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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

10.5.16

Precisamos falar sobre Sartori

10/maio/2016, 7h06min

Precisamos falar sobre Sartori (por Marcelo Danéris)

Abertura Safra Colheita da Vindima

No transe da crise nacional talvez você tenha esquecido algo importante: Sartori esta governando o estado. O então candidato sem programa e sem partido, que fazia piadas sobre professores procurando piso na Tumelero e citações filosóficas dos Simpsons, habita o Palácio Piratini há um ano e meio.

Logo após eleito, Sartori declarou, com a peculiar profundidade: "a ficha ainda não caiu" e "vamos fazer o que é preciso". Desde lá a ficha caiu, e ele faz o que é preciso, para quem não precisa. O ilusionismo político começa com a imagem obtusa que se deixa mostrar em público. Como um professor de filosofia, ex-vereador, ex-deputado estadual por cinco mandatos, ex-deputado federal, ex-secretário no governo Pedro Simon e prefeito por oito anos, seria tão desconexo? Ilusão! Com a engendrada aparência de desorientação, Sartori age nas sombras da crise e na ausência de compromissos de campanha.

Do "Meu Partido é o Rio Grande" não se teve mais notícias. Mas seu partido, o PMDB, levou onze (11) secretarias, sete (07) fundações, quatro (04) empresas públicas, um banco, e mais de 60% dos cargos em comissão. O restante foi dividido por um condomínio de 10 partidos aliados.

Nos primeiros dias de Palácio, ao ajeitar o quadro de Antônio Britto na parede, Sartori se viu refletido. Com a mesma intensidade do ex-governador, nutre pelo Estado o idêntico desejo de vê-lo mínimo. Atrasa e parcela salários dos servidores, pedala o pagamento de fornecedores, aumenta impostos, reduz recursos da educação, descumpre os 12% da saúde, abandona programas sociais e convênios com prefeituras, paralisa obras e manutenção de estradas, sucateia órgãos estaduais (EGR, Fepam, CEEE, Emater), limita o crédito, interrompe concursos. Um duro ajuste fiscal, para os outros, diga-se.

Do roteiro pré-estabelecido, acordado com poucos e omitido da maioria, Sartori errou a estratégia da dívida do estado com a União: não aproveitou o espaço fiscal da reestruturação da dívida – algo em torno de dois bilhões de reais –, e ainda assiste suas ações judiciais serem pedaladas pelo Supremo Tribunal Federal. Restou raspar a conta dos depósitos judiciais, que jurou não mexer!

Ao melhor estilo nonsense político, sugeriu aos servidores com salários atrasados "dar graças a Deus que têm estabilidade", e dançou alegremente na Expointer um dia antes de anunciar novo parcelamento salarial. Questionado sobre a crise do estado, leu frase de Albert Einstein sem citar o autor. Comédia e tragédia de um governo. Assim como Dilma, Sartori "pedalou", tem baixa popularidade e a economia está em crise. Nem por isso ruborizou ao justificar, em vídeo, a votação do impeachment da presidenta pela Câmara dos Deputados: "a paciência dos brasileiros passou do limite". No despudor, esqueceu-se dos gaúchos, e demonstrou uma paciência ilimitada com o correligionário Eduardo Cunha – antes, durante e depois da queda.

A população, ao abandono, assiste a tudo trancada em casa, com medo da violência, salários atrasados, serviços precários, estradas ruins, e quase sem ter a quem recorrer. Colunistas e jornais, antes implacáveis críticos, silenciam. Não há enigma: Sartori materializa aqui o mesmo projeto que desejam ver aplicado ao país. Das sacadas gourmet espera-se, em vão, o bater das panelas. A indignação é seletiva. Dos empresários, fiéis vigilantes do bolso, tão pouco. Adormece em algum lugar seguro, longe do impostômetro, a revolta com o aumento do ICMS.

Pode até não parecer, mas o governador e seus apoiadores, no embalo da crise nacional, já sonham com a reeleição como prêmio por cumprir o "dever de casa". Não é mais possível adiar: precisamos falar sobre Sartori.

.oOo.

Marcelo Danéris é cientista político, ex-secretário do estado.


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz