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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

27.10.17

A religião matou Jesus e ameaça Francisco

A religião matou Jesus e ameaça Francisco

CEBI ⁄ Ecumenismo ⁄ A religião matou Jesus e ameaça Francisco
O teólogo espanhol José Maria Castillo escreve artigo no qual desnuda a oposição entre a religião e o ensinamento de Jesus:

"(…) se lemos e analisamos os evangelhos com atenção e detidamente, o que neles encontramos é algo que não apenas nos surpreende, mas nos desconcerta. Trata-se do desconcerto que nos produz o fato de que o conjunto de relatos sobre a vida e ensinamentos de Jesus deixa patente que a religião, como conjunto de leis e rituais, templos, altares e sacerdotes, não aguenta o Evangelho (Boa Nova) e, por isso mesmo, é incompatível com o Evangelho."

Ele denuncia: os que mataram Jesus são os mesmos que odeiam o Papa Francisco. "A estes, a religião é ótima."

Leia a íntegra a seguir (a tradução é de minha autoria – Mauro Lopes):

É curioso (e chama a atenção) o fato de que a palavra religião (thrêskeia), em seu significado óbvio de "serviço sagrado a Deus", não é mencionada no Novo Testamento. A palavra "religião" aparece na carta de São Tiago (Ti 1,26-27), mas para dizer que "a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisso: socorrer os órfãos e as viúvas em suas tribulações".

Como já se disse muito bem, o cristianismo, fundamentalmente, não exige um comportamento cultural especial  (W. Radl: Dic. Exeg. NT, vol. I, 1898). Para o NT, a "religião" como culto sagrado, liturgia, ritual ou conjunto de observâncias ou dogmas, não existe nem tem presença ou razão de ser. É um assunto do qual não se fala. Não se menciona uma só vez em todo o NT.

Porém não é isto o mais forte. O mais decisivo, neste assunto tão fundamental, é que, se lemos e analisamos os evangelhos com atenção e detidamente, o que neles encontramos é algo que não apenas nos surpreende, mas nos desconcerta. Trata-se do desconcerto que nos produz o fato de que o conjunto de relatos sobre a vida e ensinamentos de Jesus deixa patente que a religião, como conjunto de leis e rituais, templos, altares e sacerdotes, não aguenta o Evangelho (Boa Nova) e, por isso mesmo, é incompatível com o Evangelho.

Se algo é claro –e repetido tantas vezes nos evangelhos- é que os homens da religião não aguentaram o Evangelho de Jesus. E não o suportaram porque os homens da religião viram, no Evangelho de Jesus, um perigo e uma ameaça de vida ou morte.

Foi o que se viu no Conselho Supremo (Sinédrio) quando os dirigentes religiosos viram que o projeto de Jesus centra-se na defesa da vida, como ficou evidente quando Jesus devolveu a vida a Lázaro (não que o tenha "ressuscitado" para a "outra vida", mas  o fez recuperar "esta vida").  O projeto dos homens da religião, por seu turno, é defender e manter seu templo, seus ritos e normas, suas dignidades e privilégios, seus poderes sobre o povo (Jo 11, 47-53).

Isto explica por que Jesus pôs sempre em primeiro lugar a cura dos doentes, a presença com os pobres, os pequenos, os pecadores e a todo tipo de gente depreciada e rechaçada pelos dirigentes religiosos. Esta foi a prioridade de Jesus, quebrando as normas da religião, enfrentando seus sacerdotes e atuando com violência contra aqueles que utilizavam o templo como negócio até convertê-lo num covil de bandidos.

Como é lógico, a sequência prolongada de enfrentamentos acabou como era previsível e inevitável naquela sociedade: a religião matou Jesus.

É possível dizer com mais clareza que a a religião é incompatível com o Evangelho?

Porém, se isso é assim, como se explica que, neste momento e durante tantos séculos, a religião tenha estado mais presente que o Evangelho na Igreja e na sociedade?

A resposta é: a religião confere poder, importância, fama, enquanto o Evangelho é vivido a partir da fragilidade, do que é marginalizado e excluído. Por isso, a religião faz você viver em segurança, enquanto o Evangelho (vivido de verdade) obriga-nos a viver na insegurança.

Tudo isto foi se transformando na vida da Igreja. E por isso, nela, debilitou-se o Evangelho e se foi potencializando a religião. Já no século II, o clero separou-se e se sobrepôs aos leigos. No século IV, com a suposta conversão de Constantino, a Igreja passou a receber privilégios. A partir de Teodósio, em 381, além de privilégios, também passou a receber dinheiro. Os ricos começaram a entrar em peso na Igreja, em geral para cumprir com funções de liderança como bispos e escritores cristãos (Padres da Igreja e teólogos). A Igreja organizou-se e geriu-se a partir dos ricos e poderosos (Peter Brown, "Por el ojo de una aguja", pg. 1034).

Assim é que a Europa ficou marcada pela religião cristã, mas muito longe do Evangelho de Jesus.

Por mais estranho que pareça, agora mesmo estamos uma situação inesperada, uma oportunidade. A religião está aos pedaços e afunda. É verdade que há casos em que a política, o nacionalismo, a riquezapretendem suprir o vazio da ausência da religião (cf. Juan A. Estrada).

Porém, mais forte e determinante é o anseio, o desejo de recuperar os valores evangélicos: que haja vida, humanidade, felicidade para todos. Nem a política, nem a tecnologia, nem a religião respondem a este anseio mundial, a este grito da terra, que a cada dia se faz mais forte e mais insistente. É a voz do Papa Francisco, o grande líder mundial que surgiu inesperadamente, tão mais presente quanto mais odiada por tantos clérigos (e seus acólitos), que, como os fariseus antigos, não suportam o Evangelhos. A estes, a religião é ótima.

Fonte: Traduzido por

Imagem em destaque: Ícone da Comunidade da Trindade, S. Salvador da Bahia, Brasil.

https://cebi.org.br/2017/10/26/religiao-matou-jesus-e-ameaca-francisco/



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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz