Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

5.3.18

Embrapa submete pesquisadores a assédio moral e demite ex-líder sindical

CAÇA ÀS BRUXAS

Embrapa submete pesquisadores a assédio moral e demite ex-líder sindical

Ex-presidente do Sinpaf/CUT, Vicente Almeida foi demitido por justa causa após intenso processo de assédio moral, perseguição e censura à sua produção científica, voltada à pesquisa em agroecologia
por Cida de Oliveira, da RBA publicado 03/03/2018 12h48
PIXABAY
vicente agrotóxicos.jpg
O crescente uso de agrotóxicos e transgênicos e seus impactos está entre os temas mais pesquisados por Vicente Almeida, demitido pela Embrapa
São Paulo – Ao mesmo tempo em que avançam no país medidas para afrouxar as regras para registro e ampliação da venda de agrotóxicos e para para facilitar ainda mais a aprovação de transgênicos e de outras biotecnologias pouco estudadas, aumentam a censura e a perseguição a pesquisadores que se dedicam justamente à pesquisa dos seus impactos à saúde e à natureza. No último dia 28, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), demitiu "por justa causa" o engenheiro agrônomo Vicente Almeida, que ingressou na empresa em 2005, por meio de concurso público, e era pesquisador vinculado à Unidade Hortaliças, em Brasília. Vicente presidiu o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf/CUT) de 2010 a 2013.
Subordinada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, comandado pelo ruralista Blairo Maggi (PP-MT), a Embrapa não quis falar à reportagem sobre o caso. Por meio de sua assessoria de imprensa, a presidência da empresa limitou-se a informar que a demissão ocorreu após um processo administrativo que durou cerca de um ano, em que houve sindicância e o ex-funcionário exerceu seu direito de defesa.

Violação

Em entrevista à RBA, Vicente Almeida contou que a Embrapa elenca uma série de ocorrências e o acusa de "descumprimento de dispositivos do Código de Conduta e Código de Ética". E que tal violação estaria impondo desgaste à imagem da empresa. No entanto, tais ocorrências e violações que custaram seu emprego se confundem com o exercício de suas prerrogativas de dirigente sindical, trabalhador e até de cidadão.
É o caso de solicitação, via lei da transparência, de documentos negados pela direção da empresa, como um relatório de auditoria interna, para apurar irregularidades, defender apuração de desmandos, e de ter denunciado no Brasil e na Organização Internacional do Trabalho (OIT) práticas de trabalho degradante e análogo à escravidão – o que causou constrangimentos à empresa no país e no exterior.
Em agosto de 2012, o Sinpaf lançou o documentário A Vida Não é Experimento (assista ao vídeo no final da reportagem), com depoimentos de trabalhadores da Embrapa e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), vítimas de acidentes de trabalho, de violações de direitos trabalhistas e de assédio moral.
Outras colaborações de Vicente ao desgaste da imagem da empresa seriam a denúncia de dirigentes da Embrapa na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, que levou à realização de audiência pública sobre  assédio moral em uma empresa que, segundo ele, tornou-se ainda mais autoritária após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Pesa ainda contra ele a colaboração em processos judiciais. No começo de fevereiro, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) confirmou a condenação da Embrapa em R$ 100 mil por permitir a prática de assédio moral em seu meio ambiente de trabalho.
O Ministério Público do Trabalho no Distrito Federal (MPT-DF), que apresentou provas da prática cometida pela supervisora de setor de patrimônio e material da Embrapa Hortaliças, foi acionado por denúncia anônima reforçada pelo Sinpaf. O sindicato reiterou a prática frequente de assédio moral pela supervisora, confirmada também por nove trabalhadores, diretamente vinculados à supervisora. Em sua defesa, segundo o TST, a Embrapa alegou que as práticas denunciadas, como chamar subalternos de "burro" e "lerdo", não eram intencionais. 

Impactos ambientais

Com mestrado em impactos ambientais, Vicente estuda as influências dos estudos científicos e o posicionamento de pesquisadores de instituições públicas frente aos problemas à saúde e aos ecossistemas causados pelo modelo produtivo hegemônico, que têm sido motivo de controvérsia e debates. Uma linha de pesquisa minoritária, com diminuto apoio financeiro, quando comparado com a linha hegemônica de pesquisa nos laboratórios da empresa cada vez mais voltada à produção de conhecimento para agropecuária praticada pelas grandes empresas e latifundiários.
De acordo com o pesquisador, a empresa chegou a questionar sua produtividade científica, quando fica claro se tratar da sua produção de conhecimento voltado à transição agroecológica, saúde ambiental no campo e impacto socioambiental dos agrotóxicos na agricultura. Convidado a compor grupos de pesquisas de outras instituições de igual destaque, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, Vicente afirma ter sido proibido de participar pela Embrapa.
"Trata-se de um esquartejamento moral. Um processo com falhas, que ficou parado durante muito tempo para depois avançar rapidamente, sem que eu tivesse tempo hábil para me defender. Nem sequer tive direito a audiência com advogados. Tive minha casa rondada por carros da Embrapa, em um claro sinal de intimidação. Um pesadelo, que tem me levado a procurar ajuda psicológica e até psiquiátrica", contou Vicente.
Vicente liderou uma pesquisa sobre os impactos do uso de sementes transgênicas e agrotóxicos no Brasil. Publicado em outubro passado na Revista Ciência e Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o estudo correlaciona a redução na produtividade das lavouras de soja transgênica com o aumento do uso de agrotóxicos e de doenças. Clique aqui para acessar a íntegra. 
vicente pesquisa.jpg

Caça às bruxas

Outro autor da pesquisa, o epidemiologista Fernando Ferreira Carneiro, da Fiocruz Ceará, também tem sido vítima de perseguição. Em dezembro, a Abrasco divulgou nota em apoio ao cientista, alvo de críticas, constrangimentos e intimidação.
Em novembro, Carneiro foi notificado por meio de interpelação judicial movida pela Federação da Agricultura do Estado do Ceará (FAEC), questionando e solicitando esclarecimentos sobre os dados que apresentou em setembro de 2015, em audiência pública para debater os agrotóxicos e seus efeitos sobre a saúde e o ambiente. Os dados apresentados são do SUS e da Fiocruz do Ceará. A interpelação cita parte da entrevista concedida pelo especialista ao jornal O Povo, em que o pesquisador menciona a palavra "veneno". Para ler a reportagem, clique aqui.
Pelo jeito, na atual conjuntura, as relações do mercado com as instituições públicas de pesquisa e os conflitos de interesses vão trazer ainda muitas pressões, tentativas de censura e intimidações àqueles que fazem a ciência em defesa da vida.
Saiba mais:
 Assista ao documentário A Vida Não é Experimento:



Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz