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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

9.5.10

Carta Maior - Blog do Emir Sader - Traição ou disputa?


Traição ou disputa?

Os termos do debate do começo do governo Lula podem ser revistos agora, sob a ótica do que ocorreu desde então. A conjuntura daquele início levou à discussão sobre a natureza e o destino do governo. A carta aos brasileiros, a nomeação de Meirelles, os orientações predominantes de Palocci no governo, a reforma da previdência, colocaram a questão: o governo Lula tinha mordido a maçã e traído ou era um governo contraditório, em disputa?

Não foram poucos os que aderiram à primeira versão. Lula teria se somado à já longa lista de lideres de origem popular que "traíam" as causas pelas quais tinham lutado – junto com gente como Menem, Carlos Andrés Perez, Mitterrand, Felipe Gonzalez, para não ir muito longe no tempo – e se jogava nos braços das classes dominantes e do imperialismo. Militantes, parlamentares, intelectuais, romperam com o PT e com o governo, considerando-o "perdido" e lançando-se à formação de um outro partido.

Chegaram, nessa linha de raciocínio, depois da candidatura de Heloísa Helena à presidência - que tratava o governo Lula como "uma gangue", nos generosos espaços abertos a ela na imprensa de direita -, a considerar que o Brasil dirigido por Lula ou por Alckmin seria o mesmo, decidindo pelo voto nulo ou pela abstenção no segundo turno de 2006. (Basta imaginar o Brasil, na crise recente, dirigido por Alckmin ou como foi dirigido por Lula, para nos darmos conta do erro cometido por quem se manteve equidistante dos dois.)

Erraram de forma brutal. O governo Lula melhorou, inquestionavelmente, revelando que tinham razão os que ficaram no PT, lutando pela mudança de linha, que finalmente ocorreu, de forma significativa a partir de 2005, com a substituição de Palocci por Guido Mantega e a passagem da coordenação do governo para Dilma. A política externa se consolidou com as alianças com os países latinoamericanos e os do Sul do mundo. As políticas sociais se estenderam, mudando o perfil social do Brasil. O Estado passou a assumir seu papel de indutor do crescimento econômico e de garantia dos direitos sociais. O desenvolvimento – abolido pelos governos neoliberais – foi recolocado como objetivo central do país, um desenvolvimento intrinsecamente articulado com distribuição de renda e de fortalecimento do mercado interno de consumo popular.

O governo Lula melhorou significativamente e uma das conseqüências disso foi o desaparecimento político dos setores que tentaram construir alternativas mais à esquerda do PT e dos partidos do bloco de sustentação do governo. Há duas fases claras no governo Lula (veja-se a excelente análise de Nelson Barbosa no livro "O Brasil, entre o passado e o futuro", orgs. Emir Sader e Marco Aurélio Garcia, Editoras Boitempo e Perseu Abramo), a segunda foi nitidamente melhor, consolidou o apoio popular ao governo e projeta a candidatura de Dilma como uma candidatura forte, que conta, entre outros, com o apoio de todos os lideres progressistas da América Latina, de Evo Morales a Hugo Chavez, de Pepe Mujica a Fernando Lugo, de Rafael Correa a Cristina Kirchner, de Raul a Fidel Castro, entre muitos outros.

Os setores que se alinharam na ultra esquerda deveriam fazer um balanço autocrítico, que permitisse corrigir rumos no futuro e evitar a repetição, em um eventual segundo turno, do mesmo erro cometido em 2006. O governo estava em disputa. A visão moralista de que o Lula havia "traído" e não teria volta no caminho da "capitulação", foi um grande equívoco, pelo qual pagaram um preço caro, que os fez fracassar como projeto de construção de uma alternativa política e pode levar a que não consigam sequer reeleger os poucos parlamentares que possuem.

Há, no campo político, uma direita e uma esquerda, objetivamente, mais além do desejo de cada um. Situar-se nesse campo, mais à esquerda do PT é uma posição que tem sua coerência, mas ela depende de uma definição pela candidatura da esquerda no segundo turno, evitando a visão fácil e equivocada, de que o PT e o PSDB, Dilma e Serra, são iguais. Quando um setor da esquerda erra na localização de onde está a direita, corre todos os riscos de fazer o jogo dela.

Postado por Emir Sader - 09/05/2010 às 13:44

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz