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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

19.1.09

Adital - O Brasil entre duas comemorações

19.01.09 - MUNDO
 
O Brasil entre duas comemorações

Marcelo Barros *

Adital -
 
A revista francesa Le Nouvel Observateur contém o olhar da elite do mundo e suas informações são comprovadas por uma equipe internacional de jornalistas. O número que saiu no Natal de 2008 veio com muitas informações sobre os países do chamado mundo dos pobres. O que mais me surpreendeu foi a reportagem principal da revista, o dossiê deste mês: uma grande reportagem de várias páginas sobre a solução que as empresas ricas encontraram para ajudar os países pobres. O título da reportagem é "20 milhões de hectares no mercado: os países pobres estão à venda". Assinado por um jornalista chamado Doan Bui, o artigo começa colocando o problema: "Como alimentar seu povo, quando se tem gente demais e poucas terras cultivadas? Basta procurar onde estas terras estão. É assim que a China, a Coréia do Sul e os Estados do Golfo se lançaram em uma verdadeira corrida à terra. Não estão interessados em comprar apenas colheitas inteiras. Compram regiões inteiras, em países nos quais o governo não tem como alimentar sua população.
 
O artigo continua contando uma espécie de leilão entre os ricos da terra: "Quem quer comprar o Sudão?". Eu compro o Kazakistão". E aí vêm as cifras espantosas: "A Indonésia vendeu 1, 6 milhões de hectares de terra para a produção de soja, cana de açúcar e arroz. O Congo vendeu um milhão de hectares à China. O Zimbábue vendeu 100 mil hectares para o mesmo governo chinês. Quase caí para trás quando vi o mapa da América Latina em vermelho e os dois países que mais venderam terra a investidores estrangeiros: A Argentina com 4, 5 milhões de hectares de terra vendidos e o Brasil com 2, 2 milhões de hectares adquiridos por estrangeiros, somente entre novembro de 2007 e maio de 2008. Suspeita-se que este número mais do que triplique se entrarem as terras vendidas a estrangeiros na Amazônia nos anos do governo Lula. O jornalista conta que os governos estão felicíssimos com o investimento ganho. Em alguns países tem surgido um pequeno problema que os investidores internacionais contam com o governo para solucionar: a resistência de um ou outro grupo minoritário de índios ou de lavradores sem terra que não aceitam deixar suas lavouras para a agroindústria avançada e atrapalham o progresso do país. Também, neste ponto, diz a reportagem, o país mais complexo é justamente o Brasil, porque existe um tal de "Movimento dos Lavradores sem Terra (MST)" que as multinacionais e a grande imprensa tentam há anos criminalizar, mas, infelizmente conta com o apoio e o crédito de vários organismos internacionais da ONU. Tendo recebido prêmios internacionais pelas vitórias que têm alcançado no campo da educação, este movimento é o único obstáculo para que o Brasil não seja vendido a empresas estrangeiras, amigas do governo brasileiro. 

Confesso que nunca imaginei ler um dossiê como este em uma revista internacional européia. Esta leitura dolorosa e espantada coincide com o convite que recebo para viajar ao sul e participar, junto de personalidades do Brasil e de outros países, das comemorações do aniversário de 25 anos do MST que, de fato, eu assessoro no campo da educação e da espiritualidade, desde o surgimento do movimento em 1984.

Atualmente, o movimento envolve em seus quadros mais de um milhão e meio de pessoas. Segundo os dados da FAO, organismo da ONU, são 350 mil famílias assentadas já com posse da terra adquirida e mais de cem mil acampadas, em situação precária e esperando a legalização do INCRA. Em todo o Brasil, o MST sustenta 400 associações de produção, comercialização e serviços. Coordena 49 cooperativas de produção agro-pecuária que atingem e ajudam a 2299 famílias, antes jogadas nas periferias de nossas cidades, sem perspectiva de vida e de futuro e, hoje, produzindo quase 70% da alimentação que chega às feiras de nossas cidades.  O prêmio internacional que o MST ganhou em Bruxelas foi por causa do sucesso das 1500 escolas públicas nos assentamentos. Elas atingem 150 mil crianças que estudam da primeira à quinta série. São 3500 professoras/es que dedicam suas vidas a esta causa e toda vez que passamos em um assentamento do MST, é bonito e comovente ver a organização das crianças e como participam de toda a vida da comunidade e, de fato, superaram aquela fase difícil em que a geração dos jovens não queria voltar ao campo e tinha dificuldade de acompanhar os pais. Ao ver em casa a comida na mesa e a terra não só como lugar de trabalho, mas de relação humana e de equilíbrio ecológico e familiar, a sedução da cidade é vencida.

Infelizmente, muitos brasileiros continuam preferindo celebrar a venda do Brasil às multinacionais do que a vida e a liberdade do nosso povo do campo. Infelizmente, quem não apóia a realidade dos lavradores, acaba sendo cúmplice da entrega de nossas terras aos estrangeiros. Que o MST complete mais 25 anos e Deus o abençoe e o conduza sempre.

* Monge beneditino e escritor
 
 

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz