Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

13.10.09

Quem paga, quem recebe?



09/10/2009

Para um governo que pretende combater as injustiças sociais – de que ainda somos os campeões mundiais, apesar das significativas melhorias no governo atual -, a reforma tributária é questão central. O governo não é um produtor de riquezas. Para dispor de recursos para políticas sociais, para induzir o crescimento econômico, para qualificar os serviços do Estado, depende da arrecadação de impostos. Quando perde o debate sobre a reforma fiscal – ou não dá o debate sobre ela –, um governo fica acuado para desenvolver políticas que diminuam os efeitos concentradores de renda e expropriadores de direitos do mercado.

No entanto, a esquerda não assume a importância do tema e se deixa levar, via de regra, por armadilhas que se tornaram elementos consensuais na opinião pública e que inviabilizam o papel histórico do Estado de transferir recursos dos setores mais ricos aos mais pobres, minorando as desigualdades sociais.

A primeira armadilha é a que propaga que quanto menos imposto o Estado cobra, melhor para cada uma das pessoas. Acena-se com a proporção dos impostos no PIB, alerta-se contra o papel expropriador do Estado, alega-se que se está tirando não sei quantos dias ao mês do cidadão para fomentar gastos – implícita ou explicitamente – caracterizados como desperdícios.

Uma vez o Estado caracterizado como problema e não como solução – visão inerente ao neoliberalismo, que vem de Reagan e Thatcher, para ser incorporada por quase todas as forças políticas, ansiosas por ganhar o apoio, especialmente da classe média, que se sente vítima das tributações -, abre-se o campo para a linha de defesa contra políticas tributárias.

O Brasil, com o caudal de desigualdades acumuladas, possui um sistema tributário regressivo que, em lugar de redistribuir renda, contribui para sua concentração. As grandes empresas, mais particularmente até as do sistema bancário e financeiro, mas todas elas em seu conjunto, pagam pouco ou quase nada de impostos. (A mais bem remunera profissão no campo do direito é o direito tributário, que se resume nas artimanhas para burlar o fisco.) É a cidadania em geral que paga impostos e fornece ao Estado grande parte da sua arrecadação, descaracterizando já a idéia de que a tributação devesse servir para transferir renda de quem tem mais para quem tem menos.

Por outro lado, a maior parte da tributação vem dos impostos indiretos e não dos diretos. Isto é, ao tributar igualmente a todos pelo consumo, por exemplo, da cerveja, o Estado está tornando iguais os que são sumamente desiguais, fazendo com que todos paguem os mesmos impostos no consumo, independentemente do seu nível de renda. Os impostos à riqueza, incluído aquele à herança – são irrisórios, enquanto os que atingem a massa da população tendem a ser implacáveis.

Além disso, tende-se a aceitar que seria difícil ou quase impossível promover a transparência do orçamento – mecanismo pelo qual ficaria claro que os pobres e o conjunto da cidadania são fonte de transferência de recursos para que o Estado pague suas dívidas ao capital financeiro, através do superávit fiscal -, alegando-se que os orçamentos seriam fictícios, porque só sua execução final permitiria compreende realmente seus mecanismos e outros argumentos supostamente técnicos, que pretendem tirar do olhar da cidadania e dos movimentos populares organizados, a possibilidade de controle social sobre o Estado.

Mas o argumento de fundo, que permite toda essa injustiça fiscal é a criminalização do Estado, que só serviria para tungar os cidadãos, não fornecendo serviços de qualidade como contrapartida. Tudo o que se deve esperar do Estado viria recortar direitos e renda dos cidadãos. O candidato que promete baixar os impostos, tende a se tornar líder das pesquisas eleitorais. Por sua vez, as isenções fiscais fazem com que o Estado arrecada metade do que deveria. Todos querem pagar menos, não importa que tipo de dessolidarização sociais implementa, que tipos de direitos estão sento recortados com isenções e sonegações fiscais.

A Lei Rouanet é dos tantos exemplos disso. Ao invés de pagar impostos e usar parte dos seus lucros para o trabalho de marketing das empresas, se deixa de fazer o primeiro, usando esses recursos para promover o nome da empresa. Enquanto isso o Ministério da Cultura luta, até aqui infrutiferamente, para que seu orçamento chegue a 1%, para dispor de mais recursos para promover políticas publicas de cultura. As empresas, por sua vez, tendem a financiar eventos culturais de duvidoso nível artístico – tantas vezes comedinhas erótico-sentimentais com um casalzinho que faz simultaneamente novelas na televisão -, em detrimento do apoio a outros, de qualidade cultural, que o governo poderia e deveria fomentar.

Tudo isso alimenta a crise fiscal do Estado, que fica dependendo do ritmo de crescimento econômico e dos impostos, em geral pagos pelos que vivem da renda do trabalho – e não dos que vivem dos lucros do capital – para poder dispor de recursos que alimentem sua função essencial de promover a justiça social.

Discutir reforma tributária no Brasil incita os grandes empresários a esfregar as mãos de excitação, achando que vão pagar ainda menos impostos. O governo, na sua era Palocci, perdeu a oportunidade de fazer a reforma fiscal socialmente justa que o Brasil precisa, aprovando um engendro entre tributação nacional, estadual e municipal, que nada muda no quadro de injustiça no país e de dificuldades financeiras dos governos para atacar a desigualdade social – principal lacra que ainda se abate sobre nós.

Devemos lutar para que o tema da reforma tributária esteja no centro dos debates da campanha presidencial, intrinsecamente associado ao do papel do Estado e ao das políticas sociais. Se não os ministros da economia tenderão a brecar as políticas sociais, brandindo o argumento de que "seria justo, mas não há recursos".

A solução desse nó deveria vir das políticas de orçamento participativo, que permitem à cidadania perceber claramente quem paga e quem recebe recursos do Estado, que função de repasse, de que setor social para que outro, está desempenhando o Estado. Se está minorando as desigualdades sociais, fazendo com que quem tem mais pague mais, para diminuir as carências da massa da população, ou se está se somando à financeirização da economia, transferindo, via tributação, recursos do mundo do trabalho para o mundo da especulação.

Postado por Emir Sader às 04:40

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=360

Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz