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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

14.11.16

O Brasil ficou menor, injusto, menos democrático e irrelevante...

EMIR SADER
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros




Bastaram poucos meses para que o governo golpista dissesse a que veio: a desmontar o que de melhor havia sido feito neste século, no Brasil. O Estado brasileiro está sendo reduzido às suas proporções mínimas, deixando de garantir o patrimônio público, os direitos sociais, a soberania internacional.

Tudo que o governo toca, ele reduz, ele transforma em irrisório, em medíocre, em intranscedente. De país respeitado pelo combate à fome e às desigualdades, rapidamente retornamos a país da exclusão social, que não deixa passar dia sem que se tirem dezenas de milhares de bolsas famílias de pessoas pobres, sem que percam o emprego milhares de trabalhadores, sem que a imagem externa do Brasil se deteriore cada vez mais, sem que um politico alçado por um golpe à presidência, degrade ainda mais sua imagem pública.

Em pouco tempo em termos de calendário, o país voltou a se tornar cada vez mais desigual, mais injusto, mais excludente. O governo instaurou a norma da imoralidade, no seu comportamento e na composição da gangue que o compõe.

Em poucos meses o striptease do Judiciário e do Legislativo nos fizeram ver que não apenas a democracia foi gravemente ferida, mas também as instituições republicanas. A Câmara, o Senado, o STF, tornaram—se farsas de poder legislativo e judiciário.

A equipe econômica se encarrega de tratar de reduzir o país à dimensões de um mercado controlado pelo capital financeiro – a que pertencem seus membros. Tudo o que se decide vai na direção de tirar direitos das pessoas e favorecer o capital especulativo. Volta-se a um acelerado processo de concentração de renda e de exclusão social.

Instaurou-se um governo de vingança contra os que haviam tido reconhecidos seus direitos. Dos que têm pouco, se tira tudo o que se possa. Aos que têm tudo, se lhes concede as melhores condições para que enriqueçam mais.

São seis meses em o Brasil não é levado em conta, interessa apenas o mercado. Em que o país, a nação brasileira, a sociedade brasileira, são reduzidos às dimensões do duro ajuste fiscal.

Os direitos dos cidadãos são atingidos diariamente, como trabalhadores, como estudantes, como professores, como mulheres, como jovens, como negros. O Estado renuncia, todos os dias, às suas responsabilidade de cuidar do patrimônio nacional. Dia sim, dia não, aquele que usurpa o cargo de presidente da Petrobras, rifa o patrimônio brasileiro, entregando-o nas mãos das grandes corporações internacionais, ao mesmo tempo que anula os 10% para educação e saúde que o Brasil tinha democraticamente conquistado.

É uma horda de aventureiros que, galgados ao governo por meio de manobras ilegais, sob os olhares cúmplices e silenciosos do Judiciário, com a opinião publica forjada pelos monopólios privados dos meios de comunicação, assaltam o país, para desnacionalizar a economia, desarticular o Estado, desfazer os direitos sociais da grande maioria, enlamear a imagem do Brasil no mundo.

Foram alguns dos piores meses da história do Brasil, pelo tamanho da agressão à democracia, pelos retrocessos sociais, pelo espetáculo imoral e sem pudor que ministros e parlamentares governistas dão diariamente. Tudo o que de melhor o Brasil havia conquistado neste século, está sendo colocado em questão, condenando o país ao retorno ao Mapa da fome e ao FMI, à triste condição de país mais desigual do continente mais desigual. O que havia de confiança no Judiciário foi dilapidado, pelas perseguições políticas e pelo perdão aos golpistas e corruptos que se assenhorearam do Estado e o assaltam como botim.

Quando o povo brasileiro conseguir recuperar seu legítimo direito democrático de decidir seus destinos, não será complacente com os responsáveis pela destruição da democracia, do patrimônio público, dos direitos sociais e da soberania nacional. Sejam eles políticos, juízes, donos dos meios de comunicação – serão todos investigados e condenados pelos danos gravíssimos que impõe hoje, por meio de um golpe, ao país. Uma nova Comissão da Verdade se encarregará de fazer justiça à democracia, aos direitos dos trabalhadores, às políticas sociais, à dignidade externa do Brasil.

O povo, conduzido por seus lideres democráticos, voltará a demonstrar que o Brasil é muito maior do que aquilo a querem reduzir. Que o potencial do país não requer essa dilapidação do patrimônio público mas, ao contrario, seu fortalecimento. Que distribuir renda permanentemente não é somente justo, como alavanca para a retomada do desenvolvimento. Que o Brasil não pertence aos que o degradam, mas ao seu povo, que derrotou a ditadura militar e derrotará esta nova ditadura.




IMPOSITOR

Um governo inimigo da educação

Ao desconsiderar a possibilidade de debater as reformas que propõe para o ensino médio, gestão Temer confessa que a medida não resistiria a questionamentos e mobilizações populares
por Emir Sader publicado 13/11/2016 13:01
@JORNALISTASLIVRES
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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ) considerou, razoavelmente, que a Medida Provisória de Reforma do Ensino Médio (a MP 746) deveria ser objeto de discussão e aprovação no Congresso. Mas Mendonça Filho, o ministro da educação (assim mesmo, com letras minúsculas), achou um absurdo e disse que nem considerava essa hipótese.

Uma reforma que modifica profundamente o currículo do ensino médio em todo o país é objeto de decreto por um ministro (assessorado por Alexandre Frota) sem qualquer tipo de discussão com os professores, com os estudantes, com toda a comunidade acadêmica.

Ao desconsiderar a possibilidade de debate parlamentar sobre o tema, o ministro confessa que a medida não resistiria a questionamentos, a argumentos, a mobilizações populares pressionando os parlamentares.

Seu caráter intrinsecamente autoritário só poderia ser admitido realmente por meio de uma medida provisória e as alegadas urgências para a edição de MP neste caso, não se justificam.

As reações não se fizeram esperar. Num estado considerado conservador como o Paraná, quase mil escolas foram ocupadas pelos estudantes secundaristas, rejeitando a medida provisória e a PEC 55 (antiga 241, quando tramitava na Câmara), a do teto de gastos públicos, agora no Senado. Uma onda formidável, com alto grau de consciência e consistência – de que o discurso da menina Ana Júlia foi o melhor exemplo – se alastrou por vários estados do país, chegou aos professores e aos estudantes universitários, com grandes manifestações de rua.

Um governo golpista como este só poderia ter a educação como inimiga. Um governo que fatia e vende o pré-sal aos pedaços e, com isso, liquida, além do patrimônio energético nacional, também com os 7% do pré-sal para a educação e 3% para a saúde, recursos que Dilma qualificou de "nosso passaporte para o futuro". Um governo que corta vagas nas universidades públicas, reduz os recursos para a educação com a PEC do teto, coloca polícia para desalojar estudantes das escolas públicas e reprime manifestações de professores é um governo inimigo da educação.

Porque a educação pública é o espaço que pode promover consciência social dos estudantes, o governo tenta suprimir do currículo do ensino médio justamente as disciplinas que permitem aos jovens desenvolver uma reflexão independente. Porque são dimensões da educação que têm a ver com a emancipação, com a solidariedade social, com o conhecimento do mundo tal qual ele é e de como os jovens se situam nesse mundo.

As ações do governo contra a educação são parte da política de blindagem do governo golpista, de tentativa de bloqueio, através dos meios de comunicação, do significado do golpe e das ações do governo golpista. Os professores, os estudantes, a comunidade educacional, são espaços de conhecimento crítico, de compreensão racional da realidade, de desenvolvimento de valores de respeito ao outro e à diversidade, de reconhecimento dos direitos de todos.

Mas a precipitação e a forma troglodita de tentar legislar sobre a educação podem fazer com que o governo Temer tenha, na medida provisória de reforma do ensino médio, sua primeira grande derrota. A reação inicial dos estudantes e dos professores, o apoio que recebem da sociedade – exceção à mídia tradicional, que insiste em tentar manter o movimento o mais invisível possível –, a sensibilidade das pessoas em relação à importância da educação, são fatores que podem levar o governo a ter que recuar no conteúdo ou, pelo menos, enviá-la ao Congresso como projeto de lei.

E pode, perfeitamente, fazer com que a matéria não seja aprovada pelos parlamentares, ou ter que aceitar que mudanças profundas sejam feitas em relação à sua versão inicial.

Dificilmente o ministro da educação, que se jogou inteiro nessa MP, rejeitando até sua discussão no Congresso, sobreviverá, se de tal forma venha a ser desautorizado, com sua ofensiva inicial rejeitada ou muito transformada.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz