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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

26.2.14

Golpe de 1964: o fracasso de uma estratégia | Blog da Boitempo

Golpe de 1964: o fracasso de uma estratégia

Por Emir Sader.


O golpe de 1964 foi um momento marcante na historia do Brasil, mas também na historia da esquerda. O período fechou-se, com uma brutal derrota, marcado pela hegemonia da linha nacionalista, protagonizada pelo PCB em aliança com setores, considerados por ele “progressistas”, da burguesia nacional. Uma aliança subordinada, sob a direção de setores a burguesia industrial, que teriam contradições com o imperialismo e com o latifúndio.

Foi o fim da hegemonia do PCB na esquerda brasileira. O partido perdia, com o golpe, o espaço legal, mas sobretudo as bases sindicais, seu principal apoio de massas. Desatou-se um amplo debate interno, em que a direção do partido teve que arcar com o ônus de não haver previsto, menos ainda preparado os militantes e o povo para o golpe e a resistência.

De fato, o partido considerava que as condições estavam dadas para passar “do governo ao poder”, como declarou o Secretario Geral do partido, poucos dias antes do golpe, em reunião em Recife. Havia um risco de golpe, mas se confiava na força dos militares “patriotas” para resistir e derrotar as forças reacionárias.

Era o desenlace trágico das ilusões sobre uma burguesia progressista, com contradições com o imperialismo e com o latifúndio, disposta a comandar o processo de instalação plena do capitalismo no país, dirigindo o proletariado nessa luta, condição para colocar as bases históricas para a luta pelo socialismo. Era um transplante mecânico das condições que teriam ocorrido na Europa para toda a periferia do capitalismo.

Essa visão foi amplamente predominante na esquerda até o momento do golpe. O próprio PCB teve muita dificuldade para entender o nacionalismo no Brasil. Houve desencontros com o getulismo desde a própria revolução de 1930, que se projetou sobre o movimento de 1935. Foi somente depois que o PCB estabeleceu sua aliança estratégica com o getulismo.

Ainda assim, o PCB teve uma recaída feia quando aderiu ao denuncismo udenista e golpista contra o Getulio, que levou ao suicídio deste. A primeira reação do povão do Rio, ao sair à ruas, foi destruir a sede do jornal do PCB.

Mas foi o golpe de 1964 que fechou o período áureo do PCB. Dali para frente, pagando o preço das ilusões e do fracasso da sua estratégia equivocada, foi perdendo força e prestígio, a ponto de ser afetado pela vergonhosa operação do grupo do Roberto Freire de mudar o nome do partido e, como consequência óbvia, levá-lo para o bloco da direita no Brasil.

Desde então o nome PCB foi resgatado pelos que resistiram a essa operação, mas sem maior representatividade e peso politico, defendendo posições de ultra esquerda, sem tirar lições dos erros que cometem em relação ao Getulio, para reproduzi-los em relação ao Lula.

***

Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz