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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

15.6.14

A estupidez da oposição venezuelana chega ao Brasil

14/06/2014 - Copyleft



A estupidez da oposição venezuelana chega ao Brasil

A política de participação instituída no Brasil não tem nada de bolivariano, mas a aversão a ela tem tudo da estupidez típica da oposição venezuelana.


A direita está possessa e em pé de guerra contra a Política Nacional de Participação Social.

Para não dar o braço a torcer, não a chama por esse nome. Chama pelo apelido burocrático de Decreto 8.243, tendo em vista que a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) foram instituídos por este ato oficial, de 23 de maio de 2014.

A Política simplesmente determina que os órgãos públicos do Governo Federal tenham canais de participação para discutir e definir as políticas públicas; ouvir e responder críticas; manter o cidadão próximo da atividade governamental.

A política já existe faz tempo. O referido decreto só generaliza esses instrumentos que já estão à disposição.

A ideia de Estado democrático de Direito e de governo representativo é a de que os representantes são eleitos para fazerem o que os representados querem.

Para saber o que querem, é preciso que as pessoas sejam permanentemente consultadas, na medida do possível.

Toda a filosofia política democrática, desde os século XVIII (Rousseau) e XIX (Tocqueville, Stuart Mill) se assenta sobre essa ideia fundamental, tantas vezes considerada utópica e até ingênua.

Hoje em dia, com as novas tecnologias da informação e da comunicação, consultar é cada vez mais fácil, mais banal. Os governos, os parlamentos e o Judiciário só não o fazem se não quiserem.

Os governos já têm inúmeros conselhos, ouvidorias, conferências, audiências públicas.

A Câmara dos Deputados tem uma Comissão de Legislação Participativa. O Senado tem uma Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.

O Congresso Nacional tem um  Conselho de Comunicação Social com representantes da "sociedade civil".

Mas, nas mãos de uma direita que prefere as tripas aos corações, "sociedade civil" tornou-se palavrão.

Para essa direita engasgada com a derrota em sucessivas eleições, a sociedade civil que não é de direita é sociedade servil.

É preciso estar com a cabeça muito envenenada para achar que a PNPS e o SNPS têm algo de fantasmagórico.

É preciso até uma deliberada perversidade para ver perversidade em um decreto que regulamenta e torna regra preceitos que estão na Constituição, como a participação popular e o controle social.

O detalhe que faz toda a diferença é que o Decreto é assinado por Dilma Rousseff.

Mesmo presidenta, Dilma não teria o direito de baixar um decreto que diz aos órgãos do Governo Federal como eles devem funcionar.

Mesmo tendo sido eleita para chefiar o Poder Executivo, Dilma não pode fazer nada que não esteja na lista de supermercado do neoliberalismo.

Mesmo tendo o direito de concorrer à reeleição estando em pleno exercício do cargo, ela não pode se meter a governar.

Para a direita, o fato de Dilma ter sido eleita é apenas um detalhe, pois democracia é quando um presidente  governa pedindo licença a uma minoria arrogante e autoritária.

Se Dilma baixar um decreto dizendo que rosas são vermelhas e violetas são azuis, será acusada de conclamar uma revolução, pela analogia floral à Revolução dos Cravos; de fazer apologia ao comunismo, por enaltecer o vermelho; e de mentir à população, pois violetas não são azuis - são, obviamente, roxas.

Para a direita, conselhos sociais e deliberativos são para quem pode, e não pra quem quer.

As grandes empresas têm conselhos, e são deliberativos. Já o Governo não pode chamar seu maior acionista: o povo.

Para alguns, os grandes acionistas de uma democracia são os financiadores de campanha.

A direita participa de conselhos governamentais pelo menos desde 1931, no Conselho Nacional do Café.

Os cafeicultores podiam aconselhar o Estado a financiar, com dinheiro público, o negócio dos próprios cafeicultores.

A direita não teve qualquer receio de participar do Conselho do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável pela censura aos jornais, durante a ditadura do Estado Novo, mas acham um perigo ter conselhos em plena democracia.

Os direitistas amaldiçoam Hugo Chávez e Simón Bolívar, mas amam o defunto Carlos Lacerda, o corvo do golpismo.

Abominam o bolivarianismo, mas se inspiram no lacerdismo, essa obstinação em derrubar governos eleitos e em desmoralizar adversários tratando-os como párias.

A direita que segue tal "exemplo" deveria lavar a boca com sabão antes de pronunciar a palavra "democracia".

Quando fala em fascismo, precisa se conter para não elevar o braço, involuntariamente, para a saudação romana.

Os que se insurgem contra o decreto são tão cheios de razão que precisam usar de mentiras para criticá-lo. Precisam suplementar, com seu raciocínio, artigos que não existem.

A política de participação social, instituída no Brasil, não tem nada de bolivariana, mas a aversão a ela tem tudo da estupidez típica da oposição venezuelana.

A direita brasileira conseguiu trazer da Venezuela justamente aquilo que lá existe de pior.


(*) Antonio Lassance é cientista político.

http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/A-estupidez-da-oposicao-venezuelana-chega-ao-Brasil/31153


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz