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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

30.11.07

dica de programa: "Roda Viva - segunda-feira, 3 de dezembro de 2007 às 22h40"

Guido Mantega
Ministro da Fazenda
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Os indicadores econômicos apresentam crescimento da economia brasileira, com inflação sob controle e entrada de investimentos externos, mas o país ainda tem uma das taxas de juros mais altas do mundo.
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O Governo defende uma política de crescimento econômico com distribuição de renda e para isso conta com mais de R$ 411 bilhões em arrecadação, dos quais R$ 40 bilhões só de CPMF. A contribuição é a principal fonte de recursos para dos programas sociais.
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O Governo diz que esse dinheiro é fundamental para a manutenção dos projetos e que a derrubada da CPMF é uma ameaça ao modelo econômico do país.Setores da produção e parte da oposição como o Democratas defendem o fim da contribuição, enquanto o PSDB, que num primeiro momento aceitou negociar, se posicionou contrário à sua aprovação ao defender que o Governo reduza gastos e a carga de impostos.
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Guido Mantega atua como assessor econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva há mais de quinze anos. Já foi Ministro do Planejamento, dirigi u o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e assumiu o Ministério da Fazenda em março de 2006, após a saída de Antonio Palloci, atingido pelas denúncias da CPI dos Bingos. Mantega é formado em economia, sociologia e tem especialização em orçamento.
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Participam como convidados entrevistadores:
Celso Ming, colunista da área econômica do jornal O Estado de S.Paulo e da Rádio Eldorado; Luís Nassif, diretor da Agência Dinheiro Vivo; Pedro Cafardo, editor executivo do jornal O Valor Econômico; Sergio Malbergier, editor do caderno Dinheiro do jornal Folha de S.Paulo; Helena Celestino, editora-executiva do jornal O Globo; Marcio Aith, editor executivo de economia da revista Veja.
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Apresentação: Paulo Markun
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O Roda Viva é apresentado às segundas a partir das 22h40.
Você pode assistir on-line acessando o site no horário do programa.

Saciar a sede de água e cidadania

Cidadania
Sexta-feira, 30 de novembro de 2007 - 17h02min
(Publicado no Jornal Estado de Minas, 15 de novembro de 2007)

Frei Betto

"Por que nas edificações urbanas raramente se encontram equipamentos de captação da água da chuva, gratuita e potável?"

Como impedir que a população do semi-árido brasileiro prossiga vítima da seca? A melhor iniciativa é o Programa 1 Milhão de Cisternas, também conhecido por Programa de Mobilização e Formação para Convivência com o Semi-árido. Este mês, comemora-se o marco de 1 milhão de pessoas favorecidas pela construção de cisternas.

Quem o monitora, há quatro anos, é a Articulação no Semi-árido Brasileiro (ASA), ONG que conta com o apoio do governo federal, da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da sociedade civil e de vários parceiros nacionais e internacionais.

O programa parte da concepção de que o povo do semi-árido é capaz de dirigir seu próprio destino e encontrar meios de resolver seus problemas, desde que a ele sejam garantidos meios e políticas de convivência com a seca, e não de combate a este fenômeno natural. Assim como em outros países não se combate a neve, mas se aprende a conviver com ela, o mesmo se aplica à seca.

Até agora, o programa mobilizou cerca de 228.538 famílias e construiu 221.362 cisternas de placas para captação de água de chuva - via calha do telhado da casa -, para consumo humano. Nada mais potável que a água da chuva - que, nas cidades, irresponsavelmente desperdiçada, entope bueiros, causa erosão de encostas, alagamentos e enchentes.

Hoje, mais de 1 milhão de pessoas têm garantindo o acesso a água de qualidade para beber e cozinhar, o que significa, em termos de segurança alimentar e nutricional, efetiva revolução em suas vidas. Quando se sobrevoa o semi-árido notam-se pontinhos brancos esparsos na zona rural. São as cisternas alocadas nas casas dos agricultores, muitas em lugar de difícil acesso.

Um dos efeitos mais tangíveis é favorecer mulheres e crianças que, todo dia, deixam de caminhar quilômetros para buscar água, muitas vezes poluída. Agora, podem dedicar o tempo à educação, à família, à produção, ao lazer. Como muitas mulheres afirmam, sentem-se mais mães, mais esposas, mais companheiras, mais gente.

As crianças, agora mais saudáveis, já não são acometidas por doenças transmissíveis por recursos hídricos, entre as quais a diarréia; idosos e portadores de deficiências são atendidos; famílias inteiras, que anteriormente nunca tinham acesso a noções e cursos de tratamento da água e convivência com o semi-árido, agora usam essas informações para melhorar sua qualidade de vida.

As cisternas são construídas com, e não para as pessoas; essas se envolvem profundamente na obra, o que garante o seu cuidado. Como todo o processo é feito em comunidades, vê-se ali a erradicação da exclusão social e a afirmação da cidadania. São mais de 1 mil municípios do semi-árido que, mobilizados, compõem um novo cenário.

As cisternas, perfuradas ao lado da casa e revestidas de placas de cimento, são equipamentos simples, de tecnologia barata e fácil manejo. Têm longa vida útil quando cercadas de cuidados mínimos, de acordo com o que se aprende nos cursos. Ao visitar a região, notei em algumas girinos vivos, sinal de que a água é própria para consumo humano. Inaugura-se, assim, uma política pública não-clientelista, efetivamente voltada aos mais pobres.

Falta, agora, o governo federal dar mais apoio à ASA, para que se possa atingir a meta de construir 1 milhão de cisternas e favorecer 5 milhões de pessoas com acesso à água potável.

E fica a pergunta que não quer calar: por que nas edificações urbanas raramente se encontram equipamentos de captação da água da chuva, gratuita e potável? O exemplo não deveria começar pelas obras do poder público?

dica de programa: "Ciclo Cultura e Democracia no SESCTV"

Os três debates do ciclo Cultura e Democracia: acesso, tecnologia, tradição promovido em comemoração aos dez anos da Editora Fundação Perseu Abramo viraram programas de TV e vão ser exibidos pelo SESCTV nos dias 2, 9 e 16 de dezembro (com duas reapresentações cada programa). Entre os debatedores figuram nomes como Marilena Chaui, Luiz Dulci, João Brant, Marcelo Tas, B Negão, Claudio Prado, Marcos Napolitano, Walnice Nogueira Galvão e Fabiana Cozza.
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Confira a programação para São Paulo* pela Sky 3 e NET Digital:
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Programa: Livros, cultura e direitos no Brasil: como democratizar o acesso à leitura
Palestrantes: Marilena Chaui e Luiz Dulci
Mediador: Tadeu di Pietro
Datas e horários de exibição: 2/12/07 às 20h
Reapresentações: 8/12/07 às 16h e 9/12/07 às 8h
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Programa: Comunicação digital: a tecnologia vai democratizar as mídias?
Palestrantes: João Brant, Marcelo Tas, B Negão e Claudio Prado
Mediador: Cadão Volpato
Datas e horários de exibição: 9/12/07 às 20h
Reapresentações: 15/12/07 às 16h e 16/12/07 às 8h
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Programa: A síncope das idéias: a MPB e a moderna tradição da cultura brasileira
Palestrantes: Marcos Napolitano, Walnice Nogueira Galvão e Fabiana Cozza
Mediador: Daniel Benevides
Datas e horários de exibição: 16/12/07 às 20h
Reapresentações: 22/12/07 às 16h e 23/12/07 às 8h
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*Nos demais Estados sugerimos que os telespectadores consultem as operadoras que retransmitem a programação do SESCTV ou visitem o site www.sesctv.com.br para conhecer os horários do programa Debates

Dom Luiz Cappio reinicia jejum em defesa do Rio São Francisco

Notícias

Sexta-feira, 30 de novembro de 2007 - 9h41min

Dom Tomás Balduino, conselheiro permanente da CPT, protocolou no Palácio do Planalto , em Brasília, carta de Dom Luiz Flávio Cappio, bispo diocesano de Barra (BA), em que comunica ao presidente Lula sua decisão de retomar seu jejum em defesa do São Francisco.

Na mesma hora Dom Cappio reiniciou seu jejum na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), ao pé da barragem de Sobradinho, chamando a atenção para o estado de mingua em que se encontra o rio. O lago vem diminuindo suas reservas e nesse momento se encontra com menos de 14% da sua capacidade. Esta retomada do jejum acontece, pouco mais de dois anos depois em que o franciscano passou 11 dias em jejum, em Cabrobó (PE).

Entre os argumentos para reiniciar o ato está o compromisso firmado entre ele e o presidente, de “suspender o projeto de transposição e iniciar um amplo diálogo governo e sociedade civil brasileira” em que a resposta foi “o início da obra de transposição pelo exército”.

Dessa vez a condicionante para o desfecho do jejum é a “retirada do exército do eixo norte e do eixo leste e o arquivamento definitivo do projeto de transposição de águas do rio São Francisco”.


Retrospectiva

Acompanhe os principais acontecimentos desde que a equipe do presidente Lula desengavetou o projeto de transposição de águas do rio São Francisco e organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais intensificaram os atos pelo arquivamento definitivo do projeto.

2004
Lula desengaveta o projeto da transposição.

2005
26/09 a 06/10 – O Dom Luiz Flávio Cappio, faz jejum contra o projeto de transposição, em Cabrobó (PE). O presidente Lula, pressionado, envia o então ministro Jaques Wagner para negociar. A “greve de fome” encerra mediante a assinatura de um acordo.
- Formação da comissão para negociação e debate entre governo e organizações sociais.
Novembro – O Ministério Público Federal e o da Bahia, além do Fórum Permanente em defesa do São Francisco na Bahia, entram com nova ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedem a suspensão do processo de licenciamento ambiental em trâmite no Ibama.
15/12 – Primeira audiência do presidente Lula com a comissão de negociação e Dom Luiz Cappio.

2006
23/02 – Ofício é protocolado para o presidente Lula cobrando agenda para debate público sobre o projeto de transposição, prometido pelo governo desde outubro de 2005. Assinam o documento Dom Tomaz Balduino, pela CPT, Dom Luiz Cappio, Ministério Público e Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco.
06 e 07/07 – Oficina de trabalho sobre desenvolvimento do semi-árido, entre representantes da sociedade civil e do governo federal, criação de três câmaras temáticas para aprofundar as questões sobre revitalização.
04 a 07/10 – Acampamento de Mobilização e Formação de Cabrobó (PE).
10/11 – Tribunal de Contas da União publica Relatório de Auditoria Operacional do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, e faz recomendações ao Ministério da Integração.
Dezembro – Lançamento do Atlas Nordeste, da Agência Nacional de Águas (ANA), com propostas alternativas para abastecimento em áreas urbanas de municípios com 5 mil a mais habitantes, nos nove estados do Nordeste e mais o norte de Minas Gerais.
19/12 – O então Ministro Sepúlveda Pertence (STF) derruba as 11 liminares que impediam o início das obras do projeto de transposição.
2007
22/01 – Lançamento do PAC – recursos públicos no PAC destinados ao projeto de transposição: R$ 6,6 bilhões, no período 2007 a 2010.
05/02 - Fórum Permanente de Defesa do São Francisco na Bahia entra com recurso no STF contra a decisão do ministro Sepúlveda Pertence que suspendeu as liminares.
12/02 – Procurador Geral da República, Fernando Antonio de Souza, entra com recurso no Supremo Tribunal Federal e pede a cassação da licença ambiental para obra da transposição.
21/02 – D. Luiz protocola carta à Lula reivindicando a retomada do diálogo.
Março - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis (IBAMA) concede licença ambiental e autoriza o início das obras da transposição.
12 a 16/03 – Acampamento em Brasília “Pela vida do rio São Francisco e do Nordeste, contra a transposição”, com mais de 600 pessoas da Bacia do Rio São Francisco e de outros estados, como Ceará e São Paulo.
16/03 – Geddel Vieira Lima é nomeado ministro da Integração Nacional no lugar de Pedro Brito.
16/04 – OAB/SE entra com ação contra o projeto do governo federal, de transposição do Rio São Francisco. Documento com 150 laudas traz estudos do Banco Mundial, relatos sobre a situação hídrica do Ceará, a escassez por má distribuição e a afirmação que seria sete vezes mais barato fazer obras para abastecimento no chamado Nordeste Setentrional.
Maio – Exército reforça grupamentos que tocam a primeira parte da obra na área da tomada de água dos eixos norte e leste do projeto de transposição.
04/06 - Carta cobra de Geddel cumprimento de acordo firmado pelo governo federal, desde 2005. Assinam: Dom Luiz Cappio, Adriano Martins, Yvonilde Medeiros, Jonas Dantas (Fórum Permanente de Defesa do São Francisco), Luciana Khoury (Ministério Público da Bahia); Subscrevem: ASA (Articulação do Semi Árido), Frente Cearense por Uma Nova Cultura das Águas; Fórum Sergipano, Via Campesina Brasil, MST Brasil, comunidades quilombolas, pescadores e povos indígenas da Bacia, Ministério Público de Sergipe, professores João Suassuna e João Abner.
26/06 a 04/07 - Mais de 1500 pessoas ocupam o canteiro das obras do eixo norte do projeto de transposição, em Cabrobó (PE). Nos dias seguintes índios Trukás e Tumbalalás ocupam e retomam terras na mesma região.
Julho -
Procurador geral da República, Antonio Fernando de Barros, entra com petição em que pede a suspensão imediata das obras de transposição.
19/08 a 01/09 –
Caravana em defesa do rio São Francisco: contra a transposição e por uma nova estratégia em relação ao semi-árido brasileiro percorre 11 cidades.
10 a 14/09 – Mutirão de trabalho na região do eixo leste do projeto de transposição.
03 a 10/11 – Mutirão de trabalhos na região do eixo norte do projeto de transposição.
27/11 – Dom Luiz Cappio retoma greve de fome e afirma que só irá cessar o ato se o exército for retirado da região e o projeto for arquivado definitivamente.

A Carta do Bispo

Senhor Presidente

Paz e Bem!

No dia 6/1 0/05, em Cabrobó-PE, assumimos juntos um compromisso: o de suspender o processo de Transposição de Águas do Rio São Francisco e iniciar um amplo diálogo, governo e sociedade civil brasileira, na busca de alternativas para. o desenvolvimento sustentável para todo o semi-árido. Diante disso suspendi o jejum e acreditei no pacto e no entendimento.

Dois anos se passaram, o diálogo foi apenas iniciado e logo interrompido.

Já existem propostas concretas para garantir o abastecimento de água para toda a população do semi-árido: as Ações previstas no Atlas do Nordeste apresentada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e as ações desenvolvidas pela Articulação do SemiÁrido (ASA).

No dia 22 de fevereiro de 2007 protocolei no Palácio do Planalto documento solicitando a reabertura e continuidade do diálogo, e que fosse verdadeiro, transparente e participativo. Sua resposta foi o início das obras de transposição pelo exército brasileiro.

O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira.

Uma nação só se constrói com um povo que seja sério, a partir de seus dirigentes. A dignidade e a honradez são requisitos indispensáveis para a cidadania.

Portanto retomo o meu jejum e oração. E só será suspenso com a retirada do exército nas obras do eixo norte e do eixo leste e o arquivamento definitivo do Projeto de Transposição de águas do Rio São Francisco. Não existe outra alternativa.

Acredito que as forças interessadas no projeto usarão de todos os meios para desmoralizar nossa luta e confundir a opinião pública. Mas quando Jesus se dispôs a doar a vida, não teve medo da cruz. Aceitou ser crucificado, pois este seria o preço a ser pago.

A vida do rio e do seu povo ou a morte de um cidadão brasileiro.

"Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho."

Que o Deus da Vida seja penhor de Vida Plena.

“O Brasil é uma terra de grandezas. Terá dirigentes com a mesma grandeza?” (Bourdoukan Georges in “Capitão Mouro”).

Dom Frei Luiz Flávio Cappio,OFM

Bispo Diocesano de Barra


Biografia do Bispo

Resumo da biografia de Dom Luiz Flavio Cappio

“A vida do rio e do seu povo ou a morte de um cidadão brasileiro”

Dom Frei Luiz Flavio Cappio, nasceu em 1946, em Guratinguetá (SP), no mesmo dia em que é comemorado o dia do santo que empresta o nome ao rio São Francisco, 04 de outubro. Dos seus 61 anos, pelo menos 40 se passaram às margens do chamado Velho Chico. Ainda jovem, deixou a família abastada e tornou-se religioso franciscano, tendo feito estudos teológicos em Petrópolis (RJ), onde se formou também em Economia.

Recém ordenado padre, no ano de 1974 atuava na Pastoral Operária quando saiu de São Paulo, apenas com a roupa que vestia, e seguiu para o semi-árido da Bahia. Estava ali afirmada a relação com a Bacia do rio São Francisco. Em 1997, ordenado bispo da diocese de Barra (BA), na região do médio São Francisco, foi consolidada a proximidade com o rio e com os ribeirinhos, de quem tem reconhecido respeito e afeição.

Marcante também na história do frei é a peregrinação que fez, entre os anos de 1992 e 1993, desde a nascente do rio São Francisco, em Minas Gerais, até a foz, entre os estados de Alagoas e Sergipe. Junto com ele estavam três pessoas: Adriano Martins, sociólogo, a irmã Conceição e o lavrador Orlando de Araújo. Um pouco desse movimento ecológico-religioso pode ser lido no livro: “O Rio São Francisco, uma caminhada entre a vida e morte” (Editora Vozes), escrito por Cappio, Adriano Martins e Renato Kirchner.

Para Dom Luiz o rio São Francisco é "a mãe e o pai de todo o povo, de onde tiram o peixe para comer, a água para beber e molhar suas plantações — principalmente em suas ilhas e áreas de vazantes. Mesmo não sendo o maior rio brasileiro em volume d'água, talvez seja o mais importante do país, porque é a condição de vida da população. Sempre dizemos: rio São Francisco vivo, povo vivo; rio São Francisco doente e morto, população doente e morta".

Em 2005 fez um jejum de 11 dias, entre 26 de setembro e 05 de outubro, em Cabrobó (PE). Conhecida como a “greve de fome” em defesa do São Francisco, foi explicada por ele “como um gesto desesperado, um grito desesperado”. Ele argumentava que ”o que norteia minha vida é minha fé incondicional” e completava que “quando a razão se extingue, a loucura da fé é o caminho”.

O resultado foi que milhares de pessoas, em solidariedade, se dirigiram ao local do jejum. Além disso, organizações, inclusive estrangeiras, assinaram cartas e documentos de apoio. O ápice aconteceu quando o governo considerou o ato e enviou um negociador, o ex-sindicalista e ex-ministro, atual governador da Bahia, Jacques Wagner (PT).
O bispo encerrou a “greve de fome” com a promessa, do presidente Lula, de que seria iniciado um debate amplo sobre o projeto de transposição e a revitalização do rio São Francisco. O acordo não foi cumprido o que ocasionou uma série manifestações dos movimentos populares e ações judiciais com o intuito de paralisar a mega obra.

Ao comentar o acordo firmado com o governo, Dom Luiz afirmou publicamente que se a promessa não fosse cumprida ele voltaria ao jejum e não estaria sozinho. Esgotadas e infrutíferas foram todas as tentativas. Dessa forma ele retomou o jejum esta manhã (27) na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), ao pé da barragem de Sobradinho. Revelando todo o estado de mingua em que se encontra o São Francisco – o imenso lago vem diminuindo suas reservas e nesse momento se encontra com menos de 14% da sua capacidade.

26.11.07

TV Brasil deve ser expressão de política pública de comunicação

A MÍDIA EM DEBATE

Criada recentemente por medida provisória, a TV pública brasileira enfrenta o desafio de ajudar a democratizar a informação e a produção cultural brasileira, de modo a romper a hegemonia da “mídia de mercado”.
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Verena Glass - Carta Maior
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SALVADOR – A TV pública, veículo que, por definição, tem o papel de servir ao interesse público de forma independente dos projetos econômicos e políticos do mercado e dos governos, é uma velha conhecida dos telespectadores europeus. Tem desempenhado uma função extremamente relevante no universo midiático de países como Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Portugal, Holanda e outros, mas no Brasil o conceito é uma novidade que está lutando para fincar raízes entre produtores de conteúdo, telespectadores e políticos.
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Alguns questionamentos mais comuns acerca da TV Brasil, o projeto nacional de TV pública em implantação, tocam em pontos delicados, como o grau de interferência (ou atrelamento) do Governo na sua gestão política e no seu conteúdo, a capacidade de responder ao desafio de produzir material de qualidade que atenda as expectativas de um público acostumado ao padrão dos canais privados, a capacidade de levar o sinal a todas as regiões do país sem exceção, entre outros.
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Um dos temas centrais do Fórum Nacional Mídia, Poder e Democracia, evento que ocorre em Salvador até este dia 14 e que reúne renomados especialistas brasileiros e internacionais em comunicação, o projeto brasileiro de TV pública foi abordado em todos os seus aspectos tanto por profissionais que estão na dianteira do processo, como a jornalista Tereza Cruvinel, indicada para dirigir o projeto, e Beth Carmona, atualmente à frente da fundação Roquette Pinto e da TVE/RJ, quanto especialistas no tema, como o professor Laurindo Leal Filho, da USP, e produtores de conteúdo independente.
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De acordo com Leal Filho, no Brasil, onde desde o início a TV foi privada (apesar de usufruir de concessões públicas), a principal dificuldade da população é entender o "pra que uma TV pública, se o que a Globo produz é tão bom”. No país não há história nem acúmulo de conhecimento e discussão sobre este modelo de televisão, ao contrário da Europa, onde a radiodifusão nasceu pública na maioria dos casos, avalia o professor. Ou seja, é preciso difundir o conceito de comunicação televisiva como um serviço público prestado pelo Estado, nos moldes dos serviços de educação, saúde, transporte etc.
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Para garantir que a gestão da TV pública tenha como foco exclusivo o interesse maior da população, sem interferência dos governos e das forças políticas que os ocupam, foram criados diversos modelos. Em países como Inglaterra, Suécia e Japão, por exemplo, os conselhos gestores do canal público são indicados pela sociedade a partir de critérios objetivos. Já na Alemanha e na Bélgica, os conselhos são compostos de representantes dos diversos partidos e organizações nacionais da sociedade civil, para garantir a pluralidade e fomentar o debate das divergências.
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No Brasil, segundo Tereza Cruvinel o conselho da TV pública será indicado pelo chefe de Estado, representante eleito do povo. O conselho curador será composto por 15 membros da sociedade civil, um representante dos funcionários e quatro representantes do governo. O objetivo central do projeto é romper o direcionamento e o estreitamento dos conteúdos da TV privada, formando uma rede com emissoras publicas e estatais nos estados “a começar pela TVE/RJ, TVE/MA e TV Cultura/SP” para possibilitar a pluralidade e a regionalização da produção de conteúdo e dar espaço para os diversos setores da sociedade brasileira. Quanto à autonomia do TV Brasil, Cruvinel afirma que o governo manterá um programa próprio através da NBR.
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Na mesma direção, Beth Carmona acredita que a TV Brasil terá um papel fundamental no processo de desenvolvimento e educação do país, e seu estilo e conteúdo deverão se desenvolver ao longo do tempo, adequando-se às demandas que surgirão do público. Segundo ela, apesar de não se pautar pelos índices de audiência, a qualidade de sua produção deverá prever a aceitação do público.

O povo contra a "opinião pública"

Um jornalista brasileiro, de luto fechado pela derrota do seu candidato à presidência da República, depois de dar por favas contadas a vitória, afirmou: “O povo votou contra a opinião pública”. Afirmação que permite que nos perguntemos: que povo é esse que não respeita a “opinião pública”? Mas, sobretudo: que “opinião pública” é essa, que se choca com a opinião do povo? E que jornalista é esse, que imprensa é essa, que fabrica – conforme a expressão de Chomsky – uma “opinião pública” ilusória?
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Duas matéria publicadas no mesmo dia - 11/11/2007 – por dois dos três jornais de maior tiragem no Brasil – Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo – nos permitem entender melhor esses mecanismos. O desencontro entre a “OP” forjada pela mídia oligopólica tem, por exemplo, como um de seus carros-chefe, em que pretenderam nestes anos todos expressar uma suposta opinião majoritária da sociedade, um ponto de vista favorável às privatizações – aqui personificadas pelo governo FHC. No entanto, em pesquisa encomendada por um desses jornais – O Estado de São Paulo -, publicada em um espaço meio escondido – no caderno Economia de 11/11/2007: “Maioria é contra privatizações” – 62% contra e 25% a favor.
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O que diz, além disso, o povo, contra a “OP” forjada? Que a privatização não melhorou os serviços prestados: na telefonia (grande “orgulho” dos privatizadores): 51% dizem que não, 37, que sim. Rejeitam a privatização das estradas 47% contra 36% a favor: contra a privatização da energia elétrica 55%, a favor 31%; contra a privatização de água e esgoto, 54%, a favor, 29%.
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Perguntados expressamente se o governo FHC fez bem ou mal em privatizar, 55% condenaram a privatização da telefonia contra 33 a favor; 53% condenam a privatização das estradas, 33% são a favor; 59% contra a privatização da energia eletrica, 29% a favor; 59% contra a privatização da água e esgoto, 27% a favor. Consultados se o governo Lula fez bem ou mal em privatizar rodovias e estradas, de forma coerente 49% diz que fez mal, 35% que fez bem.
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Uma maioria esmagadora rejeitou qualquer tentativa de privatização de empresas como o Banco do Brasil (77% contra), a Caixa Econômica Federal (78%) e a Petrobrás (78%). Os mais ricos revelam menores taxas de rejeiço às privatizações (35%), mas entre os mais pobres apenas 15% as aprovam. Na região mais pobre do país, o nordeste, a rejeição às privatizações é a maior (73%), confirmando que os mais pobres são as principais vítimas desse processo socialmente cruel. Mas mesmo regiões de nível de renda mais alto, como o Sul e o Sudeste, apresentaram rejeição das privatizações – 67% contra 21% e 56% contra 39%.
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Portanto um ponto de vista, evidenciado pela primeira pela mídia mercantil, de que os pontos de vista dos editoriais, das pautas de cobertura das editorais, dos colunistas desses órgaos, que tentaram, ao longo das ultimas décadas, vender a privatização como um anseio nacional, na realidade refletia os seus interesses como empresas privadas, assim como os do grande capital que financia a esses orgaos por meio da publicidade.
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Quem compõe, então, essa “opinião pública”, por meio da qual se tenta impingir ao país uma visão claramente minoritária, como se fosse majoritária e refletisse os interesses do país? Outra matéria, do mesmo dia, na Folha de São Paulo, nos dá pistas desse universo restrito e elitista, que essa imprensa tenta passar – em um caso clássico de operação ideológica – como da maioria da população.
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Depois de ter que confessar que a queda dos leitores dos jornais é um processo em queda livre e irreversível, porque o jornal, que já havia tido uma tiragem de 530 mil exemplares em 1997, dez anos depois, com todo o crescimento demográfico da população brasileira, viu essa tiragem cair para 307 mil, isto é, uma queda de 44% . Considerando que é uma tendência forte e irreversível, praticamente um de cada dois leitores deixou de ler o jornal, que ainda assim continua a ser de maior tiragem, porque a queda de leitores é generalidada na imprensa escrita. Hoje os três jornais de maior tiragem têm uma média diária de 836 mil exemplares, quando já tiveram o dobro há uma década.
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Mas o mais significativo – além de que o universo da “OP” forjada pela mídia mercantil é cada vez ainda mais restrito – é que o universo de leitores se concentra nos setores mais ricos do país: 90% estão nos grupos A e B, lugar onde estão apenas 18% da população. 68% dos leitores do jornal tem nível superior, situação de apenas 11% da população. São estes excluídos da riqueza e dos diplomas universitários os que compõem a grande maioria do povo e se opõem à “OP” da mídia mercantil.
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Esta está composta – além dos mais ricos e instruídos formalmente – por brancos, católicos, casados, com filhos, com bichos de estimação, estão entre os 23 e 49 anos, fazem exercício, comem em restaurantes, freqüentam shopings, cinemas, livrarias, usam internet, DVD, têm celulares, computadores e câmeras digitais. Isto interessa muito ao jornal, porque lhe interessa que seu círculo de leitores, embora pequeno proporcionalmente, seja grande consumidor.
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Como correspondência da evolução direitista do jornal, a maioria dos seus leitores deixou de ser do PT – com queda de 34% par 13% - , passando a dispor de maioria de leitores do partido da nova direita – o PSDB, de FHC -, com 13% dos leitores.
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Está decifrado o dilema: por um lado, a “OP”, constituída pelos leitores da grande mídia mercantil: ricos, com os melhores lugares no mercado de trabalho e acesso monopolista a bens materiais e espirituais, universo constituído em função dos consumidores que interessam às agências de publicidade, para que estas veiculem publicidade das grandes empresas privadas. De outro, a grande massa da população, que não lê esses jornais, que é vitima do processo de concentração de renda promovida pela globalização liberal. Esta maioria tem derrotado a “opinião pública” no Brasil, na Argentina, na Bolívia, na Venezuela, no Uruguai, no Equador, forjada pela direita e que pretende seqüestrar a opinião do país, que nas eleições – a maior e mais ampla pesquisa de opinião pública – tem promovido sistematicamente a eleição e a reeleição dos candidatos mais progressistas na América Latina.
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Postado por Emir Sader, 22/11/2007 às 05:34

Mészáros: idéia de liberdade tem sido usada a serviço da opressão

DEBATE ABERTO

Em São Paulo para o lançamento de seu último livro, “O desafio e o fardo do tempo histórico”, o marxista húngaro disse que referências à “liberdade” e à “democracia” têm sido “cinicamente usadas a serviço da opressão”.

Marcel Gomes – Carta Maior
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SÃO PAULO - No Brasil para o lançamento de seu último livro, “O desafio e o fardo do tempo histórico” (Boitempo, R$ 57), o filósofo húngaro István Mészáros, considerado um dos maiores marxistas vivos, realizou duas concorridas conferências nesta semana, uma Florianópolis e outra em São Paulo. Com uma abordagem teórica que não perde o vínculo com a realidade contada nos jornais, Mészáros defendeu a essencialidade da crítica ao capital para projetos de emancipação do indivíduo – um tema e tanto para as esquerdas que buscam alternativas à globalização neoliberal.
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A TV Carta Maior gravou a conferência realizada quarta-feira (21) na Universidade de São Paulo e na próxima semana disponibilizará o vídeo, com tradução simultânea, em sua página na internet.
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Em quase uma hora de uma palestra dada em inglês, o filósofo discutiu conceitos da tradição socialista, sempre considerando “o longo período de gestação de cada um deles ao longo da história”. Sua abordagem evitou o dogmatismo e ressaltou o vínculo entre teoria e prática, sem perder de vista que o objetivo da teoria socialista é apontar soluções para os mais graves problemas da humanidade.
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Em busca do significado dos conceitos, Mészáros analisou a construção histórica de conceitos como o do "trabalho", dentro da atividade produtiva, e o da "igualdade", entendida em seu sentido substantivo, que vai além da divisão das coisas materiais e deve ser compreendida, segundo ele, como algo que reflita um elevado grau de justiça nas trocas sociais.
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“Igualdade substantiva não é apenas um dos princípios orientadores do projeto socialista. Ela ocupa uma posição-chave entre as categorias gerais da alternativa hegemônica do trabalho. Os outros princípios da estratégia socialista só podem adquirir significado total em conjunto com a noção de igualdade substantiva”, disse Mészáros.
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Nesse sentido, o filósofo considera que os valores necessários ao "modo de controle metabólico social do capital" são inadequados para a instalação da ordem socialista. Referências à “liberdade” e à “democracia” têm sido, afirmou, “cinicamente usadas a serviço da opressão e, freqüentemente, mesmo em função da mais brutal violência, do Estado policial e de genocídios militares”.
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Projetos emancipatórios necessitam, portanto, de uma crítica aos mecanismos de dominação do capital, que costumam ser perdidos em propostas reformistas, parlamentares e nas chamadas de “terceira via”. Como alerta Mészáros, esse trabalho tem de começar a partir de práticas emancipatórias, para as quais o pensamento teórico, em seqüência, possui função essencial.
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E, para Mészáros, tudo isso é tarefa urgente. Como diz o texto de divulgação de seu último livro, a escolha a ser feita não é entre socialismo e barbárie, mas entre socialismo e extinção.

O ressentimento da tropa

Tropa de Elite erra o alvo ao denunciar a suposta cumplicidade da classe média com o crime. O ataque serve de álibi para subestimar os preconceitos que marcam a ação policial e esquecer que uma nova polícia só seria possível num país transformado

Vistas de fora, todas as favelas se parecem. No entanto, quem tem de entrar nelas sem ser convidado sabe que isto constitui grossa simplificação. O capitão Nascimento raciocina mais ou menos nesses termos, durante uma das sessões darwinistas de treinamento da elite da tropa.

“Tropa de elite” investe, por um lado, no foco subjetivo, interno à corporação policial. O objetivo é criticar as supostas simplificações da esquerda, nos diagnósticos sobre segurança pública e criminalidade no Brasil contemporâneo. A exposição do método bárbaro de combate ao crime pelas forças da ordem convive de perto, no filme, com o mantra do “polícia para quem precisa de polícia”. É como se a brutalidade da ação de uns e a miséria da reflexão de outros se alimentassem reciprocamente.

Salvo engano, é esse um dos sentidos da “formação” presente no filme. Ou seja, a constatação de que há um ponto cego no diagnóstico de esquerda sobre a crise de segurança pública: a falta de reflexão aprofundada sobre a especificidade das estruturas de repressão ao crime, dentro das balizas do Estado de Direito.

Na narrativa, as “formações” da tropa, do cidadão e do país aparecem entrelaçadas. Ou, mais especificamente: a formação da tropa tem de lidar com o déficit de legitimidade da polícia, que teria como origem a caricaturização feita pela esquerda — e enraizada socialmente no país desde pelo menos o período da ditadura militar. A partir dessa perspectiva, a dissociação entre democracia e polícia constituiria um capítulo relevante da má formação nacional. É sobre ela que importaria lançar luz, elevando o debate público a um patamar supostamente mais elevado de reflexão.

Quando a crítica ao Estado é ofuscada pelo ressentimento contra os "maconheiros"

De outra parte, o foco no sujeito permite denunciar a negligência de sucessivos governos, incapazes de formular e executar uma política pública consistente para as polícias brasileiras. Em conseqüência, elas tendem a reproduzir o favor, a malandragem e a corrupção como dispositivos paradoxais. Condenáveis em si mesmos, eles possibilitam, no entanto, a própria continuidade das ações policiais e, no limite, reforçam o descontrole institucional da corporação.

Aquilo que no filme aparece como o funcionamento do “sistema” constitui prova irrefutável do caráter assistemático das políticas de segurança pública no país. Ao déficit simbólico referido acima, acrescenta-se o sucateamento material da polícia, cujos atores viram-se como podem entre a esfera da ordem e da desordem, mimetizando, no andamento errático de suas ações, a ausência de planejamento institucional e a precariedade administrativa da instituição.

Interessante notar como o personalismo que alimenta a precariedade da tropa comum também se faz presente na formação da tropa de elite. Numa de suas melhores cenas, o filme mostra uma aula do capitão Nascimento sobre o conceito de estratégia. Nas imagens, o arbítrio personalista e o arremedo de inteligência andam de mãos dadas.

É esse mesmo foco interno que possibilita uma crítica implacável ao “shinny happy people” que fuma maconha, participa de ONGs, discute Foucault e alimenta o negócio do tráfico de drogas e de armas. No filme, essa “comunidade” parece personificar o simplismo dos diagnósticos pseudo-progressistas e, nessa condição, é submetida a uma crítica tão radical e truculenta quanto o bárbaro padrão histórico de atuação policial no Brasil contra os de baixo. Trata-se de um nivelamento bastante discutível, que parece evidenciar os limites da perspectiva interna adotada pela narrativa, bem como o travo específico do ressentimento que pontua o filme do princípio ao fim.

É como se o clichê policial – que reduz com freqüência o outro ao estatuto universal do vagabundo e do maconheiro – saísse de mãos dadas com a pregação moral de certa esquerda, retratada no filme como míope e burguesa, e que se expressa no automatismo de equações do tipo “pobreza mais polícia truculenta é igual a política de extermínio” etc. São duas simplificações igualmente perniciosas, parece bradar reiteradamente o filme, justificando nessa medida a truculência regressiva no trato com os de cima.

Esse nivelamento das simplificações opera quando aplica o clichê policial à sua clientela não preferencial: as classes média e alta. Essa inversão, pela qual o “mauricinho” é esculachado como maconheiro e alienado, empresta à narrativa um verniz crítico, que auxilia a amarração de uma das pontas do ressentimento. Está-se vendo que a tropa de elite não brutaliza apenas os desfavorecidos mas também — e significativamente da perspectiva do filme — a consciência alienada dos “bacanas”.

O filme admite, pela porta dos fundos, o moralismo que pretensamente quer exorcizar

Este ressentimento de classe pode seduzir, especialmente por ocultar, ainda que de forma parcial, o sentido mais fundo do comportamento classista da polícia no Brasil. Para além da truculência em si mesma, parece estar aí o sentido regressivo da inversão.

A representação do discurso do falso progressismo como discurso alienado encontra seu ponto máximo, no filme, na cena que desautoriza a passeata de burgueses contra a violência. Este artifício deriva de um traço objetivo da sociabilidade contemporânea: a perda de substância social do discurso e das práticas da nova esquerda, que converte progressivamente a gramática dos direitos humanos em retórica vazia e coreografia patética, carente de conteúdo histórico no cenário de guerra civil e estado de sítio em que nos encontramos. Ao assumir o ponto de vista da necessária racionalização da segurança pública no país, o filme permite que entre pela porta dos fundos o moralismo que, em princípio, procura exorcizar. Em nenhum momento, Tropa de Elite se dispõe a refletir às claras sobre os limites dessa racionalização no atual contexto brasileiro. É como se o filme impusesse sua tese por decreto narrativo -– uma espécie de AR-15 civilizatório -– e diante da resistência do objeto em se deixar apanhar por esse flanco, só lhe restasse o deblaterar ressentido sobre a pretendida mudança que não veio.

Assim é que o ressentimento do policial incorruptível e truculento contra o burguês inconseqüente parece ser da mesma ordem do ressentimento de quem apostou na via do combate eficiente ao crime (Neto) dentro da legalidade (Matias) e pretendeu, por assim dizer, saltar sobre a nossa própria realidade. Além do que comporta de trágico, não deixa de ser perversa a ironia pela qual o filme torna-se “objeto cultural” no Brasil de hoje, precisamente naqueles aspectos que reforçam esses limites.

Se as favelas são de fato muito diferentes entre si, o que importa, no final das contas, é definir a melhor estratégia de ocupação do próximo morro ou, nos termos do capitão Nascimento, saber se a invasão se dará por mar, por terra ou pelo ar. Esse é o sentido inequívoco da simplificação violenta que tem prevalecido historicamente entre nós.

22.11.07

Trabalhemos menos, trabalhemos todos

Muitas coisas nos diferenciam dos outros animais mas nada é mais marcante do que a nossa capacidade de trabalhar, de transformar o mundo segundo nossa qualificação, nossa energia, nossa imaginação. Ainda assim, para a grande maioria dos homens, o trabalho nada mais é que puro desgaste de suas vidas. Na sociedade capitalista, a produtividade do trabalho aumentou simultaneamente a uma tão forte rotinização, apequenamento e embrutecimento do processo de trabalho que já não há nada que mais nos desagrade do que trabalhar. Preferimos, a grande maioria, fazer o que temos em comum com os outros animais: comer, dormir, descansar, acasalar.
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Não foi descoberta de Marx e sim de Adam Smith e de David Ricardo que o valor dos produtos não vem da terra, nem dos metais preciosos, nem da tecnologia, mas do trabalho humano. Daí o lugar essencial que ele tem nas nossas sociedades, ou que deveria ter.
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Nossa capacidade de trabalho, esta potência humana de transformação e emancipação de todos, ficou limitada a ser apenas o nosso meio de ganhar o pão. Capacidade, potência, criação, o trabalho foi transformado pelo capital no seu contrário. Tornou-se instrumento de alienação no sentido clássico da palavra: como ato de entregar ao outro o que é nosso, nosso tempo de vida. De produzir para que outros se apropriem do que produzimos, para que outros decidam o que produzimos, como produzimos, para quem produzimos e a que preço será vendido.
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A maioria esmagadora dos brasileiros – e de toda a humanidade – vive do seu trabalho. Vive para trabalhar e trabalha para viver. A esmagadora maioria gasta a vida em atividades que não lhes interessa, às quais se submete porque precisa manter-se viva. Para a maioria, sobreviver tornou-se uma forma de vida: sair de casa cedinho, retornar doze horas depois, após uma jornada esfalfante de um trabalho desinteressante, repetitivo, extenuante, para ter apenas o tempo de se recompor para voltar a repetir, mecanicamente, a mesma jornada no dia seguinte e nos outros dias, pelo resto dos dias da sua vida. E ainda precisa agradecer quando consegue ter e manter um tal trabalho!
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Os que vivem esse cotidiano são os que mais precisariam de tempo e de conhecimento para decifrar esse imenso mistério de viver trabalhando loucamente apenas para se manter pobre, enquanto os que não trabalham enriquecem às suas custas. Mas são eles os que menos dispõem de tempo e de conhecimento. O rico não é apenas aquele que desfruta mais e melhores bens materiais, mas é também aquele que dispõe do seu tempo, até para não fazer nada.
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As centrais sindicais brasileiras desenvolvem uma campanha pela diminuição da jornada de trabalho. Não pode haver campanha mais justa e humanista. Que os trabalhadores, os que produzem todas as riquezas do Brasil e do mundo, possam trabalhar menos e viver mais, até para que outros possam ter acesso ao trabalho formal e dignamente remunerado. Não se combate o desemprego apenas abrindo novas frentes de trabalho. É indispensável – como faz a proposta de reforma constitucional do governo venezuelano, que diminui a jornada de trabalho de oito para seis horas – diminuir a jornada de trabalho. Diminuir as horas de trabalho para que os trabalhadores possam dispor de um tempo para a família, o lazer, o descanso, a leitura, a luta coletiva. Para que decidam o que querem fazer com ao menos uma parte das suas vidas.
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Valorizar o trabalho, valorizar o mundo do trabalho, valorizar os trabalhadores – são os grandes ideais humanistas do nosso século. A desumanização do trabalho é a desumanização do homem, da sua capacidade criativa, imaginativa, humanizadora do mundo. Um mundo à imagem e semelhança dos nossos melhores sonhos só poderá ser construído pelo trabalho livre, desalienado, escolhido pelos homens.
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Precisamos caminhar para uma sociedade onde o trabalho seja instrumento de emancipação, onde o conhecimento seja instrumento de desalienação e onde os homens vivam através do trabalho que realizam de forma solidária e cooperativa e não mais para serem explorados, ofendidos, humilhados, oprimidos.
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Postado por Emir Sader, 17/11/2007 às 11:01

¿Porqué no te callas?

21/11/2007 15:33:58 Por Boaventura de Sousa Santos - de Coimbra, Portugal
Esta frase, pronunciada pelo Rei de Espanha dirigindo-se ao Presidente Hugo Chávez durante a XVII Cúpula Iberoamericana realizada no Chile, no dia 10 de Novembro, corre o risco de ficar na história das relações internacionais como um símbolo cruelmente revelador das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colônias. De fato, não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Como qualquer frase que intervém no presente a partir de uma história longa e não resolvida, esta frase é reveladora em diferentes níveis.
Ela revela, em primeiro lugar, a dualidade de critérios na avaliação do que é ou não democrático. Está documentado o envolvimento do primeiro-ministro de Espanha de então, José Maria Aznar, no golpe de Estado que em 2002 tentou depor um presidente democraticamente eleito, Hugo Chávez. Porque, naquela altura, a Espanha presidia à União Européia, esta última não pode sequer clamar total inocência. Para Chávez, Aznar ao atuar desta forma, comportou-se como um fascista. Pode questionar-se a adequação deste epíteto. Mas haverá tanta razão para defender as credenciais democráticas de Aznar, como fez pateticamente Zapatero, sem sequer denunciar o carácter antidemocrático desta ingerência?
Haveria lugar à mesma veemente defesa se o presidente eleito de um país europeu colaborasse num golpe de Estado para depor outro presidente europeu eleito? Mas a dualidade de critérios tem ainda uma outra vertente: a da avaliação dos fatores externos que interferem no desenvolvimento dos países. Num dos primeiros discursos da Cúpula, Zapatero criticou aqueles que invocam fatores externos para encobrir a sua incapacidade de desenvolver os países. Era uma alusão a Chavez e à sua crítica do imperialismo norte-americano.
Pode criticar-se os excessos de linguagem de Chávez, mas não é possível fazer esta afirmação no Chile sem ter presente que ali, há trinta e quatro anos, um presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, foi deposto e assassinado por um golpe de Estado orquestrado pela CIA e por Henry Kissinger. Tão pouco é possível fazê-lo sem ter presente que atualmente a CIA tem em curso as mesmas táticas usando o mesmo tipo de organizações da “sociedade civil” para destabilizar a democracia venezuelana.
Tanto Zapatero como o Rei ficaram particularmente agastados pelas críticas às empresas multinacionais espanholas (busca desenfreada de lucros e interferência na vida política dos países), feitas, em diferentes tons, pelos presidentes da Venezuela, Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina. Ou seja, os presidentes legítimos das ex-colônias foram mandados calar mas, de fato, não se calaram. Esta recusa significa que estamos a entrar num novo período histórico, o período pós-colonial, teorizado, entre outros, por José Marti, Gandhi, Franz Fanon e Amilcar Cabral e cujas primicias políticas se devem a grandes lideres africanos como Kwame Nkrumah. Será um período longo e caracterizar-se-á pela afirmação mais vigorosa na vida internacional dos países que se libertaram do colonialismo europeu, assente na recusa das dominações neocoloniais que persistiram para além do fim do colonialismo.
Isto explica porque é que a frase do Rei de Espanha, destinada a isolar Chávez, foi um tiro que saiu pela culatra. Pela mesma razão se explicam os sucessivos fracassos da União Européia para isolar Roberto Mugabe.
Mas “¿porqué no te callas?” é ainda reveladora em outros níveis. Saliento três.
Primeiro, a desorientação da esquerda européia, simbolizada pela indignação oca de Zapatero, incapaz de dar qualquer uso credível à palavra “socialismo” e tentando desacreditar aqueles que o fazem. Pode questionar-se o “socialismo do século XXI” - eu próprio tenho reservas e preocupações em relação a alguns desenvolvimentos recentes na Venezuela - mas a esquerda européia deverá ter a humildade para reaprender, com a ajuda das esquerdas latinoamericanas, a pensar em futuros pós-capitalistas.
Segundo, a frase espontânea do Rei de Espanha, seguida do ato insolente de abandonar a sala, mostrou que a monarquia espanhola pertence mais ao passado da Espanha que ao seu futuro. Se, como escreveu o editorialista de El País, o Rei desempenhou o seu papel, é precisamente este papel que mais e mais espanhóis põem em causa, ao advogarem o fim da monarquia, afinal uma herança imposta pelo franquismo.
Terceiro, onde estiveram Portugal e o Brasil nesta Cúpula? Ao mandar calar Chávez, o Rei falou em família. O Brasil e Portugal são parte dela?
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal)

UM DIA VENDO AS “DUAS CARAS” DA GLOBO

30.10.2007

Por Renata Figueiredo Moraes (*)



Última segunda-feira de outubro, calor no Rio de Janeiro, caos no trânsito e o início de uma semana com feriado na sexta-feira. Esse é o panorama do dia em que assisti a novela das oito da Globo, chamada “Duas Caras”. Dentre os assuntos tratados nesse capítulo da novela, que eu não acompanho e por isso não sei os nomes das personagens, estão desde favela no Rio de Janeiro, passando por Paris até a discussão sobre o ensino superior no Brasil. Estranho se não fosse por um detalhe: tudo tem um sentido muito claro que começa a ser mostrado pela Globo não apenas na novela, mas em toda a sua grade de programação, desde os telejornais do dia, da noite e nas novelas que dentre diversão e coisinhas para distrair o telespectador tem quase que uma doutrinação. Ou, como disse Heitor Reis nesse mesmo fazendomedia.com, manipula-los é sempre um bom negócio.

Vamos aos assuntos tratados apenas nesse dia, 29 de outubro:

A personagem de Suzana Vieira, que na novela é dona de uma Universidade, foi à Paris convencer a filha, Aline Moraes, a se tornar reitora da universidade, cargo vago após a morte do marido. Por um acaso do destino, em plena Paris, Suzana encontra José Wilker, grande especialista em educação e o chama para conversar. O capítulo de segunda foi a conversa entre os dois e o drama de Suzana porque sua filha não quer assumir o cargo, obviamente quer continuar em Paris, quem não quereria.

Entre um vinho francês e outro, o personagem do Wilker diz sua opinião sobre a educação no Brasil após um longo estudo na Europa: “o governo brasileiro não tem mais condições de investir no ensino superior e por isso deveria haver um investimento “pesado” do setor privado e os grandes empresários precisariam ver essa área como investimento”. A solução para o estudioso Wilker era o setor privado na educação superior. Obviamente Suzana concorda na mesma hora e o chama para ser reitor da sua universidade.

Fiquei imaginando a dona de casa que vê a novela pensando: realmente, ensino privado é a solução, não é verdade que escola pública está um horror? Ainda mais depois que o Jornal Hoje, também de segunda-feira, divulgou uma pesquisa dizendo que as camadas mais pobres gastam mais com ensino que os ricos, e um dos argumentos era exatamente esse: devido à falência do ensino público, os menos favorecidos estão fazendo sacrifícios para pagar os estudos dos seus filhos.

Segundo a pesquisa, os mais pobres gastavam 9% da renda com os estudos, enquanto que os ricos 2,5%. Mas esqueceram de ver que porcentagem era essa, baseada em que faixa salarial. Enfim, como sempre, apenas jogaram uma informação para reafirmar uma idéia antiga, de que educação pública está falida ou não tem valor nenhum para aqueles que estudam, enquanto universidade pública é um gasto desnecessário já que os seus estudantes são ricos. Quem nunca ouviu isso?

Ainda no mundo dos ricos da novela e no mesmo capítulo da segunda-feira, enquanto eu estava deitada no meu sofá lendo uma revista, surpreendeu-me o seguinte diálogo: uma dondoca, personagem da Letícia Spiler e também do núcleo rico-riquíssimo, discutia com o filho que não queria ir ao curso de inglês com o argumento de que queria ser jogador de futebol e por isso não precisaria aprender a língua.

Mas na resposta ao filho já adolescente a dondoca diz: “se você quisesse ser presidente da República realmente não precisaria falar inglês, mas para ser jogador de futebol precisar aprender também o espanhol”. E aí lembra da existência de grandes clubes europeus com jogadores bilíngües e se empolga com a idéia de ter um filho jogador de futebol, obviamente jogando na Europa. É, caríssimos... a novela quer dar realmente a verdadeira lição sobre educação, além de cutucar o presidente da República. Daqui a pouco colocam algum movimento do tipo “Cansei” de alguma coisa.

Para encerrar o mundo dos ricos da novela “Duas Caras”, temos uma rápida aparição de Stênio Garcia recuperado da bebedeira que o fez expor seu preconceito contra um negro, personagem do Lázaro Ramos, que foi convidado pela personagem, branca, da filha de Stênio para um jantar. A cena ocorrida nos capítulos anteriores, um pouco forçada e medíocre – principalmente na defesa de que os negros contribuíram muito para a história do Brasil, com exemplos na música, na culinária e nos esportes (esse foi o argumento de um personagem branco e judeu que se identificou com a dor daquele que sofria o preconceito) – ainda rendia comentários para esse núcleo que estava mais preocupado com as repercussões que isso traria para o famoso advogado do que para uma discussão real sobre preconceito racial.

Para piorar a situação dessa família, há um outro jovem e também filho de Stênio Garcia que não pára de assediar a empregada negra da pior forma que um homem pode assediar uma mulher, fazendo dela um objeto sexual e coagindo-a quanto a posição que ambos ocupam na sociedade, ela empregada, ele patrão. Segundo a mãe desses filhos, eles têm uma grande queda para afro-descendentes.

É terrível ver como a Globo quer tratar da questão do preconceito racial tocando sempre na mesma tecla: empregadas negras assediadas, negros pobres se atrevendo a entrar no mundo dos ricos brancos e personagens negros vivendo em favelas. Até quando teremos que ver novelas reforçando ainda mais os estereótipos? Além disso, essa abordagem numa novela das oito só serve para legitimar a Globo perante a sociedade e redimi-la da falta de abordagem sobre o tema. Agora ela pode dizer que abordou não só o tema como o trouxe a tona em plena novela das oito.

Na verdade, o desserviço da Globo em relação à questão racial nas novelas não começou em “Duas Caras”. Atualmente a novela “Da cor do pecado” é reprisada no horário da tarde e só vem contribuir para reforçar ainda mais a idéia de negra pobre, branca rica e mocinho cedendo à tentação da cor. Além de ter todas as agressões verbais da branca rica que não tem outro argumento que não seja o de atacar a negra pobre com expressões racistas. Bem, pelo menos ninguém pode falar que a Globo não tratou disso... é... belo tratamento...

A idéia de “Duas Caras”, principalmente sua abertura que quer mostrar uma certa contradição entre riqueza e pobreza vivendo juntas, é desmentida a cada capítulo, ou será que alguém acha que a Globo tem duas caras? Eu só vejo uma: a da hipocrisia, a do conservadorismo, a branca rica que não suporta ver ascensão social nem dos pobres muito menos dos negros.

Além de todos esses horrores essa novela ainda conta com o personagem de um jovem com talento para a culinária, mas discriminado pela família por isso (faz parte do núcleo pobre da favela porque se fosse no rico certamente seria retratado como um grande chef e sua masculinidade não seria contestada por isso); uma garota de programa que se disfarça de enfermeira, o que já deixou em alerta o conselho dessa profissão; uma favela cenográfica tão limpa que certamente quando tiver uma enchente não vai alagar; mais uma vez um núcleo de garotas de programa e tantas outras coisas que vão além do espaço previsto para esse texto, e já discutidas em outras ocasiões.

Até o fim da novela quantas caras mais a Globo vai mostrar?

Renata Figueiredo Moraes é Historiadora, que não vê novelas, porém, não tem como não saber daquilo que se passa na sua sala.

EDICTO REAL

escrito por José Steinsleger miércoles, 14 de noviembre de 2007
Yo, Juan Carlos I de Borbón, rey de España, de Castilla, de León, de las Dos Sicilias, de Jerusalén, de Navarra, de Granada, de Toledo, de Valencia, de Galicia, de Mallorca, de Sevilla, de Cerdeña, de Córdoba, de Córcega, de Murcia, de Menoria, de Jaén, de los Algarves, de Algeciras, de Gibraltar, de las Islas Canarias, de las Indias Orientales y Occidentales, y de las Islas y Tierra Firme del Mar Océano…
Yo, chozno de Fernando VII (1808 / 1813-33), injustamente apodado El felón por haber tramado el envenenamiento de sus padres para ceñir sobre su testa contrahecha la corona que en Bayona vendió por un duro al Gran Corso, mientras el pueblo se desangraba en su nombre…
Yo, archiduque de Austria, duque de Borgoña, Brabante, Milán, Atenas y Neopatria; conde de Habsburgo, Flandes, el Tirol, el Rosellón y Barcelona; señor de Vizcaya y Molina; rey de Hungría, Dalmacia y Croacia; duque de Limburgo, Lotaringia, Luxemburgo, Güeldres, Estiria, Carniola, Carintia y Würtemburg…
Yo, tataranieto de Isabel II (1833-68), quien junto con Inglaterra y Francia tomó el puerto de Veracruz en garantía del pago por deudas contraídas en las guerras civiles de México (1861), y que luego invadió las islas Chinchas de Perú (1863), y luego se anexionó República Dominicana (1861-65), y luego sometió a cruel bombardeo los puertos de El Callao (Perú) y Valparaíso (Chile, 1865-71).
Yo, Landgrave de Alsacia; príncipe de Suabia; conde de Artois, Borgoña Palatinado, Hainaut, Namur, Gorizia, Ferrete y Kyburgo; marqués de Oristán y Gociano; Margrave del Sacro Imperio Romano y Burgau; señor de Frisia, Salins, Malinas, la Marca Eslovena, Pordenone y Trípoli…
Yo, bisnieto de Alfonso XII, El pacificador (1875-85), hijo de la anterior y de su primo el príncipe Francisco de Asís y no, como se dice, del capitán Enrique Puig Moltó; invasor de Haití junto con Estados Unidos, Francia e Inglaterra (1871 y 1883), quien fue sorprendido en su buena fe en la Plaza de la Cebada cuando unas mozas que lo vitoreaban le espetaron '¡Mas gritábamos cuando echamos a tu madre!'…
Yo, capitán general de las Reales Fuerzas Armadas y su comandante supremo; soberano Gran Maestre de la Real y Distinguida Orden de Carlos III; de Isabel La Católica; de las Damas Nobles de María-Luisa; de Alfonso X El sabio; de Montesa, Alcántara, Calatrava y Santiago, así como otras órdenes menores o condecoraciones españolas…
Yo, nieto de Alfonso XIII (1886-1931), hijo póstumo del anterior, que en el día de su boda salvóse de la bomba lanzada a su carroza por el anarquista Mateo Moral (1906); "pacificador" de Cuba, Puerto Rico, Filipinas y Marruecos; pionero del cine pornográfico en el barrio chino de Barcelona; partidario del nazi/falangista Primo de Rivera y destronado en 1931 por la Segunda República…
Yo, caballero de la Orden de Javier, de la Anunciada, de la Jarretera y del Imperio Británico (desde 1988); Bailio Gran Cruz de Justicia con Collar de la Orden de Constantino y Jorge de Grecia, y Honor y Devoción de la Soberana Orden Militar de Malta; Gran Collar de la Reina de Saba, y la Dinastía Reza de Irán; Gran Cordón de la Orden Suprema del Crisantemo de Japón; Gran Cruz de la Legión de Honor y de la Orden Nacional de Mérito; Premio Félix Houphouet-Boigny para la búsqueda de la Paz de la UNESCO…
Yo, hijo de Juan de Borbón y Battenberg, legítimo y eterno candidato al trono, quien murió de tristeza por mi fidelidad al Caudillo y a los Principios del Movimiento Nacional…
Yo, a quien acusaron de traicionar a los golpistas del 23 de febrero de 1981…Yo, partidario de la incorporación de España a la OTAN por mediación de Washington (1986)...
Yo, beneficiario de un crédito de 100 millones de dólares del príncipe de Kuwait para que los aviones de Estados Unidos puedan aterrizar en nuestro suelo durante la guerra del Golfo (1991)
Yo, socio de los implicados en el escándalo del banco Ibercorp (1992), que se quedaron con el dinero de centenares de ahorristas...
Yo, señalado junto a mi dilecto José María Aznar co responsable en los negociados de la petrolera francesa Elf (2003)...
Yo, quien tanto hizo por el Grupo Santander Hispano y Repsol a fin de apoderarnos de Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Argentina...
Yo, amigo de Mario Conde, director del intervenido Banesto y 'banquero de la monarquía'...
Yo, íntimo del príncipe Zourab Tchokotua, de Georgia, procesado en un tribunal mallorquí por estafas inmobiliarias...
Yo, incapaz de enfrentar a un novillo pero matador, en 2004, de una osa preñada perteneciente a una especie en extinción a la que mis amigos rumanos emborracharon con vodka y miel para dar en el blanco…
Yo, reunido en esta Capitanía General junto a tantos de mis vasallos que, sabiamente, retornan poco a poco al redil de la Madre Patria tras sus locas aventuras libertarias… Yo, el Rey, os ordeno, Hugo Chávez, a que te calles en nombre de los principios, la moral, la tolerancia y la decencia de las gentes de razón. Dado en Santiago de Chile, 10 de noviembre de 2007.

19.11.07

Consciência Negra

O que é a Semana Nacional da Consciência Negra
Sábado, 17 de novembro de 2007 - 1h21min por Brasil Cultura (www.brasilcultura.com.br)
. A consagração de novembro como mês da Consciência Negra reaviva a luta pela liberdade e resistência do povo negro no Brasil. Remete-nos ao passado escravista das Américas e de devastação das riquezas humanas, culturais, políticas e intelectuais do continente africano e a movimentação para conquista de direitos e cidadania. Neste ano, novembro se inicia impulsionado pela efervescência dos 35 anos de atuação do movimento negro em torno da imagem de Zumbi dos Palmares como herói nacional e da data de seu assassinato como um marco para a conscientização da identidade afro-brasileira.
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Em verdade, a luta pela liberdade e valorização dos saberes africanos se reporta aos mais de 500 anos da diáspora africana nas Américas. No entanto, a contemporaneidade fortaleceu essa reivindicação com símbolos nacionais que serviram de elementos para visibilizar a transformação almejada de uma sociedade sem racismo, discriminação e preconceito racial. Zumbi, ícone da falange palmarina, é uma figura viva na memória do povo brasileiro e reproduz os ideais de uma sociedade solidária e aguerrida em que homens, mulheres, negros, indígenas e brancos puderam desconstruir o sistema de estratificação social na República de Palmares contrapondo-se ao regime de escravidão.
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O ajuste de contas do Brasil Colônia com a população negra brasileira vem sendo dado pelo Estado brasileiro a passos lentos se comparado com a vigência do regime de escravidão e a ausência de políticas de inclusão no pós-abolição. Nem o nascedouro da República incorporou de fato a garantia de cidadania para africanos e seus descendentes. Pelo contrário, manteve os estigmas do escravismo e a negação da contribuição africana para a formação do Brasil e a presença do componente africano na sociedade.
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Por assim ser, temos extensa agenda de demandas que se referem à titulação de terras para comunidades remanescentes de quilombos, saúde, educação, trabalho e renda, acesso a bens e serviços. Ações essas que explicitam a urgente inversão do curso das políticas públicas em que a promoção da igualdade racial seja o norteador nas instâncias de formulação, decisão e execução.
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Ao ser constituída, a Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial assumiu o legado da luta de combate ao racismo e a superação das desigualdades étnico-raciais, desafios de inclusão inerentes à história republicana brasileira. Por meio desse órgão, o governo federal passou a tratar a temática racial no centro de sua estrutura, garantindo o trabalho integrado entre ministérios.
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Orientados pela Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, dialogamos com estados e municípios em processos em que a participação popular e de gestores públicos tracem as linhas mestras para a definição e execução de políticas públicas de acordo com as realidades locais, a exemplo do acúmulo obtido na 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial cujo produto resultou no Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
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Dessa forma, propomos um novo projeto de nação para que haja a inclusão dos negros em diversos setores da sociedade, a exemplo do que ocorre no Programa Universidade para Todos, em que negros e indígenas são atendidos com bolsas integrais e parciais de estudo, na ampliação de universidades públicas com adesão ao sistema de reserva de vagas e na promulgação da Lei 10.639/03, que obriga o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira no ensino fundamental e médio. Essa construção é alvo da sinergia para sua consolidação nos próximos quatros anos de governo.
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Embuído pela magnitude da marca de 35 anos do Dia Nacional da Consciência Negra, o governo federal, em conjunto com a sociedade civil engajada na luta anti-racismo, organizações negras, Organização das Nações Unidas, está organizando uma série de atividades para destaque de pontos elementares para a temática promoção da igualdade racial como a reflexão e debate acerca das políticas de ações afirmativas na educação e na saúde da população negra. Que neste fervoroso mês de novembro as aspirações palmarinas elevem as adesões do movimento anti-racismo e mantenham ativa a integração de forças para o combate ao racismo.
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Matilde Ribeiro ,
Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Governo Federal
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Dia Nacional da Consciência Negra
Sexta-feira, 16 de novembro de 2007 - 11h25min
Por que falar em Negritude na Bíblia
Acontece no dia 20 de novembro, e os dias que envolvem aquela semana, vários eventos, comemorações, protestos, reflexões e celebrações em torno da Semana Nacional da Consciência Negra. Nós do CEBI queremos retomar a reflexão sobre o tema "negritude" como desafio para incorporarmos mais isso no nosso suor, nas falas, textos e organização local, regional e nacional.
Os evangelhos sinóticos são unânimes em afirmar que um certo Simão de Cirene ajudou Jesus a carregar a cruz, a caminho do Calvário (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23. 26). Ora, Cirene fica no norte da África, mas alguma vez você ouviu em prédica ou sermão, na catequese, na escola dominical ou no ensino confirmatório, que um africano ajudou Jesus a carregar a cruz? Estudiosos dirão que se trata de um judeu da diáspora, visto que no norte da África havia várias colônias judaicas. Mas com que argumentos ou intenções fazem esta escolha na interpretação?
Por contrariar os interesses da corte de Jerusalém, pouco antes da destruição da cidade pelas tropas babilônicas, o profeta Jeremias foi preso e lançado numa cisterna. Um africano, funcionário do rei (seu nome, Ebed-Melec, significa “ministro do rei”), liderou um movimento para libertar Jeremias (Jr 38,1-13). Quantas vezes você se lembra de ter estudado este texto, dando atenção a este “detalhe”?
Moisés casou-se com uma africana, da região de Cush – Etiópia (Num 12). Na verdade, quase toda a historia do êxodo se passa na África. Uma simples leitura do Canto de Miriã (Ex 15, 19-21), com certeza um dos textos mais antigos de toda a Bíblia, nos permite notar a proximidade da cena com a rica cultura dos povos negros: canto e dança ao redor dos tambores. Você já parou para pensar nisso?
O missionário Filipe, ao “aceitar a carona” na carruagem do negro e alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, tem uma grata surpresa: o africano já tem em suas mãos o livro do profeta Isaías (At 8, 26-40). E há quem continue afirmando que foram os europeus que levaram a Bíblia para a África!
Por isso, queremos continuar a reler toda a Bíblia na perspectiva de negritude.!
Em primeiro lugar, porque seguimos acreditando que o Deus da Bíblia faz opção pelas pessoas e pelos grupos mais marginalizados. Em nossa sociedade, as mulheres, as pessoas negras e indígenas continuam sendo as maiores vítimas da gritante exclusão social. Com elas aprendemos a resistir. Em segundo lugar, porque queremos e podemos descobrir as raízes negras do povo hebreu e de toda a Bíblia. De fato, antes de ser européia, a Bíblia é afro-asiática. Não negamos a contribuição européia ao nosso continente, queremos seguir trocando saberes com o chamado “Velho Continente”. Mas denunciamos o cristianismo branco e opressor, com teologias que chegaram ao absurdo de justificar a escravidão negra (feita pelos brancos) e que continuam, muitas vezes, negando nossas raízes.
Não queremos fazer isso apenas pinçando textos bíblicos nos quais apareçam personagens africanas. Este até pode ser o primeiro passo, um exercício necessário e interessante. Mas é preciso mais do que isso, é preciso olharmos toda a Bíblia na perspectiva da negritude. Porque essa é nossa experiência, ainda que negada: vivemos num país onde metade da população é afro-descendente. “Coincidentemente”, é a metade mais pobre.
Que aceitemos o desafio de mergulharmos na Bíblia e na vida com nosso olhar afro-descendente. Afinal, por muitos séculos, fizemos isso apenas com o olhar europeu. Erramos e acertamos, agora vemos que é preciso mais. Ou manteremos a opção, muito mais cômoda e bem menos questionadora para nossa sociedade preconceituosa e racista, de continuar enxergando apenas um Jesus loiro, de olhos azuis e cabelos cacheados?
Edmilson Schinelo

MISSA DOS QUILOMBOS

Texto: Pedro CASALDÁLIGA e Pedro TIERRA
Música: Milton NASCIMENTO

Apresentação

Em nome de um deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs tem adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vem sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e à morte. No Brasil, na América, na Africa mãe, no Mundo.

Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barata os canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos desaculturados, clandestinos, inviáveis. (Enchem ainda de sub-gente -para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos- as cozinhas, os cais, os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes).

Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinaí Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome do Deus de todos os nomes", "que fez toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue". Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exilio da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda.

E estão aí, de pé, quebrando muitos grilhões -em casa, na rua, no trabalho, na igreja, fulgurantemente negros ao sol da Luta e da Esperança. Para escândalo de muitos fariseus e para alivio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa, diante de Deus e da História, esta máxima culpa cristã. Na música do negro mineiro Milton e de seus cantores e tocadores, oferece ao único Senhor "o trabalho, as lutas, o martirio do Povo Negro de todos os tempos e de todos os lugares".

E garante ao Povo Negro a Paz conquistada da Libertação. Pelos rios de sangue negro, derramado no mundo. Pelo sangue do Homem "sem figura humana", sacrificado pelos poderes do Império e do Templo, mas ressuscitado da Ignomínia e da Morte pelo Espírito de Deus, seu Pai. Como toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal: celebra a Morte e a Ressurreição do Povo Negro, na Morte e Ressurreição do Cristo.

Pedro Tierra e eu, já emprestamos nossa palavra, iradamente fraterna, à Causa dos Povos Indígenas, com a "Missa da Terra sem males", emprestamos agora a mesma palavra à Causa do Povo Negro, com esta Missa dos Quilombos.
Está na hora de cantar o Quilombo que vem vindo: está na hora de celebrar a Missa dos Quilombos, em rebelde esperança, com todos "os Negros da Africa, os Afros da América, os Negros do Mundo, na Aliança com todos os Pobres da Terra".
Pedro Casaldáliga

Faixas

1
Abertura:
• Trancados na noite (Texto: Pedro Tierra)• Peixinhos do mar (Adpt. Tavinho Moura)• Marcha e canto a Maria (Adpt. Paulinho Carvalho)• Baridjumokô - Povo Kayapó do A-Ukre (Paulinho Paiakan)

2
A de ó (Estamos chegando)
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

3
Em nome de Deus
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

4
Rito penitencial (Kyrie)
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

5
Aleluiá
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

6
Ofertório
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

7
O Senhor é santo
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

8
Rito da paz
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

9
Comunhão
(
Milton Nascimento)

10
Raça
(
Milton Nascimento - Fernando Brant)

11
Ladainha
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

12
Louvação à Mariana
(
Pedro Tierra - Pedro Casaldáliga - Milton Nascimento)

13
Marcha fina (De Banzo e de esperança)
(
Milton Nascimento)
• Invocação à Mariama (D. Hélder Câmara)

14
Pai Grande
(
Milton Nascimento)

15
Ony Saruê
(
Adpt. Negreiros)

Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz