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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

7.8.11

F.U.R.T.O :: Marcelo Yuka ::

Furto também conhecida como F.U.R.T.O. (sigla para Frente Urbana de Trabalhos Organizados) é uma banda brasileira criada por Marcelo Yuka, ex-baterista da banda O Rappa, que segue o mesmo estilo musical e ideologia que consagrou O Rappa. A primeira apresentação da banda ocorreu na edição de 2004 do Tim Festival, em São Paulo. Os estilos da banda alternam entre rock, punk rock, reggae e hip hop, mantendo a tendência dos anos 1990, misturas de ritmos e conclusões.

Juntamente com sua sede de justiça social, Marcelo também ampliou, e muito, seus conhecimentos sobre efeitos eletrônicos. Depois de bolar uma nova linhagem musical, Yuka se juntou com um grande time para gravar um novo disco, Sangue Audiência, lançado pela Sony-BMG.

Com Maurício Pacheco, do ex-MulheresQueDizemSim e StéreoMaracanã na guitarra; os pernambucanos Garnisé, saído do grupo FacesdoSubúrbio, na bateria, e Jamilson da Silva, o Jam, na percussão, Marcelo Yuka gravou seu caldeirão explosivo, com letras viscerais e provocadoras misturadas a uma grande variedade de ritmos brasileiros.

Ao primeiro impacto, Sangue Audiência parece um emaranhado de efeitos eletrônicos, samplers e compilações dentro de um discurso caótico com uma metralhadora giratória disparando para todos os lados. Mas depois de uma análise cuidadosa, percebe-se que se trata de um estilo inovador dentro de um gênero consagrado.

Questionamentos, participações especiais e MST são o forte do trabalho. Músicas como Ego City, na qual a letra se pronuncia como o retrato real da burguesia carioca (“Carros à prova de bala / Com vidros à prova de gente”) mostram que Marcelo Yuka continua com sua língua inteligentemente afiada.

As excelentes participações especiais de Marisa Monte em Desterro, Manu Chao em Todos Debaixo do Mesmo Sombrero e B Negão em Gente de Lá mostram como Yuka angariou prestigio e como sua capacidade de fazer boas escolhas também está bem aguçada.

Mas Marcelo dá o tiro de misericórdia na hipocrisia quando finaliza o CD com a espetacular Verbos à Flor da Pele, onde sampleia de forma ímpar um discurso de João Pedro Stédile, coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST).

Autor de alguns dos maiores hits contestatórios do Rappa, como Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro e Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero), Yuka prova com Sangue Audiência que continua, de uma outra forma, com a caneta e a musicalidade afiadas.

 

 

Verbos À Flor Da Pele

Latifundiário escravagista ou os dois ao mesmo tempo
De norte a sul como pragas
Alastrando a fome que acampa em quilombos ambulantes
Na beira da pista é morte na pista na lista de morte
Dos modernos capitães do mato
Dos modernos capitães do mato
Na Palestina verde enxadas lutam contra armas
Na Palestina verde enxadas lutam contra armas
Organizando a necessidade de cantar
Uma mística maior
É preciso plantar
No chão do céu da boca
Verbos à flor da pele

 

Entre O Conflito E a Indecisão

Não se preocupe comigo
Mas eu não volto mais pra casa não
Não se preocupe comigo, mas com o que me aconteceu
Eu sumi e eles podem levar um outro filho seu
Sem corpo, sem prova,
Sem prova, sem crime
O sal da lágrima fica no gosto que é o costume da língua
Em duas falas diferentes
Mães de Acari, da Praça de Maio
e outras tantas por aí
Entre o conflito e a indecisão
As vítimas não encontradas somos todos nós
Que não demos adeus
nem rezamos nos cemitérios clandestinos da justiça
Não se preocupe comigo
Mas eu não volto mais pra casa não
Eu que talvez esteja mais próximo que pareça
Vago no umbral da vida ou nas lembranças da beleza
Não sei se virei fim ou me perdi em mim
Mas, nessa expressão posso ser história em recomeço
Psicografado, nunca esquecido ou requerido
Não se preocupe comigo
Mas com a época que devora caminhos e destinos
Com tanta pressa
Apagando rastros que nos ensinam e nos permitem voltar
Não se preocupe comigo
Mas eu não volto mais pra casa não

 

Todos Debaixo Do Mesmo Sombrero

Do Ai 5 ao 11 de Setembro chileno
Do Sendero Luminoso
Aos filhos encapuzados de Sandino
Depois de tantos planos tramados
Nas pastas de Kissinger
E em tantas fardas cegas
Que continuam a temer uma terra
Afro-latina e Ameríndia
Tão sugada quanto resistente
Tão sugada quanto resistente
Democracia sem dentes é o nosso presente
Fingindo não ter mais senhor
Vários generais exilados na velhice
ainda sonham com o corpo daquela jovem que se foi
porque não dedurou ninguém
Depois do sumiço dos meus ancestrais
Depois do sumiço dos meus pais
Aquelas utopias começam a ver sinais
Nos vemos nas ruas
quase em tempo real
Ressuscitando fantasmas
que pareciam ter virado fast-food globalizados
Tiros de festim ou uma lenda inesquecível de paixão
Depois do sumiço dos meus ancestrais
Depois do sumiço dos meus pais
A tão usada foto de Che
ainda tem força pra sugerir
que sempre é hora de sermos mais inteiros
Todos de baixo do mesmo sombrero

 

Desterro

Um nordestino de nome Jesus
Procurado noite e dia em São Paulo
Hidro-caminhões Cubanos
Tentando achar, algo que possivelmente irão perder
Em Boca Raton
Turcos na Alemanha
Um Palestino servindo café em Israel
Afro-asiáticos nas ruas de Manhattan
E mesmo assim ainda é difícil, vê um beijo
Multiracial em Hollywood
O mundo migra, e dá de cara com fronteiras
As chaves são as mesmas!
Samuel L. Jackson e Charton Haston
Tem a mesma cor de violência
Os dois acreditam em armas
Os dois abrem portas com dólares e euros
Um beijo na terra amada, ao lado de uma bandeira queimada
Braço, é braço
Braço de terra negada
Braços pulando os muros do mundo
Do futuro por emprego
Braços de refugiados
Apesar de tudo, por um instante
Pousam num estado de aleluia
Sem religião
Desterro, Ah Desterro

 

Ego City

Carros à prova de bala, com vidros à prova de gente
Cor fumê da indiferença
E vão lambendo os cartões de crédito
Comprando de quase tudo; do orgulho à cocaína
de dólares a meninas
Passando em frente à réplica da Estátua da Liberdade
que nos prende ao consumo siliconizado e farpado urgente
que diz: Bem-vindo a Ego City
Lutadores sem filosofia, crianças sem esquinas
Realidade da portaria, mas só se for pela porta dos fundos
De frente pro mar, de costas pro mundo
Perderam o governo, mas ainda seguram os trunfos
Quando cair, delete o meu nome dos seus computadores
Se você insistir, o meu descanso será seu pesadelo
Lembre-se do mistério de PC, dono do Avião Negro
Porque o terno e o uniforme ainda
são os disfarces mais usados pelo crime
Tráfico de influência, tráfico de vaidade, tráfico pra ocupar
melhor lugar na corte
Bem-vindo a Ego City

Um comentário:

Unknown disse...

conhecia o rappa aproposito sou fa de todas as letras altamente politizadas dessa banda, mas agora que conheco um pouco da historia desse soldado da democracia verdadeira, um verdadeiro nacionalista e revolucionario das palavras acabei de descobrir uma mente brilhante e que pactua com as mesmas ideologias que eu e diradente, que lutou contra os poderosos em seu tempo e foi punido por sua coragem. digo mais sou capaz de morrer or esses principios de humanidade e por companheiros como o marcelo yuka, se for possivel voce ler esse comentario meu nome e lucas oliveira de souza se for preciso serei um novo lamarca e carlos mariguella. ai a voce e todos que compartilhem esse mesmo ideal um forte abraç, e os contra fica o meu conselho paz e so para os que merecem facccao central


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz