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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.1.15

A diferença entre o politicamente incorreto...

A diferença entre o politicamente incorreto do Charlie Hebdo e o politicamente incorreto de Gentili e derivados

Postado em 07 jan 2015

kCharb, mártir da liberdade de expressão

Charb, mártir da liberdade de expressão

Existem dois tipos de humor politicamente incorreto.

Um é destemido, porque enfrenta perigos reais. O outro é covarde, porque pisa nos fracos.

Os cartunistas do jornal francês Charlie Hebdo pertenciam ao primeiro grupo. Humoristas como Danilo Gentili e derivados estão no segundo.

Stéphane Charbonnier, o Charb, editor do Charlie Hebdo, disse uma frase sublime pela bravura e pela lucidez quando lhe perguntaram, algum tempo atrás, se não temia a vingança do fundamentalismo islâmico, depois de tantas charges sobre Maomé e de tantas ameaças.

"Prefiro morrer de pé a viver como um rato", afirmou ele.

Charb tinha um ponto: num país laico, liberto há muito tempo do que Rushdie definiu como "irracionalidade religiosa", era e é um absurdo não poder fazer sátiras sobre religião, qualquer delas.

Charb poderia recuar diante dos riscos. Mas, para ele e seus companheiros, isso equivaleria a viver como um rato.

Charb não conseguiria mais olhar para o espelho. Não se reconheceria, não se respeitaria.

Muitos absurdos são cometidos em nome da liberdade de expressão. Canalhas frequentemente a invocam com propósitos malignos e torpes.

Mas Charb verdadeiramente viveu — e morreu — pela liberdade de expressão. É justo tratá-lo como um mártir da liberdade de expressão, e reverenciá-lo enquanto existir alguma coisa parecida com jornalismo.

Os caricaturistas mortos não espezinharam minorias impotentes. O problema deles era com algo – o fundamentalismo islâmico – que os impedia de se expressar no mesmo tom que usaram tantas vezes para debochar de outras religiões.

Compare com a versão do humor "politicamente incorreto" de Danilo Gentili. Gentili é capaz de chamar uma mulata de "Zé Pequeno", e de oferecer bananas a um internauta negro cansado de suas piadas racistas.

Ele provoca e estimula o que existe de pior no seu público, e não surpreende que seja seguido por pessoas como ele – preconceituosas, analfabetas políticas, estúpidas.

A coragem do humor "politicamente incorreto" de Gentili seria testada na França, desafiando coisas como o fundamentalismo islâmico, a exemplo do que fizeram Charb e companheiros.

Alguém consegue imaginá-lo neste papel?

Nem ele mesmo provavelmente, porque a essência de seu "humor" é a covardia. Chute quem não tem chance de devolver.

O que pôde fazer a mulata chamada de "Zé Pequeno"? Sequer a Justiça no Brasil coíbe esse tipo de agressão racista.

Um juiz conseguiu não ver racismo, numa sentença que entrará para a história da infâmia jurídica nacional, quando Gentili ofereceu bananas a um negro.

Gentili também se especializou em fazer humor contra o governo do PT. É um exercício interessante pensar como ele usaria sua "criatividade" se a presidência estivesse sob Pinochet, por exemplo.

Quando você vê gigantes do humor politicamente incorreto como os cartunistas franceses assassinados hoje por fanáticos, reconhece também pigmeus como Gentili.

Uma revista deu a seguinte chamada de capa quando Lennon foi assassinado: "O dia em que a música morreu."

Você pode dizer agora, depois do fuzilamento bárbaro de Charb e companheiros: "O dia em que a charge morreu".

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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz