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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

26.11.12

A questão indígena | Observatório da Imprensa

 Segunda-feira, 26 de Novembro de 2012   |   ISSN 1519-7670 - Ano 17 - nº 721

       
Jornal de Debates
LEITURAS DE VEJA

A questão indígena

Por Francisco Fernandes Ladeira em 20/11/2012 na edição 721

Afirmar que a revista Veja representa o que há de mais conservador e retrógrado no pensamento político brasileiro é um truísmo. Em outros termos, utilizando uma expressão popular, é “chover no molhado”. Há mais de quatro décadas, a publicação da família Civita tem utilizado boa parte de suas páginas para difamar as minorias (pobres, negros, indígenas, operários, trabalhadores rurais sem-terra, entre outros) e propagar a ideologia das classes dominantes.

Não obstante, em suas últimas edições, a revista tem se dedicado a atacar os direitos dos indígenas brasileiros. Segundo uma matéria denominada “A ilusão de um paraíso”, assinada por Leonardo Coutinho, por trás do conflito por terras entre guarani-kaiowás e latifundiários na porção meridional do Mato Grosso do Sul estão interesses escusos da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), de antropólogos e de ONGs. Para Veja, os indígenas são manipulados pelos “medievalistas” do Cimi, pelos “ideólogos” da Funai e por ONGs. “Os antropólogos os convenceram de que o nascimento ou o sepultamento de um de seus membros em um pedaço de terra que ocupem enquanto vagam pelo Brasil é o suficiente para considerarem toda a área de sua propriedade. [...] Em sua percepção medieval do mundo, os religiosos do Cimi alimentam a cabeça dos índios da região com a ideia de que o objetivo deles é unir-se contra os brancos em uma grande ‘nação guarani’.”

A reportagem assevera ainda que todos os cidadãos brasileiros devem se opor à demarcação das terras indígenas porque estas políticas pioraram a vida desses povos. “As terras indígenas já ocupam 13,2% da área total do país. Salvo raras exceções, a demarcação das reservas não melhorou em nada a vida dos índios. Em alguns casos, o resultado foi até pior. No município de Coronel Sapucaia há uma reserva onde os caiovás dispõem de conforto como escolas e postos de saúde, mas não têm emprego, futuro nem esperança. Ficam entregues à dependência da Funai e do Cimi, sem a menor chance de sobrepujar sua trágica situação de silvícolas em um mundo tecnológico e industrial.”

“A questão fundiária é um tema marginal”

No entanto, é preciso salientar que, “coincidentemente”, a reserva pleiteada pelos guarani-kaiowás está localizada na zona mais produtiva do agronegócio em Mato Grosso do Sul. Portanto, como bem afirmou o editorial de um partido político da esquerda brasileira, na realidade a revista Veja não anela o bem-estar da população indígena, mas proteger os lucros dos grandes latifundiários que atuam no plantio de soja. “O sofrimento dos índios é o queVeja defende, com o despejo de suas terras em favor de um punhado de grandes proprietários de terra. Pelo bem do agronegócio, os índios devem ser extintos do país; essa é a mensagem da revista.”

Já outra matéria – baseada em uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha sob encomenda da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – aponta que “os índios têm aspirações semelhantes às da nova classe média nacional, ou seja, querem progredir socialmente por meio do trabalho e dos estudos. Eles sonham com os mesmos bens de consumo e confortos da vida moderna”.

Desse modo, segundo Veja, ao contrário do promulgado por “padres marxistas” e “ongueiros”, os principais problemas indígenas não são a falta de terras ou as obras de infraestrutura perniciosas ao meio ambiente. “A questão fundiária é um tema marginal. Quando instados a falar sobre seus problemas individuais, os entrevistados [índios que participaram da referida pesquisa] nem sequer citaram a criação ou ampliação de reservas”.

Os porta-vozes da elite brasileira

Todavia, é absolutamente complexo e controverso levar em consideração dados de uma pesquisa realizada pelo ultraconservador Datafolha a pedido da CNA, instituição presidida pela senadora Kátia Abreu, principal nome do agronegócio no legistativo brasileiro. Evidentemente que a criação de novas reservas indígenas, reinvidicação antagônica aos interesses dos grandes latifundiários, não seria mencionada como principal demanda dos índios.

Em suma, desde a chegada da esquadra de Cabral ao território que hoje chamamos de Brasil, o modo de vida dos indígenas, ao não pressupor a mercantilização da natureza, é um importante entrave para a expansão do capitalismo em nosso país. Sendo assim, é preciso usurpar suas terras para gerar lucros astrômicos para o agronegócio e destituí-los de sua cultura para que sejam incorporados ao mercado de consumo capitalista. E essa é uma tarefa da elite brasileira, através de seus principais porta-vozes: os meios de comunicação hegemônicos.

***

[Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas, Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de História e Geografia em Barbacena, MG]

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed721_a_questao_indigena

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz