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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

14.5.11

Gente diferenciada invade Higienópolis para exigir Metrô

Política| 14/05/2011 | Copyleft http://www.cartamaior.com.br/templates/imagens/interface/icon_mail.gif

 

Gente diferenciada invade Higienópolis para exigir Metrô

 

Eram pouco mais de 14 horas deste sábado quando cerca de mil pessoas começaram a se concentrar em frente ao shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. O motivo? Protestar contra a mudança da futura estação de Metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu. A alteração dos planos na Linha 6 – laranja teria ocorrido após a Associação Defenda Higienópolis alegar que a obra não deveria ser feita ali porque aumentaria o "número de ocorrências indesejáveis" e a área se tornaria "um camelódromo". A reportagem é de Maíra Kubik Mano.

 

– Eu não imaginava que as redes sociais pudessem mobilizar tanta gente.

– Eu fiquei um tempão na Praça Vilaboim e não tinha ninguém. Pensei que era lá. Ainda bem que quando cheguei aqui encontrei a multidão.

– Eu acho que tem pouca gente. Mais de 50 mil confirmaram pelo Facebook e não vieram. Tem pessoas que se escondem atrás do computador, fazem ativismo só online.


Divergências à parte, o churrasco da “gente diferenciada” estava cheio. Bem cheio. Eram pouco mais de 14h quando cerca de mil pessoas começaram a se concentrar em frente ao shopping Pátio Higienópolis. O motivo? Protestar contra a mudança da futura estação de Metrô da av. Angélica para a av. Pacaembu. A alteração dos planos na Linha 6 – laranja teria ocorrido após a Associação Defenda Higienópolis alegar que a obra não deveria ser feita ali porque aumentaria o "número de ocorrências indesejáveis" e a área se tornaria "um camelódromo".

A avenida Higienópolis foi fechada rapidamente pela multidão. Um policial tentava negociar com um homem que segurava uma tigela com farofa: “Precisamos saber o percurso de vocês, para interromper o trânsito”. “Eu não sou líder do movimento, não tem ninguém aqui para responder por isso”, diz ele, virando as costas para a autoridade.

“Sou representante da associação de moradores do bairro”, grita um jovem. Silêncio. Todos querem ouvir o que ele tem a dizer. “Me enviaram aqui para dialogar com vocês. Nós queremos o Metrô sim. Mas ele tem que ser condizente com o nível do bairro. Portanto, exigimos uma ligação direta com Alphaville, Morumbi e Veneza, na Itália”. Gargalhadas correm soltas.

Eliná Mendonça, vizinha do shopping, gosta da piada. “Só que essa questão é muito séria”, alerta. “Não é verdade que a gente aqui não quer isso. Não queremos ser vistos como elitista”. Ao seu lado está Myrna Kovyomdjian, também moradora do bairro. “Meu apartamento é na rua Ceará e eu quero o Metrô aqui”, diz. “Somos 55 mil pessoas em Higienópolis. Não podemos deixar que um abaixo-assinado com 3 mil nomes impeça o transporte público.” As duas senhoras lembram que, quando o shopping foi construído, também houve muita oposição. “Ninguém queria e agora todo mundo frequenta. Com o Metrô vai ser a mesma coisa”, completa Myrna.

A Associação Defenda Higienópolis? Nenhuma pessoa ali havia ouvido falar antes das denúncias. “Eu tenho um escritório ao lado do Pão de Açúcar [onde seria construída a futura estação, na Avenida Angélica], e não passou abaixo-assinado algum por lá”, afirma a consultora de recursos humanos Márcia Hasche, tomando um café dentro do shopping.

André Vasquez de Abreu não é habituê do bairro. Pelo contrário: mora em Itaquera. Mas decidiu ir ao protesto, mesmo tão longe de casa. “Eu trabalho como atendente de telemarketing na Praça da República e sempre pego o Metrô”, justifica. “E falaram que os diferenciados viriam de Metrô. Isso é para eles verem que nós viemos de qualquer jeito”, declara Vitório Felipe, também da Zona Leste, com um espetinho de queijo na mão e um sorriso no rosto.

Cartazes dão tom de brincadeira ao protesto. “Só ando de metrô em Paris, Nova York e Londres” foi um dos que fez mais sucesso. Alguns integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) queimam uma catraca e depois assam uns espetinhos nas chamas. A cena rende fotos e vídeos para todos os jornalistas presentes.

Finalmente em marcha, os manifestantes decidem subir a avenida Angélica até o local onde estava prevista a construção da estação. A bateria anima os gritos contra o governador Geraldo Alckmin e os moradores ditos “elitistas” da região. Uma churrasqueira é carregada para cima e para baixo, acesa. Em breve, todos se dispersariam no que terminou como um grande bloco de carnaval.

“Acho que o ato cumpriu seu papel”, avalia o promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, responsável por pedir esclarecimentos sobre o caso à Secretaria de Transportes Metropolitanos. Morador de Higienópolis, ele foi acompanhar de perto o protesto. Em entrevista mais cedo, Lopes havia dito à Carta Maior que iria averiguar a fundo a questão. “Quero saber porque o governo mudou de ideia em relação a onde colocar a estação. É preciso descobrir se, de fato, um grupo de 3.500 pessoas que fez o abaixo-assinado pode decidir pelas 25 mil que usariam diariamente essa estação de Metrô”. O governo tem 30 dias para responder seu pedido. Caso o promotor não fique satisfeito com a argumentação, solicitará a realização de estudos técnicos.

Em nota divulgada no final da semana, o Metrô reafirmou que a decisão de mudar a estação foi técnica e que está estudando a melhor localização para atender à FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), à Avenida Angélica, à Praça Vilaboim e ao estádio do Pacaembu. Entre os argumentos do governo está a proximidade com a futura estação Mackenzie – 610 metros – o que impediria os trens de adquirirem alta velocidade na linha . “Vou avaliar as distâncias entre todas as estações de São Paulo. Aquela entre a Sé e a Liberdade, na linha Vermelha, é menor ainda do que essa. Por que foi construída então?”, indaga o promotor Lopes.

Pelas andanças no bairro, apenas uma moradora se disse contrária à estação. “Já tem metro aqui perto. Santa Cecília, Barra Funda. Agora vai ter no Mackenzie. O pessoal pode caminhar, não é tão longe”, afirma Bia, que não quis revelar o sobrenome. Um de seus temores é que o bairro se desvalorize.

“Essa é a maior bobagem”, sentencia a arquiteta e urbanista Ermínia Maricato. “O Metrô valoriza os imóveis. É um serviço que todo mundo deveria querer. Isso é típico do Brasil, de uma sociedade muito desigual e preconceituosa, que não consegue conviver com a pluralidade”.

O pessoal do churrasco diferenciado bem que tentou se misturar: a cada esquina, convidavam os moradores a descer dos prédios para provar a carne.



Fotos: Maíra Kubík Mano

 

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz