Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

12.10.13

Marina um poco de contradicoes - Carta Maior


10/10/2013 - Copyleft

Marina, um poço de contradições







Maria Inês Nassif
 












Se tantas opiniões divergentes existem acerca da união de Eduardo Campos e Marina Silva nas eleições do próximo ano, é porque as posições políticas de ambos são eivadas de contradições.

Marina é um poço delas. As declarações que sucederam a sua inesperada decisão de aderir ao partido de Eduardo Campos apenas expressam uma personalidade política que vem se consolidando desde o início de sua tentativa de voo solo, após sair do governo Lula, rachar com o PT e mergulhar na tentativa de “tomada” de um Partido Verde que já tinha dono, e que não estava disposto a abrir mão do business da política tradicional para entregar a legenda para outra pessoa.

O relativo sucesso de Marina nas eleições de 2010, quando conseguiu uma votação surpreendente para uma candidata sem partido, e o séquito que a segue desde a campanha, honestamente convencido de que ela é uma alternativa à polarização política entre o PT e o PSDB, que se mantém na política brasileira há quase duas décadas, consolidaram numa personalidade voluntariosa, mística e autoritária a ideia de que fora dela, e dos que a seguem cegamente – ou, de fora do grupo, dão guarida a ela – não há salvação.

A forma como lidou com suas frustrações política nesse período expressa o personalismo resultante dessa trajetória pessoal e política. No julgamento, pelo STF, da ação de inconstitucionalidade de lei aprovada pelo Congresso que impedia aos novos partidos levar consigo horário eleitoral gratuito e fundo partidário dos deputados que aderiram a eles, Marina exultou e agradeceu ao ministro Gilmar Mendes pela decisão autoritária e sem precedentes de intervir no Legislativo e impedir a tramitação do projeto.

A decisão de ir para o PSB, pelo simples fato de que Eduardo Campos a apoiou nessa pendenga jurídica, preterindo decisões que pudessem abrigar os interesses de todo o seu grupo político, também é expressão de uma ação política fincada na ideia de que a lealdade à decisão do líder tem que ser incondicional, sob pena de se tornar deslealdade; e de que a decisão pessoal, baseada numa retribuição a um favor, se sobrepõe a uma decisão política.

Assim como fez antes, quando saiu do Partido Verde, deixou gente para trás; decidiu, não conciliou; a decisão é pessoal, não é ideológica nem expressa a opinião de um grupo político.

Já dentro do PSB, o incontido personalismo a leva a dizer que tanto ela como Eduardo Campos podem disputar a Presidência, e o grupo que a acompanhou a declarar, com candura, que vai lutar por posições dentro de uma legenda que, todos dizem, é uma opção provisória, enquanto a Rede Sustentabilidade não consegue o seu registro. Isso, depois de Campos ter “limpado” o partido da ala fiel aos irmãos Gomes, do Ceará, e ter deixado claro para os “de dentro” que quem manda no partido é ele.

Esse movimento inicial de Marina e do grupo que foi junto com ela remete fatalmente a conflitos futuros: não uma união provisória e de conveniência, mas a interiorização, dentro do PSB, de uma guerra de personalidades, que pode conter o crescimento da legenda, uma das que têm um aumento progressivo de parlamentares e governos desde sua criação, pelo avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes.

Até as eleições de 2014, se Campos não conseguir, dentro da legenda, eleger o maior número de deputados fieis a ele, corre o risco de uma debandada em direção à Rede Sustentabilidade, depois que Marina conseguir uma legenda só para si. Daí será o feitiço contra o feiticeiro: a mesma lei que o STF intimidou o Congresso a não mudar (não há sinais de que a matéria venha a ser colocada novamente em pauta, mesmo depois de cassada a liminar de Mendes que proibiu a sua votação) levará para a Rede Sustentabilidade, no futuro, parte da bancada do PSB eleita em 2010 horário gratuito e verbas do fundo partidário.

Além das contradições decorrentes de personalismo político – ou até em função deles – existem as contradições políticas que Marina leva consigo para um partido que, também em função do personalismo de Campos, é cheio deles.

Historicamente, os partidos verdes, todas as vezes que privilegiaram o purismo de plataformas ecológicas sem levar em consideração as variáveis de progresso social, flertaram com a direita. Marina tende a isso, e seu grupo provavelmente a seguirá.
Ocorre que, para ela, esse é um caminho de algum conforto. Ela tem um perfil conservador inerente à sua adesão religiosa à igreja evangélica, e este é um dado de difícil conciliação com seu eleitorado de classe média alta, que tem outros conservadorismos, mas não o de  costumes.

Num momento em que o debate político não pode ser dissociado do debate sobre desenvolvimento e sobre tecnologia, os dois conservadorismos juntos são explosivos: como lidar, por exemplo, com o desenvolvimento das regiões mais pobres, que começaram a crescer com políticas de distribuição de renda, se persiste o veto à discussão da energia elétrica como matriz energética? Como lidar com questões relativas ao reconhecimento pleno dos direitos de minoria, se há um impedimento religioso da líder à discussão sobre o aborto, por exemplo? E como lidar com questões jurídicas que impedem o desenvolvimento da ciência se há um obstáculo religioso, por exemplo, às pesquisas com células-tronco?



Créditos da foto: Arquivo


http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Marina--um-poco-de-contradicoes/4/29158


Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz