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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

31.10.14

O rancor e o ressentimento da direita

31/out/2014, 7h46min

O rancor e o ressentimento da direita

Era previsível que num ano de escolha de um novo presidente e de eleições para o parlamento, que o tom do debate político se elevasse. A possibilidade de chegada ao poder excita tanto ou mais do que o sexo; as sensibilidades se agudizam; os ânimos se exaltam. Mas também não há nenhuma dúvida que esta reta final das eleições/2010 tem algumas particularidades interessantes que merecem ser brevemente comentadas.

A cada dia que passa o resultado das pesquisas aumenta o desespero de Serra, do PSDB e do DEM. Partidos de caciques políticos, dissidências das cúpulas do PMDB paulista e da Arena, incapazes de apresentar-se como uma nova e válida alternativa de poder ao governo Lula, constituíram oposição pobre, meramente caluniadora, pouco inspirada e inspiradora.

Historicamente acostumados com exercício do poder, oito anos fora da presidência é para eles tempo demais. Acirra-lhes a contrariedade, torna incontrolável seu o mau humor. E a perspectiva que se avizinha – de ficar mais oito ou talvez doze anos fora – é, então, um sofrimento, algo absolutamente inaceitável. O que lhes resta fazer? Exatamente o que eles estão fazendo: com o maciço, o solidário apoio do PIG – partido da imprensa golpista – negar a legitimidade da democracia brasileira, desqualificar o processo eleitoral em andamento, bombardear o governo Lula, atacar pessoalmente Dilma.

O náufrago Serra tentou, primeiro a denúncia da quebra do sigilo de sua filha. Apesar da insistência e do irrestrito apoio do PIG, não colou. Depois veio a Veja da semana passada que colocou na capa um escudo da República ameaçado pelos tentáculos de um polvo colocado acima da indagação "PARTIDO DO POVO?" A clara insinuação do perigo iminente de uma república populista no país. E no domingo próximo passado a última edição da Veja veio com nova denúncia, desta vez contra a sucessora de Dilma na casa Civil. Além disso, tem se tornado freqüente na Internet, em muitos blogs consultados e em emails recebidos, o coro dos "viúvos da ditadura militar". Trata-se daquela turma dos saudosos dos governos de chumbo de antanho que, segundo essa versão, diferentes do atual, imunes à corrupção, responsáveis por realizações grandiosas e pelo crescimento econômico. Um absurdo: eles esquecem a inflação, as obras faraônicas não concluídas, a total subserviência do Brasil aos interesses norte-americanos, sem falar na tortura e na falta das mínimas liberdades cidadãs.

Aqui nesta província de S. Pedro há três registros que julgo necessário fazer. O primeiro foi a recente veiculação em jornal da capital de um artigo de um ex-prefeito nomeado pela ditadura, que alerta para os perigos do que ele chama da "volta dos velhos sonhos populistas". O autor chega a cometer o desatino de responsabilizar a democracia direta como responsável pela chegada de Hitler ao poder na Alemanha! O segundo é o editorial de ZH de domingo passado, em que a RBS manifesta seu desencanto pela democracia. É o reconhecimento implícito da derrota de seus candidatos. E por fim o terceiro, o mais triste é o artigo "Rir ou chorar", também publicado na última ZH dominical. Flávio Tavares, um jornalista exilado, perseguido pela ditadura militar assumiu o discurso da direita, reclamando dos elevados níveis de corrupção do país – segundo suas palavras textuais "nunca houve tanta corrupção como agora", escreve. Triste, muito triste que uma figura com esta história e passado político tenha se transformado numa caricatura, uma espécie de editorialista B do grupo RBS.

Escrevi este texto, quatro anos atrás, poucos dias antes das eleições de 2010. Achei interessante reproduzi-lo agora porque trocando o nome do candidato do PSDB – Serra por Aécio – o cenário do momento político pré-eleitoral se repetiu em 2014. Um vídeo tape piorado. O posicionamento da grande mídia foi ainda mais parcial, de acintosa hostilidade oposicionista. Teve a clara intenção de acirrar o sentimento antipetista na população. O tom das denúncias e calúnias aumentou, chegando ao que pode ser classificado de "desespero golpista".

Aécio Neves, derrotado, demonstrou toda sua pequenez, não reconheceu a vitória da oponente, bradou, destilou ódio e rancor. Um Congresso conservador, corporativo, dois dias depois da vitória de Dilma revogou um decreto presidencial que criou os Conselhos Populares. O mercado se agitou, a bolsa cai, o dólar subiu, expressando seu descontentamento com a derrota do seu candidato. Alguns mais exaltados, fora de si, afirmam que foi a inaceitável vitória do Norte e do Norte pobre, atrasado que se impôs ao Sul e Sudeste, os motores que movem a economia do país.

A velha e reacionária direita brasileira se fortaleceu. E o lamentável é que, decorridos quatro anos, apesar da vitória da Dilma, estamos ainda mais distantes da consolidação de uma verdadeira democracia no país.

.oOo.

Paulo Muzell é economista.

http://www.sul21.com.br/jornal/o-rancor-e-o-ressentimento-da-direita/



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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz