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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.8.13

Menos hipocrisia na Cultura, por favor... - Paulo Moreira Leite

Menos hipocrisia na Cultura, por favor...

Paulo Moreira Leite

A decisão de demitir e contratar apresentadores no "Roda Viva" é política. Não tem nada a ver com "rumos do jornalismo"

É bom controlar a hipocrisia quando se fala sobre mudanças no programa “Roda Viva”.

O antepenúltimo apresentador, Heródoto Barbeiro, perdeu o posto depois de perguntar sobre pedágios ao governador José Serra. 
 
Marília Gabriela, penúltima apresentadora, deixou o programa após um ano de casa, apenas, para seguir sua carreira em canais de grande audiência. 
 
Naquele período a equipe do programa enfrentou pressões fortes e óbvias quando entrevistava personalidades que não agradavam ao governo ou quando demorava um pouquinho a mais para convidar nomes que agradavam. 
 
A mais nova mudança foi consumada depois que se bateu um recorde tucano. O “Roda Viva” entrevistou José Serra e Fernando Henrique Cardoso de uma enfiada só, em duas semanas seguidas, sem pausa. 
 
O ato gerou protestos formais na Assembleia Legislativa e assim surgiu o convite para o deputado Rui Falcão, presidente do PT, prestar depoimento.
 
Não vamos exagerar, portanto. 
 
Queiramos ou não, a Cultura é um aparelho político do PSDB paulista há bastante tempo e o único aspecto a lamentar, mais uma vez, é que nada deve mudar daqui para a frente. 
 
Seu novo presidente, Marco Mendonça, chega ao posto pelas mãos de Geraldo Alckmin, de quem é aliado e protegido. 
 
O antecessor, João Sayad, ali chegou por decisão de Serra – de quem era aliado e protegido – que então poderia dispor de uma tribuna para a campanha presidencial de 2010. 
 
Com Mendonça, Alckmin terá auxílio em 2014. 
 
Sinto vontade de rir quando leio repórteres e colunistas de TV falando do “projeto” de quem chega, ou das “ideias” de quem sai.
 
Sayad chegou a publicar artigo, nos jornais, dizendo-se “indignado” no momento em que sua saída foi resolvida. 
 
A decisão de demitir e contratar envolve pura política. Não tem nada a ver com “rumos do jornalismo”. É esquema de poder. 
 
Foi essa decisão que levou a troca de Paulo Markun, nascido e criado na TV brasileira, por um economista que mal conhecia os programas da casa, como Sayad. 
 
A permanente decadência da Cultura é deprimente para quem se recorda de seu passado de programas inovadores e de interesse público. Mas é perseguida com tamanho empenho por seus gestores que parece obedecer a um instinto político claro. Jamais dar certo, nunca crescer, para não desafiar as emissoras privadas. 
 
É uma situação grave e estranha.
 
Mesmo durante o regime militar, havia uma certa tensão entre o jornalismo e os governantes, como se verificou, de forma trágica, nas pressões que Vladimir Herzog sofreu depois que procurou dar um caráter mais autônomo ao Departamento de Jornalismo. 
 
As denúncias que ajudaram a levar Herzog para a prisão onde foi assassinado tiveram início com críticas canalhas a seu trabalho na Cultura. 
 
Aliados da ditadura diziam que fazia um jornalismo não-alinhado com a ditadura militar. 
 
Olha a ironia. Será que alguém faria essa crítica hoje? 
 
Num país que não teve capacidade de discutir formas de assegurar a democratização dos meios de comunicação, consolida-se a vitória do pior. Embora sobreviva com verbas públicas, a principal emissora pública brasileira é administrada como se fosse uma instituição privada no pior sentido da expressão. 
 
Atende aos interesses políticos e eleitorais de quem ocupa o governo de Estado, enquanto emissoras comerciais respondem aos interesses econômicos de seus acionistas. 
 
O verdadeiro compromisso é este, sendo o resto exatamente o resto. 
 
As mudanças que nada mudam na Cultura são assistidas como se fossem o processo mais natural do mundo, sem dizer respeito ao cidadão comum, a sua família, a seus filhos. Nem parece que se trata de uma emissora sustentada com recursos públicos. 
 
É espantoso.


Paulo Moreira Leite: Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".


http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz