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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

18.3.18

Na ausência da CNBB, a Igreja dos debaixo insurge-se contra a intervenção

Na ausência da CNBB, a Igreja dos debaixo insurge-se contra a intervenção    

Enquanto a Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) mantém silêncio sobre a intervenção federal/militar no Rio de Janeiro, uma rede de organizações da Igreja Católica lançou um documento condenando a iniciativa do governo Temer e exigindo sua revogação imediata

Por Mauro Lopes

Dez organizações da Igreja Católica em São Paulo lançaram um manifesto contra a intervenção federal/militar decretada pelo governo Temer em 16 de fevereiro. A CNBB mantém-se silente desde então, apesar de haver lançado  apenas dois dias antes do decreto a Campanha da Fraternidade 2018, que tem como tema exatamente a violência, sob o lema "Fraternidade e a superação da violência".

No lançamento da Campanha da Fraternidade, a principal convidada pela entidade dos bispos foi a presidenta do STF, Carmén Lúcia, chefe de um Poder que tem tido como política o encarceramento em massa no país, excluindo as organizações da própria Igreja e dos movimentos sociais que lutam com tal política (leia aqui).

Na nota lançada agora, dez as organizações de base da Igreja Católica afirmam que a Campanha da Fraternidade representa uma convocação para "cerrar fileiras com todos os que defendem a construção democrática da segurança pública, em total oposição à estarrecedora decisão do Governo Federal de intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro".

O texto começa citando a exortação apostólica Evangelii Gaudium, lançada pelo Papa em 2013, na qual Francisco escreveu que sem "eliminar a exclusão e a desigualdade" a violência não terá fim.

As entidades denunciam "o pacto da mídia com o governo" e indicam elementos do texto-base da Campanha da Fraternidade que apontam um caminho radicalmente diferente daquele trilhado pelo governo Temer para o combate à violência.

Assinam a nota as seguintes entidades: IPDM – Igreja Povo de Deus em Movimento; Nós Somos a Igreja – São Paulo; CLASP – Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo; Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo; Pastoral da Educação do Regional Sul1 da CNBB; Rede de Escolas de Cidadania de São Paulo; Rede Igrejas e Mineração; Centro de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo; Sociedade Santos Mártires; Fórum em defesa da vida Jardim Ângela.

Leia a íntegra a seguir:

Nota de repúdio à intervenção militar no Estado do Rio de Janeiro

Enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão.

(Papa Francisco – Evangeli Gaudium n.59)      

Neste período quaresmal, as comunidades católicas do Brasil lançam a Campanha da Fraternidade 2018 com o grito profético pela "Fraternidade e superação da violência". Somos, portanto, convocados a cerrar fileiras com todos os que defendem a construção democrática da segurança pública, em total oposição à estarrecedora decisão do Governo Federal de intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro.

Diz o decreto: "O objetivo da intervenção é pôr termo a grave comprometimento da ordem pública no estado do Rio de Janeiro". A decisão é somente para combater aquilo que a mídia chama de "guerra do tráfico" e "onda de violência". Se compararmos os dados da violência no Brasil, conforme afirma a Professora Jaqueline Muniz, do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF): "desde 92 o Exército vem fazendo operações midiáticas nas comunidades e nunca divulgou qualquer relatório sobre os resultados. Sabe-se apenas que uma das operações na favela da Maré teve um custo de 300 milhões. Mas e o resultado? O que se conseguiu com essas operações? O governo não presta contas".

O pacto da mídia com o governo e o festival pirotécnico do exército nas ruas confirmam a cultura da violência alastrada no país. Cultura essa marcada por construções simbólicas que visam impor explicações socialmente definitivas para fatos sociais fruto da violência. Conforme enfatiza o Texto Base da CF 2018, a "guerra ao tráfico", localizada nas periferias das grandes cidades, ainda é guerra aos mais pobres, submetidos à violência de criminosos justamente pela história de omissão do Estado, que não provê para estas imensas periferias a garantia de direitos humanos básicos.

Cientes da urgência em se criar uma agenda de segurança pública para superar a triste realidade da violência estrutural do nosso país, alertamos para alguns elementos presentes no texto base da CF/2018:

– A militarização da política: decisões políticas de cunho militarizado, onde se produziu no Brasil um encarceramento massivo, um genocídio de jovens negros comparado à números de guerra, colocando o país na contramão da superação da violência pela ressocialização das pessoas.

– A omissão do poder público em imensas e populosas regiões do país submete seus moradores à violência cotidiana de grupos armados, ao tráfico de drogas e à desordem social (Texto Base 31).

– A desigualdade econômica resultante de políticas que precarizam o trabalho e reduzem salários, limitam o orçamento de áreas prioritárias para bem estar da população, impõem severas restrições ao atendimento social dos pobres é a grande violência institucional que as elites exercem contra a vida digna para todos e todas, em nosso país. (Texto Base 70).

Cientes de que uma ação para superação da violência passará pela redução das condições de exclusão dos mais pobres e rezando exigimos:

  1. A imediata revogação do decreto de intervenção militar no Rio de Janeiro.

  2. A institucionalização de uma consulta democrática, acompanhada de fóruns e de pesquisadores em conjunto com a população, de modo a construir os rumos de uma sociedade que supere a violência pela cultura democrática da fraternidade.

São Paulo, 20 de fevereiro de 2018

IPDM – Igreja Povo de Deus em Movimento.

Nós Somos a Igreja – São Paulo.

CLASP – Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo.

Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo

Pastoral da Educação do Regional Sul1 da CNBB

Rede de Escolas de Cidadania de São Paulo

Rede Igrejas e Mineração

Centro de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo

Sociedade Santos Mártires

Fórum em defesa da vida Jardim Ângela



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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz