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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.8.17

Valdete Souto

"O que fazer ...
Tem sido cada vez mais comum ouvir que não há mais o que fazer. Governo corrupto, parlamento corrupto, violência, redução de direitos, perda de referências, inclusive nas relações pessoais.Os que ainda guardam alguma esperança apostam nas eleições de 2018, como se fosse realmente possível acreditar que garantiremos mudanças através do voto. Diante de um quadro de erosão das instituições sociais, é mesmo complicado construir um discurso de esperança, mas desistir não pode ser o caminho. 
Não é hora de advogados trabalhistas mudarem de profissão, de enviarmos nossos jovens para que façam carreira fora daqui, ou cultivarmos pensamentos negativos. 
Sofremos uma derrota, grave. Isso não significa que estamos derrotados. A derrota é parte constante no jogo de forças desleal entre dominantes e dominados. Sempre foi assim e já sabíamos disso. A hora é de reflexão e luta. Precisamos compreender nosso tempo histórico, para perceber que não chegamos aqui por acaso. Contribuímos, mesmo que sem saber, para que as coisas chegassem a esse ponto. 
Resistir e avançar, no quadro atual, passa necessariamente por uma criteriosa avaliação de nossas próprias condutas, como eleitores, pais, profissionais ou consumidores. O que fizemos para impedir a formação do congresso mais reacionário e liberal de todos os tempos? Como contribuímos para que a ética perdesse espaço para a lógica do vale tudo? Onde nos perdemos no caminho que acreditávamos estar trilhando, em direção a uma sociedade mais justa, menos desigual?
As respostas indicarão nossa participação nesse processo. Nós reproduzimos ou aceitamos o discurso de ódio contra servidores públicos, aceitamos que professores sejam subremunerados e trabalhem em ambientes penosos, que as pessoas sejam atendidas sem qualquer respeito em locais inóspitos. Naturalizamos a violência, escondendo nossas famílias em condomínios fechados ou aceitando o discurso de que "bandido bom é bandido morto", como se bandido fosse a denominação de um ser não humano.
Precisamos superar a retórica de que os corruptos, os que não têm empatia, os que estão destruindo o Brasil, são eles: um grupo que mal conseguimos identificar e do qual nos apartamos facilmente. Devemos compreender que não existem eles, sem que também nós estejamos implicados. Nós somos a soma de tudo o que está ai, de bom e de ruim. Essa percepção não deve levar ao desalento ou reverter para a sociedade a responsabilidade de atos como o que vivemos esta semana, quando assistimos a votação que culminou no arquivamento da denúncia contra Temer. Ao contrário, podemos assumir que a possibilidade de mudança está também em nossas mãos: diálogo, militância constante em favor dos direitos sociais, atos. Precisamos discutir com trabalhadores, familiares, amigos, o que as falsas reformas representam. A da previdência, próxima na mira do desmanche social, aliada àquela trabalhista, impedirá concretamente a obtenção de benefícios como a aposentadoria. O argumento de déficit, alegado como razão para a alteração das regras do sistema de Seguridade Social, precisa ser enfrentado à luz de medidas como a MP 793 que reduz alíquotas para produtores rurais e aumenta prazo de carência para devedores desse mesmo sistema. Além do diálogo, precisamos alterar pequenas condutas. Cada movimento que fazemos indica escolhas prévias, éticas, políticas e ideológicas. 
Não é algo fácil, sobretudo quando o peso de uma derrota como a recentemente amargada pela classe trabalhadora está sob nossos ombros e as saídas, representadas pela revogação do texto inconstitucional da Lei 13.467 ou pela renovação de um congresso que atua de costas para a sociedade, se revelam claramente insuficientes. Há um esgotamento do sistema, que sempre foi segregário, injusto e concentrador de riquezas e que hoje não consegue mais sustentar as falácias nas quais foi fundamentado. A democracia representada pelo voto não existe e nada torna isso mais claro, do que a realidade de um projeto ultraliberal que não foi defendido por algum dos candidatos nas últimas eleições, nem foi, portanto, escolhido pelo voto. Os direitos sociais desafiam a lógica da sociedade de trocas e por isso são tolerados apenas como retórica. Sempre que saírem do papel para ingressar na realidade, serão duramente atacados. O Estado não é neutro, defende a lógica do capital. Nem tem a força que a ele atribuímos; sujeita-se a determinações ditadas por aquele 1% da população mundial que detém mais de 90% das riquezas.
O modelo de sociedade que construímos e que foi justificado nas ideias de liberdade e igualdade, que sempre foram utilizadas para perpetuar a diferença e justificar a miséria, já deu vários sinais de que não serve mais. 
A angústia que sentimos hoje, em razão das duras perdas que estamos amargando, precisa transformar-se na força necessária para repensar nossas instituições e caminhar para a superação da forma capital. Em lugar de seguirmos amargando a derrota, precisamos compreender a importância que nossos atos possuem na configuração dos passos da história. Como disse recentemente o Advogado Mauro Menezes, talvez nossa geração tenha caminhado até aqui para assumir essa importante tarefa. Então, em vez recuar, assumamos nossa função e sigamos na luta."


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz