalho desemprega em massa. Onde entra eucalipto os índices de empregos são baixos, e as empresas mentem quando dizem que geram muito emprego. Essas plantações geram poucos empregos e em períodos muito reduzidos o que provoca uma clara expulsão do homem do campo”, diz.

Para Marcelo Calazans, os pequenos agricultores que fazem parcerias com as empresas, vão ter prejuízos no futuro. Por ter raízes profundas, o eucalipto é difícil de ser extraído, dificultando, depois, o plantio de outras culturas.

“A reconversão desta área é de custo altíssimo e de tempo muito demorado. Esse é um grande problema que o camponês deve refletir é como depois ele poderá migrar para outra cultura? O que ele vai fazer com á área? Vai ter uma área toda cortada, cortes rasos, milhares de tocos sobre está área, o que ele vai plantar sobre isso?”, afirma.

O coordenador da FASE acredita que muitos pequenos agricultores estão plantando eucalipto, em parceria com as empresas de celulose, por falta de alternativas.

“É uma lógica que no primeiro momento aparece uma alternativa, mas é uma alternativa do desespero é uma alternativa por falta de outras políticas agrícolas e agrárias do governo. Na medida em que o governo não oferece essas alternativas, não diversifica, não pensa a comercialização da agricultura camponesa, aí o eucalipto aparece como alternativa, mas é uma alternativa por falta de política”, diz.

De acordo com a Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), as papeleiras que atuam no Rio Grande do Sul têm o objetivo de plantar lavouras de pínus, acácia e eucalipto em até um milhão de hectares no Estado.

23.5.07

23 de maio: oportunidade histórica para a reaglutinação da esquerda

Escrito por Valéria Nader
23-Mai-2007

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Privatizações em série, juros estratosféricos, elevação galopante da dívida pública, valorização cambial, reforma do regime geral da previdência, precarização nas relações de trabalho, corrupção envolvendo a “privataria” e outros mais são hoje, já com o “privilégio” do olhar distante, marcas reconhecidas do governo FHC. Até mesmo em certos setores à direita do espectro político não se recusa em muitos pontos essa apreensão
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A eleição de Lula, um líder popular egresso dos movimentos sociais que recrudesceram a sua atuação a partir do final dos anos 70, e após várias tentativas de chegar ao Executivo federal, traria um novo panorama à nação. Ainda que diante da evidência do afastamento de seu partido de sustentação, o PT, das bases populares e da adoção de uma estratégia crescentemente eleitoral ao longo dos anos 90, era possível, em 2002, ter esperanças no “governo em disputa”, e acreditar que venceriam os interesses das classes desfavorecidas.
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O decorrer do primeiro mandato foi paulatinamente desarmando essa expectativa, na medida em que não se arranharam nem mesmo minimamente os fundamentos da ortodoxia econômica anterior: seguiram-se os juros elevados, os lucros bancários exorbitantes e a queda no rendimento médio dos trabalhadores, a despeito do maior número de contratações crescentemente precarizadas.
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O prestígio histórico de um líder como Lula, ao lado da execução de uma política assistencialista através do Bolsa Família – uma política necessária em face da fome de uma população miserável, mas cuja função coadjuvante foi alçada à grande e inédita realização de nossa República –, aos quais ainda se associou um cenário externo de grande liquidez financeira e extremamente favorável às exportações de nossas commodities criaram, no entanto, uma complexa realidade. Esses fatores acobertaram poderosamente a apreensão do insistente fortalecimento do capital financeiro em nosso país. Teceu-se o véu necessário para mascarar os assaltos que vinham sendo sorrateiramente realizados contra direitos sociais, deixando intacta a figura do líder, exercendo efeito intensamente desmobilizador sobre os movimentos populares e ocasionando uma crescente cisão entre os setores à esquerda.
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As eleições presidenciais de 2007, que colocaram o eleitor diante de um segundo turno em que estariam em disputa dois projetos de país, à esquerda, com Lula – que construiu um eficiente discurso “neodesenvolvimentista” contrário às privatizações, ainda que durante o seu primeiro mandato não tenha aberto nenhuma sindicância para a sua revisão –, e, à direita, admita-se que escrachada, com Alckmin, impuseram ao eleitor, aos movimentos populares e ao campo à esquerda uma nova encruzilhada, quase uma emboscada. Entraram em mais um round de desagregação, dessa vez com setores que já haviam se afastado de Lula e do PT considerando-se praticamente forçados a declarar-lhes um “apoio condicionado”.
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O aspecto com que começasse a se apresentar o segundo mandato seria, portanto, decisivo para a reacomodação das forças populares. E esse mandato, ainda que incipiente, já vem sinalizando muito claramente a que veio. Mesmo que o presidente e vários de seus ministros ligados às áreas sociais se expressem, às vezes categoricamente, contra algumas das medidas que fragilizam a previdência e o trabalhador, alguns atos valem mais do que mil palavras: há já extensa gama de medidas muito claras em seus objetivos.
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A retomada do projeto de transposição do São Francisco, a pressa para a obtenção de licenciamentos ambientais, chegando-se até mesmo a alterar a estrutura do Ibama, a liberação de transgênicos, o privilégio ao agronegócio em detrimento da agricultura familiar e, agora, a panacéia dos biocombustíveis, sem a abertura de canais efetivamente democráticos de diálogo, são medidas que têm estarrecido vários especialistas e estudiosos.
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Somem-se ainda as pretensões explícitas, algumas literalmente declaradas pelo ministro da Previdência ao jornal Folha de São Paulo, de desvincular os benefícios da Previdência do mínimo – uma medida que, comprovadamente, deverá aumentar os índices de pobreza –, aumentar o tempo de contribuição, elevar a idade mínima para 65 anos, acabar com a aposentadoria especial de professores e trabalhadores rurais, acabar com a possibilidade de a mulher se aposentar com 5 anos a menos que os homens, reduzir a pensão morte etc. e teremos configurado uma avassaladora tentativa de agressão a direitos arduamente conquistados e constitucionalmente garantidos.
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Os argumentos suscitados em defesa de tantas dessas medidas parecem comezinhos se justapostos a uma estatística básica em nosso país: 160 bilhões de reais foram gastos em 2006 somente para o pagamento da dívida pública, incrementando a olhos vistos os lucros bancários e os ganhos dos especuladores.
Mas esse escancaramento dos reais objetivos em pauta, agora apresentados com verniz menos espesso, tem um lado auspicioso. Ao deixar a realidade mais a nu, elimina a esquizofrenia persistente desde a Carta aos Brasileiros. E a prova disso é que, pela primeira vez após muitos anos de apatia, esse 23 de maio pode se tornar histórico.
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Os movimentos sindicais, populares e estudantis convocam os trabalhadores e o povo a lutar em uma congregação inédita. CONLUTAS - Coordenação Nacional de Lutas; INTERSINDICAL; CUT - Central Única dos Trabalhadores; MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; Via Campesina; UNE - União Nacional dos Estudantes; CMS - Coordenação dos Movimentos Sociais; Assembléia Popular; UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas; Marcha Mundial das Mulheres; Pastorais Sociais; CONAM - Confederação Nacional das Associações de Moradores; e ANPG - Associação Nacional de Pós-Graduandos estão todos juntos na mobilização programada para 23 de maio, na luta pela retomada da pauta dos verdadeiros interesses de uma nação.
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De seu fervor, capacidade de congregação, de mobilização e de superação de dificuldades advindas de antigas discussões e rivalidades dependerá o avanço desse processo.
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Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

'O RS quer se configurar como site mundial de silvicultura', afirma presidente da Caixa RS

O Rio Grande do Sul começa a definir em junho, com audiências públicas nas cidades de Pelotas, Alegrete, Santa Maria e Caxias do Sul, as regras de zoneamento ambiental para silvicultura, que serão decisivas para os planos de empresas como Aracruz, Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Stora Enso no Estado.
Duas propostas antagônicas serão debatidas, uma da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), criticada pelas empresas, e outra de um grupo de trabalho criado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) como resposta às pressões do setor florestal.
A reportagem é de Sérgio Bueno e publicada no jornal Valor, 23-05-2007.
A questão transformou-se em crise e já custou a demissão, neste mês, do ex-presidente da Fepam, Irineu Schneider, e da ex-secretária do Meio Ambiente, Vera Callegaro, amiga pessoal da governadora Yeda Crusius (PSDB), ambos desgastados com o episódio. As empresas afirmam que a proposta da fundação torna inviável o plantio de florestas de eucaliptos e pinus, porque reduz a possibilidade de aproveitamento das áreas. Isso impede a construção das fábricas de celulose previstas para o Estado, o que coloca em risco um pacote de investimentos estimado em cerca de US$ 5 bilhões nos próximos anos.
Agora, o novo titular da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), procurador de Justiça Carlos Otaviano Brenner de Moraes, que assumiu o cargo na semana passada, promete buscar a "convergência" entre proteção ao meio ambiente e desenvolvimento econômico. A intenção do novo secretário é resolver a questão até o fim do ano, para evitar a repetição do impasse no período de plantio em 2008, entre março e outubro.
"A tensão faz parte, os interesses são compreensíveis e os mecanismos para fazê-los valer, também", afirmou Moraes quando questionado sobre a ameaça de cancelamento dos investimentos em função da proposta da Fepam. Ele reconhece a importância "inegável" dos empreendimentos previstos, mas afirmou que "nem o Estado pode ficar refém das empresas nem as empresas reféns da omissão do Estado" na definição das novas regras.
Atraídas pelas condições de clima e solo que aceleram o ciclo de crescimento das árvores (7 anos, contra 70 anos na Finlândia, no caso dos eucaliptos, por exemplo), pela disponibilidade de terras e pelos custos competitivos de produção, as empresas de celulose começaram a formar grandes bases florestais no Rio Grande do Sul nos últimos três anos anos. A Aracruz, que em 2003 comprou a fábrica da Klabin em Guaíba, já tem 66 mil hectares plantados e 29 mil de reserva ambiental. A VCP já adquiriu quase 100 mil hectares e a Stora Enso, 46 mil.
"O Rio Grande do Sul quer se configurar como site mundial de silvicultura", afirma Suzana Kakuta, presidente da Caixa RS, agência de fomento do governo gaúcho que coordena o projeto de desenvolvimento do arranjo produtivo local de base florestal. O Estado tem hoje 461 mil hectares plantados com eucalipto, pinus e acácia, segundo estimativa da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor). A média de consumo atual é de 30 mil hectares por ano e a meta do setor é chegar a 800 mil hectares cultivados em 2013.
Só que, até agora, o Estado não dispõe de um zoneamento ambiental específico para o plantio de florestas e as empresas compraram as terras sem saber se, legalmente, elas poderiam ser utilizadas, comenta o chefe da assessoria jurídica da Fepam, Paulo Régis da Silva. De acordo com ele, quando foi escolhido para o cultivo comercial de eucaliptos, o Rio Grande do Sul já tinha plantações em pequena escala licenciadas pelo Código Estadual do Meio Ambiente, mas a legislação local "não estava pronta" para a silvicultura.
O vácuo legal levou o Ministério Público Estadual (MPE) a firmar com a Fepam e a Sema, em maio de 2006, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), determinando a realização de estudos de impacto ambiental (EIA-Rima) nos plantios superiores a mil hectares ou inferiores, se houver utilização "significativa" da área em termos percentuais", além de compensações pelos danos ambientais.
O TAC permitiu a manutenção dos licenciamentos no ano, mas valia até 31 de dezembro, quando a proposta de zoneamento da Fepam deveria ficar pronta para ser submetida às audiências públicas e à aprovação do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) - presidido pelo secretário do Meio Ambiente - até 31 de março de 2007.
Uma primeira versão do zoneamento foi apresentada ao ex-governador Germano Rigotto (PMDB), em dezembro. O documento gerou uma onda de reações contrárias das empresas de celulose, entidades do setor e políticos da metade sul do Estado, região escolhida para receber os investimentos, o que levou à criação, em fevereiro, do grupo de trabalho na Sema com representantes do governo e de instituições como as federações da indústria (Fiergs) e da agricultura (Farsul), o sindicato das madeireiras (Sindimadeira) e a Ageflor.
A proposta da Fepam e o relatório do grupo de trabalho só chegaram ao Consema em abril e, na falta de um marco legal depois que o TAC havia expirado, os licenciamentos pararam no primeiro trimestre. A saída foi um aditivo ao termo de ajustamento, no início de abril, autorizando a fundação a usar a proposta de zoneamento como parâmetro nos processos, mesmo antes de ser aprovada no Consema. Mas, em função da reação das empresas, ele foi substituído por um segundo aditivo, no início de maio, determinando que também fossem consideradas as conclusões do grupo de trabalho da Sema.
Desde então, a Aracruz recebeu cinco licenças em abril com base no primeiro aditivo ao TAC, totalizando 512 hectares liberados, ante 722,6 hectares solicitados. Em maio, depois do segundo aditivo, recebeu mais duas, com 123,1 hectares (de 130,1 requeridos), informou a Fepam.
No total, 23 dos 128 licenciamentos requeridos neste ano foram concedidos nos dois meses. A VCP deve receber a qualquer momento os três primeiros de 37 licenciamentos solicitados. A Stora Enso reapresentou, na sexta-feira passada, pedido de licenciamentos para 26 áreas que totalizam 11 mil hectares. As requisições haviam sido encaminhadas em 2006, mas caducaram quando o TAC expirou.
Governo gaúcho ajusta o zoneamento aos interesses das empresas, afirma Ong
A polêmica sobre o zoneamento proposto pela Fepam para a silvicultura no Rio Grande do Sul opôs ambientalistas e técnicos da fundação que elaboraram o trabalho, de um lado, e as empresas e entidades do setor florestal, de outro. Entre as duas partes, o governo estadual passa por uma situação delicada e semelhante à do governo federal frente à dificuldade para destravar os processos de licenciamento ambiental de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A reportagem é do jornal Valor, 23-05-2007.
"Acreditamos que o bom-senso vai prevalecer", afirma o diretor de operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes. De acordo com ele, o projeto da Fepam é "extremamente defeituoso", baseado em "literatura ultrapassada" e foi exposto prematuramente à discussão pública. "A transição (de governo) atrapalhou e não houve uma condução firme das discussões", diz o executivo, para quem o relatório do grupo de trabalho formado pela Sema "repôs o equilíbrio" no debate.
Conforme Nunes, os planos da empresa para o Estado incluem 100 mil hectares de florestas plantadas (66 mil já estão sendo cultivados) e a construção de uma nova unidade ao lado da fábrica de Guaíba, com capacidade adicional de 1,3 milhão de toneladas de celulose para exportação por volta de 2010. O investimento chega a US$ 1,7 bilhão, mas depende do desfecho da crise. Os 34 mil hectares que faltam para completar a base florestal necessária estão sendo negociados, mas a empresa está "segurando" as compras até ter um quadro definitivo das novas normas ambientais, diz o executivo.
A sueco-finlandesa Stora Enso, que estuda investir cerca de US$ 1,2 bilhão na instalação de uma fábrica de 1 milhão de toneladas por ano de celulose de fibra curta no Estado também espera a definição do zoneamento até o fim do ano. "A proposta original foi feita a toque de caixa e não atendeu às expectativas do setor", disse o diretor-florestal para a América Latina, João Borges. A Stora Enso já tem licenciado o plantio de 5 mil hectares, mas tenta regularizar, no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a posse das terras adquiridas no Estado, em áreas de fronteira nacional.
"Esperávamos repetir neste ano os 90 mil hectares plantados em 2006, mas isso não será mais possível porque perdemos um bom período de plantio", afirma o presidente da Ageflor, Roque Justen. Na viveirista Tecnoplanta, de Barra do Ribeiro, o impasse sobre os licenciamentos levou à destruição de 8 milhões de mudas desde março, em função do cancelamento de encomendas. O prejuízo foi de R$ 3 milhões e provocou a demissão de 180 dos 750 funcionários, relata o diretor Eudes Marchetti.
As ONGs ambientalistas, que têm apenas quatro das 28 cadeiras do Consema, prometem defender a proposta original da Fepam, mas têm poucas esperanças de que ela prevaleça no estabelecimento das normas definitivas. "Dá para brigar um pouco nas audiências públicas, mas não é fácil", admite o coordenador do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá), Cristiano Hickel. Os próprios técnicos da fundação se sentem desprestigiados. "Tentaram dar a Fepam por incompetente", diz um servidor.
Para a coordenadora do Núcleo Amigos da Terra (NAT), Carla Villanova, o trabalho da fundação foi elaborado em cima de "metodologia e bases científicas sérias". A ONG chegou a tentar anular, na Justiça, a constituição do grupo de trabalho formado pela Sema que elaborou o relatório contrário à proposta original de zoneamento, mas não obteve sucesso. "O grupo de trabalho foi uma imposição do governo para ajustar o zoneamento aos interesses das empresas", diz Hickel, do Ingá. Procurada, a Votorantim Celulose e Papel (VCP) não quis comentar o assunto.

17.5.07

Convocatória da Jornada de Lutas do Dia 23 de Maio

BRASIL DE FATO

Uma visão popular do Brasil e do mundo

por jpereira — Última modificação 11/05/2007 14:55

Organizações sociais convocam a população para a mobilização e divulgam suas reivindicações

O movimento sindical, popular e estudantil convoca trabalhadores e o povo a lutar: contra a reforma da previdência, contra toda reforma que retire direitos (Não à Emenda 3), por emprego, salário digno, reforma agrária e moradia, contra a política econômica e o pagamento das dívidas interna/externa, em defesa do direito de greve e contra a criminalização dos movimentos sociais.

Nós, lutadores e lutadoras do movimento popular, convocamos toda a sociedade para uma grande jornada de lutas, no dia 23 de maio de 2007, contra essa política econômica e o superávit primário, pelo não pagamento das dívidas externa/interna e por uma auditoria dessas dívidas, bem como contra qualquer tipo de reforma que traga prejuízos à classe trabalhadora e à soberania do país.

Vamos nos manifestar contra a política econômica do governo federal, que enriquece banqueiros e grandes empresários, estrangula qualquer possibilidade de investimentos em políticas sociais, mantendo a perversa concentração de renda.

Vamos nos manifestar contra a retirada de direitos trabalhistas e contra a reforma previdenciária apresentada, pois é inadmissível reduzir nossas conquistas históricas.

Lutamos para libertar o Brasil do domínio imperialista, que impõe o agronegócio, que destrói a natureza e compromete a capacidade de produção de alimentos para o povo.

Nos irmanamos a todos os povos latino-americanos em defesa da independência e da soberania de nossos países. Nos manifestamos pela retirada das tropas do Haiti e contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos.

Estamos nas ruas por mais direitos para o povo:

- Reforma Agrária. - Emprego para todos, redução da jornada de trabalho sem redução de salários. - Em defesa do direito irrestrito de greve, contra a criminalização dos movimentos sociais. - Em defesa do serviço público: educação e saúde pública, gratuita e de qualidade para todos. - Direito de moradia digna para todos. - Em defesa do meio ambiente, contra a destruição da Amazônia. -Valorização do salário mínimo e das aposentadorias. - Contra a autonomia do Banco Central. - Contra todas as formas de discriminação e opressão racial, homofóbica e sexista. - Pela anulação do leilão da privatização da Vale do Rio Doce. - Energia com tarifa social. - Pela democratização dos meios de comunicação. - Em defesa dos lutadores e lutadoras do movimento sindical e popular, pela reintegração imediata de todos dirigente sindicais, a exemplo dos companheiros do Metrô de São Paulo, e pela imediata libertação dos presos políticos.

CONLUTAS - Coordenação Nacional de Lutas INTERSINDICAL CUT - Central Única dos Trabalhadores MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Via Campesina UNE - União Nacional dos Estudantes CMS - Coordenação dos Movimentos Sociais Assembléia Popular UBES União Brasileira dos Estudantes Secundaristas Marcha Mundial das Mulheres Pastorais Sociais CONAM - Confederação Nacional das Associações de Moradores ANPG - Associação Nacional de Pós-Graduandos

Comunidade São Francisco do Paraguaçu acusa racismo em "Jornal Nacional" e Rede Globo

16 DE MAIO DE 2007 - 16h38
A Comunidade São Francisco do Paraguaçu, de Cachoeira, na Bahia, acusa a TV Globo de veicular uma reportagem racista, no Jornal Nacional de segunda-feira (14), contra os moradores negros daquela região do recôncavo baiano. Segundo a comunidade, a reportagem tem o claro objetivo de desqualificar a Comunidade São Francisco do Paraguaçu e seus moradores, justamente no momento em que o Estado brasileiro está para reconhecê-los como descendentes de quilombolas.
A nota também critica a distorção dos fatos para criminalizar os moradores da comunidade. "Estamos decepcionados com a falta de dignidade do jornalista que expôs seu nome numa reportagem fraudulenta, pois as imagens do desmatamento de madeira apresentado na reportagem não foram filmadas em nossa comunidade".
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Confira a íntegra da nota:
Comunidade Remanescente de
Quilombo São Francisco Do Paraguaçu
As falsidades veiculadas pelo Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, no dia 14 de maio deste ano, "Crime no quilombo - suspeitas de fraude e extração de madeira de Mata Atlântica", repetem na história o que significou o 14 de maio de 1888 para a população negra no Brasil, dia seguinte à abolição oficial da escravatura.
O dia 14 daquela época significou o acirramento das relações escravistas, da violência racial contra negras e negros, e a tentativa de exterminá-los através de inúmeras medidas de exclusão e apartheid, dando continuidade ao processo de exclusão social e criminalização da população negra.
Passados cem anos continuamos a assistir às práticas racistas, novamente a covardia daqueles que atacam as comunidades negras utilizando as estruturas poderosas de dominação que se manifestam através da veiculação de uma reportagem fraudulenta e tendenciosa, sem oferecer à comunidade nenhuma oportunidade para se defender.
Nossa comunidade assistiu a reportagem exibida no Jornal Nacional da Rede Globo com profunda indignação diante da atitude racista expressa na má fé e na falta de ética de um meio de comunicação poderoso que está submetido a interesses perversos e tenta esmagar uma comunidade negra historicamente excluída.
Já esperávamos por esta reportagem, pois fomos testemunhas do teatro que foi armado por ocasião das filmagens, onde boa parte da comunidade envolvida na luta pela regularização do território quilombola nem sequer foi ouvida, visto que a equipe de reportagem se recusou a registrar qualquer versão contrária aos interesses dos fazendeiros, cortando falas e utilizando de métodos persuasivos, já que demonstrou expressamente o objetivo de manipular e deturpar a realidade, inclusive.
Tentamos conversar com os prepostos da TV Bahia, filial da rede Globo, mas fomos ignorados. Logo vimos a vinculação da reportagem com os poderosos locais que tentam explorar nossa comunidade. Diante deste sentimento de indignação com a reportagem fraudulenta exibida hoje vimos a público divulgar as verdades que Globo não divulga:
Historicamente, nossa comunidade ocupa este território. Os relatos dos mais idosos remetem nossa presença a muitas gerações. Ali sempre praticamos um modo de vida fruto de uma longa tradição deixada por nossos ancestrais. Extraímos da Floresta a Piaçava, o Dendê, a Castanha, e tantos outros produtos. Extraímos tantos tipos de cipós diferentes que usamos para fazer cofos, cestos e tantos outros artesanatos aprendidos com nossos avós. Nós amamos a floresta e a defendemos. Nossa luta para defender a floresta causa a ira de poderosos interesses que desejam o desmatamento para a grande criação de gado que cresce no recôncavo.
Estamos decepcionados com a falta de dignidade do jornalista que expôs seu nome numa reportagem fraudulenta, pois as imagens do desmatamento de madeira apresentado na reportagem não foram filmadas em nossa comunidade, sendo que a pessoa flagrada no corte de madeiras não pertence à comunidade de São Francisco do Paraguaçu, confirmando a manipulação dolosa, visto que as falas foram cortadas e editadas com o objetivo de transmitir uma mensagem mentirosa e caluniosa. Perguntamos aos responsáveis pela matéria: por que não relataram as vultosas multas não pagas ao Ibama pelos fazendeiros? Por que não mostraram os mangues cercados que inviabilizam a sobrevivência da comunidade?
Desta maneira, os poderosos que nos oprimem preferem partir para a calúnia, fraude e abuso do poder econômico. Tentam assim dissimular, já que sabem da força da verdade e do nosso direito. O Sr. Ivo, que aparece na reportagem e se diz dono da nossa área, é um médico com forte influência política na região; à frente de seus interesses está o seu Genro, conhecido como Lú Cachoeira, filho de um ex-prefeito e eterno candidato a prefeito. Lu Cachoeira tem um cargo de confiança no Governo do Estado como assessor especial na CAR (Coordenação de Ação Regional) e utiliza sua influência política para perseguir a comunidade.
Esta família poderosa tem feito várias investidas contra a comunidade utilizando, inclusive, capangas, pistoleiros, ameaçando a comunidade, violentando crianças, perseguindo idosos, inclusive, utilizando métodos torpes refletidos nas ações violentas de policiais militares não fardados a serviço da família Santana que pode ser comprovado através de relatório da Polícia Federal que já teve diversas vezes na comunidade para nos defender.
Imbuídos do sentimento de justiça, não podemos compactuar com atitudes que visam reverter as conquistas democráticas de reconhecimento de direitos da população negra, um verdadeiro afronte aos artigos 215, 216 e o artigo 68 das Disposições Transitórias da Constituição Federal.
O povo negro e as comunidades quilombolas, cientes de que o caminho de reparação das injustiças raciais é irreversível e que o direito constitucional à propriedade de seus territórios tradicionalmente ocupados é uma conquista da democracia brasileira, não sucumbirá aos interesses poderosos que durante toda história do Brasil promoveram atitudes autoritárias e de desrespeito ao Estado Democrático de Direito.
Lamentamos a covardia daqueles que usam o poder da mídia e do dinheiro para oprimir e perseguir comunidades tradicionais. Já estamos acostumados com esta prática perversa. Nosso povo resistiu até aqui enfrentando o peso da escravidão. FIÉIS A NOSSOS ANCESTRAIS, CONTINUAREMOS FIRMES, DE PÉ, LUTANDO PELA LIBERDADE!
Pela vergonhosa manipulação dos fatos e depoimentos, QUEREMOS DIREITO DE RESPOSTA E QUE O INCRA E A FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES SE PRONUNCIEM.
Pedimos às entidades, instituições e movimentos solidários com a luta do povo quilombola que manifestem repúdio à Rede Globo de Televisão e ao Jornal Nacional mandando e-mails e/ou cartas para os seguintes endereços: Rua Von Martius, nº 22 - Jardim Botânico - CEP: 22.460-040 - RJ. E-mail: jn@redeglobo.com.br.
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SÃO FRANCISCO DO PARAGUAÇU - TERRITÓRIO AMEAÇADO!
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Globo ataca Quilombos!!!
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A comunidade remanescente de quilombo de São Francisco do Paraguaçu está localizada no município de Cachoeira, Estado da Bahia. Na comunidade, cerca de 300 famílias vivem da agricultura de subsistência, da pesca, da coleta de marisco e do extrativismo da piaçava. A atividade produtiva é baseada no trabalho familiar, na cooperação simples entre diferentes grupos domésticos e no uso comum dos recursos naturais.
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A equipe da Rede Globo (TV Bahia) esteve em São Francisco do Paraguaçu entrevistando apenas os moradores que têm relação de compadrio com os proprietários e os funcionários que trabalham para os fazendeiros que se encontram na área pleiteada pela comunidade. O Sr. Osório, quilombola morador da região, que no momento quis se declarar quilombola não teve oportunidade de ser escutado pela TV Bahia, que também abafou a voz de Sr. Altino com a locução que conduziu toda a reportagem. Sr. Eronildes, um dos entrevistados, mora numa das maiores casas do povoado, é afilhado de João Santana, pai do Dr. Ivo Santana que foi o fazendeiro entrevistado pelo Jornal Nacional. Ivo é médico e estabeleceu relações clientelistas com os comunitários.
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O desafio das comunidades na sua formação era resistir à iminência de destruição pelos capitães do mato e pela tropas criadas para dizimá-las. A estratégia das comunidades era não se fazer perceber. Portanto, é necessário delicadeza para entender que quilombo também se tornou uma categoria política pois a explicitação de sua identidade é fundamental para o reconhecimento e titulação de suas terras, é uma estratégia de luta e resistência. O outro entrevistado que afirma não saber dançar maculelê é Binho, o funcionário fiel de Carlos Diniz, proprietário da Reserva Particular do Patrimônio Natural da Peninha. Responde ao jornalista que procurava tratar a identidade quilombola como uma fraude ao associá-la a uma caricatura estereotipada do quilombo que eles já estavam dispostos a atacar.
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A manipulação de informações resultou na montagem de um mosaico desconexo de frases soltas que até o mais elementar conhecedor da técnica da edição percebe que foi estarrecedoramente tendencioso, para usar o termo de William Bonner. A reportagem apresentou a comunidade como responsável pelo desmatamento de uma área de proteção ambiental.
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A área que a Rede Globo filmou NÃO faz parte do território de São Francisco do Paraguaçu. Trata-se portanto de calúnia. Tal desmatamento pode ser visto na beira estrada por quem quiser visitar o local. Está localizado antes do povoado de Santiago do Iguape, distante do início da área pleiteada pela Comunidade de São Francisco do Paraguaçu. Na reportagem, o rapaz que está desmatando não se identifica em nenhum momento como morador da referida comunidade.
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HISTÓRICO DA ORIGEM DO GRUPO
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Nascendo às costas da Baía de Todos os Santos, o Recôncavo Baiano abriga dezenas de municípios e constitui um dos principais sítios da herança africana na sociedade brasileira. O tráfico trouxe numerosos negros bantos que ao chegarem à Bahia se espalharam pelas plantações de cana de açúcar e fumo do Recôncavo. No auge da atividade agrícola, foram instalados nas grandes fazendas, inúmeros engenhos de cana-de-açúcar. O cultivo e o beneficiamento da cana dependiam do uso de mão-de-obra escrava.
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Em 1566 foi doada a capitania do Recôncavo a Álvaro da Costa. D. Álvaro da Costa, filho do 2º Governador-Geral, recebeu terras no recôncavo da Bahia, como prêmio pela guerra que desenvolvera contra as tribos indígenas, as terras foram dadas como sesmarias. Posteriormente a região passou a ser ocupada por escravos que chegaram para a construção do Convento de Santo Antonio e para trabalhar nos canaviais. No interior desse Convento está enterrada uma família de portugueses que eram os senhores das usinas de cana Cotinga e do Engenho da Peninha.
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O Jornal Nacional afirmou, levianamente, que Engenhos de Açúcar nunca existiram na região, ignorando o fato de que uma das áreas pleiteadas trata-se de uma das primeiras fazendas de exportação de açúcar para Europa, onde existiu um engenho muito importante, cujas ruínas podem ser observadas até hoje. A área onde está construída o Convento, corresponde a duas sesmarias de terra e foi doada aos padres franciscanos pela família proprietária do Engenho Velho. A Igreja foi construída em 1660, e 1688 foi construído o Salão do Mar que era a prisão dos escravos, onde foram encontrados esqueletos enterrados de ponta cabeça e acorrentados de pé.
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Durante a construção, muitos negros fugiram do trabalho árduo, por não agüentar a violência, procuraram um lugar de mata fechada para se refugiar. Posteriormente com o término do Convento, os outros fugiram e começou processo de formação do quilombo do Boqueirão. Depois da abolição eles voltaram para vila. Antes na vila só moravam os brancos, os donos de engenho.O proprietário do Engenho Velho, onde está localizada a Reserva da Peninha, Carlos Diniz, ao chegar na região, realizou um enorme desmatamento, e agora, convenientemente, posa de ambientalista, para receber financiamentos internacionais e cuidar do que eles mesmos destruíram.
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Ao contrário do apresentado na reportagem, os fazendeiros vêm usurpando as terras dos quilombos porque são as mais preservadas uma vez que o modo de vida tradicional vem mantendo a integridade de seus ecossistemas ao longo das gerações. Práticas sustentáveis sempre foram e continuam sendo desenvolvidas por muitos povos indígenas, quilombolas ou populações autóctones em todo o mundo, cujos princípios estão intrinsecamente arraigados às culturas milenares que foram se adaptando ao meio e este se moldando à ação humana.
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Como prevê a definição da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, comunidades tradicionais se caracterizam por ocupar e us ar seus territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas geradas e transmitidos pela tradição.
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A comunidade de São Francisco do Paraguaçu, depende diretamente dos recursos naturais para a sua sobrevivência e, assim, desenvolveu historicamente formas próprias de organização social, costumes, crenças e tradições, bem como de relações com o ambiente, que viabilizaram uma convivência harmônica com o ecossistema. Vivem da pesca, do mangue e do extrativismo da piaçava e, se não cuidarem do mato, do mangue e da maré, sua sobrevivência estará ameaçada.
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Os conhecimentos sobre as ervas medicinais e sobre ciclos de cultivo são ensinados pelos avós que sempre viveram do mato aprenderam a respeitá-lo . No Engenho Velho, a comunidade sempre freqüentou o candomblé de Pureza, a qual não poderia realizar sua liturgia sem acesso aos locais sagrados da natureza.
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Os reais impactos ambientais já comprovados no território de São Francisco do Paraguaçu, foram obras de fazendeiros da região, que aterraram mangues, provocaram erosão com a construção de estradas e derrubaram a floresta para criação de gado.
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O fazendeiro Ivo Santana afirmou na reportagem que a comunidade é formada por refugiados da Seca do Sertão. Todas as evidências que a equipe de técnicos do INCRA pode constatar, a partir de estudos aprofundados na comunidade que exigiram períodos prolongados de convivência, indicam que a origem da comunidade só pode ser entendida a partir da construção do Convento, cuja obra foi iniciada em 1660 e concluída em 1688 com muito suor e sangue derramado por escravos africanos. Além disso, o fato de alguns terem chegado depois não desqualifica a relação dos moradores com o território e com a identificação étnica, como define a quilombola Roseni:
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“Fazemos parte porque toda a nossa raiz familiar, todos os nossos antepassados fizeram parte dessa linhagem. Todos nós franciscanos somos quilombolas, independente da cor do cabelo, dos olhos, não é preciso ter nascido aqui. Se vier para cá e aceitar nossa forma de vida, querer viver coletivamente, ver a comunidade como irmãos, se eles se sentirem quilombolas, serão quilombolas.”
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Corroborando isso, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, implementada no Brasil, assim como a legislação que regulamento o processo de regularização fundiária das comunidades remanescentes de quilombos, estabelecem que o critério para definição dos povos e comunidades tradicionais é a auto-atribuição.
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Por fim, sem nenhum argumento consistente, a reportagem tentou fazer o espectador se render ao apelo sentimental do pássaro olho de fogo rendado. Com tom disfarçado de ambientalista, o real objetivo da reportagem foi defender a manutenção dos interesses da aristocracia agrária do Recôncavo Baiano. De fato, o que está ameaçada é a liberdade de uma comunidade que viveu secularmente na sombra do patrão, se acostumou a servir e está presa por relações de exploração clientelista. A esperança vem daqueles que recusam a humilhação, resistem por sua dignidade, lutam pelo direito de permanecer e cuidar. E mesmo de dentro da gaiola fazem ecoar a liberdade, seu canto nunca poderá ser preso.
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Camila Dutervil
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Antropóloga Responsável
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Brasília , 14 de maio de 2007

TV pública está perto de sair do papel

BRASIL DE FATO
Uma visão popular do Brasil e do mundo
por jpereira — Última modificação 14/05/2007 15:42
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Representantes da sociedade civil, das emissoras da TVE e da Radiobras e governo se reuniram em Brasília, a fim de discutir a administração, arrecadação de dinheiro e controle da programação . Raquel Casiraghi,de Porto Alegre (SR)
. A rede de televisão pública do Brasil está cada vez mais perto de sair do papel. O governo federal prevê que até o final do ano as transmissões em conjunto alcancem todo o país. Para isso, representantes da sociedade civil, das emissoras da TVE e da Radiobras, universidades, especialistas e governo se reuniram em Brasília, a fim de discutir a administração, arrecadação de dinheiro e controle da programação.
. Na carta lançada no Primeiro Fórum Nacional sobre TVs Públicas, consta que a rede deve expressar a diversidade do povo brasileiro e ser independente em relação a governos e à economia. O documento também aponta que o financiamento da TV pública precisa ter fontes diversas, como patrocínio do setor privado, contribuições da sociedade civil e participação em fundos do governo federal.
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O professor Venício Artur de Lima, pesquisador em Comunicação, enxerga a televisão pública como uma forma de combater a concentração das informações. Atualmente, o sistema de televisão brasileiro está nas mãos de seis grandes redes. Venício ressalta a importância dos conselhos que controlam a administração, a programação e o financiamento da emissora pública estarem nas mãos da população. "O que é necessário é que essas formas de controle sejam muito bem definidas para que não haja possibilidade de que o conjunto da população, através de suas entidades representativas, percam o controle da emissora pública", afirma.
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Inglaterra, Canadá e Estados Unidos possuem um sistema público de rádio e de TV. Todos eles trabalham com a participação da sociedade civil através de conselhos, que têm o controle da gestão administrativa e da programação. Na parte de financiamento, a BBC, da Inglaterra, por exemplo, cobra mensalmente uma taxa de custo baixo de quem assiste o canal. Além de garantir os profissionais e a manutenção técnica da emissora, a taxa permite que a BBC veicule filmes, documentários e arte independentes, que não têm espaço no mercado de audiovisual ou de músicas.
. Para Venício, esses exemplos de TV pública mostram que a iniciativa brasileira pode dar certo. Desde que seja mantida a independência da rede às disputas políticas. "É importante que não se tenha a ingenuidade de acreditar que, em uma democracia representativa como a nossa, embora haja diferenças, mas com graus, em alguns casos, bem acentuadas de disputas políticas e conflitos ideológicos, que essas coisas não estarão presentes na disputa do controle. Claro que estarão. O que é preciso é que os mecanismos que sejam criados, institucionalizados, permitam a neutralização deles. Mas que vai haver disputa política, risco de contaminação político-ideológica, existe esse risco, aqui em qualquer lugar", defende.

16.5.07

Crises no pacto capitalista

Correio da Cidadania
Escrito por Wladimir Pomar 16-Mai-2007 .
O pacto entre capitais estatais e capitais privados nacionais e estrangeiros não foi isento de distúrbios e crises profundas. Ocorreram tanto por contradições opondo os capitais estatais aos capitais privados, ou os próprios capitais privados uns contra os outros, quanto por contradições externas ao pacto, mas que interferiram diretamente em sua configuração. Em diferentes momentos da história, esses distúrbios e crises se refletiram na situação geral do país, causando convulsões e mudanças sociais e políticas de vulto. .
Nas primeiras tentativas de sua implantação, no início dos anos 1930, o pacto sofreu uma forte retaliação dos latifundiários do café. Estes, tendo os industriais paulistas como aliados, levaram à eclosão do chamado movimento constitucionalista. Nos anos 1960, com a entrada dos movimentos sociais de cunho popular na disputa pelos rumos do país, em grande parte apoiando a reforma agrária e o fortalecimento dos capitais estatais contra os capitais estrangeiros, a crise evoluiu para uma situação de ruptura violenta. Acabou sendo resolvida pelo golpe militar de 1964, na perspectiva de redução do papel do Estado na economia e fortalecimento dos setores privados. .
No entanto, a necessidade de grandes investimentos em infra-estrutura, para viabilizar a implantação de indústrias, projetadas principalmente por capitais estrangeiros, levou a uma ampliação da presença do Estado e de suas empresas na economia, ao invés da redução prevista. Isto, pelo simples fato de que investimentos em infra-estrutura são, em geral, vultosos e de retorno lento, o que não combina com as demandas de retorno rápido dos capitais privados. .
O regime militar, que perdurou até 1984, conseguiu resolver a crise do pacto patrimonial dos anos 1960, promovendo uma nova onda de industrialização, com base principal nos investimentos externos e no crescimento estatal. Na segunda metade dos anos 1970, o Brasil já não era um país meramente agrário. Possuía uma importante base industrial, e também um setor agrícola e pecuário capitalista moderno. As relações capitalistas, caracterizadas pela compra da força de trabalho, e seu pagamento através do salário, haviam se tornado predominantes. .
Apesar disso, a redução do ritmo de crescimento econômico e das margens de rentabilidade, já na primeira metade dos anos 1970, levou à eclosão de uma nova crise no pacto. Grande parte dos capitais privados, estrangeiros e nacionais colocou-se em contraposição aos capitais estatais, tentando apagar da história os benefícios da participação estatal no desenvolvimento deles. Essa crise foi um dos principais fatores de divisão da burguesia, e de enfraquecimento e fim do regime militar. .
Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Do blogue do EMIR SADER...

O Banco Central deve ser independente?
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Uma vez por mês o país – ou pelo menos os que dependem, direta ou indiretamente, da taxa de juros, isto é, milhões de pessoas – senta-se para saber o que o Banco Central decidiu. Entre os que aguardam, na torcida, está o próprio governo, que paga suas dívidas conforme a taxa de juros fixada pelo Banco Central, cujo presidente foi nomeado pelo presidente da República.Em outras palavras, mesmo sem lei que o autorize, o Banco Central tem atuado de forma independente. Lula acaba de reafirmar isso na sua entrevsita coletiva.
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Carta Maior consulta: o Banco Central deve ser independente? Independente de quem? Para fazer o quê? Qual deve ser sua função primordial?
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Postado por Emir Sader em 16/05/2007 às 14:51
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Ode ao humanismo
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Agora que o Papa se foi, é boa hora para nos perguntarmos de novo o que significa ser religioso. Quando alguém nos dirige a pergunta, do ponto de vista de alguma religião – Você crê em Deus? – e respondemos que não, automaticamente procuram nos caracterizar como “ateus”, com uma conotação negativa, como a do que “não crê”, a do “não-crente”; uma ausência, quase um defeito, uma carência. Opondo o religioso ao “descrente”. Quase nos olham com pena, com lástima, com piedade, como se olhassem para alguém condenado ao pecado, ao limbo, como a alguém que não conhecesse Deus – ou deus –, que duvidasse de sua inquestionável existência, alguém incapaz de conhecer e gozar das maravilhas da fé, incapaz de ter fé – de onde se pode deduzir: um infiel.
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Mas é disso que se trata? O oposto do crente é o sem fé? Crer é somente crer em algum deus? Ser fiel é ser fiel a um deus? Ou, ao contrário, ser religioso, crer em deus – qualquer que ele seja – é não crer no homem (e na mulher), é descrer do homem, é ter a deus e não ao homem como centro do mundo? Em outras palavras, religioso se opõe a humanista e não a infiel, porque significa deslocar o centro do mundo para um outro plano ou ser, que nos criaria e definiria nosso destino e o sentido mesmo das coisas. Daí a interpretação também de qualquer forma de escritura, de texto bíblico, ser revelado ao homem por um ente superior e não ser construído pelo homem.
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O que se deixa de lado, ao identificar crença com fidelidade, é o caráter alienado das visões religiosas do mundo e do próprio ato de crer em algum deus. É negar o principio fundamental do humanismo, que dá sentido à história dos homens e das mulheres: o de que os homens fazem sua própria história, mesmo quando não têm consciência disso.
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Necessitado de transcendência, o homem cria e recria a religião e seus deuses, seres perfeitos, imortais, referências de valores, extraindo isso de si mesmo, para depois inverter a relação e passar, de criador a criatura, tornando-se dependente e alienado. Esse é o mecanismo pelo qual o humanismo explica a religião.
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O homem livre, emancipado, não precisa de deuses, de religião, de fetiches. Ele sabe que a história é feita pelos homens conscientes, desalienados, por meio do seu trabalho. Sabe que a religião é a uma falsa consciência, que aliena o homem, ao invés de dar-lhe consciência.Um religioso – por exemplo, católico – imputa a deus o que é produto da ação dos homens. Se fosse coerente, um católico deveria ser contra o divórcio, o aborto, os contraceptivos (inclusive os preservativos), ser a favor do celibato, do direito de apenas homens serem sacerdotes, da infalibilidade papal, da proibição dos experimentos científicos com células-tronco etc. Deveria, além disso, obedecer rigidamente a disciplina de uma instituição retrógrada, medieval, obscurantista, como a Igreja Católica.
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Felizmente não o fazem, mas isto demonstra que as teses humanistas se chocam com a religião católica. Quem é a igreja católica, instituição totalmente hierárquica e antidemocrática, para dizer que governo é democrático, ditatorial ou autoritário? O que essa igreja e os seus fiéis tem a dizer da sua própria instituição?
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É muito positivo que tantos religiosos extraiam valores humanistas da religião para criticar o capitalismo, a exploração, a opressão. Mas isso não permite elevar a religião a cânone de interpretação da realidade dos homens, de sua história, de suas identidades. Esta só é possível com a crítica radical de toda forma de alienação, da qual as distintas formas de religião são as principais expressões.O respeito pela religião dos outros não deve impedir a crítica das visões religiosas do mundo, do deslocamento que elas produzem do homem como centro do mundo para deuses e outras formas de fetiches.
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O humanista se rege por valores éticos, por uma interpretação histórica da vida dos homens e das mulheres, faz a crítica de toda forma de alienação, luta pela emancipação integral dos homens e das mulheres, luta por um presente e um futuro em que não se necessite de entidades supraterrestres para explicar o mundo, mas em que o mundo seja construído transparentemente pelos homens. Que seja, portanto, inteligível para todos, pleno de sentido humano.
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Postado por Emir Sader em 14/10/2007 às 13:00

MOÇÃO DE REPÚDIO

A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer!
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Somos mulheres, não mercadorias!
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Sob essas insígnias, nós, militantes da Marcha Mundial das Mulheres, denunciamos dentro e fora do Brasil a violência que sofremos no ambiente público e no privado. Sendo assim, não podemos ficar caladas diante das barbaridades proferidas pelo deputado federal Clodovil Hernandes (PTC-SP).
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Misógino, machista e preconceituoso são os termos corretos para qualificar as declarações que o dito deputado insiste em expor. Consideramos as declarações dirigidas à deputada federal Cida Diogo uma ofensa a todas as mulheres.
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A Câmara dos Deputados não pode compactuar com esse tipo de atitude que reduz as mulheres à objetos a serviço dos homens. Nossa luta cotidiana é pela construção da autonomia das mulheres e por relações igualitárias entre homens e mulheres. Assim, o deputado afrontou também a luta histórica do movimento de mulheres.
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Clodovil Hernandes, em outra ocasião, já foi processado e condenado por atitudes racistas contra uma vereadora em São Paulo, o que demonstra sua incapacidade para ocupar um cargo público que tem como pré-requisito o respeito ao próximo e às diferenças.
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Exigimos dessa Casa que o Deputado se retrate publicamente com todas as mulheres do Brasil, em especial com a deputada Cida Diogo, e, ainda que o Sr. Clodovil Hernandes tenha seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos.

FORA MACHISTAS, HOMOFÓBICOS, LESBOFÓBICOS E MISÓGINOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS!

Marcha Mundial das Mulheres
São Paulo, maio de 2007.
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Companheiras/os

A nota de repúdio acima quanto as declarações do Deputado Clodovil, deve ser divulgada!


Mandem cópias ao Presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia e ao próprio Clodovil, nos seguintes endereços eletrônicos:
Saudações Feministas

Marcha Mundial das Mulheres

13.5.07

A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO VIVE

BRASIL DE FATO
Uma visão popular
do Brasil e do mundo

A Teologia da Libertação vive. Por isso, Ratzinger vem ao Brasil
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Principal objetivo é tentar frear o êxodo de fiéis na América Latina, região que abriga metade dos católicos do mundo; canonização de frei Galvão seria apenas um detalhe, na visão de teólogos da libertação, que acreditam que sua “opção preferencial pelos pobres” seja o verdadeiro alvo
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08/05/2007
Marcelo Netto Rodrigues
da Redação
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Pergunte a um católico comum por que o papa vem ao Brasil, e a ladainha será a mesma: “Bento XVI vem canonizar frei Galvão, o primeiro santo genuinamente brasileiro”. Tente perguntar a um leigo, e a sua resposta virá acrescida de uma sigla enigmática para os que não acompanham a história da Igreja: “Ele vem para a abertura da 5ª Conferência do Celam”.
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Agora, pergunte a representantes da Teologia da Libertação, e a jovial visita de Ratzinger transmuta-se em recado claro no qual frei Galvão é apenas o coadjuvante popular de um plano para conter o êxodo católico; e a Conferência, o palco principal para atacar os que vivem sob o prisma da “opção preferencial pelos pobres” – opção aliás germinada em Medellín (Colômbia), em 1968, durante a 2ª edição do encontro, e regada na reunião seguinte em Puebla (México), em 1979.
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Bento XVI não escolheu o Brasil por acaso para sua primeira viagem ao continente americano como papa. Sua estadia, mesmo que curta, pode traçar os rumos da Igreja na América Latina para os próximos dez anos. Isso porque tradicionalmente a fala inaugural da Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam) – que será feita por Ratzinger no mesmo dia em que deixa o país, dia 13 de maio – serve para demarcar o terreno das discussões, que desta vez serão travadas por 280 bispos que permanecerão reunidos em Aparecida até o dia 31 de maio.
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E é justamente aí que entra a preocupação de Ratzinger, que pisará em território brasileiro pela terceira vez no dia 9 de maio – a primeira foi em 1985, logo após o processo contra o teólogo brasileiro Leonardo Boff, e a segunda, em 1990, para ministrar um curso a bispos brasileiros no Rio de Janeiro. Quase metade dos católicos existentes no planeta mora na América Latina. São 480 milhões de fiéis que pouco a pouco estão abandonado a Igreja Católica – de acordo com teólogos da libertação ouvidos pelo Brasil de Fato, por sua inteira culpa. E Ratzinger espera que sua fala tenha influência direta nas linhas de ação pastoral tiradas pelos bispos ao final do encontro.
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Como curiosidade dessa batalha entre a Igreja Católica e as igrejas neo-pentecostais, basta dizer que a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, acaba de anunciar a distribuição de camisinhas para seus fiéis, seguindo o exemplo do que já tem sido feito pela própria Universal na África do Sul.
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Tira-gosto
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Essa linha de argumentação sustenta em parte a opinião do padre João Pedro Baresi, comboniano alinhado à Teologia da Libertação. “A vinda de Ratzinger faz parte de um plano em que a maior preocupação é com o êxodo dos católicos”, mas não só isso. Para Baresi, o papa também vai aproveitar a viagem para tentar “dar um basta à Teologia da Libertação” - já que Ratzinger credita à Teologia da Libertação a responsabilidade pela perda crescente de fiéis desde sua afirmação na década de 1960 enquanto teologia.
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“O que o recém-empossado arcebispo de São Paulo dom Odilo Scherer disse dias atrás, de que o tempo dessa teologia passou, pode ser um tira-gosto disso”, acredita Baresi. E nesse contexto, a fala inaugural da Conferência do Celam é importantíssima para que o papa dê o seu recado. “A canonização de frei Glavão complementa o plano: “é a religiosidade popular católica usada para segurar o povo em êxodo.”
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Ainda sobre dom Odilo, Baresi complementa: “Que ele documente a sua declaração. Segunda coisa, o que importa não é a Teologia da Libertação, mas a libertação, como sempre fala Gustavo Gutierrez. Se alguém tiver algo melhor que contribua para o compromisso da libertação à luz da da fé, que indique”.
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Mas a declaração de Scherer não é a única pista deixada pelo papa atual no meio de seu trajeto à América Latina. A recente advertência do Vaticano ao jesuíta alinhado à Teologia da Libertação Jon Sobrino, que vive em El Salvador, soa como uma nova condenação de Ratzinger a essa chave de interpretação do Evangelho.
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Teologia da Libertação vive
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O monge beneditino Marcelo Barros defende que a Teologia da Libertação só estaria superada se as condições e motivos pelos quais ela nasceu tivessem passado. “Ora, todos sabemos que, ao contrário, a pobreza injusta e a desigualdade social aumentaram muito, como também se pode dizer que está mais organizada a ressurgência de movimentos populares, indígenas e camponeses, assim como, no mundo todo, cresce o número dos que se organizam para que um mundo diferente seja possível. Como muitas dessas pessoas são crentes, cristãos ou de outras religiões, não somente a Teologia da Libertação continua válida, como ela deixou de ser só latino-americana para ser mundial.”
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Barros, que pertence à Comissão Teológica da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo, diz que tem ocorrido uma aproximação entre a Teologia da Libertação e a Teologia do Pluralismo Cultural e Religioso. “Isso significa que existe hoje uma Teologia da Libertação inter-religiosa e não somente cristã. Com uma ampla literatura não existente antes sobre Teologia Negra, Teologia Indígena, Teologia Feminista... Eco-teologia... que passam a ser considerados ramos novos da Teologia da Libertação.”
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O dominicano Frei Betto também foi contactado pela reportagem, mas foi informada por sua assessora que Betto estava em Cuba, e em virtude do acesso à internet ser dificultado pelo bloqueio dos Estados Unidos, ele não poderia responder.
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Leonardo Boff e Ratzinger: velhos conhecidos
A condenação de Boff em processo conduzido pelo então cardeal Ratzinger completa 20 anos; a única que coisa que mudou é que ele virou papa
08/05/2007
Marcelo Netto Rodrigues,
da Redação

O alemão Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI, é um velho conhecido do teólogo Leonardo Boff. Em setembro de 1984, na condição de cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – novo nome dado ao antigo tribunal da Inquisição –, Ratzinger conduziu o interrogatório que culminou com a condenação de Boff a um ano de “silêncio obsequioso”, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro "Igreja: Carisma e Poder".
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À época, Boff foi obrigado a sentar-se na mesma cadeira que Galileu Galilei sentou 400 anos antes. E escutou de Ratzinger as seguintes palavras: “Eu conheço o Brasil, aquilo que vocês fazem nas Comunidades Eclesiais de Base não é verdade, o Brasil não tem a pobreza que vocês imaginam, isso é a construção da leitura sociológica, ideológica, que a vertente marxista faz. Vocês estão transformando as Comunidades Eclesiais de Base em células marxistas”.
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Dom Paulo Evaristo Arns, que acompanhava Boff no tribunal, retrucou no momento apropriado. Referindo-se a um documento que, havia saído três dias antes, condenando a Teologia da Libertação, disse: “Cardeal Ratzinger, lemos o documento e ele é muito ruim. Não o aceitamos porque não vemos os nossos teólogos dizendo e pensando o que o senhor diz da Teologia da Libertação. Se quero construir uma ponte, chamo um engenheiro, e o senhor, para construir a ponte, chamou um gramático, que não entende nada de engenharia”.
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Mais de 20 anos após o encontro entre os dois no salão do Santo Ofício, no Vaticano, Leonardo Boff discorre em entrevista sobre quais seriam as reais razões que trazem – o agora – papa Bento XVI ao Brasil. Apesar do tempo, as motivações de Ratzinger, na opinião de Boff, continuam a ser as mesmas da época de sua condenação.
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Brasil de Fato – Na realidade, por detrás do discurso oficial, em sua opinião, por que Ratzinger vem ao Brasil nesse exato momento?
Leonardo Boff – Com ou sem o papa aconteceria a 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos que se realiza a cada dez anos. A reunião iria se realizar em Quito, no Equador. Mas quando o atual papa soube da espantosa emigração de católicos que ocorre cada ano rumo a outras denominações evangélicas de cunho carismático e popular decidiu fazer a reunião no Brasil. Seguramente, a intenção é sustar esta sangria no corpo católico. Talvez chegue a acusar o engajamento dos cristãos em questões políticas e sociais, como a principal causa desta emigração católica. Mas esta explicação representaria falta de auto-crítica. Onde há igrejas engajadas como em São Paulo a saída é bem menor do que onde está ausente esta dimensão como é o caso claro do Rio de Janeiro. Nesta Igreja, as Comunidades Eclesiais de Base foram perseguidas e os teólogos da libertação proibidos de qualquer atividade. Impôs-se uma Igreja rígida com os dois ouvidos voltados para Roma e longe dos miseráveis. Eu falei na diocese do papa em Roma, perto do Vaticano, mas nunca pude dar uma palestra sequer, em 20 anos de atividade teológica, no Rio de Janeiro por causa da pronta proibição de dom Eugênio, hoje já aposentado. A causa principal da saída dos católicos é a falta de inovação no seio da Igreja, é a rigidez dogmática de seus ensinamentos, é a falta de bom senso nas questões de moral e de sexualidade onde ela mostra um rosto cruel e sem piedade, é a proibição de se fazer qualquer criação no campo litúrgico, mesmo em se tratando de culturas diferentes como aquela dos indígenas e dos afro-descendentes. A maioria dos católicos não está mais sentindo sua igreja como um lar espiritual. Ou sofre e tolera com dor a mediocrização a que todos estão submetidos ou simplesmente abandona a Igreja. O papa deve enfrentar-se com esta questão. Temo que siga o caminho mais fácil de culpabilizar os outros e não fazer auto-crítica sobre o tipo de presença que a Igreja está tendo na sociedade.
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O senhor acredita que Ratzinger irá aproveitar o simbólico 13 de maio – por coincidência mesmo dia em que João Paulo II sofreu o atentado em 1982 e dia de Nossa Senhora de Fátima para anunciar a beatificação de João Paulo II em Aparecida?
Boff – Não creio que fará aqui a beatificação de João Paulo II. Ele é um santo para os europeus, italianos, polones e os movimentos conservadores que sempre bajularam o papa. Lá é o ambiente adequado para a sua beatificação e santificação. Nós não contamos muito para o Vaticano, pois somos periféricos. Querem que cresçamos, mas desde que sempre submissos aos ditames emanados de Roma. Quer dizer, nos querem cristãmente colonizados e neocolonizados.
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Sobre as declarações de dom Odilo Scherer de que a "Teologia da Libertação já passou". O que o senhor teria a dizer a ele?
Boff – Suas declarações mostram o nível de desinformação e alienação que esse arcebispo tem a respeito das coisas internas da própria Igreja que ele, por profissão, deveria conhecer. Os teólogos da libertação que eram e são maioria no Brasil estão ainda vivos, produzem teologia e não se tem notícia que se tenham reconvertido à uma teologia distanciada do povo e da caminhada das comunidades. A Teologia da Libertação nasceu ouvindo o grito dos pobres e excluídos. Esses aumentaram no mundo inteiro. Bom seria se não existissem mais. Mas seu grito virou clamor. É o que faz com que a Teologia da Libertação mantenha vigência e continue pensando a partir dos crucificados para que possam ressuscitar. Se com o desaparecimento da Teologia da Libertação, como pensa o arcebispo de São Paulo, tivessem desaparecido também os pobres e os excluídos, então ele seria um sério candidato a prêmio Nobel de Economia. Conseguiu o feito messiânico de libertar a Terra de todos os filhos e filhas condenados e junto com isso libertado a Igreja da Teologia da Libertação.
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Leonardo Boff: o Vaticano está alienado da realidade da Igreja
Para o teólogo, condenação do jesuíta Jon Sobrino abre o caminho para a visita do Papa Bento XVI ao Brasil
26/03/2007
Eduardo Sales Lima,da redação
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Em entrevista, Leonardo Boff, téologo e o colunista do Brasil de Fato, avalia que a decisão do Vaticano de condenar o jesuíta salvadorenho Jon Sobrino no começo de março se relaciona com a visita do Papa Bento XVI ao Brasil. Segundo o religioso, um grupo de Igreja Católica guarda rancor da Teologia da Libertação e o Vaticano preocupa-se apenas com a hierarquia.
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Brasil de Fato: A condenação a Jon Sobrino é um recado da ala conservadora da igreja?
Leonardo Boff: Para mim é uma reação dos grupos no Vaticano que guardam rancor à teologia da libertação porque ela continua viva em todos os continentes, embora menos visível que antigamente. Provavelmente está por detrás o grupo da Colômbia com os Cardeais Alfonso Lopez Trujillo, Dario Castrillon Hoyos, e o Cardeal Barragan do México bem como o brasileiro que trabalha com eles, o bispo Dom Karl Josef Romer que montou o processo judicial contra mim. Eles querem limpar o caminho para a chegada do Papa ao Brasil. Só que puseram pedras demais e o efeito poderá ser contrário. Provavelmente o Papa deverá dar explicações ou então piorar ainda mais a condenação. Será um teste se ele pretende manter a paz e a unidade no campo teológico ou se prefere a ruptura dilaceradora em nome de uma ortodoxia rígida e distanciada do bom senso e do sentido da história de nossos provos crucificados pela injustiça.
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BF: Os argumentos dados pelo Vaticano para a condenação têm fundamento?
Boff: Os argumentos não se sustentam quando lemos os textos de Jon Sobrino. Ele mesmo, submeteu a vários especialistas na area da cristologia, seus vários livros, a Sesboué da França, a Gonzáles Faus da Espanha, a Carlos Palacio do Brasil e a outros. Ninguém deles achou qualquer erro ou risco para os fiéis.
Mas quando existe previamente o "furor condenatório" não valem as razões mas a vontade arbitrária das autoridades que se regem pelo autoritarismo patriarcal que preside as relações internas da Igreja. Sua condenação é uma ameaça a todos os teólogos que pretendem fazer teologia a partir dos pobres, ou como prefere Jon Sobrino, a partir das vítimas e dos povos crucificados.
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BF: O Vaticano sufoca as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)?
Boff: Para o Vatincano as CEBs não existem. Eles se orientam pelo direito canônico. Este não prevê nada para elas. Talvez "pias associações" coisa que eles efetivamente não são. Em razão disso, nenhum representante das CEBs seja leigos, seja padres, religiosos/as ou bispos foram escolhidos para estarem presentes na V Conferência Espiscopal da América Latina e Caribe (Celam) em Aparecida. Isso mostra apenas o quanto o Vaticano está alienado da realidade concreta da Igreja. Para ele, na verdade, só conta a hierarquia. O resto são como "garis" da Igreja, simples leigos, frequeses de paróquias e consumidores de bens simbólicos que eles, os padres e hierarcas somente produzem.
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BF: Como a Teologia da Libertação aborda temas atuais como trangênicos e aquecimento global?
Boff: A teologia da libertação há muito vinha denunciando que a exploração que se move contra as pessoas, as classes, os países, os ecossistemas, se dirige também contra a Terra como um todo. Na opção preferencial pelos pobres, marca registrada da Teologia da Libertação, deve entrar a Terra, pois é o grande pobre, oprimido e devastado. O aquecimento global é resultado desta agressão sistemática da Casa Comum. A Teologia da Libertação tem elaborado toda uma ética do cuidado, da responsabilidade, da proteção e salvaguarda da herança que recebemos da Terra e do universo e uma verdadeira mistica do respeito e da reverência para com o Mistério da Criação, chamado a ser o Corpo da Trindade. Agora nos resta cuidarmos mais ainda, adaptarmo-nos às mudanças inevitáveis e minorar os efeitos maléficos.

12.5.07

Que diabo de fé é a nossa?

Correio da Cidadania . Frei Betto 11-Mai-2007
. Em tempos de visita papal, convém fugir um pouco do shownalismo (como é chamado o jornalismo que faz da notícia espetáculo) e falar do essencial: a fé.
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Às vezes me pergunto se a humanidade tem mesmo avançado. Nos tempos primevos, ensina Fustel de Coulanges, cada família cultuava seus deuses domésticos. Ninguém invejava o deus do vizinho nem tinha a pretensão de impor a ele o deus de suas crenças. A menos que a filha fosse se unir em casamento ao filho do vizinho. Nesse caso, ela se via obrigada a renegar seus deuses familiares e aderir de corpo e alma aos deuses cultuados pela família do marido - que exercia também a função de sacerdote.
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Como disse seu Apolônio, meu mecânico, com quem converso essas coisas enquanto o vejo limpar o carburador, “o povo antigo não tinha fé, tinha fezes”. Minha avó era mais contundente ao ver minha preguiça de levantar cedo no domingo para ir à missa: “Que diabo de fé é a sua?”.
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A coisa começou a complicar quando o politeísmo se viu ameaçado pela contra-reforma monoteísta ocorrida no Egito a partir de 1400 anos antes da era cristã, graças ao faraó Akhenaton e ao rebelde hebreu Moisés. A antiga e tradicional democracia divina, com cada deus satisfeito com a sua respectiva cota de poder, acabou desbancada pelo monopólio da fé. Nasceu então uma divisão que jamais a humanidade conhecera antes: de um lado, os fiéis, de outro, os idólatras, que segundo os primeiros acreditavam em falsos deuses.
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A humanidade ainda não tinha conhecido o fenômeno do ateísmo. Essa foi a primeira reação fundamentalista registrada pela história: o deus de uma nação, além de ser o principal, é promovido também a ser o único. Portanto, a crença em um decreta a descrença e o descrédito de todos os demais deuses. Só a única e verdadeira fé permite o acesso ao único e verdadeiro Deus.
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Daí nasceu a distinção entre o verdadeiro e o falso. E em nome do verdadeiro, a religião passou a recorrer à violência, o que parece uma antinomia. Mas quem pensa nisso quando se encontra imbuído de que deve impor aos demais a verdade, ainda que a ferro e fogo? Sobretudo quando se está convencido de que autoridade e verdade são mais do que uma rima. (De fato, é uma tragédia).
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A modernidade veio salvar a religião de sua presunção de ser a única depositária da verdade. Hoje, cremos muito mais na verdade científica, empírica e matematicamente comprovada, que nas verdades religiosas. Quem duvida da existência de um trio de quarks na intimidade do átomo, embora não haja telescópio que nos permita vê-lo? No entanto, nossos aparelhos eletrônicos funcionam. Para muitos, funcionam miraculosamente, como o fax, o tempo real dos @ e o celular. Mas quem tem absoluta certeza de que há vida depois da morte? Ninguém. No máximo, temos fé.
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Ora, direis espantado, estaria esse heterodoxo frade da teologia da libertação reivindicando a volta do politeísmo? Nada disso. Desejo apenas a tolerância, como a que foi praticada por Jesus, que jamais criticou a fé da mulher fenícia ou a do centurião, nem impôs como condição às suas curas a prévia adesão à sua crença.
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A mim o que espanta é constatar a nova modalidade de politeísmo: lá em cima, num céu abstrato, o deus no qual cremos; aqui embaixo, os deuses aos quais de fato prestamos devoção: o dinheiro, o poder, o consumismo que nos consome e consuma. E esta crença rigorosa de que fora do capitalismo não há salvação, embora 2/3 da humanidade não tenham acesso aos bens que ele oferece.
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O cerne da questão é bem mais embaixo: cremos em Deus e nos bens finitos que nos etiquetam socialmente, mas não no próximo. Religião sim; amor não, exceto o que aumenta a nossa cota de satisfação e prazer.
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Toda a nossa lógica sistêmica cultua o mercado, a propriedade privada, o dinheiro aplicado, o crescimento do PIB, o aumento das exportações, o rigor fiscal, sem a menor preocupação para com os sem-terra, sem-teto, sem-escola, sem-saúde e sem-identidade. Em nome de Deus, passamos indiferentes por aqueles que têm fome e têm sede e são imagens vivas de Cristo, conforme o evangelho de Mateus (25, 31-44).
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Ora, quem dispõe de tempo para prestar atenção naquele que se encontra dependurado numa cruz, atrapalhando o nosso programa de domingo? Alguma ele andou aprontando... . Frei Betto é escritor, autor do romance sobre Jesus “Entre todos os homens” (Ática), entre outros livros.

Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz