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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

13.6.10

Carta Maior - Blog do Emir Sader - Ambientalistas, o padrão neolítico e a paz de cemitério



11/06/2010

Ambientalistas, o padrão neolítico e a paz de cemitério

Em seu artigo "Belo Monte e o diabo" (publicado no Valor de 31/5/2010), Carlos Lessa compra uma briga indispensável: a favor dessa usina, pelo que significa de energia limpa, contra preconceitos transformados em dogmas.

Lessa inicia sua argumentação dizendo: "O Brasil dispõe de três grandes bacias hidrográficas, cada uma regida por um calendário pluviométrico e regime climático próprio e diferenciado." Isto permitiu ao Brasil instalar a geração hidráulica como fonte prioritária de eletricidade e desenvolver um sistema integrado de usinas de geração e linhas de transmissão que possibilitou ao Brasil uma energia limpa, renovável e barata.

A privatização durante o governo FHC esquartejou o país, levando a um sistema que combina energia elétrica barata para as atividades eletrointensivas (como a produção de alumínio, cimento, papel e celulose) com energia extremamente cara para uso residencial, iluminação e empresas não eletrointensivas. O reino do mercado promovido na década de 90 sangra o consumidor brasileiro pelo custo de energia elétrica e "subsidia" as exportações de alumínio, aço, celulose de fibra curta, ferro silício, ferro manganês, entre outros. Com isso, nossas cidades ficam subabastecidas na iluminação pública, com graves conseqüências sobre a qualidade da vida urbana.

"A termeletricidade tem custos muito elevados, é altamente poluidora, mas é implantada com relativa rapidez", afirma Lessa. Essa alternativa foi levada adiante devido à atrofia do investimento público em hidreletricidade e a falta de investimentos privados. Se as emergência devem contar com termelétricas, "é uma estupidez que um país com amplo potencial hidrelétrico não lhe confira prioridade a partir de um planejamento eficiente para instalar novas usinas hidrelétricas".

A pressa de FHC para em privatizar desmantelou o setor elétrico estatal e implodiu o sistema de planejamento e financiamento do setor energético. O governo FHC contratou consultoria britânica, de um país que não dispõe de significativa hidreletricidade. "O governo Lula herdou uma situação caótica, cujo marco foi o grande apagão do final de FHC", parte da herança maldita.

Belo Monte faz parte de um projeto de aproveitamento da sub-bacia da Região Amazônica, é a maior de um conjunto de 5 usinas, devendo ser a terceira maior hidrelétrica do planeta. Para isso é necessária "a remoção de cerca de 400 habitantes de uma ilha fluvial e a inundação de toda a área abrangida pela ferradura" ("Entre o escudo cristalino do Planalto Central e a Planície Amazônicas, está o Cânion de Volta Grande, que faz uma curva, quase uma ferradura, com um desnível de 90 metros entre seu início e seu final".)

Os ambientalistas que se opõem à construção de novas grandes hidrelétricas na Região Amazônica, apontam perdas na atividade pesqueira, (E Lessa pergunta: "na represa não haveria peixe?"), perda na qualidade da água; inundação de floresta remanescente e de propriedades rurais e emissão de C02 e metano. "Cabe perguntar aos ambientalistas por que não avaliam a emissão alternativa de dióxido de carbono a partir de termeletricidade a ser alternativamente implantada. Os ambientalistas deploram os custos por evaporação da lâmina de água da represa (ao que eu saiba, toda água que evapora retorna sob a forma de chuva). Perdas por atividade turística (não há turismo para um grande reservatório?)" Acrescenta-se a isso o argumento da perda de biodiversidade, que até agora não foi avaliada.

Lessa argumenta que é inquestionável que Belo Monte vai gerar progresso para a sub bacia do Xingu e criará empregos durante e após a construção. "Porém o ambientalismo considera que o aumento populacional ocasionado pela presença da força operária e da mão de obra especializada durante a construção `provocará variações nos estilo de vida, hábitos e culturas´. É óbvia a preferência da população local pelos estilos de vida, hábitos e culturas de operários e profissionais com salários dignos, carteira assinada e consumidores de bens e serviços civilizados."

"Para o ambientalista radical, a intervenção antrópica é sempre condenável; é contrário ao desenvolvimento social. Gosta do padrão neolítico e admira a 'paz de cemitério'".

Lessa chama a atenção sobre a incongruência do ambientalismo brasileiro ao ser contra a hidrelétrica na Bacia Amazônica e, ao mesmo tempo, silenciar sobre as exportações crescentes de carne vermelha e soja, que impelem o capim e a lavoura de grãos destruindo as florestas e sua biodiversidade. Silenciam também sobre a expansão da termeletricidade, enquanto não se mobilizam contra a opção do Brasil exportar eletricidade.

Com essa oposição, conseguiram "mutilar o projeto de Belo Monte", que será uma usina a fio d´água, que operará de forma reduzida durante os meses sem chuva no Brasil central. Foi reduzida em 26 metros a barragem, que terá um reservatório 70% inferior ao possível. O Brasil abriu mão de 4 mil quilômetros de hidrovias navegáveis, quando o transporte aquaviário é o de mais baixo custo logístico para o Brasil, mas o ambientalismo defende hidrovias reguladas por grandes aproveitamentos hidreléticos e navegáveis a partir de esclusas.

Conclui Lessa sobre "o silêncio da versão domesticada do ambientalismo que se diz favorável ao desenvolvimento renovável ". Não há nada mais renovável do que a hidreletricidade. "O governo Lula merece parabéns por, finalmente, tocar Belo Monte." Mas recorda que "o diabo mora nos detalhes" e a timidez do governo é que deve ser criticada e não a construção de Belo Monte, que é saudada por Carlos Lessa.

Postado por Emir Sader às 10:00

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz