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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

25.4.07

VIOLÊNCIA E ESTADO

São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007 FOLHA DE SÃO PAULO - TENDÊNCIAS/DEBATES
TARSO GENRO
Quando parte do povo aceita
como natural que grupos
privados dêem mais segurança
que o Estado, estamos
chegando no limite
O PODER soberano do povo, na democracia moderna, supõe que a Constituição é originária da sua vontade plena. Mas o povo é diverso, não constitui vontade única e o consenso -retratado na Constituição- é apenas uma trégua para novas mudanças na história. Esse artifício do gênio humano é a maior revolução política que a humanidade jamais produziu.
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A superioridade dessa construção -a vontade unitária do povo aceita como contrato político- é que abre o regime democrático para a exigência de mais democracia. Se a vontade unitária do povo é aceita racionalmente como um acordo engendrado pela razão (tornada contrato político), ela pode ser aperfeiçoada como fruto da própria razão (para promover melhores contratos políticos).
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A tentativa de instituir a pura vontade "de classe" ou da "nação" como origem do poder constituinte -como tentaram respectivamente a experiência dos sovietes e do fascismo- fracassou por muitos motivos. Como expressão do direito, porém, elas faliram porque, considerando a nova Constituição como expressão pura de uma classe ou da nação (e não como ficção consensuada no discurso jurídico), o direito constitucional fechou-se para qualquer evolução inspirada na diversidade real do povo.
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A regulação do poder do Estado democrático de Direito abrange necessariamente dois grandes níveis: a regulação para o exercício legal da violência preventiva e repressiva; a regulação de políticas sociais, econômicas, culturais, para que os cidadãos não precisem buscar o exercício arbitrário da violência privada para proteger seus interesses.
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O esforço que nosso país faz desde a Constituição de 88, no terreno da segurança, é sempre mais voltado para políticas repressivas tradicionais do que para políticas que interfiram sobre fontes sociais, culturais e psicológicas da violência e do crime. Já temos, porém, de governos de distintas posições políticas, programas positivos que abrangem os dois níveis de luta contra a violência e o crime, que devem ser universalizados.
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Quando pelo menos uma parte significativa do povo (aquele colegiado aberto que detém a soberania) começa a aceitar como natural que grupos privados lhe dêem mais segurança do que o próprio Estado, é porque estamos chegando no limite. É quando o monopólio da violência pelo Estado começa a ser deslegitimado e assim a violência, como fato "social-natural", tende a tornar-se uma norma não escrita. Pior: aceita como superior às leis originárias do poder constituinte do povo.
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Precisamos, para resgatar a confiança do povo no seu poder constituinte, de programas municipais, estaduais e federais, que integrem as políticas de segurança pública com as políticas sociais, e para isso é preciso, em primeiro lugar, ter "foco" determinado (o que não significa artesanato ou micro-experiências localizadas), "centro" em grandes áreas metropolitanas, sobre faixas etárias específicas (juventude) mais sensíveis e "prioridade social" para setores mais atingidos pela criminalidade, face a carências culturais e econômicas.
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Essas políticas devem ser cientificamente programadas pelos entes da federação, e à medida em que abrirem perspectivas de vida para milhões de jovens, darão um novo sentido democrático ao crescimento econômico e ajudarão a relegitimar a própria repressão ao crime. As medidas de natureza puramente policial são insubstituíveis, mas elas só incidem sobre o presente imediato.
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É natural, por isso, que elas tenham forte acolhimento na consciência média da cidadania e larga simpatia dos meios de comunicação. Lamentavelmente, no entanto, é previsível que, no máximo, elas mantenham a situação como está. A questão da segurança no Brasil já não é uma questão apenas de déficit de funcionalidade policial do Estado de Direito atual, como acentuou corretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Está em causa a própria aceitação da democracia como jogo aberto para todos e no qual todos, de algum modo, podem ser vencedores.
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TARSO GENRO , 60, é ministro da Justiça. Foi ministro da Educação, ministro da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República e prefeito de Porto Alegre pelo PT. É autor de "Utopia Possível" (Artes e Ofícios).

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz