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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

9.4.15

O que o golpe e a ditadura representaram para o Brasil

01/04/2015 - Copyleft 

O que o golpe e a ditadura representaram para o Brasil

Consolidar a democracia no Brasil significa quebrar a hegemonia do grande capital especulativo, dos monopólios de mídia e do financiamento privado de campanhas

por Emir Sader em 01/04/2015 às 07:48




Emir Sader

O Brasil vinha de três décadas de construção de um projeto nacional de desenvolvimento com distribuição de renda e de menos de duas décadas de democratização política, quando o golpe militar de 1964 rompeu com essas duas vertentes e instalou uma ditadura militar e um modelo econômico de superexploração do trabalho, de concentração de renda, de consumo de luxo e de exportação.
 

Foi um movimento promovido pelo grande empresariado, pelo governo dos Estados Unidos, pela mídia nacional e internacional, com o apoio da Igreja católica. Em nome de uma suposta salvação da democracia que estaria em perigo – as marchas se chamavam Marcha com Deus, pela Familia e pela Liberdade -, instauraram a mais brutal ditadura que o Brasil já viveu.
 

Foi uma virada radical na história brasileira. Interrompeu-se bruscamente a construção democrática e a de um projeto nacional e popular iniciado como Getúlio em 1930. Ao lado da repressão a tudo que lhes parecia democrático – partidos populares, sindicatos, mídia, universidades, Congresso, Judiciário, entre outros -, decretou-se de imediato o arrocho salarial. Porque não foi apenas uma ditadura política contra a democracia, foi também uma ditadura do grande capital contra a classe trabalhadora.
 

Todos os sindicatos tiveram intervenção militar, aboliram-se as campanhas salariais, decretando-se assim uma lua-de-mel para as grandes empresas nacionais e estrangeiras, que tiveram o maior processo de acumulação concentrada de capital da história do Brasil em poucos anos. O arrocho salarial foi o santo do chamado "milagre econômico".
 

Saiu-se de um modelo industrializador com distribuição de renda, para um modelo baseado na superexploração do trabalho, no consumo de luxo e na exportação, com atração do capital internacional. A partir daquele momento, a desigualdade social, que historicamente caracterizava o Brasil, se acentuou como nunca.
 

O arrocho recaiu também sobre os funcionários, públicos, deteriorando a qualidade dos serviços públicos. Vem daquele momento a passagem maciça da classe média da escola pública para a escola privada, assim como a extensão dos planos privados de saúde, em detrimento dos programas de saúde publica.
 

O golpe e a ditadura representaram assim uma guinada radical da história brasileira na direção da ditadura e de um modelo econômico concentrador de renda. A repressão não se fez só contra a democracia, mas também contra a classe trabalhadora, permitindo o enriquecimento radical do grande empresariado nacional e estrangeiro.
 

Foram destruídas as organizações populares, a imprensa democrática, os espaços educacionais autônomos, foi difundida uma ideologia de "segurança nacional", de caráter totalitário, as informações foram censuradas e a sociedade não sabia o que estava acontecendo no pais. A repressão dizimou toda uma geração de jovens militantes, presos, torturados, executados.
 

O Brasil nunca mais foi o mesmo desde então. A imagem do pais cordial, simpático, revelou que por trás disso havia uma hidra preparada para aprisionar o pais num regime de terror. Brasileiros foram capazes de cometer as mais atrozes formas de tortura contra outros brasileiros, em nome de uma ideologia de militarização do Estado e de extermínio de tudo o que pudesse ser obstáculo para seus objetivos.
 

O Brasil saiu da ditadura machucado, ferido, ofendido, humilhado, impotente até para punir os assassinos da democracia e da dignidade nacional, pela anistia imposta pelos próprios torturadores. A democratização do pais foi um processo parcial, truncado, unilateral. O poder econômico, midiático, protagonista da ditadura, sobreviveu na democracia.
 

Consolidar a democracia no Brasil hoje significa quebrar a hegemonia do grande capital especulativo sobre a nossa economia, dos monopólios privados sobre a formação da opinião pública, do financiamento privado sobre o processo eleitoral, do agronegócio sobre a agricultura brasileira. E construir definitivamente uma consciência democrática irreversível no pais, que impeça que aquela hidra assuste de novo ao Brasil.

 
 

 



Tags: Direitos Humanos, Economia, História, Política 





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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz