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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

1.2.09

Lula e o Conselho Internacional do FSM

Colunistas 31/01/2009 Copyleft

DEBATE ABERTO

Lula e o Conselho Internacional do FSM

Como ocorreu nos dois últimos fóruns, Lula teve uma reunião com membros do Conselho Internacional do FSM. A reunião anterior havia sido marcada por profundas discordâncias. Desta vez, a reunião refletiu as mudanças que o governo sofreu desde então e suas expressões no próprio discurso de Lula.

Da mesma forma que nos dois últimos FSM, realizados no Brasil, em Porto Alegre, Lula teve uma reunião com membros do Conselho Internacional. Lula veio com ministros – Dilma, Tarso, Patrus, Guillerme Cassel, Edson Santos, Dulci, Samuel Pinheiro Guimarães, Nilcéia -, ouviu dois grupos de perguntas, respondeu e numa delas passou a palavra para Dilma. A reunião anterior havia sido marcada por profundas discordâncias. Teve três intervenções duramente criticas, em um momento em que o governo Lula tinha grandes fragilidades, produto da orientação geral imposta por Palocci sobre o conjunto da atuação do governo, que se refletia no próprio discurso de Lula, além do fato de que saía de Porto Alegre e ía a Davos. François Houtart havia aberto a reunião, afirmando que não se poderia acender uma vela a deus e outra ao diabo e que Lula teria que escolher entre os dois. Uma representante da Via Campesina, do Chile, acusou o governo brasileiro de estar estrangulando a economia familiar, pelo apoio aos grandes agronegócios, enquanto que uma representante de um movimento social africano, agregou a acusação de que a posição na OMC estaria estrangulando os pequenos países. Desta vez a reunião refletiu as mudanças que o governo sofreu desde então e suas expressões no próprio discurso de Lula. O próprio conjunto de perguntas abordou apenas lateralmente temas conflitivos para o governo. Os membros do Conselho, por sua vez, encontraram um Lula muito mais aberto e confiante em si mesmo. A primeira questão, do primeiro bloco, foi colocada por uma queniana, sobre a solidariedade sul-sul. A segunda, por um economista francês, sobre como as respostas à crise deveriam fortalecer a solidariedade sul-sul. Um chileno perguntou sobre as condições das rádios comunitárias. Um líder sindical da Índia perguntou sobre a situação dos sindicatos e a necessidade de uma agenda de desenvolvimento com igualdade. Um cubano perguntou sobre o papel da integração regional nas respostas de combate à crise. Lula tomou a palavra para dizer, inicialmente, que a integração sul-sul é mais difícil do que se imagina, apesar de sermos todos favoráveis, no discurso. Até a pouco tempo, a América do Sul não conversava com a América do Sul. Viajava-se mais para os EUA do que para a América Latina. Disse ele que nunca havia estado, como dirigente sindical, em algum outro país da América Latina, mas foi muitas vezes aos EUA, assim como para a Europa. "Nossa relação como movimentos sociais estava suboridnada aos países que tinham interesses econômicos no Brasil. E o movimento social estava subordinado ao países que podiam financiar atividades. Os partidos políticos também eram subordinados a orientações européias. Era um outro tipo de colonização, pelo poder de financiamento." "Uma vez eu liguei para o presidente de um país, para que ele votasse contra a intervenção dos EUA no Iraque. Um país membro do CS da ONU, e para minha surpresa, esse presidente disse que não poderia votar contra os EUA, porque tinha recebido 50 milhões de dólares para programas sociais. O Brasil estava de costas para a América Latina. Hoje a integração é um fato concreto. Temos um Mercosul fortalecido, criamos a Unasul, o Conselho Sulamericano de Defesa, o Banco do Sul, o BNDES tem mas de 5 bilhões de financiamneto em infraestrutura na América do Sul." "Não olhávamos para a África. Em 6 anos, eu visitei 21 paises africanos." Montamos centros da Embrapa em vários países, com estudos de campo em mais de 30 países. Já começamos a fazer experimentos de agricultura tropical na África." "Se acontecer o que eu penso, uma parte da África - a savana, que tem as mesmas características do centro-oeste brasileiro, de que há 40 anos se dizia que não prestava para nada, e que hoje é o mais centro de soja do Brasil, de algodão, de milho -, se isso acontecer lá, podemos ter uma revolução na agricultura em uma parte da África. Montamos centros da Fiocruz em Moçambique, para produzir antiretrovirais e outros medicamentos." "É um processo para anos, mas que depende dos governos eleitos, da visão de mundo que tenha o eleito. Da relação que as elites tenham com a sociedade. Conheço dezenas de presidentes que nunca se reuniram com os sindicatos, com a sociedade civil, com ONGs. Se se continua a eleger gente que não tem nenhuma relação com a sociedade civil, tudo fica mais dificil." "De 2006 a 2008 foram assentadas 519 mil famílias, 59% do que foi assentado em toda a história do Brasil, correspondente a 43 milhões de hectares de terra. Para uma comparação com o que significa em extensão de terra, a Inglaterra inteira tem 24,4 milhões de hectares de terra, a Itália, 30 milhões, a Alemanha, 35." "Passamos do financiamento de 2 bilhões de reais para a agricultura familiar para 6 bilhões. Criamos os Territórios da Cidadania. Realizamos a compra de alimentos em grande quantidade pelo governo federal, o programa Luz para todos, o Bolsa Família." "Tenho 63 anos e muita esperança que esta crise, apesar de nos trazer muito prejuízo, traga também oportunidades. Não devemos só ficar chorando com a crise, mas devemos fazer o novo." "Na OMC, o Brasil passou todo o ano passado lutando por um acordo. Minha tese é a de que o Brasill não precisa ganhar nada porque o Brasil é competitivo na agricultura, mas os ricos teriam que ceder para que os pobres ganhassem um pouco. Uma divergência entre a Índia e os EUA não permitiu que um acordo fosse feito. Eu falei com o Obama na segunda e vamos retomar a negociação da OMC. O mundo desenvolvido precisa ceder, sobretudo na questão agrícola, para que os pobres possam ganhar. Continuo confiante que podemos chegar a um acordo." "Avançamos porque a democracia se consolida na África, na América Latina. O G8 não tem a importância que tinha há 10 anos. Eles sabem que não podem fazer nada sério sem os países do Brics, sem o México. O que precisamos hoje é consolidar nossos avanços. Estamos há 15 anos tentando renovar o Conselho de Segurança da ONU. Para incluir representantes da America Latina, da Africa, para acabar com o poder de veto dos 5 países que tem hoje esse poder. Não é possível que os 5 países que tem poder de veto sejam os maiores produtores de armas no mundo." "Sobre a crise, quero dizer 2 coisas: a crise do anos 90, a asiática, foi muito menor que esta, infinitamnente menor. E o meu pais quebrou duas vezes, Esta não tem precedentes, não sabemos ainda o tamanho dela e os nossos países não quebram. O Brasil tem 207 bilhões de reservas, a dívida pública é de apenas 35% do PIB. Diferentemente do mundo desenvolvido, vários países em desenvolvimento estão em retração, mas não em recessão." "Não acho que o G-20 coopte os emergentes. É a primeira vez, numa crise dessa magnitude, que o FMI não tem soluções a propor, que o BM não tem, que os países ricos não tem solução, quando antes todos davam palpite sobre a América Latina. Parlamentes, senadores, ministros, yuppies dos bancos. Chegava-se em Londres, encontrava-se com um jovem de 30 anos, que não sabia onde ficava o Brasil, muito menos a Bolívia, mas dada palpite sobre o que deveriamos fazer." "Ficavam sempre avaliando os nossos riscos, mas o mais absurdo é que os EUA quebraram e os EUA não têm risco. O risco é nosso. Esta crise tem uma diferença muito grande da outra. Na outra a solução era o ajuste fiscal, mandar servidor público embora, cortar salários, cortar investimentos." "Eu fui ao Congo, estavam paralisando a construção de uma estrada, porque significava não fazer o superávit primário. Esta crise agora exige de nós muita ousadia, mais investimentos, o Estado é que vai fazer os investimentos. Aqui no Brasil, temos o compromisso de não diminuir os investimentos." "O Obama disse ontem que, no programa de investimentos de infraestrutura, todo o material de aço usado, será de aço de indústrias americanas. Quando a situação era boa, eles pregavam o livre comércio, agora que a situação deles está ruim, prevalece o protecionismo. Eles vão ter muitos problemas com os nossos países, precisamos defender nossa indústria. Temos consciência de que o mundo está interligado, se cada país resolver construir um muro em volta de si mesmo, a situação econômica tende a se agravar." "A hora é da ousadia e os países ricos têm compromissos com a periferia. Democracia e paz significa que as pessoas tem que comer, tem que almoçar, que jantar, sem isso não há democracia e não haverá paz. E é isso que estamos fazendo no G-20. Vamos ter que regular o sistema financeiro, regular o mercado futuro e o sistema financeiro tem que se comprometer com o setor produtivo. Não pensem que será fácil, mas hoje é muito mais difícil para os países ricos decidirem sozinhos que há 5 anos. Vamos continuar fortalecendo relação sul-sul." Em seguida o Lula passou a palavra para que Dilma Roussef esclarecesse o caráter da lei que regulamenta e descriminaliza as rádios comunitárias.

Secretario Executivo de Clacso, coordenador da Enciclopedia Contemporânea da América Latina e autor, entre outros, de "A nova toupeira" (sai na próxima semana).

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz