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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

2.12.13

“Racismo? O que eu tenho a ver com isso?” | Revista Fórum

02/12/2013 11:38 am

"Racismo? O que eu tenho a ver com isso?"

"Fui convocada e como tal aceitei e vou fazer o meu trabalho. O que eu tenho a ver com isso? Só porque eu sou branquinha?", afirmou Fernanda Lima, que vai apresentar o sorteio da Copa 2014

Por José Renato Baptista, no Racismo Ambiental 

Fernanda Lima entre Cafu e Neymar (Foto: Fifa.com)

Só porque eu sou branquinho? Eu pago as minhas contas e meus impostos. O que eu tenho que ver com o racismo? Aliás, onde vocês estão vendo racismo? As pessoas falam estas coisas porque podem ficar anônimas.

Não, eu não estou anônimo. Meu nome é José Renato Baptista. Sou antropólogo e professor universitário.

Então, eu posso confortavelmente falar sobre este assunto. Eu levanto bandeiras. Várias. Contra as injustiças, contra a desigualdade, contra o preconceito. Eu não acho que as coisas não tem a ver comigo. Eu me comprometo com elas. Não tenho uma "imagem pública", mas uso o espaço público: leciono, dou palestras e conferências, exponho as minhas ideias. Não crio polêmicas porque posso me defender com o anonimato. Polemizo pelas coisas que acredito, porque quero construir uma sociedade e um mundo mais justo.

Então, respondendo à fala da "atriz"/apresentadora Fernanda Lima, eu digo que sim, você tem tudo a ver com isso. Você que não se questiona, que não se pergunta, que acha que não é com você, você tem tudo a ver com isso. E sim, porque você é branquinha. Porque você ocupa um lugar histórico de opressão neste país há mais de 500 anos. Porque você tem privilégios concedidos pela sua condição de cor há séculos. Ignorar isto é fingir que o mundo é cor de rosa e as relações são fraternas, quando o conflito existe e ameaça e afeta a todos nós, brancos, pretos, quase pretos e brancos pobres que de tão pobres são quase pretos. Ignorar que neste país ser branco, sobretudo nos meios de comunicação, é uma forma de obter privilégios, é como disse uma amiga, virar a cara para o lado, para não ver um elefante no meio de uma kitchenette.

É fingir que não ocorre em nosso país o extermínio continuado de jovens negros, posto que das vítimas de homicídio no Brasil, em cada dez sete são negras. Fingir que não sabe que negros recebem menores salários e tem menos postos de comando e direção na iniciativa privada. Fingir que não sabe que o tempo escolaridade de negros e pardos é inferior ao dos brancos.

Sim, Fernanda, você pode querer não enxergar isto. E achar que é só mais uma polêmica. É justo reconhecer que você, como disse, trabalha há seis anos com a FIFA e, portanto, não tem nada com isso. Mas sim, Fernanda, você tem tudo a ver com isso e tem a ver com a negação histórica da imagem do país. Um país que estabeleceu em sua história políticas públicas visando "embranquecer" a população. Você pode ignorar isto, sim, mas infelizmente, tomando conhecimento não pode negar e dizer que não tem nada com isso.

Fernanda, você pode se achar uma das pessoas mais gentis e atenciosas do mundo, e talvez no trato pessoal até seja. E sim, talvez seja apenas uma invenção de um jornalista. Mas pega mal Fernanda. Pega mal porque reflete toda uma história de racismo de um país que teima em não se ver como racista. Pega mal porque somos o país onde existe discriminação, mas ninguém se assume como racista ou que discrimina alguém. Pega mal porque você reforça uma imagem e um estereótipo racista, uma visão do país "mestiço", mas que se enxerga como "branco" (ou "branquinho", se preferir).

Não acho que você deva recusar um trabalho que você conquistou, como diz, há seis anos atrás. Mas convido você a refletir que, às vezes, pode estar muito mais coisa em jogo do que o fato de você "ser branquinha". Fica o convite à reflexão.

http://revistaforum.com.br/blog/2013/12/racismo-o-que-eu-tenho-a-ver-com-isso/

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz