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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

6.4.14

Ex-coordenador da VAR-Palmares lembra da repressão e prisões em Caxias do Sul em 1970 - Política - Pioneiro


Ditadura04/04/2014 | 13h05

Ex-coordenador da VAR-Palmares lembra da repressão e prisões em Caxias do Sul em 1970

Paulo de Tarso Caneiro conta que havia um "aparelho" no Centro para esconder militantes em passagem pela região


Maeth e Ruaro (atrás), Paulo de Tarso e Michelli (à frente) reencontraram-se e lembraram dos objetivos da VAR-Palmares Foto: Jonas Ramos / Agencia RBS

O assalto ao Banco do Brasil de Viamão, em março de 1970, pela organização política armada de extrema esquerda VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), acabou desembocando em Caxias do Sul no auge da ditadura militar no país. Em seguida, com a tentativa frustrada de sequestro do cônsul norte-americano em Porto Alegre, Curtis Cutter, no início de abril, pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), veio o empurrão para a prisão e tortura de diversos membros da organização.

A VAR-Palmares, organização em que a presidente Dilma Rousseff (PT) militava, mantinha alugado em Caxias um apartamento clandestino, localizado em um prédio na esquina das ruas Dr. Montaury e Vinte de Setembro. Tratava-se de um "aparelho", denominação dos locais utilizados para esconder militantes e realizar reuniões, onde foram abrigados integrantes da organização, principalmente de Porto Alegre e do centro do país em passagem pela região.

O apartamento estava locado em nome de Paulo de Tarso Carneiro, então funcionário do Banco do Brasil de Garibaldi, estudante de Filosofia em Caxias e coordenador da VAR Palmares na região. Paulo de Tarso morava em uma república em Garibaldi, Alves ou Breno —  codinomes que utilizava — morava no "aparelho", quando necessário. O fiador era o caxiense Maeth Boff, também estudante de Filosofia e professor em Garibaldi. Em 6 de abril, há exatos 44 anos que serão completados neste domingo, o "aparelho" foi descoberto. Paulo de Tarso foi preso na mesma data, trabalhando no Banco do Brasil em Garibaldi. Foi solto em 7 de abril de 1971.

A organização que queria derrubar o regime pouco a pouco foi sendo desfeita, numa sucessão de episódios que desencadeou diversas prisões. Entrava em ação na cidade a mão do torturador Paulo Malhães, agente do Centro de Informações do Exército (CIE), hoje coronel da reserva do Exército. Ele foi manchete nacional nos últimos dias ao revelar ter matado, desfigurado e ocultado cadáveres de presos políticos, durante sua atuação na Casa da Morte de Petrópolis (RJ), e ensinado técnicas de tortura no Rio Grande do Sul.

— Ele torturou o pessoal aqui de Caxias, conforme informações dos companheiros que chegaram em Porto Alegre, na delegacia perto da praça (Dante Alighieri), com as janelas abertas. O pessoal passava, olhava, ele estava torturando. Ele não tinha vergonha, receio. Malhães dizia que era amigo do (Emílio) Médici (presidente da República) e que podia fazer o que ele quisesse. Hoje se sabe que ele é o homem da Casa da Morte em Petrópolis — conta Paulo de Tarso, que, a convite do Pioneiro, esteve em Caxias e Garibaldi na quarta-feira.

Os métodos da repressão em Caxias, a formação e objetivos da VAR-Palmares na cidade, com ideias de entrar na luta armada, e detalhes das prisões são revelados pelo próprio coordenador da organização na região em 1970. Ele se reencontrou com antigos integrantes da VAR, como Orlando Michelli, Maeth Boff e João Ruaro Filho.

As lembranças do período na Serra

A passagem de Paulo de Tarso Carneiro por Caxias do Sul e Garibaldi nesta semana, acompanhado de ex-integrantes da VAR-Palmares, o fez reviver momentos dos quatro anos em que esteve na Serra. O encontro com Orlando Michelli, 65 anos, Maeth Boff, 68, e João Ruaro Filho, 76, foi em frente à Casa da Cultura, local que leva o nome de Percy Vargas de Abreu e Lima, em homenagem ao ex-vereador cassado e também preso político.

Dos três, Ruaro era quem ele não via há longo tempo, cerca de 20 anos.
Paulo de Tarso tem uma memória invejável. Relembra os fatos em detalhes. Ele completa 72 anos em maio. Em Caxias, os quatro falaram da atuação na VAR, suas prisões e o desejo de construção de poder para uma nova sociedade.

— A luta Armanda, se necessária, era um meio para chegar atingir um objetivo em função do socialismo no Brasil — defende.

Ele conduziu o grupo até o prédio onde ficava o "aparelho", em Caxias. Em Garibaldi, acompanhado de Maeth Boff, Paulo de Tarso apontava casas, locais e citava nomes de conhecidos da época. Ele morou na cidade de 1966 até 1970, quando foi preso, e retornou algumas vezes.

A antiga pensão onde morava é uma casa de madeira, aos fundos de onde hoje funciona uma loja de bijouterias, na Rua Buarque de Macedo e, na época, era um armazém para venda de vinho, pertencente à família Agostini. Maeth também morou ali, por cerca de um ano. A casa que abrigava a pensão está fechada há cerca de 15 anos.

Os dois falaram do convívio naquele tempo e das distrações típicas da juventude. Na sequência, uma parada no Café Luna Park, onde costumavam ir no final da tarde para discutir política e futebol. Por fim, seguiu para o antigo Banco do Brasil, localizado na Rua Júlio de Castilhos, onde trabalhava como auxiliar de escrita. Passados mais de 40 anos, agora no andar superior funciona uma escola de música e no térreo uma loja de confecções. Não faltaram as lembranças do dia da prisão:

— Quando vi, estava cheio de policiais aqui fora. Fui preso no dia 6 de abril, mas oficialmente a Justiça Militar só autorizou a prisão no dia 12 de setembro de 1970, todo esse período fiquei preso ilegalmente.

Em 28 de abril de 1971, voltou à agência em Garibaldi para reassumir o cargo, mas não obteve autorização do gerente. Paulo foi demitido do Banco do Brasil em julho daquele ano por justa causa por prática de atos contra a segurança nacional. Fez curso de Direito e cursa História. Depois, anistiado, retornou ao Banco do Brasil, em Porto Alegre, onde se aposentou. Filiado ao PT, ocupou cargos na prefeitura de Porto Alegre, governo do Estado e governo federal durante a gestão de Lula.

 A organização

Paulo de Tarso ingressou no Banco do Brasil em Garibaldi em 1966. Sua participação na VAR-Palmares se deu desde o surgimento, em meados de 1969. Passou a ter contato com Maeth Boff através do centro acadêmico de Filosofia e pelo fato de ambos trabalharem em Garibaldi. Maeth foi destacado pela organização para ir para Porto Alegre, tendo participado da chamada expropriação do Banco do Brasil em Viamão.

 
—  Em 1970, eu era o responsável pela VAR-Palmares em Caxias e região, tínhamos contato com Luiz Andréa Fávero, que era presidente da União de Estudantes Secundaristas (Uces), com o objetivo de combater a ditadura militar. Fui o responsável por alugar um apartamento em Caxias, que chamávamos de aparelho e tinha mais função para passagem de companheiros que vinham de outros lugares
—  diz Paulo de Tarso.

A organização contava com mais de 20 pessoas em Caxias. As reuniões eram feitas em pequenos grupos.


— Fazíamos reuniões na saída para Farroupilha, não existiam aquelas fábricas todas. Atrás do Monumento ao Imigrante também tinha uns lugares que a gente se reunia. Nesse apartamento ("aparelho") quase não fazíamos reuniões para que não fosse descoberto. Se objetivava que um não soubesse do outro, claro que em Caxias era difícil manter a clandestinidade porque as pessoas se conheciam, a gurizada era toda do movimento estudantil. Eu estava preservado porque eu não os conhecia
— emenda.

O "aparelho"


Conforme Paulo de Tarso, o conjunto dos participantes não sabia do "aparelho" localizado na esquina da Dr. Montaury com Vinte de Setembro

— Os militantes de Caxias do Sul não iam lá. Quem sabia era o Maeth, que era o fiador, e o (Airton) Frigeri, porque quando eu não estava em Caxias, ele que levava alguma coisa para o pessoal que estava escondido lá e não podia sair. Normalmente, as pessoas quando eram conduzidas ao apartamento, entravam de olhos vendados, não sabiam onde estavam indo, entravam sem saber onde era — conta.

— De imediato, o Inácio da Silva Mafra ficou residindo temporariamente ali.

Mafra foi vice-prefeito de Blumenau (SC), de 1997 a 2000.

Nos primeiros dias de abril de 1970, refugiaram-se no "aparelho" da VAR, em Caxias do Sul, Edmur Péricles Camargo e o tenente Dario Viana dos Reis, expulso do Exército, participantes do assalto em Viamão — ou expropriação, como a ação é denominada pelos militantes. Na manhã de 5 de abril, em um posto de gasolina de Porto Alegre, foi preso Paulo Franck, que também tinha participado do assalto.

Franck havia retornado de Caxias, onde esteve para buscar Edmur e levá-lo a Porto Alegre, com o mesmo carro usado na expropriação. No Dops (Departamento de Ordem Política e Social), sob tortura, Franck falou sobre a existência do apartamento da VAR. A partir disso, foi trazido a Caxias para informar a localização do esconderijo.

Diante da dificuldade em reconhecer o prédio, Paulo de Tarso diz que Franck foi levado à noite para o Rio das Antas, onde foi jogado nu, algemado, com uma corda amarrada, sendo puxado por esta corda. De volta a Caxias, após algumas tentativas, encontrou o prédio onde ficava o "aparelho". No contrato de aluguel, constava os nomes de Paulo de Tarso Carneiro como locatário e o local onde trabalhava.

A tortura

A tortura em Caxias do Sul era praticada por Malhães na Delegacia de Polícia localizada na esquina das ruas Marquês do Herval e Pinheiro Machado, segundo afirmação de Paulo de Tarso. Malhães aplicava choque elétrico com a maricota. Em Caxias, garante, fazia isso de janela aberta.
_ Em Porto Alegre, eles faziam isso numa peça especial que era chamada de fossa. Em Caxias do Sul, faziam na rua, na frente, não davam a mínima importância se alguém estivesse vendo.

http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/politica/noticia/2014/04/ex-coordenador-da-var-palmares-lembra-da-repressao-e-prisoes-em-caxias-do-sul-em-1970-4465898.html

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz