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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

30.6.12

Parto: ''a cultura médica ainda é muito intervencionista''. Entrevista especial com Ana Cristina Duarte

Entrevistas

Parto: ''a cultura médica ainda é muito intervencionista''. Entrevista especial com Ana Cristina Duarte

"A discussão do parto domiciliar está relacionada com o reconhecimento dessa opção para as mulheres, e a liberdade de elas escolherem onde e como querem ter o seu bebê", declara a obstetra.

Confira a entrevista.


As recentes discussões e manifestações acerca do parto domiciliar e a
Marcha do Parto em Casa, realizada em São Paulo, tiveram o objetivo de "chamar atenção sobre a questão das escolhas no parto", disse a obstetra Ana Cristina Duarte, à IHU On-Line. "Não defendo que as mulheres devam optar pelo parto domiciliar. Penso que devem optar por obter o máximo possível de informações sobre as possibilidades de nascimento, e fazer uma escolha de acordo com o que o coração delas diz".

Na entrevista a seguir, concedida por telefone, a obstetra enfatiza que os "centros obstétricos ainda carecem de direitos básicos dos
direitos humanos". Na teoria médica, assegura, "as mulheres têm direito de escolher o que vai acontecer com o corpo delas". Entretanto, "na prática isso não funciona. (...) Quando a mulher entra no hospital para ter o seu bebê, seja no sistema público ou no sistema privado, o seu corpo é levado pelas circunstâncias e pelos protocolos que forem determinados por aquela instituição".

Ana Duarte também critica a maneira como os médicos orientam as mulheres a escolherem o
parto normal ou a cesariana, e enfatiza que o direito ao acompanhante, determinado por lei, também não é respeitado em muitos hospitais brasileiros. Além disso, informa que pesquisas já retratam casos de violência nas maternidades. "Pelo menos, 25% das mulheres sofreram algum tipo de abuso físico ou verbal dentro das maternidades".

Ana Cristina Duarte é formada em Obstetrícia pela Universidade de São Paulo - USP. Atualmente atua no Grupo Samaúma – Maternidade Consciente, e no Grupo de Apoio à Materinidade Ativa – GAMA.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como avalia as discussões acerca do parto domiciliar? Quais as vantagens e desvantagens para as mulheres que desejam que os filhos nasçam em casa?

Ana Cristina Duarte –
A discussão toda do parto domiciliar está relacionada com o reconhecimento dessa opção para as
mulheres, e a liberdade de elas escolherem onde e como querem ter o seu bebê. Essa liberdade de escolha ainda não é reconhecida pela sociedade. Existe o direito, mas as mulheres e a sociedade não entendem isso. Então, toda a discussão sobre o parto, a marcha realizada recentemente e a discussão do parto domiciliar são feitas para chamar atenção sobre a questão das escolhas no parto.

Não defendo que as mulheres devam optar pelo parto domiciliar. Penso que devem optar por obter o máximo possível de informações sobre as possibilidades de nascimento, e fazer uma escolha de acordo com o que o coração delas diz. Portanto, o melhor lugar para se ter o bebê é onde a mulher se sente mais segura. Se ela se sente mais segura na casa dela, precisa procurar opções para ter o bebê em casa. Mas, por outro lado, se sentir mais segura no hospital, é bom se informar que, primeiro, será muito difícil conseguir realizar um parto normal e, segundo, vai ser muito difícil fazer escolhas dentro do hospital.

Dentro de casa, as vantagens são que não há interferência de uma instituição, ou seja, o protocolo de uma instituição em cima de um processo que é natural. Todo o processo do parto passa sob o controle exclusivo da
mãe, pois é ela quem determina as pessoas que estarão presentes. Então, em geral é um processo natural, a não ser que haja uma circunstância de risco iminente.

IHU On-Line – Por que muitos obstetras são contra o parto domiciliar? A senhora, como obstetra, como avalia esse posicionamento?

Ana Cristina Duarte –
Porque não conhecem as evidências científicas e não querem conhecê-las. Usam argumentos falaciosos do tipo "eu já vi muita mulher morrer de hemorragia". Enfim, são argumentos que não têm consistência lógica. As evidências dizem que o parto em casa é seguro, e o obstetra que não quiser ler e se atualizar, vai continuar falando que é perigoso.

IHU On-Line – É possível definir o perfil das mulheres que têm optado pelo parto normal e parto domiciliar? Percebe uma retomada deste tipo de parto? O que isso significa?

Ana Cristina Duarte –
As mulheres que têm buscado o
parto domiciliar são, em geral, de nível superior, com idade acima de trinta anos, profissionais liberais, que trabalham fora, e com o nível educacional bem elevado. São mulheres que pesquisam bastante, leem muito, compram livros, procuram em sites brasileiros e internacionais antes de fazer a sua escolha. Então, em geral, é um pessoal de nível cultural bastante elevado. São pessoas que já fazem escolhas diferentes para sua vida: muitas já têm profissões diferentes, como cineastas, produtoras, fotógrafas e têm também algumas pessoas comuns, como advogadas, médicas. Em geral são pessoas que já levam um tipo de vida diferente.

O parto normal na rede pública é "meio" obrigatório. A mulher só fará uma cesárea se o médico achar que tem que fazer. Portanto, a cesariana não é uma escolha para as mulheres. No sistema de saúde privado, as mulheres que escolhem o parto normal geralmente são aquelas que procuram informação, que leem muito, que acabam conhecendo os benefícios e sabendo que isso é melhor para a mãe e para o bebê. Essa escolha é uma tendência mundial. O Brasil é um dos últimos lugares onde está chegando esse movimento. Na Inglaterra e nos EUA, já se fala disso há 30 anos, e em países da Europa isso nunca deixou de ser opção. Em nível mundial há um crescimento dessa visão do parto como sendo um processo fisiológico e que, dentro das circunstâncias normais, não deveria ser hospitalizado. A própria internet tem ajudado as mulheres a acharem mais facilmente essas informações.

IHU On-Line – Como a discussão acerca do direito de escolha é vista hoje na obstetrícia? De modo geral, as mães têm o direito de decidir como querem que aconteça o nascimento de seus filhos?

Ana Cristina Duarte –
Na verdade, em termos de direitos básicos humanos as mulheres têm direito de escolher o que vai acontecer com o corpo delas. A medicina enxerga também esse direito nos tratados de ética. A questão é que na prática isso não funciona. Então, quando a mulher entra no hospital para ter seu bebê, seja no sistema público ou no sistema privado, o seu corpo é levado pelas circunstâncias e pelos protocolos que forem determinados pela instituição. Então, não perguntam para elas, por exemplo: "Nós queremos raspar os seus pelos. A vantagem de raspar os seus pelos é que facilita o nosso serviço; a desvantagem é que pode lhe incomodar no pós-parto. A senhora nos autoriza a fazer a raspagem?". Então, as questões não são colocadas desse jeito. Acontece assim: "Senhora, por favor, abre as pernas, porque nós precisamos fazer a raspagem dos pelos". Então, isso acontece desde a raspagem dos pelos até o corte da vagina dela. Então, quando o bebê está saindo, o médico faz a episiotomia. Esse corte é feito sem autorização, sem aviso prévio, sem um consentimento informado, e vai totalmente contra ao que prega a medicina. Um médico não consegue arrancar uma verruga sem explicar exatamente o que irá fazer e quais são os riscos para o paciente.

Toda a assistência ao parto carece desse tipo de cuidado. Num consultório que atende pacientes com plano de saúde, o médico diz assim: "O parto normal e a cesárea têm vantagens e desvantagens. O parto normal é melhor para você, mas o bebê pode ficar retardado. Você pode ficar com a vagina larga e seu marido ir embora, mas a recuperação é melhor para você. Na cesariana, a desvantagem é que a recuperação demora um pouco mais, mas aí o bebê fica bem, a sua vagina fica ótima e conseguimos organizar tudo, evita correrias e tal". Então, quando as coisas são colocadas dessa forma mentirosa para a mulher, o direito às escolhas acaba existindo apenas no papel, mas não existe sequer na cabeça dos profissionais. O sistema de saúde não reconhece esse direito.

Se você vai no centro obstétrico, por exemplo, em qualquer hospital público, onde tiverem dez mulheres grávidas, todas estarão ligadas no soro com ocitocina, e nenhuma delas sabe o que tem lá dentro. Nenhuma delas sabe que esse medicamento pode causar morte, descolamento de placenta, dar excesso de contração. Ninguém fala isso para elas. Então, na verdade, os centros obstétricos ainda carecem de direitos básicos dos direitos humanos. E isso sem falar em violência obstétrica. Já existe um levantamento no Brasil que mostra que, pelo menos, 25% das mulheres sofreram algum tipo de abuso físico ou verbal dentro das
maternidades. Penso que esse número é bem maior do que 25%, porque muitas mulheres não entendem que foram vítimas de violência. Quando a mulher está com oito centímetros, o médico faz uma cesariana para poder ir embora logo, dizendo que o bebê está em sofrimento. A mulher não faz a menor ideia de que sofreu um processo de lesão física grave. Se cada mulher souber exatamente o que é violência física, e se tiver noção real do que aconteceu com ela, esse número no Brasil vai chegar facilmente perto dos 70%.

IHU On-Line – E por que se age dessa forma?

Ana Cristina Duarte –
Esse é um problema histórico, cultural, multifatorial. A população não está educada para exigir respeito. Não está imponderada para
exigir seus direitos. Além disso, existem profissionais de saúde que estão atuando de forma desatualizada. A movimentação toda do governo para melhorar a assistência ao parto é muito lenta, embora tenha melhorado muito nos últimos anos. Mas para se ter uma ideia, o direito ao acompanhante, que é determinado em lei federal no Brasil desde 2005, não é respeitado por muitos hospitais. Algumas instituições ainda não permitem a presença do acompanhante, nem no pré-parto, nem no parto e tampouco no pós-parto. Então, se não obedecem nem uma lei federal, por que irão respeitar o restante?

IHU On-Line – Como vê a proposta de incluir a atividade de parteiras no Sistema Único de Saúde?

Ana Cristina Duarte –
Primeiro vamos definir o que é parteira, pois tem dois tipos de parteira. Tem a parteira tradicional, que é a que trabalha nos rincões do Brasil, nas regiões ribeirinhas, florestas e aldeias indígenas, que aprendem por tradição. E têm as parteiras urbanas, que são profissionais formadas com curso superior de enfermagem ou de obstetrícia, e que atendem partos domiciliares nos grandes centros.

O governo está falando da parteira tradicional. Nesse momento, não vejo como o SUS não reconhecer o trabalho dessas mulheres, porque elas trabalham a vida inteira, sem ganhar nada, sem direito à aposentadoria, à assistência médica ou coisa alguma. O governo ignora a existência dessas parteiras, e elas precisam ser
reconhecidas e remuneradas pelo seu trabalho. A questão é saber se o modelo de atenção baseado nessas parteiras tradicionais seria eficaz, porque nós sequer temos um estudo que nos diga se esse trabalho da parteira tradicional é eficaz e seguro. Essa questão tem de ser estudada.

IHU On-Line – Quais são, para a mãe e o bebê, os benefícios de contar com a presença de uma doula durante o parto?

Ana Cristina Duarte –
Em geral, a doula acompanha a mulher onde ela quiser. Então, se ela for ter um parto hospitalar, a doula vai junto, desde que o hospital permita. O ideal seria que a mãe tivesse direito a um acompanhante de escolha dela e mais a doula, porque a doula não é da família, é uma profissional. O ideal seria a presença das duas pessoas. A doula é uma pessoa que já conhece o processo todo de nascimento, então ela reconhece as necessidades físicas e emocionais da mulher durante esse processo e pode oferecer ajuda e suporte durante todo o trabalho de parto, diante das necessidades da mulher.

Então, ela não ocupa o lugar do acompanhante. No site www.doulas.com.br tem um artigo que mostra quais são os resultados de ter a companhia de uma doula, como a diminuição da taxa de cesariana, a diminuição do uso de analgesia, a diminuição do uso de fórceps, aumento substancial do grau de
satisfação da mãe. Existem diversas pesquisas bacanas mostrando como é importante a presença da doula no trabalho de parto.

IHU On-Line – Qual é o papel do pai durante o processo de parto?

Ana Cristina Duarte –
O pai é o coautor da obra. Então, na verdade, o processo pode não estar acontecendo no corpo dele, mas a responsabilidade dele é muito grande no sentido de oferecer suporte. Ele tem suas próprias necessidades, obviamente, emocionais, e a doula pode ajudar, mas ele tem de estar junto, tem de participar do processo todo, dentro do que ele possa oferecer. Alguns são mais tímidos, outros fazem força junto, torcem, cada um tem o seu estilo, mas a presença deles durante todo o processo é fundamental, desde que a mulher queira.

IHU On-Line – Quais são os desafios em relação à orientação médica e ao direto de escolha da mulher?

Ana Cristina Duarte –
Não podemos esperar que os médicos que ganham mais e trabalham menos em uma
cesariana sejam os portadores da informação, porque a informação que ele traz tem um viés. A mulher tem de procurar as informações em fontes isentas, ou seja, evidências científicas, livros, grupos de apoio ao parto normal, enfim ela tem de procurar fora do consultório médico. O consultório médico é o último lugar onde ela deve procurar essas opções, até porque no Brasil a cultura médica ainda é muito intervencionista. Se ela quer saber como ter um parto menos medicalizado, ela tem que procurar outras fontes de informação. E hoje em dia já existem muitos livros interessantes publicados sobre isso.

IHU On-Line – O parto domiciliar é menos medicalizado?

Ana Cristina Duarte –
O parto domiciliar tem que ser desmedicalizado, tem que ser um parto natural. São utilizados outros recursos, como água, banheira, massagem, respiração, visualização, mas não se pode usar droga, anestesia durante o parto. Ele é um parto natural e tem que ser, porque esses procedimentos todos trazem risco para a mãe e para o bebê. Eventualmente, algumas mulheres são levadas para a
maternidade para poder fazer o procedimento, porque precisam receber um pouco de hormônio para melhorar as contrações.

IHU On-Line – Como você vê as campanhas de apoio do governo federal ao parto natural e humanizado?

Ana Cristina Duarte –
É fundamental, mas ainda está muito lento. Se você pegar as campanhas de aleitamento materno que aconteceram depois que o leite de fórmula passou a ser uma realidade para a nossa sociedade – o que gerou muitos problemas para os bebês –, o governo respondeu com campanhas maciças e investiu muito dinheiro para reverter esse absurdo, porque estava lutando contra uma grande indústria do leite em pó.

Por outro lado, temas como o parto normal e a cesariana passam batido pelo governo, principalmente porque a cesariana acontece no serviço privado, onde quem paga por suas escolhas são as próprias mulheres. Elas pagam um plano de saúde, no qual já está incluso a cesárea absurda. Mas se a mulher for para a UTI porque perdeu o útero, ou está com uma hemorragia, o governo não paga um centavo por isso. Então, não custa caro para o governo o que está acontecendo e, portanto, o governo não investe tudo que poderia e deveria investir em termos de educação para melhorar a demanda das
mulheres que fazem o parto normal.

IHU On-Line – Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Ana Cristina Duarte –
Gostaria de ressaltar que o parto domiciliar tem de ser planejado. Ele não é uma aventura selvagem. As equipes que atendem o parto natural em casa têm o material completo, tanto para situação de baixo risco como para uma complicação. A única coisa que não podemos fazer em casa é uma cesariana, mas quando se tem uma hemorragia, é possível controlá-la. Além disso, o parto domiciliar é bacana, porque ele não é uma obrigação. A mulher pode começar o parto em casa e desistir, ir para o hospital. Ele é muito mais confortável para a mulher.

 

29.6.12

Adital - Gerar vida e gerar morte

13.02.12 - BRASIL
Gerar vida e gerar morte

Ivone Gebara *

Adital -
 
Espanta-me a facilidade como alguns clérigos e bispos afirmam poder distinguir com clareza as forças que geram vida e as que geram morte. Discorrem como se estivessem num campo de certezas. Nem percebem que opróprio uso dessas duas palavras principalmente nos seus discursos acalorados sobre a importância de escolhermos a vida conduz quase necessariamente a defender armadilhas de morte e provocar formas sutis de violência. O que é vida? O que é morte? É possível que a morte se sustente fora da vida e a vida fora da morte? Não somos nós vida e morte ao mesmo tempo? Não somos sempre aprendizes, caminhando trôpegos, dando um passo depois do outro nas escolhas diárias que tentamos fazer? Faz algum tempo que a Igreja Católica no Brasil vem desenvolvendo uma linha equivocada de defesa da vida. Quando falam da defesa da vida reduzem o termo vida à vida do feto humano e, assegurados da vida do feto, esquecem-se de todos os outros aspectos e personagens reais da complexa teia da vida. Fico me perguntando de novo porque insistem nesse erro e nesse limite lógico condenado também de muitas maneiras pelos muitos filósofos e teólogos da Tradição Cristã. Distanciam-se até das últimas reflexões de Bento XVI que, com justeza, discorre sobre a complexidade da vida no universo incluindo-se a vida humana.

Espanta-me constatar mais uma vez a pouca formação filosófica e teológica de parte do episcopado e de muitos clérigos que se arvoram a defender a vida, mas atiram pedras em pessoas que consideram "mal-amadas" só por defenderem um ideário diferente do seu. Por que "mal-amada" ou "mal-amado" seria uma forma de menosprezar ou diminuir as pessoas? O que de fato querem dizer com isso?

Não somos todos nós necessitados de amor? Não é o amor a missão cristã? Não é para os desprezados, esquecidos e mal-amados que o Cristianismo diz manter sua missão a exemplo de Jesus? É desconcertante perceber que usam expressões desse tipo e instrumentalizam a mensagem cristã para afirmar desacordos de posições, como o fez D. Benedito Simão, bispo de Assis e Presidente da Comissão pela Vida do Regional Sul I da CNBB. Em entrevista ao Grupo Estado de São Paulo na semana passada, por ocasião da escolha da Professora e Doutora Eleonora Menicucci como ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres o referido bispo classificou a nova ministra de "mal-amada" e, com isso, desrespeitou-a e incitou ao desrespeito e à falta de diálogo em relação à responsabilidade pública de enfrentar os sérios problemas sociais.

Seria o bispo então um privilegiado "bem-amado"? A partir de que critérios?

O desrespeito às histórias e escolhas pessoais, às muitas dores e razões de muitas mulheres torna-se moeda corrente em muitas Igrejas cristãs que se armam para uma chamada "guerra santa" sem a preocupação de aproximar-se das pessoas envolvidas em situações de desespero. Usam sua autoridade junto ao povo para gritar palavras de ordem e em nome de seu deus confundir as mentes e os corações.

Perdeu-se a civilidade. Perdeu-se o desejo de consagração à sabedoria e ao bom senso. Perdeu-se a escuta aos acontecimentos e à aproximação respeitosa das dores alheias. Apenas se responde a partir de PRINCÍPIOS e de pretensa autoridade. Mas, o que são os princípios fora da vida cotidiana das pessoas de carne e osso? Qual é o teto dos princípios? Quem os estabelece? Onde vivem eles? Como se conjugam nas diferentes situações da vida? O convite ao pensamento se faz absolutamente necessário quando as trevas da ignorância obscurecem as mentes e os corações.

Nesse momento crítico de descrença em relação a muitos valores humanos, as atitudes policialescas de um ou mais bispos, de clérigos e pastores, assim como de alguns fiéis nos apavoram. A ignorância das próprias fontes do Evangelho e a instrumentalização da fé dos mais simples nos espantam. A democracia real está em risco. A liberdade está ameaçada pelo obscurantismo religioso.

De nada servem palavras como diálogo, escuta, conversão, solidariedade, respeito à vida quando na prática é a violência e a defesa de ideias pré-concebidas que parecem nortear alguns comportamentos religiosos públicos. Seguem esquecendo que não se deve tomar Deus em vão. Não apenas seu nome, pois isto, já o fazem. Tomar Deus em vão é tomar as criaturas em vão, selecionando-os, desrespeitando-as e julgando-as de antemão. Nós todas/os temos palhas e traves em nossos olhos e eu sou a primeira. Por isso, cada pessoa ou grupo apenas consegue ver algo da realidade, que é sempre maior do que nós. Entretanto, se quisermos enxergar um pouco mais, somos convidadas a nos aproximar de forma desarmada dos outros. Somos desafiadas a ouvir, olhar, sentir, acolher, perguntar, conversar como se o corpo do outro ou da outra pudessem ser meu próprio corpo, como se os olhos e ouvidos dos outros pudessem completar minha visão e audição. E mais, como se as dores alheias pudessem ser de fato minhas próprias dores e suas histórias de vida minhas mestras. Só assim poderemos ter um pouco de autoridade com dignidade. Só assim nossas belas palavras não serão ocas. E, talvez, nessa abertura a cada dia renovada, poderemos acreditar na necessidade vital de carregar os fardos uns dos outros e esperar que a fraternidade e a sororidade sejam possíveis em nossas relações.

Fevereiro - 2012.


* Escritora, filósofa e teóloga
 
 

Altamiro Borges: A pressão contra a Voz do Brasil

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A pressão contra a Voz do Brasil

Por Altamiro Borges

A pedido do líder do PT na Câmara Federal, Jilmar Tatto, o projeto que flexibiliza o horário de exibição na rádio do programa "Voz do Brasil" foi retirado da pauta de votação nesta semana. O deputado argumentou que 18 milhões de brasileiros são ouvintes do programa e que a mudança do horário prejudicaria a sua audiência. Ele criticou os empresários que pressionam pela alteração. "Querem o horário nobre para ganhar dinheiro com publicidade. Por que flexibilizar? Flexibilizar é para acabar", atacou.


Folha confessa o objetivo

A pressão dos barões da mídia contra a "Voz do Brasil" é, de fato, bastante pesada. Na semana passada, durante o 26º Congresso Brasileiro da Radiodifusão, promovido pela poderosa Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert), a ofensiva pela "flexibilização" ganhou força. Diante da pressão patronal, o presidente da Câmara Federal, deputado Marcos Maia, presente ao congresso, comprometeu-se a acelerar a votação do projeto – que, mesmo adiada, poderá ocorrer nas próximas semanas.

Numa campanha orquestrada, vários veículos têm defendido a urgência da votação do projeto. O esforço é para evitar que o tema seja debatido, de forma democrática e mais aprofundada, pela sociedade. Nesta segunda-feira (25), a Folha publicou o editorial "A voz de Getúlio Vargas", que explicita os intentos dos barões da mídia. Numa grosseira distorção da história, o jornal rosnou:


*****


O Brasil carrega em seu DNA institucional várias pequenas heranças de origem fascista. Elas incluem a força despropositada das corporações profissionais, a estrutura sindical baseada em contratos coletivos de trabalho e contribuições compulsórias. Nenhuma, porém, se iguala ao programa radiofônico 'A Voz do Brasil', que todas as emissoras do país estão obrigadas a transmitir, de segunda a sexta-feira, sempre às 19h, ritual decrépito que se repete com poucas interrupções desde 22 de julho de 1935.

(...)

É incrível que um arcaísmo dessa magnitude sobreviva em pleno século 21. Além de negar a liberdade de escolha a milhões de cidadãos brasileiros, 'A Voz do Brasil' presta um desserviço público, ao monopolizar as ondas de rádio no exato momento em que elas são uma valiosa fonte de informações para o cidadão - por exemplo, sobre o trânsito que assola tantas cidades do país.

É, portanto, uma boa notícia a de que a Câmara deverá colocar em votação um projeto de lei que flexibiliza os horários de exibição de 'A Voz do Brasil'. Melhor ainda seria se o Congresso acabasse de vez com a obrigatoriedade e, por que não, com o próprio programa, que custa caro aos cofres públicos. Mas isso talvez seja pedir demais dos parlamentares, que se contam entre as pouquíssimas pessoas beneficiadas por esse resquício dos tempos de Getúlio Vargas.

*****

O monopólio da palavra

O agressivo editorial da Folha é bastante elucidativo. Ele revela qual é o verdadeiro anseio dos barões da mídia. Eles não querem apenas "flexibilizar" o horário, mas sim acabar com a "Voz do Brasil". Para eles, tudo que proveem do Estado, inclusive o direito à informação, é um aberração populista. Cabe aos monopólios privados, apenas a eles, o monopólio da palavra, da comunicação.

Não dá para aceitar passivamente esta violenta pressão política, que esconde motivações econômicas bem mesquinhas – a rica fatia da publicidade neste horário nobre. Neste sentido, o manifesto lançado em agosto de 2011 por diversas entidades sindicais permanece atual e serve de alerta à sociedade. Reproduzo-o na íntegra:

*****

Em Defesa da Voz do Brasil

Carta Aberta aos Membros da Câmara dos Deputados

Senhores e senhoras parlamentares,

Encontra-se em análise na Câmara Federal o projeto de lei No. 595/03 que flexibiliza o horário de exibição do mais antigo programa de rádio do mundo, a Voz do Brasil, criado em 1932.

Como qualquer produto midiático ele também sofreu as influências das diferentes épocas políticas pelas quais o Brasil atravessou, mas, mesmo com isto, não deixou de constituir-se num importante instrumento de informação para uma imensa massa de brasileiros, sua esmagadora maioria, que não dispõe de outra forma para receber informações relevantes sobre as atividades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.

Pesquisa recente realizada por Instituto de alta notoriedade aponta que um entre cada três brasileiros ouve rotineiramente A Voz do Brasil. Outra enquete indica que 73 por cento dos entrevistados concordam com a continuidade da veiculação da Voz do Brasil no horário das 19 horas, além de confirmarem a importância do programa para a sua informação. Como sabemos, o Brasil registra uma baixíssima taxa de leitura de jornal e revista, o que faz com que a Voz do Brasil represente, para milhões e milhões de compatriotas, a única forma de obter informações.

Nos últimos anos, a Voz do Brasil vem registrando modificações importantes em sua forma e conteúdo, tornando-se mais adequada a atualidade, além de veicular, também, informações muito relevantes sobre programas governamentais, especificamente, os do Ministério da Educação (Fundeb), do Ministério da Agricultura (Programa de Aquisição de Alimentos), do Ministério da Pesca e também do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Pronaf e Pronera) e do Ministério da Previdência Social.

Tal característica pode, perfeitamente, ser aperfeiçoada para oferecer aos brasileiros uma possibilidade mais eficaz ainda para sua informação, acerca de temas de altíssima relevância, nem sempre con templados adequadamente pela esmagadora maioria das emissoras de rádio espalhadas pelo território nacional, que sequer dispõe de estrutura suficiente para cumprir a exigência de noticiário jornalístico prevista em lei.

Para os integrantes do Legislativo e do Judiciário, a Voz do Brasil é uma rara opção de interação com a sociedade sem as distorções já tradicionais na mídia. Diversas pesquisas científicas já demonstraram que a cobertura jornalística destes dois Poderes da República não representa fidedignamente os fatos que acontecem no seu interior. Além disso, a Voz do Brasil trata igualitariamente a todos os parlamentares, sem as distorções editoriais que privilegiam o segmento já classificado de "alto clero" do Congresso Nacional.

Para uma grande massa de brasileiros que vivem nos chamados grotões do campo e da cidade, sem acesso a leitura de jornais, a Voz do Brasil é o que lhe resta como única opção informativa para saber das decisões dos poderes públicos, da atuação dos seus representantes no Congresso e das deliberações do judiciário. Na atualidade, este programa radiofônico se transformou num importante instrumento de transparência dos feitos públicos, habilitando ao cidadão exercer seu papel de fiscal do Estado. Tal característica não é valorizada pelos grandes empresários da comunicação interessados, fundamentalmente, na exploração comercial do horário, para mais exibição do mesmo, em prejuízo do jornalismo e da direito de comunicação de nos so povo.

Considerando a inexistência de qualquer capacidade fiscalizadora dos órgãos competentes, a flexibilização do horário de apresentação da Voz do Brasil poderá constituir-se, de fato, numa alteração que , na prática, levará à sua não veiculação, portanto, ao desaparecimento do mais antigo programa de rádio do mundo atual. O que interessa apenas aos conglomerados empresariais da comunicação.

Assim sendo, como o referido projeto teve uma tramitação muito rápida durante o ano de 2010, ano eleitoral, com significativo esvaziamento do Congresso, entendemos que a matéria pode não ter sido examinada com suficiente profundidade, especialmente nos aspectos aqui mencionados. É sabido que nem o Conselho de Comunicação do Congresso Nacional teve oportunidade de se posicionar sobre o tema e que o plenário da Câmara dos Deputados não foi ouvido. Sua aprovação poderia constituir-se na eliminação de uma positiva experiência de regulamentação informativa e, com isso, representar um grave prejuízo para uma imensa maioria de brasileiros que têm na Voz do Brasil uma alternativa consolidada para informar-se acerca das mais relevantes decisões dos poderes públicos e de seus membros.

Face a isto, solicitamos que a tramitação do referido projeto seja sustada e que a matéria seja objeto de novas análises, inclusive com a convocação de audiências públicas nas quais sejam ouvidos não apenas especialistas em comunicação, mas, também, representantes das diferentes comunidades tais como pescadores, ribeirinhos, trabalhadores rurais, caminhoneiros, população de fronteira, militares ou civis, povos das florestas, quilombolas, militares, que nos mais inóspitos rincões de imenso país tem na Voz do Brasil um fundamental instrumento para sua informação e, com isto, para formarem-se com cidadãos brasileiros.

- Central Única dos Trabalhadores – CUT

- Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG

- Central Geral dos Trabalhadores do Brasil - CGTB

- Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ

- Federação Interestadual de Trabalhadores em Empresas de Rádio e TV – FITERT

- Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP

- Movimento em Defesa da Voz do Brasil
 
 

Altamiro Borges: México define o seu futuro

sexta-feira, 29 de junho de 2012

México define o seu futuro

Por Altamiro Borges
 
Neste domingo, 1º de julho, os mexicanos irão às urnas para eleger o novo presidente da República, 64 senadores, 500 deputados federais e governadores em sete estados. O pleito define o futuro do México e é acompanhado com grande interesse tanto pelas forças progressistas da América Latina como pelos EUA, que mantêm o país como o seu fiel aliado no continente.
 

Pelas pesquisas de opinião, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que comandou o país por mais de 70 anos e só foi alijado do poder em 2000, deverá retornar ao governo central. Enrique Peña Nieto conta com uma forte estrutura partidária e o apoio ostensivo dos principais meios de comunicação – em especial da Televisa, do bilionário Carlos Slim.
 
A campanha surpreendente de Obrador
 
Em segundo lugar, numa campanha surpreendente, aparece o candidato Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), numa coligação de centro-esquerda com o apoio do Partido do Trabalho e do Movimento Cidadão. Apesar de ter moderado o seu discurso do passado, Obrador defende uma plataforma antineoliberal e de maior autonomia diante dos EUA.
 
Já a candidata governista, a ex-ministra Josefina Vázquez Mota, do Partido da Ação Nacional, está em terceiro lugar. Ela afundou na campanha devido ao forte desgaste do presidente direitista Felipe Calderón. Durante os seus 12 anos de reinado, os neoliberais do PAN jogaram o país no caos, privatizando o patrimônio público, gerando recordes de subemprego e altos índices de violência.
 
#YoSoy132 altera as pesquisas
 
Até final de maio, Peña Nieto já era dado como presidente eleito. Ele aparecia com larga vantagem nas pesquisas. Mas aí entraram em cena os estudantes, que passaram a denunciar as roubalheiras do PRI e a postura truculenta do ex-governador, responsável pelo massacre de uma comunidade indígena em Atenco, em 2006, que resultou em dezenas de feridos e mortos.
 
Num debate numa faculdade da capital mexicana, os estudantes gritaram "Atenco no se olvida". Peña Nieto ficou irritado e partiu para a agressão contra os jovens. De imediato, 131 estudantes produziram um vídeo com críticas ao político conservador. Este foi o estopim para a surgimento do movimento #YoSoy132, que nas ruas e nas redes alterou os resultados das pesquisas eleitorais.
 
Apesar desta insólita guinada, tudo indica que Peña Nieto será eleito presidente do México. Este resultado não altera a angustiante situação do sofrido povo mexicano. O PRI não propõe nenhuma mudança mais profunda. Na prática, ele dará continuidade à política neoliberal do PAN. Mesmo assim, o México não será o mesmo. A direita já não conta mais com a paz dos cemitérios.
 
O silêncio dos zapatistas
 
Para finalizar, um registro que interessa às forças políticas que se encantaram com o Exército Zapatista de Libertação Nacional. Em 2006, o EZLN optou por pregar o voto nulo nas eleições presidenciais, organizando a chamada "Otra Campaña", que acabou sendo responsabilizada pela derrota de López Obrador por reduzida margem de votos numa eleição descaradamente fraudada.
 
Já neste pleito, o EZLN simplesmente sumiu. "O silêncio pode ter três explicações: a liderança zapatista quer evitar o desgaste com as organizações de esquerda que na sua imensa maioria apoiam Obrador; os zapatistas estão debilitados e não conseguiriam produzir uma ação das dimensões da Outra Campanha; ou ainda estão simplesmente ignorando o processo eleitoral", especula Juliano Medeiros, dirigente nacional do PSOL e da Fundação Lauro Campos e editor do sitio Unamérica.
 
 

Líder paraguaio dos sem-terra é preso após encontro com governador pró-Lugo | Brasil de Fato

Militantes atribuem aumento da violência contra movimentos sociais ao governo "ilegítimo" de Federico Franco

29/06/2012

do Opera Mundi

Policiais paraguaios prenderam nesta quinta-feira (28) Eulalio López, um dos líderes da LNC (Liga Nacional de Carperos), organização que reúne os trabalhadores rurais sem-terra do país. O militante foi detido a 160 quilômetros de Assunção, logo após participar de uma reunião na casa do governador da província de San Pedro, José Ledesma.

Autoridades alegam que, desde 2006, havia um mandado de prisão decretado contra López pelas acusações de "perturbação da paz pública", "ausência a audiência judicial" e "invasão de propriedade". Hilario Lesme, comissário da Polícia paraguaia, também alega que o líder é investigado por porte ilegal de armas.

A LNC convocou logo em seguida todas suas correntes políticas a manifestarem contra a detenção de seu presidente. Os militantes pedem sua "imediata" libertação. Em nota, o movimento alega que "começa a ser cumprida a promessa feita à nação por parte do ilegítimo governo de Federico Franco de desencadear uma onda de repressão e de terrorismo de Estado contra as organizações sociais e fundamentalmente contra os sem-terra".

López era partidário do presidente deposto Fernando Lugo, e o governador com quem se reuniu pela manhã é conhecido por sua defesa à distribuição de terras entre trabalhadores rurais. A entidade responsabilizou diretamente o presidente Franco pelas "consequências desta escalada de violência que está acontecendo" no país.

O líder camponês está na delegacia de Santa Rosa de Aguaray e "será transferido para a prisão de San Pedro hoje mesmo", garantiu o comissário. López é um dos principais líderes dos "carperos" paraguaios, chamados assim porque se abrigam em barracas (carpas) quando ocupam propriedades improdutivas do país.

No último ano, foram várias as ocupações de sem-terra a fazendas na região de Ñacunday, na fronteira com o Brasil. Nesse período, López tornou-se um dos principais interlocutores de Lugo e seu governo.

 

frase de Eduardo Galeano

"La democracia tiene miedo a recordar;

las armas, a la falta de guerra;

y los hombres tienem miedo a la mujer sin miedo."

 

Eduardo Galeano

 

Flexibilização do A Voz do Brasil | Brasil de Fato

Esse é um sonho acalentado pelos empresários para dar um passo célere para a extinção desta experiência prática de regulamentação informativa no Brasil

29/06/2012

 

Beto Almeida

 

Na semana passada, os coronéis da mídia reunidos no 26º Congresso Brasileiro da Radiodifusão (Abert) ouviram com gratidão o compromisso do Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, em atuar para que o mais antigo programa de rádio do mundo, A Voz do Brasil, tenha o seu horário de veiculação flexibilizado. Esse é um sonho acalentado pelos empresários para dar um passo célere para a extinção desta experiência prática de regulamentação informativa no Brasil. O sonho dos barões da mídia é antigo, nova é a conversão de setores da esquerda à flexibilização. Em ano eleitoral, declarações em favor das teses liberais são ainda mais valorizadas.

Flexibilizado o horário de veiculação, A Voz do Brasil caminha para tornar-se inaudível, já que não há capacidade para a fiscalização se cerca de 7 mil emissoras estarão realmente difundindo o programa. Com isso, milhões e milhões de brasileiros poderão perder talvez uma das poucas oportunidades de obter informações sobre os trabalhos do executivo, do judiciário e do legislativo. Inclusive, informações importantíssimas sobre os recursos do Fundeb enviados a municípios longínquos, sobre programas do Ministério da Pesca, sobre as verbas para os programas de saúde, o Bolsa Família, o Brasil Carinhoso etc. Evidentemente, os barões da mídia, pelas rádios privadas, jamais divulgam essas informações sobre os programas sociais do governo que combatem com rancor.

Nada justifica esta flexibilização, a não ser a indefensável voracidade do grande empresariado do rádio em ter uma hora a mais de baixaria radiofônica, ou de rádio comercial e alienante. Em prejuízo da informação de uma população que vive nos grotões do campo ou da cidade, com baixíssimo índice de leitura de jornais.

Mais surpreendente foi a declaração do presidente da Câmara Federal, Marcos Maia, que prometeu colocar o projeto de lei da flexibilização na pauta, mas foi além: presente ao Congresso da Abert, pediu que haja pressão da mídia sobre o Congresso para garantir que ele seja aprovado. Ou seja, quando tanto se percebe a necessidade de regulamentar democraticamente serviços essenciais, como o da comunicação, setores da esquerda sinalizam para demolir uma prática bem sucedida de regulamentação criada na era Vargas, tal como a CLT, sempre alvo de conspirações. Quem sabe os parlamentares não vinculados à oligarquia da mídia e que só pelo A Voz do Brasil chegam à opinião pública, reagem? Assim como também deveria reagir o Fórum Nacional de Democratização da Comunicação.

 

Beto Almeida é presidente da TV Cidade Livre.

Texto originalmente publicado na edição 487 do Brasil de Fato.

 

28.6.12

hoje: cúpula dos povos e rio+20 - em caxias

 
 
Em debate: Cúpula dos Povos, Rio+20… e agora?!
 
A Cúpula dos Povos é um momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, quilombolas, juventudes, agricultores/ as familiares e camponses, trabalharores/as, povos e comunidades tradicionais de todo o mundo. Venha compartilhar experiências e ideias!
A ideia é abrirmos um painel aberto mesmo, onde se passa trazer as vivências e experiências na Rio+20 e compartilhar com todos"
 
Cúpula dos Povos – Rio+20, e agora?
Data: 28 de junho/ quinta-feira
Horário: 19h40min
Local: Auditório bloco F/ Sala 111
 
Realização: Universidade Livre Fora do Eixo, ManiFestaSol, DCE-UCS, MMM, PJ e UNE.

Exministro de la Corte sostiene que juicio a Lugo fue arbitrario e inconstitucional | UltimaHora.com

POLITICA | 11:43 | Jueves, 28 de Junio de 2012

Exministro de la Corte sostiene que juicio a Lugo fue arbitrario e inconstitucional

El exconvencional constituyente y exministro de la Corte, el liberal Luis Lezcano Claude, aseguró que el procedimiento del juicio político que llevó a la destitución de Fernando Lugo de la Presidencia el viernes pasado "fue arbitrario, y por lo tanto, inconstitucional".

El exconvencional constituyente, Luis Lezcano Claude. | UH/Archivo
El exconvencional constituyente, Luis Lezcano Claude. | UH/Archivo

"Yo creo que es un procedimiento manifiestamente arbitrario, y por lo tanto, completamente inconstitucional, aunque se tenga el ropaje de un juicio político", señaló tajante el exministro del alto tribunal, al ser consultado por radio Ñandutí sobre la legalidad o no de esta iniciativa, calificada por el mismo Lugo de "un golpe parlamentario".

Expresó que ninguna de las 5 causales planteadas por los fiscales acusadores "tenían sustento válido", a lo que se suma que "ninguna de ellas fueron probadas".

En su calidad de cámara juzgadora, Diputados acusó al exmandatario por: la masacre en Curuguaty (donde fallecieron 6 policías y 11 campesinos), el acto realizado por jóvenes socialistas en un cuartel militar, la creciente inseguridad, la firma del Protocolo de Montevideo (Ushuaia II) suscrito por Paraguay y los demás países del bloque en diciembre pasado durante la Cumbre regional realizada en Uruguay, además lo culpan de ser único responsable y facilitador de las ocupaciones de tierras en Ñacunday.

"En este caso yo creo que evidentemente es inconstitucional (el juicio político). Las causales, por ejemplo, son abiertamente arbitrarias. No habilita que se pueda tomar como causal de mal desempeño cualquier cosa", insistió el exministro de la Corte Suprema. "Fue un acto de prepotencia y arrogancia" , sentenció.

Fernando Lugo fue destituido por el Congreso el pasado viernes en un juicio político exprés, que corrió pese a la mediación de los cancilleres de la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur). 39 senadores votaron a favor de la condena y 4 por la absolución; antes habían aprobado el juicio político 76 diputados y 1 en contra.

Tras esta decisión, la suerte de Paraguay está por definirse. Los miembros de Mercosur y Unasur se reúnen entre hoy y mañana en Mendoza, Argentina, para tomar las decisiones políticas económicas correspondientes. La Cancillería Nacional descarta posibles sanciones económicas, como el retiro del Focem y la pérdida de privilegios aduaneros, beneficios, que según se viene mencionando, podría perder Paraguay en caso de que los gobiernos del bloque no reconozcan el Gobierno de Federico Franco.

A trajetória libertadora de Dom Tomás | Brasil de Fato

A trajetória libertadora de Dom Tomás

Histórico de lutas sociais no Brasil nas últimas décadas se confunde com a vida do fundador da CPT e do Cimi

 28/06/2012

Eduardo Sales de Lima,

da Reportagem

Dom Tomás Balduíno completa, no dia 31 de dezembro, 90 anos de uma vida voltada aos pobres, aos "sem-nada", como diz. "Sem-nada", que na visão do Bispo, precisa ser compreendido como o "sujeito" de seu tempo, o agente transformador de sua realidade.

Influenciado desde a infância pela religiosidade de sua família, com a presença três tios padres diocesanos, o Bispo emérito de Goiás optou por ser frade pela Ordem do Dominicanos, demonstrando, desde a juventude, desapego a qualquer tipo de status social.

Testemunho ativo de um dos momentos mais obscuros da história brasileira, a ditadura civil-militar, Dom Tomás explica a proximidade entre os jovens dominicanos e Carlos Marighella e a pressão sofrida pela Igreja no período em que a ditadura tentava dizimar os guerrilheiros do Araguaia.

Sua trajetória se confunde com a própria história dos movimentos sociais e da luta política no Brasil. Expoente da Teologia da Libertação, enxerga tal proposta como um modo de analisar a própria "caminhada" de Deus em busca da libertação desde o êxodo até a ressurreição. Ao Brasil de Fato, ele conta um pouco da sua história.

 
  Foto: Rodrigues Pozzebom/ABr

 

Brasil de Fato – Dom Hélder Câmara, entre outros religiosos, antes de aderir à Teologia da Libertação, pertencia à ala mais conservadora da Igreja. E no seu caso, como ocorreu essa aproximação?

Dom Tomás – Eu tive uma trajetória diferente. Eu fiz o seminário com os dominicanos, em Uberaba (MG) e lá comecei o noviciado. Vim para São Paulo (SP) e encontrei um grupo de dominicanos chegado da França, com essas ideias. Depois vieram aquelas pregações de Frei Chico, lá em Perdizes [bairro da zona oeste de São Paulo]. Dessa maneira, o início de meu caminho, desde a minha juventude, foi um caminho de abertura. Eu tive chance também de estudar em Saint Maximin (Escola Teológica Dominicana), na França, de 1946 até 1950. Com a presença de Jacques Maritain (filósofo francês católico), tanto os dominicanos quanto os jesuítas. Isso me ajudou muito. Antes de voltar para o Brasil, eu tinha o sonho de trabalhar na área indígena. Mas fui encaminhado inicialmente para a faculdade. Lecionei na faculdade de Filosofia de Uberaba (MG), e depois fui para Juiz de Fora (MG), já em 1951.

 

O senhor vem de uma família religiosa?

Sim. Do lado materno eu tinha dois tios padres e do lado paterno um. Isso influenciou. Eles eram diocesanos e eu optei, nem sei por que cargas d'água, em ser frade. Houve muita oposição por elementos da família, porque meus tios eram diocesanos, ligados à família.

 

Com quantos anos o senhor descobriu sua vocação?

Isso nasceu comigo, parece. Quando criança eu "celebrava" missas, para a alegria e diversão do pessoal. Eu celebrava a missa com uma pedra de açúcar [risos] e imitava direitinho a fala em latim daquele tempo. E assim foi. Marcadamente um caminho religioso. Nunca tive assim um sobressalto de mudança, do que chamam de conversão. Talvez tenha sido até um defeito da minha trajetória.

 

Quando ocorre o Concílio Vaticano II (1962-1965), o senhor estava com 40 anos. Participou de alguma forma dele?

Eu participei através de minha ligação com Frei Romeu Dale, que era perito do Concílio. Ele tinha muita amizade comigo, foi meu professor. Depois eu fui prelado e ele insistiu para que eu fosse à última sessão. Não deu certo de eu ir. Tive que me preparar para ir ao Araguaia (da Prelazia de Santíssima Conceição do Araguaia, hoje Diocese de Marabá [PA]). Mas a gente estava muito informado do que estava acontecendo no Concílio, porque entre uma sessão e outra, ele ligava para casa. Ele morou no Rio e eu também. A gente debatia muitos temas.

 

Por que ocorreu o Concílio justamente naquele momento histórico?

Aquilo foi uma intuição do Papa [João XXIII]. Era para ser um papa de transição e os cardeais chegaram a um acordo de consenso para dar tempo para refletir. Mas ele, para a surpresa de todos, convocou o Concílio. A convocação do Concílio foi nitidamente uma abertura de visão de mundo.

 

Há quem diga que teria sido uma resposta à Reforma Protestante, 500 anos antes. O que o senhor acha?

O Concílio não teve nenhuma forma de, vamos dizer, "cruzada". Pelo contrário. Queria abrir espaço, uma janela para outros cristãos de outras denominações. Foi pelo ecumenismo e se tornou um marco.

 

A sua Ordem dos Dominicanos abarca figuras com trajetórias extremamente distintas que vão desde Frei Betto a Tomás de Torquemada (o temível inquisidor). Como entender os dominicanos?

Eu e vários outros que comungam essa intuição de Domingos de Gusmão, temos como admiração o salto dado por ele. Um homem que saiu da clausura dos mosteiros para as cidades, para os burgos, as universidades. E ele vai para as missões. Internamente, outra coisa admirável é o sistema democrático da ordem. Os dominicanos sempre fizeram muita questão desse processo. Na ordem, se reúnem os capítulos. Os capítulos alternam-se entre os provinciais e os capítulos de não-provinciais. Há uns que são mais governistas, ligados ao trabalho interno, enquanto outros estão ligados a um trabalho mais amplo. Isso é um equilíbrio. Tanto que a ordem nunca teve cisão. É verdade que houve províncias mais fechadas que outras. Eu morei na França. A minha província era mais fechada, da estrita observância. Mas nós, brasileiros, engatamos com a província de Paris, que era aberta nos debates com o ecumenismo, com o operariado.

 

Nesse sentido, como o senhor enxerga o apoio dos dominicanos a Carlos Marighella?

Não são os dominicanos. Eles pertenciam à classe estudantil que começou ali na Juventude Universitária Católica (JUC) e na Juventude Estudantil Católica (JEC). E, depois, com muita coerência e muita lógica, se abriu para o social e para o político. A Ação Popular (AP), por exemplo, é uma decisão política de luta por enfrentamento à ditadura, e os dominicanos eram praticamente membros. Mas não era só uma expressão deles próprios. Não era mérito nem do Betto e nem de seus companheiros, como Fernando Britto, Tito e outros. Mas era porque eles estavam encarnados naquela realidade estudantil.

 

Até 1964 o senhor estava em Conceição do Araguaia. Quando ocorre a Guerrilha, a partir de 1972, o senhor não está mais lá?

Eu não participei de todo o processo. Foi o meu sucessor, Dom Estevão [Cardoso de Avellar].

 

Mas o senhor presenciou algum fato ligado diretamente à Guerrilha do Araguaia?

Nada. Mas quando eu estava na região, eles [guerrilheiros] já estavam por lá, trabalhando, fazendo serviços de médicos, dentistas, se entrosando com o povo.

 

E depois, quando o senhor foi substituído, chegou a tomar conhecimento de fatos por meio de Dom Estevão ou outros religiosos acerca da guerrilha?

Aí sim. Porque houve tensão entre os militares e os missionários. Um deles trabalhava na área indígena dos índios Suruí, dentro do território da Guerrilha. Os índios foram utilizados pelos militares como guias na mata. E depois, para mostrar quem era quem, abusavam dos índios de uma forma assim anti-ética, imoral, tentando incorporar as aldeias indígenas nesse serviço sujo.

 

Quais eram os missionários ligados à guerrilha?

O Frei Gil [Gomes Leitão] sempre foi um missionário naquela área. Ele que fez o primeiro contato com esses índios. Os índios não foram deslocados. O missionário chegou e fez amizades com eles. Foram várias tentativas e excursões para tentar o contato. Isso porque, quando os índios avistavam pessoas diferentes, fugiam. Frei Gil conseguiu. Os militares iam atrás dele, mas ele era muito esperto, se disfarçava bem. Certa vez, pediram a identidade dele, mas os missionários, os religiosos mudam de nome. E o nome dele, de identidade, é Dulce Leitão [risos]. Os militares o paravam, viam a identidade, e o descartavam. "Nós estamos atrás de um tal de Gil". E aí, ele escapava.

 

Em 1972, o senhor foi um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Como foi esse processo?

Foi muito interessante. Os missionários já estavam muito tempo insatisfeitos com a estrutura das Prelazias, que estavam nas áreas indígenas, mas eram focadas em construções de igrejas, na expansão física. Havia uma busca de outro instrumento. Eles queriam uma prelazia de pessoas, como um território de pessoas. Eu fui consultado e respondi de uma maneira assim, jocosa. "Eu acho que esse prelado vai ficar isolado; e ele vai ser um prelado pelado" [risos]. Aí retiraram essa proposta. Porque prelazias são áreas pastorais confiadas como dioceses a uma congregação. Há a prelazia franciscana, a prelazia dominicana, dos padres jesuítas. Então criaram um instrumento sem mexer com essa estrutura e assim foi pensado no Conselho Indigenista, por meio de um encontro em Brasília.

Eu entrei puxado por D. Pedro Casaldáliga. Ele me disse que outros bispos estavam ali para resolver os problemas dos índios. E lá nasceu a criança, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Um conselho para cuidar da problemática indígena. E foi muito interessante, porque nós estávamos no pós-Medéllin [Conferência ocorrida em 1968], que fez uma opção pelos pobres, não considerando o pobre como objeto de nossa ação caritativa, mas como sujeito de sua própria caminhada. O Cimi nasceu sob essa inspiração. Houve muita tensão interna na equipe encarregada do Conselho, mas evoluiu no sentido de dar ao índio essa possibilidade de se afirmar como sujeito e ser protagonista, ter sua autonomia, sua terra, sua cultura. Havia missionários que andavam pelas prelazias e traziam informações para o Conselho. E numa dessas reuniões, um dos membros do Conselho, que era o padre Tomás Lisboa, um jesuíta, sugeriu a criação a assembleia de chefes indígenas. Por meio de nossa facilidade de diálogo com as lideranças das tribos, sugerimos esse encontro. Reunir gente que vivia em hostilidade, os Xavantes com Carajás, e isso foi o "ovo de colombo". As assembleias aconteceram, os índios tinham momentos só deles, sem presença de missionários, de jornalista, de sociólogo ou antropólogo. E saíram dali com a seguinte decisão: primeiro recuperar nossa cultura; segundo, recuperar as nossas terras; terceiro, autonomia. Eles mesmos decidiram isso. Foi tudo registrado pelos cadernos do Cimi. E foi a partir dali que os indígenas começaram a caminhar com suas próprias pernas. Em muitas aldeias, os jovens missionários que estavam em outras regiões passaram a conviver com os índios e isso continua até hoje. Os Pataxós passaram a se tornar um povo antenado a toda a América Latina e não fechado neles mesmos.

 

E o processo de fundação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975? Que anos depois o senhor passou a ser presidente?

A CPT nasceu de um processo conflitivo. Os bispos estavam achando que os militares "estavam dando" em cima dos padres que acompanham os lavra lavradores. Porque na proposta do golpe de 1964 estava, como prioridade, enfrentar os camponeses. Eles [militares] acompanhavam todos aqueles conflitos que estavam acontecendo. E achavam que, através de alguns lavradores, muitos camponeses entrariam no comunismo internacional. Então foram em cima dos lavradores mas também dos padres e freiras que só estavam acompanhando eles, por meio de um trabalho religioso. Aí o bispo se sensibilizou. Eles foram presos, ameaçados. Então nos reunimos e nasceu a Comissão Pastoral da Terra com uma proposta samaritana, de socorrer aqueles perseguidos [no caso, os religiosos], e mesmo os caídos, que eram os trabalhadores rurais. De imediato, a Pastoral da Terra foi cuidar de padres, freiras, e dos próprios lavradores.

 

Muitos dizem que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é filho da CPT, que surge como uma versão laica da CPT.

O nascimento é sempre complexo. Naquele livro Brava Gente, o [João Pedro] Stédile mostra que o processo é sempre complexo. Agora, não há dúvidas que era gente de origem das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), e também da CPT. Muitas pessoas faziam parte do trabalho da CPT e estavam engajados. Nesse sentido, a maternidade ou paternidade se dá como elementos que saem de uma igreja mais comprometida ilustrada sobretudo pelas CEBs.

 

Talvez o senhor tenha sido uma das vozes mais críticas, pela esquerda, do governo Lula. Como o senhor avalia os oito anos desse governo?

É complexo porque tem a compreensão da figura carismática e que até hoje é muito querida por pessoas da base. Às vezes, as próprias vítimas do processo não entendem as minhas críticas a ele, que tem a sua trajetória emblemática, do sertão nordestino até a presidência. O que chamou atenção no seu governo foi o fascínio pelo desenvolvimento econômico. Eu participei daquela marcha (dos movimentos sociais do campo, em 2005), num momento muito esclarecedor. Foi uma caminhada dos grupos sociais até Brasília. O Lula acabou aparecendo e comentou: "Quem é apressado come cru". Logo depois houve aquele Plano Nacional da Reforma Agrária (PNRA). Teve até a participação na elaboração de gente como o Plínio de Arruda Sampaio. Tanto que por causa da demora de Lula, ele nem foi ministro. O programa veio, reduziram pela metade seus objetivos e foi-se esvaziando.

 

E em relação ao governo Dilma?

Em abril, todos os movimentos sociais foram para cima do governo, pressionando por posicionamento em relação à reforma agrária, à condição dos assentamentos, dos acampamentos. Chegaram a ocupar o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e várias outras instituições nessa linha de enfrentamento. Quer dizer, a Dilma pisou no freio da reforma agrária.

 

O que significa esse anel de tucum que o senhor usa?

Isso é o casamento com a causa indígena. Essa peça foi feita pelos índios Tapirapé e dá para ver como é bonito, ele brilha até. E a gente assumiu como uma ligação com a causa indígena, mas não só com essa causa, mas com toda a causa de mudança e de transformação com o povo em busca do Brasil que queremos.

 

Voltando à questão dos membros fundadores da Teologia da Libertação. Há alguns pensadores que estão indo, como o José Comblin (falecido em março de 2011). Além disso, Dom Pedro Casaldáliga está debilitado...

Mas ele está com a cabeça boa.

 

Claro. Mas qual perspectiva o senhor tem da Teologia da Libertação? E os novos pensadores?

Gustavo Gutierrez costumava dizer brincando: "Se a Teologia da Libertação morreu, eu não fui convidado para o enterro."[risos]. Nós não acreditamos nisso. A Teologia da Libertação, para mim, é teologia. É a única teologia em uma situação de opressão.

 

Uma teologia, de fato, não morre?

Fica sempre. Teologia é um conhecimento de Deus, um mistério de Deus; da abertura de Deus aqui com os homens e as mulheres. Trata-se de uma teologia que vai analisar a caminhada de Deus e vai encontrar, o tempo todo a libertação. Desde o êxodo até a ressurreição é isso, é esse encontro. É a fundamentação teológica da linha da libertação. O fato de, por exemplo, [Karl] Marx ter ido por um caminho semelhante na análise sociológica não impede que haja Teologia da Libertação, até utilizando argumentos dele. Então, o pessoal se fechou achando que era outra coisa. Não é. Isso é muita estreiteza, inclusive no conhecimento de Deus.

 

Boa parte dos religiosos que levaram essa teologia adiante são estrangeiros. Europeus que vieram para a América Latina nos anos de 1960. Ou, como no seu caso ou de Leonardo Boff e Frei Betto, foram brasileiros que estudaram na Europa. O senhor acha que jovens seminaristas, estudando somente aqui no Brasil, caminharão nesse viés libertador?

Essa pergunta tem um quê de desvalorização da realidade acadêmica aqui no Brasil. O Boff estudou lá na Alemanha, num outro contexto, mas superou isso através dos mesmos instrumentos teológicos. Ele (Boff) padeceu. Hoje ele é dominicano. Foi o truque dele para se livrar do domínio do bispo diocesano, porque o padre diocesano é 100% do ensino religioso. E agora ele pode exercer a missão de teólogo dele de uma forma missionária. A gente não depende colonialisticamente do europeu. Foi um estímulo para ajudar no plano científico. Agora, nos conteúdos da América Latina, a meu ver, salvou o Concílio Vaticano II. Porque o Concílio foi uma abertura para o mundo. A verdadeira abertura evangélica para o mundo não é a abertura europeia, que é a abertura para o mundo dos ricos. A verdadeira abertura "conciliar", evangélica, é a abertura dos pobres, onde existe o mundo subversivo. Medellín foi o salvador do Vaticano II, a meu ver, porque abriu, de fato, a Igreja para os "sem-nada".

 

Nos últimos meses ocorreram essas manifestações contra a crise econômica, contra o capitalismo, contra os bancos. Nota-se essas mobilizações resgatam valores humanistas também. De que forma esse "espírito" da Teologia da Libertação dialoga com essas manifestações?

Houve um retrocesso no mundo. Uma tendência à direita é geral. O pessoal fala da Teoria do Pêndulo. Uma hora o pêndulo está na esquerda, outra hora ele está na direita. Então é surpreendente quando jovens estudantes, professores, da Europa e dos Estados Unidos fazem isso. Acho que é um campo para a Teologia da Libertação. Propício para uma reflexão com esse pessoal. Na medida do possível, porque ninguém quer ser mestre de ninguém, mas companheiro. E sobretudo a gente aprende. Ficamos surpresos. Por que aconteceu isso? Até a própria juventude alienada foi nessas manifestações.

 

Que mensagem o senhor nos deixa, talvez de motivação?

Acho importante isso. E está dentro da gente. E pode ser notada a partir, justamente, dos mais pobres entre os pobres. A gente está sabendo da situação dos pobres indígenas. Eles podem chorar na situação em que eles estão. Mas o que acontece? Alegria. Eles vivem a alegria e ninguém pode capturar isso de nós. Isso entre Kaiwowa, Xukuru, Pataxó. Todos vivendo o maior sofrimento, maior sufoco, a maior angústia de não ter perspectiva e então; esse pessoal vive de alegria pela esperança. Eu acho que essa lição, a partir deles, deve ser um recado do senhor Jesus para todos nós.

 

Honduras recuerda golpe de Estado contra Manuel Zelaya — teleSUR

Latinoamérica
Jueves 28 de Junio de 2012, 09:10 am

Honduras recuerda golpe de Estado contra Manuel Zelaya

El pueblo honduerño salió a las calles para recordar el golpe de Estado al ex presidente Manuel Zelaya (Foto:DaguilarteleSUR)

Encabezados por el Frente Nacional de Resistencia Popular (FNRP), movimientos sociales de Honduras marcharán por las principales calles de Tegucigalpa (capital) para recordar el golpe de Estado contra el ex presidente Manuel Zelaya, quien fue depuesto y expulsado del país por militares y grupos de derecha hace tres años.

La movilizaciones empezarán desde la Universidad Pedagógica Nacional Francisco Morazán y llegarán hasta el centro capitalino, donde los seguidores del ex gobernante "condenaremos el golpe de Estado a Zelaya", dijo el dirigente del FNRP Juan Barahona, quien agregó que Zelaya no formará parte de los actos.

Otros movimientos sociales a nivel internacional también expresarán su apoyo a Manuel Zelaya y al pueblo hondureño.

En El Salvador, grupos sociales y la Red de Estados Unidos en Solidaridad con Honduras organizaron actos para recordar el golpe de Estado.

Activistas el Movimiento Popular de Resistencia 12 de Octubre salvadoreño (MPR-12) aseguraron que las acciones del 28 de junio de 2009 fueron un intento por bloquear la participación de la ciudadanía y la conformación de Estados soberanos e independientes del imperialismo estadounidense.

El presidente Manuel Zelaya impulsaba en la nación una convocatoria a una consulta popular no vinculante, en la que los hondureños dirían si estaban de acuerdo o no con la colocación de una cuarta urna en las elecciones del 29 de noviembre de 2009. Esta cuarta urna permitiría votar a favor o en contra de la instalación de una Asamblea Constituyente en la nación centroamericana.

La iniciativa fue rechazada por el Parlamento de la nación y a partir de ese momento comenzaron los movimientos golpistas.

El mandatario Zelaya fue secuestrado y obligado a abandonar el país. Fuerzas Militares lo trasladaron a Costa Rica y se instauró el Gobierno de facto de Roberto Micheletti, quien hasta ese momento ejercía la presidencia del Congreso.

Posteriormente, el Gobierno de facto efectuó elecciones presidenciales el 29 de noviembre. La comunidad internacional calificó la jornada electoral de "espurias" y pese al rechazo de los hondureños, resultó ganador Porfirio Lobo, actualmente presidente de la República.

El triunfo de Lobo fue ampliamente cuestionado por la comunidad internacional, ante el elevado nivel de abstención de los comicios y las denuncias por violación a los Derechos Humanos.

Militarización en Honduras

Además de la violación de los Derechos Humanos en el país, las organizaciones centroamericanas también protestarán contra la creciente militarización desde que Porfirio Lobo asumió las riendas del país.

El representante de las Ciudades Hermanas de los Estados Unidos con El Salvador, Jan Morrill, lamentó el miércoles "el incremento de actividades militares en Centroamérica por parte del gobierno de los Estados Unidos, ya que en Honduras está la base militar más grande de la región, que es la Base Parlmerola que en los años 80 fue plataforma de ataque contra el gobierno de Nicaragua y los movimientos revolucionarios de El Salvador, Guatemala y Honduras".

Morrill también recordó que en abril de 2010, "el comando Sur de Estados Unidos inauguró una base militar en la Mosquitia hondureña, donde el 11 de mayo de 2012 miembros de la Agencia Antidrogas de Estados Unidos (DEA) ametrallaron desde un helicóptero a una embarcación que transportaba personas en el río Patuca, asesinando a cuatro personas, dos de ellas mujeres embarazadas y un niño, e hiriendo gravemente a otras siete más".

De acuerdo con cifras de los movimientos populares en el país, desde el golpe de Estado hasta mayo de 2012 se han reportado los asesinatos de más de 100 personas del Frente Nacional de Resistencia Popular, 87 afiliados a organizaciones campesinas, 24 periodistas y 20 activistas de la comunidad homosexual.

teleSUR-PL-LaTribuna-DiarioColatino/vg-YIB
 
 

Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz