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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

5.11.07

A vitória latino-americana

A Latinoamericana – Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe – foi escolhida a melhor obra de não-ficção publicada no Brasil em 2006, após ter recebido o Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ciências Humanas, outorgado pela Câmara Brasileira do Livro. A obra, um volume de 1.344 páginas, publicada pela Boitempo Editorial e pelo Laboratório de Políticas Públicas da Uerj, foi concebida e produzida em três intensos anos de trabalho, reunindo o que de melhor existe no pensamento latino-americano, expresso em verbetes sobre todos os países da região, em várias dezenas de temas fundamentais – de energia a movimentos sociais, de literatura a cinema, teatro, artes plásticas, de esportes a Estado, de gastronomia a feminismo, entre tantos outros –, além de personagens, fenômenos, instituições e outros temas do continente, sob coordenação de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins, Rodrigo Nobile e minha.
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A obra não foi concebida, nem de longe, buscando reconhecimentos públicos, justamente porque procuramos resgatar um continente que costuma ser desconhecido ou maltratado pela mídia e até mesmo por grande parte da academia e das editoras. Sabíamos que trabalhávamos contra a corrente. O pensamento conservador – a direita – não gosta da América Latina e do Caribe. Procura até mesmo descaracterizar que nossos países componham um mesmo continente. Alegam diferenças entre México e Argentina, entre Brasil e Equador, entre Guatemala e Uruguai, entre Cuba e Chile para tentar desfazer a identidade do continente. Como se essas diferenças fossem maiores do que as existentes entre Bélgica e Portugal, Alemanha e Itália, Espanha e França.
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O que dá a identidade da Europa e da América Latina são destinos históricos comuns. Eles foram colonizadores do nosso continente, fazendo de nós colonizados. Seguiram sendo imperialistas e nós, dominados. Hoje pertencem ao universo dos globalizadores e nós, ao dos globalizados. Por isso eles têm uma identidade comum e nós, a nossa, a despeito das diferenças culturais, lingüísticas e outras.

A direita não gosta da América Latina e do Caribe porque não se pode falar dela sem falar de colonialismo e de escravidão, antes de tudo. Porque o nosso continente foi ocupado e explorado pelas potências coloniais com o fim único de acumular riqueza para as metrópoles. O capitalismo chegou à América Latina perpetrando os dois maiores massacres da história da humanidade: a dizimação das populações indígenas e a escravidão – arrancando milhões de seres humanos da África para trabalhar como escravos, discriminados, reprimidos, humilhados, ofendidos, em outro continente, separados dos seus países e das suas famílias, para produzir riquezas para os colonizadores brancos.

O continente foi incorporado à força ao sistema capitalista mundial nascente, sob hegemonia ibérica, depois inglesa e finalmente estadunidense, mediante a espoliação colonial e a exploração dos trabalhadores africanos, tornados escravos. Sem esses antecedentes, é impossível compreender sua história, sua trajetória, sua identidade.

Depois de ter visto se impor – com a ditadura de Pinochet – o neoliberalismo no continente, que se estendeu como em nenhuma outra região do mundo, a América Latina e o Caribe é hoje a região do mundo que mais resiste ao neoliberalismo e à hegemonia imperial estadunidense. É a única que constrói processos de integração regional, aquela onde se desenvolve a primeira grande experiência de alternativas ao livre comércio – a Alba –, com espaços de intercâmbio solidário.

A Enciclopédia abarca os últimos cinqüenta anos do continente, incorporando ainda o período desenvolvimentista, todo o período neoliberal e a situação atual, de criação de alternativas ao neoliberalismo. Apresenta a América Latina e o Caribe com todas as suas fisionomias, suas tonalidades, seus risos e suas lágrimas, suas lutas e suas festas.

A Latinoamericana será proximamente publicada em castelhano, enquanto buscamos a possibilidade de traduzi-la para o inglês. A obra merece. Mas sobretudo a América Latina e o Caribe merecem.

Como disse ao recebermos o prêmio, na Sala São Paulo, este representa um reconhecimento da importância da América Latina e do Caribe, do trabalho coletivo e dessa extraordinária pequena grande editora, a Boitempo, e quem a dirige – Ivana Jinkings, a melhor editora do Brasil.

Postado por Emir Sader - 04/11/2007 às 14:10








LATINOAMERICANA ELEITA LIVRO DO ANO

A Latinoamericana: enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe foi escolhida Livro de não-ficção do ano pelo 49o. Prêmio Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro, o Jabuti é o prêmio mais tradicional e importante do setor editorial brasileiro. No discurso de agradecimento, Emir Sader, em nome dos coordenadores e autores da obra, disse que esse era o "reconhecimento da importância da América Latina, do trabalho coletivo e da pequena grande editora que é a Boitempo". Na cerimônia de entrega, na Sala São Paulo, a Latinoamericana também recebeu o Jabuti de primeiro lugar na categoria "Ciências Humanas".A Boitempo e os coordenadores agradecem aos jurados e aos editores e livreiros votantes. Agradecem também a todos os autores, colaboradores, patrocinadores e amigos da editora que participaram da construção desta obra grandiosa e inovadora.

A enciclopédia coordenada por Emir Sader, Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile, consumiu três anos de trabalho. Uma obra de dimensões únicas, com 980 verbetes, 1.040 fotos em cor, 95 mapas e 136 tabelas exclusivos, 21 gráficos e fichas com dados gerais atualizados sobre cada país da região. Um conjunto de quase 1.400 páginas, escritas por autores de cerca de 20 países, tratando da América Latina que emerge como um conjunto por meio de instituições e ações próprias. Um esforço editorial de coordenação, conteúdo e qualidade, na criação de um material inédito e de referência, sobre a nossa região.Um trabalho que reúne entre os 123 autores que assinam os ensaios e verbetes, alguns dos mais expressivos intelectuais latino-americanos: Álvaro García Linera, Ana Esther Ceceña, Anibal Quijano, Atilio Boron, Chico de Oliveira, Emir Sader, Fernando Martínez Heredia, Flávio Aguiar, Gerardo Caetano, Héctor Alimonda, Iná Camargo Costa, Luiz Alberto Moniz Bandeira, Marcio Pochmann, Marco Gandasegui, Mike Davis, Néstor García Canclini, Ricardo Antunes, Theotonio dos Santos, Tomás Moulian, Vivian Martínez Tabares, Wilson Cano e muitos outros.Recuperar a riqueza cultural e propiciar o intercâmbio de conhecimentos produzidos na América Latina são alguns dos méritos da Latinoamericana.

FICHA TÉCNICA
Título: Latinoamericana – Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe
Coordenação: Emir Sader, Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile
Formato: 21 X 28cm (capa dura, com sobrecapa)
Páginas: 1.344
ISBN: 85-7559-084-7
Editoras: Boitempo e Laboratório de Políticas Públicas (LPP-UERJ)

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz