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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

13.10.09

John Negroponte merece um Nobel da Paz?

Jornal Correio do Brasil
Por Gilson Caroni - do Rio de Janeiro


Negroponte: A serviço de Bush

Qual a melhor maneira de superar um golpe? Fazer exatamente o que pretendem os seus autores. É dessa forma, na melhor tradição da realpolitik reaganiana, que John Negroponte, subsecretário de Estado no governo George W.Bush, vislumbra a saída para a crise hondurenha. Eleições presidenciais na data programada, sem restituição do presidente deposto Manuel Zelaya, seguindo à risca os planos do líder dos golpistas, Roberto Micheletti.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, edição deste domingo, Negroponte ressurge como personagem de uma tela negra de Goya, empenhado em legitimar a truculência, esconjurando a memória histórica por saber que é dela que se elaboram projetos de soberania na América Latina. Ao dizer que "durante o período em que eu estava lá, a democracia foi restaurada", falseia o passado para mascarar o presente.

O que tenta esconder o atual presidente do Americas Society/Council of the Americas, "cuja meta é defender livre comércio, democracia e mercados abertos no continente?" Qual foi o seu real papel na América Central? O exército hondurenho, segundo reconheciam os próprios norte-americanos nos anos 1980, foi treinado e aparelhado pelos Estados Unidos, a fim de ajudar a conter os movimentos de libertação nacional na região.

O projeto político das eleições que os EUA promoveram em El Salvador, em março de 1982, não resolveu a crítica situação da convulsionada nação centro-americana. Ao contrário, serviu para mostrar que crise alguma pode ser resolvida por solução eleitoreira que ignore estruturas injustas de uma sociedade capitalista periférica, que ainda tinha remanescentes feudais. A partir das eleições, a comunidade internacional observou um aumento das violações dos direitos humanos por parte dos aparatos militares e dos bandos paramilitares controlados pelo estado-maior das forças armadas e um incremento no número de refugiados nos países centro-americanos. Operações de extermínio foram levadas a cabo contra as zonas rurais e comunidades camponesas.

Após uma fraca resistência, o ditador da Guatemala, Rios Montt, foi deposto no dia 8 de agosto de 1983. Em seu lugar, subiu o general Oscar Mejia, responsável direto por massacres de populações indígenas no interior do país. A participação estadunidense no golpe foi cristalina. Mejia era criatura do Pentágono e, dias antes de tomar o poder, participou de uma reunião, em Honduras com o general Paulo Gorman, chefe do comando-sul norte-americano no Panamá. Negroponte foi o anfitrião do encontro. Não por acaso Honduras e El Salvador foram os primeiros países a reconhecer o novo governo gualtemateco.

Para a Nicarágua, os planos de Reagan eram de intervenção militar direta. O bloqueio naval ao regime sandinista funcionava a pleno vapor. Um cargueiro soviético, com 842 toneladas de medicamentos e máquinas destinadas à agricultura e à construção de estradas, foi interditado por navios norte-americanos sob a alegação de que carregava armas e helicópteros militares. De Honduras, como recorda Atílio Boron, Negroponte "monitorou pessoalmente as operações terroristas realizadas contra o governo sandinista e promoveu a criação do esquadrão da morte, mais conhecido como o Batalhão 316, que sequestrou, torturou e assassinou centenas de pessoas, enquanto nos seus relatórios para Washington negava que houvesse violações dos direitos humanos nesse país."

Ao diário paulista, John Negroponte é taxativo: "Obviamente, por conta da situação vizinha, nós aumentamos nossa ajuda, não só militar, mas humanitária. Penso que adotamos as políticas certas, que foi justificado o que fizemos, e eu certamente não me arrependo de nada."

A se dar crédito ao diplomata norte-americano, estudaremos a história como se visita um museu de cera. Embevecidos com a fraude disfarçada de arte, mentiremos sobre o passado para continuar mentindo sobre o presente. Esse tem sido o papel da imprensa ao fabricar o que a direita lhe solicita: a nostalgia da barbárie como tempo de boas colheitas.

É para esse imaginário que boa parte da oposição brasileira daria, se pudesse, um Nobel da Paz. Seria uma primeira página perfeita.

 

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz