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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

21.12.16

Um olhar sobre Aleppo (por Sanjay Kapoor)

21/dez/2016, 0h10min

Um olhar sobre Aleppo (por Sanjay Kapoor)

A mídia ocidental finge que não vê. Mas a libertação da cidade — semi-tomada durante quatro anos pelos fundamentalistas — tem sentido humanitário, muito mais que geopolítico.

Por Sanjay Kapoor, do Hard News, de Delhi | Tradução Cauê S. Ameni | No Outras Palavras

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Observando através do prisma da história foi, sem dúvida, um blitzkrieg. Em alguns dias, o distrito oriental de Aleppo, que estava sob a ocupação de uma miríades de radicais islâmicos, derreteu como uma vela com a enorme pressão montada pela coalizão conjunta entre Exército Árabe Sírio, força aérea russa e milícias do Hezbollah.

O sucesso veio em grandes passos: a área da ocupação pelas tropas leais a Bashar Assad aumentou de 68% para 85% em uma semana e, ao fim, para 98%. É neste ponto que a mídia ocidental, após romancear a resistência dos islâmicos radicais – incluindo Abu Sakkar, que posou em frente as câmeras comendo os corações de soldados sírios –, começou a exigir que as forças ocidentais deveriam entrar para parar o "genocídio" de 200 mil pessoas presas na enclave sob o controle dos milicianos. Os russos, atacados na Assembléia Geral da ONU pela embaixadora norte-americana Samantha Power pela crueldade com que teriam matado crianças, concordou com o cessar-fogo e uma saída controlada dos rebeldes para Idlib e outras áreas.

A vitória é muito relevante para o presidente sírio Bashar Al-Assad, cujo controle agora estende-se por todas as grandes cidades da Síria, exceto Idlib. Aleppo também é significativa por ser a capital comercial do país, metodicamente devastada pelas milicias ao desmontarem as fábricas e a infraestrutura e transportaram a pilhagem para a vizinha Turquia. Apesar de metade da cidade ter sempre permanecido sob controle do governo, o retorno dela toda ao controle das forças pró-Assad permite que o governo comece a pensar na possibilidade de reconstruir o país, uma vez que a guerra termine.

No entanto, é improvável que a paz, entretanto se restabeleça em breve, se a recapturada da cidade histórica de Palmyra pelo ISIS se consolidar. Há vastos interesses globais e regionais que não querem ver a estabilidade neste país até que seus interesses geoestratégicos sejam alcançados. A queda de Aleppo e a recaptura subsequente de Palmyra são manifestações sérias da disputa de influência que está ocorrendo na Síria, entre o Ocidente, a Rússia e o Irã. O que realmente agrava o conflito é a manifestação desesperada das forças apoiadas pelos EUA e seus aliados para derrubar o Assad ou fazer algo militarmente dramático que impeça o novo presidente norte-americano de mudar o cenário no Oriente Médio.

O presidente recém eleito dos EUA, Donald Trump, é considerado próximo ao Vladimir Putin e culpou sua concorrente e ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, por ser responsável em grande parte pelo que está acontecendo no Oriente Médio. Espera-se que, nos círculos árabes e iranianos, que Trump mude a forma como os EUA vem conduzindo a política internacional nesta região. Isso pode reduzir a influência norte-americana. Ainda mais importante é o fato de Rússia e Irã tenham aniquilado as milícias fundamentalistas, sustentadas durante muito tempo pelos governos da Arábia Saudita, do Qatar, além dos britânicos e turcos.

De fato, ao longo dos anos, tem havido tanta documentação sobre a cumplicidade desses países, sustentando essa ocupação terrível, que a mídia ocidental preocupa-se apenas em influenciar a opinião da ONU e outros organismos multilaterais. O que esta mídia recusa-se a reconhecer é que o exército sírio estava tentando recapturar e libertar uma cidade que fazia parte de seu próprio país e havia sido ocupada por fundamentalistas, mercenários e o pior tipo de desgarrados de diferentes países. Através de seus comentários agressivos e reportagens distorcidas, buscaram dar legitimidade a forças destrutivas.

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A mídia ocidental, incluindo venerável The Guardian, sequer relatou a alegria incontida que o povo de Aleppo exibiu após a libertação do controle dos jihadistas, que exigiam até que os homens usassem barbas e mulheres vestissem véus. A maneira como a verdade era distorcida rotineiramente deveria ser assunto de investigação. O que não se relatou durante todos esses anos foi que o povo de Aleppo – em grande parte uma comunidade mercantil, não tinha nada a ver com a rebelião. Quando fui a Aleppo em 2011, alguns meses depois da rebelião confusa em Deraa, testemunhei um apoio maciço ao presidente Assad.

Naquela época, a cidade era vista  como sua fortaleza. As pessoas diziam que se Damasco se tornasse hostil ao presidente, ele poderia se refugiar em Aleppo. Falavam com repugnância sobre as pessoas que estavam tentando provocar conflitos. culpavam o o Qatar, os sauditas e os turcos por incentivar a divisão do país. Muito em Aleppo foi destruído durante estes quatro anos. Será preciso uma paz duradoura e bilhões de dólares para reconstruir tudo. É improvável que o velho Souk — o mercado aberto de treze quilômetros –, queimado por militantes insanos, ou as antigas casas otomanas, voltem a existir. O que provavelmente poderia sobreviver a esta guerra suja, porém, é a cidade que, apesar de estar carbonizada e danificada, ainda carrega orgulho frente Pa devastação da guerra.

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Sanjay Kapoor é um jornalista indiano.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz