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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

2.7.15

Golpe: a derrubada em marcha

28/06/2015 00:00 - Copyleft

Golpe: a derrubada em marcha

Dê-se a isso o nome que se quiser. Estamos em meio a um processo de derrubada do governo da Presidenta da República, Dilma Rousseff.

por: Joaquim Palhares - Diretor de redação 

reprodução

Todos sabemos qual é a hora congelada no relógio da história brasileira neste momento.
 
Certamente não é hora de reiterar platitudes.
 
Ou de repetir lamentos, ainda que justos, pertinentes. Tampouco de replicar constatações.
 
Todas as constatações que de forma procedente apontam a cota de equívocos do governo e do PT na crise atual já foram feitas. Não será a sua reiteração que levará o partido assumi-las ou equaciona-las.
 
Os fatos caminham à frente das ideias: a história apertou o passo.
 
A dinâmica política assumiu a vertiginosa transparência de um confronto em campo aberto no país.
 
Trata-se de escolher um dos lados e tomar posição para o combate. Este que já começou e avança de forma acelerada.
 
É o seu desfecho que decidirá o aluvião das pendências, críticas, autocríticas, repactuações, concessões e escolhas estratégicas que vão modelar o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.
 
De um modo direto: o desfecho desse confronto vertiginoso reflete uma correlação de forças que se esgarçou e caminha para um novo ponto de coagulação na forma de um outro arranjo de poder.
 
Qual será esse ponto?
 
Depende do discernimento histórico, do sentido de urgência e da capacidade de articulação das forças progressistas nessa hora decisiva.
 
Estamos em meio a um processo de derrubada do governo democraticamente eleito da Presidenta da República, Dilma Rousseff.
 
Dê-se a isso o nome que se quiser.
 
Todos aqueles ensaiados pela direita latino-americana nos últimos anos:  golpe constitucional; derrubada parlamentar; golpe em câmera lenta. Ou as marcas de fantasia da mesma ofensiva, todas elas embrulhadas no rótulo de uma peculiar luta anticorrupção.
 
A singularidade dessa maratona ética é ter o PT como único grande alvo; Lula como meta antecipada, a mídia como juiz do domínio do fato e a consagração do financiamento empresarial como a nota de escárnio e desfaçatez a desnudar toda lógica do processo.
 
Tudo isso já foi dito pelos canais disponíveis, que não são muitos, e dentre os quais Carta Maior se inclui com muito orgulho.
 
Vive-se um adestramento da resignação brasileira para o desfecho golpista deflagrado no processo de reeleição de Lula, em 2005/2006, quando ficou claro que a direita brasileira não tinha capacidade de voltar ao poder pelas urnas.
 
Passo a passo vem sendo cumprido desde então o objetivo histórico a que se propôs a elite brasileira e internacional.
 
Trata-se de um objetivo ancorado em três metas:
a) desqualificar o Partido dos Trabalhadores e tornar suas lideranças sentenciadas e inelegíveis;
 
b) inviabilizar, levar ao impeachment o governo da Presidenta Dilma; e
 
c) desmontar e fazer regredir todos os avanços populares obtidos na organização da economia, do mercado de trabalho, das políticas públicas e sociais e da soberania geopolítica.
 
Em uma palavra: completar o trabalho iniciado no ciclo de governo do PSDB nos anos 90, com o desmonte do Estado, a regressão dos direitos sociais democráticos e a substituição desses direitos por serviços pagos, acessíveis a quem puder compra-los.
 
A crispação da escalada, agora aguda, valeu-se de um componente da correlação de forças intocado em todos esses anos naquele que talvez tenha sido o erro superlativo dos governos liderados pelo PT: a hegemonia do aparato comunicação nas mãos da direita brasileira.
 
Esse trunfo sabotou cada iniciativa do projeto progressista e coordenou o cerco que ora se fecha.
 
Alimentou, ademais, a disseminação do ódio na opinião pública, que se expressa na agressividade inaudita observada nas redes sociais desde a campanha de 2014.
 
É nessa estufa de preconceito e ódio de classe que brotam os esporos da ofensiva fascista, traduzida na escalada em curso.
 
Inclui-se nessa espiral as agressões públicas a ministros e ex-ministros de Estado, o ataque à reputação de lideranças progressistas e a de seus familiares, a onda de boatos e acusações infundadas contra o governo, as lideranças petistas e populares; enfim, o adestramento progressivo e diuturno do imaginário social para a aceitação passiva, ou engajada, da derrubada do governo da Presidenta Dilma.
 

Iludem-se os que confundem esse aluvião tóxico com a expressão da banalidade do mal.

É de luta de classes que estamos falando, não de Hannah Arendt.

 
É de intolerância fascista a pavimentar a derrubada de um governo escolhido por 54 milhões de brasileiros.
 
Os que pautaram o grito de 'escravo' no desembarque dos cubanos engajados no 'Mais Médicos', agora conduzem o jogral que grita 'corruptos e impeachment'.
 
Não sejamos ingênuos.
 
É curta a ponte que leva o ódio antipetista a se propagar em ódio anticomunista,  em intolerância religiosa e desta para a demonização da livre escolha sexual e daí para a higienização social.
 
Em nome do combate ao crime e à violência ultimam-se as providências legais para lotar penitenciárias com adolescentes pretos e pobres.
 
Quando uma sociedade simplesmente interna o seu futuro assim, em jaulas, qual futuro reserva a sua gente?
 

O futuro urdido no intercurso entre a intolerância fascista e a livre mobilidade dos capitais --cuja persistência impede qualquer projeto de desenvolvimento-- é o que a direita defende para o Brasil pós-PT, pós-Lula e pós-Dilma.

É esse o programa da derrubada em marcha do regime democrático brasileiro.

 
Não errará quem encontrar pontos de identidade com outras escaladas em curso na política latino-americana, marmorizada  de redes sociais, movimentos e  lideranças jovens treinados e financiados por fundações de extrema direita dos EUA. Os novos  braços privados da CIA e do Departamento de Estado.
 
O processo que ora avulta na caçada ao PT culminará com a caça a todo e qualquer desvio à norma de conduta que determina a subordinação esférica da sociedade à lógica rentista local e global.
 
Carta Maior nasceu como um espaço de reflexão da intelectualidade progressista brasileira.
 
Seu compromisso explícito com a construção da democracia social  torna-a um veículo imiscível com os valor que ordenam a derrubada em marcha do governo Dilma –em relação ao qual sustenta um apoio crítico claro e independente.
 
Elegemos uma prioridade diante das provas cruciais que nos impelem –os progressistas , democratas e nacionalistas sinceros—ao engajamento nesse divisor que se aproxima.
 
Exortamos os intelectuais a irem além do debate convencional.
 
Estamos propondo a incômoda operação de concretizar o geral no particular.
 
Trata-se de uma exortação à Universidade pública, para que ela volte a ser um ator do desenvolvimento. E não apenas um cronista da crise. Ou um coadjuvante do mercado.
 
Não basta mais produzir manifestos contra os golpistas.
 
É preciso afrontar o projeto de país embutido no golpe com um outro projeto.
 
E, sobretudo, com um outro método de escrutiná-lo .
 
Estamos exortando a universidade brasileira a se declarar uma trincheira em vigília permanente contra a derrubada do governo da Presidenta Dilma Rousseff.
 
E de fazê-lo transformando essa trincheira na rede da legalidade dos dias que correm.
 
Uma rede debruçada no debate do projeto de desenvolvimento que rompa os gargalos e as subordinações responsáveis pelo impasse atual.
 
E que transforme em práxis anti-golpista a costura das linhas de passagem do Brasil que somos, para o país que queremos ser.
 
O desafio de vida ou morte nesse momento consiste em restaurar a transparência dos dois campos em confronto na sociedade.
 
Na aparente neutralidade de certas iniciativas pulsa a rigidez feroz dos interesses estruturais que impulsionam a derrubada em marcha do governo.
 
A universidade pode, deve e precisa assumir a sua cota como um solvente, capaz de devolver à sociedade a clareza sobre as escolhas em confronto agudo nas horas que correm.
 
É essa urgência que CM quer compartilhar com a comunidade universitária, à qual se oferece como um canal de expressão democrático e progressista.
 
Mãos à obra.


http://cartamaior.com.br/?/Editorial/Golpe-a-derrubada-em-marcha/33845


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz