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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

10.3.09

Exóticos são os desertos verdes, não as campesinas

Movimentos Sociais| 09/03/2009 | Copyleft

Exóticos são os desertos verdes, não as campesinas

As mulheres da Via Campesina são exóticas, então. Onde há desertos verdes, onde há seus cúmplices, onde há seus beneficiários financeiros imediatos, onde há gravatas fora e dentro da moda, usadas para enfeitar a mentira triunfante do respeito à natureza, é só o que elas podem ser. Tão exóticas como os desertos verdes são para a natureza e a soberania alimentar dos países.

Elas não são finalistas de prêmios categoria Mulher de Negócios. Nem são lembradas quando o que está em jogo é o registro das superações da mulher num espaço "essencialmente masculino". Não usam gravatas quando é moda, nem dão testemunho nas magazines de consultório da dureza que é parir, eventualmente sem pré-natal, e educar filhos, sem-terra. Faz alguns anos aparecem com a imagem de uma espécie exótica de terroristas de lenços lilás nos rostos. No mundo invertido da sociedade espetacular mercantil, a verdade é um momento do falso, disse Guy Debord.

No caso das mulheres da Via Campesina talvez se possa dizer que a verdade é um momento do exótico. Um momento não de fabricações imagéticas do terrorismo escondido sob lenços, mas de combate a uma das mais bem sucedidas pragas do agronegócio no Brasil, os desertos verdes de eucaliptos, pinus e variantes. A verdade como um momento da dialética destrutiva que assola a sociedade e o campo brasileiros, afirmando todas as formas de opressão e de mentira, passando pelo pensamento mágico do delírio da dependência às commodities e deslizando perversamente para a criminalização de todas as vozes e forças que se lhes opõem.

As mulheres da Via Campesina não têm terra, nem financiamentos para plantar árvores exóticas a serem usadas em banheiros e livrarias que não utilizarão. Nem são lembradas quando o que está em jogo é a Balança Comercial. Raramente usam as cadeiras de direção, inclusive do próprio movimento de que fazem parte. No mundo invertido da sociedade espetacular, as mulheres da Via Campesina são apresentadas como terroristas que aparecem uma vez por ano, em média, para destruir tudo, instar o ódio e semear a discórdia que ameaça a ciência das multinacionais avessas ao pagamento de impostos.

As mulheres da Via Campesina são exóticas, então. Onde há desertos verdes, onde há seus cúmplices, onde há seus beneficiários financeiros imediatos, onde há gravatas fora e dentro da moda, usadas para enfeitar a mentira triunfante do respeito à natureza, é só o que elas podem ser. Tão exóticas como os desertos verdes são para a natureza e a soberania alimentar dos países. É assim que neste Dia Mundial das Mulheres este momento verdadeiro se impõe. Não em magazines semanais a vender conselhos, nem em cerimônias de prêmios "Mulher", regadas a espumantes e brindes ratificantes do caráter exótico que assola os juízos de gênero, quer dizer, o sexismo.

Exóticos são os desertos verdes.

É por isso que, neste tempo de criminalização das diferenças, somos todas campesinas.


Fotos: Eduardo Seidl

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz