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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

28.1.10

O verdadeiro "Tempos Modernos"



16/01/2010

O verdadeiro "Tempos Modernos"

A expressão "Tempos Modernos" foi consagrada como um dos clássicos do cinema de todos os tempos. Dirigido e interpretado por Charles Chaplin, em 1936, compôs, com "O Garoto" e "O Grande Ditador", uma trilogia genial em que o cinema retrata os grandes problemas da época de forma sensível, dramática e politicamente comprometida.

O tema central do filme, que o notabilizou, é a alienação. Questão central na critica ao capitalismo, a alienação começa no processo produtivo, em que o trabalhador usa sua força de trabalho sem ter consciência do que está produzindo, sem ser consultado sobre o que sua capacidade de trabalho vai produzir, sobre a quem deve ser destinada sua produção, a que preço, etc.

Nas palavras do principal teórico da alienação, Marx: "Eles fazem, mas não sabem". Isto é, os trabalhadores produzem toda a riqueza na sociedade capitalista, mas não tem consciência disso, são alienados.

Carlitos é um operário padrão da industrialização maciça do capitalismo, que produziu aquelas imensas fábricas de dezenas ou centenas de milhares de trabalhadores, anônimos diante da complexa e assustadora maquinaria, que comanda o processo produtivo e os trabalhadores, ao invés de ser comandados por eles.

É o ponto de chegada de uma imensa transformação histórica produzida pelo capitalismo e sua extraordinária capacidade de desenvolver as forças produtivas – reconhecida por Marx já no Manifesto Comunista. Essa longa trajetória, que vai do artesão a esse operário que Carlitos representa, nas grandes cadeias de montagem, está descrita em um dos mais belos textos de Marx – "Da manufatura à grande indústria", no primeiro volume do Capital.

No início, o capitalista contrata os artesãos, que fazem, cada um com seu estilo individual, suas mercadorias – sapatos, louças ou roupas. O capitalista aluga sua força de trabalho, os junta no que se chamava na época de manufaturas, no sentido de locais onde os trabalhadores produziam com suas próprias mãos suas mercadorias.

Aos poucos o capitalista se dá conta que uns tem mais propensão para produzir uma fase da mercadoria final, outros, outra e começa a introduzir a divisão técnica do trabalho, a especialização, em que vai se perdendo o estilo de cada um, para diluir-se no anonimato da mercadoria final, produzida por um trabalhador coletivo. O caráter artesanal da produção vai se diluindo também pouco a pouco.

O capitalista precisa ganhar escala na sua produção, porque é nela que ele ganha, barateando o custo das mercadorias produzindo e competindo em melhores condições, assim como rebatendo o que Marx chama de tendência decrescente da taxa de lucro, porque ele ganha na exploração do valor não retribuído ao trabalhador – a famosa mais valia -, mas como ele investe, proporcionalmente, cada vez mais em instalações, matérias primas, maquinaria, etc., tende a ganhar menos em cada mercadoria produzida. Trata de recuperar isso, ganhando na massa de mercadorias produzidas. Assim o capitalista está condenado a produzir cada vez mais, não porque queira atender as necessidades das pessoas, mas porque precisa multiplicar a acumulação de capital, ganhar mais e triunfar na competição. Aqui está um dos mecanismos que condena o capitalismo a crises cíclicas.

Até que se chega à grande indústria, onde trabalhará Carlitos. O centro da produção se desloca definitivamente do trabalhador individual e da seu instrumento artesanal de trabalho para as maquinas, articuladas nessas imensas cadeias de produção, que comandam os trabalhadores, ao invés de ser comandadas por eles. Chega-se assim ao momento de máxima alienação, em que o trabalhador é uma peça ínfima de um gigantesco processo de produção, que cada vez esconde mais diante dos seus olhos, que é ele o produtor das riquezas, que tudo depende do seu trabalho, que é dele que vem o valor a mais que acumula o capitalismo e o capitalista.

Carlitos é prisioneiro do ritmo da cadeia de produção que circula diante dele, no ritmo que ditam as máquinas, ao qual tem que se adaptar o operário. Produzem-se aí as cenas mais inesquecíveis, impagáveis e tristes, ao mesmo tempo, em que ele tenta mudar o ritmo da máquina, não consegue e corre atrás das mercadorias que passam velozmente diante dele, para cumprir a mesma função durante toda sua jornada de trabalho, todos os dias da semana, o mês inteiro: apertas as porcas de um pedaço de metal que circula rapidamente, um atrás do outro, de que ele não tem a menor idéia a que mercadoria final ele pertence.

Condicionado por esse movimento mecânico, desqualificado como mão de obra – que permitiu ao capitalismo incorporar à produção mulheres e crianças, pela pouca qualificação que passou a demandar a massificação da produção – de apertar botões, Carlitos sai da jornada de trabalho – que chegou a ser, no capitalismo, de 14 e de 16 horas diárias -, meio zonzo. Quando cruza com uma mulher, na rua, e vê nos botões do casaco dela objetos que lhe recordam as porcas a que está condenado a apertar milhares de vezes ao dia, condicionado, pavlovianamente, por aquele objeto, ele corre atrás dela para cumprir a função que lhe é atribuída e que o deixa obcecado. Toda sua vida está marcada por aquele repetitivo movimento, que comanda sua vida, demonstrando como ele vive para trabalhar e não trabalha para viver.

Ele anda pela cidade, vê nas vitrines talvez as mercadorias finais que de que ele produziu uma pequena peça, diariamente, transformada em mercadoria final, exibida no "mercado" para a compra, em que se materializa o momento final da alienação, em que ele não reconhece o que ele mesmo produziu. Em que provavelmente não ganhará o suficiente para comprá-la, mesmo sem consciência que é produto do seu próprio trabalho.

Alienar, no sentido marxista, vem da expressão jurídica, por exemplo de alienar um bem, passar a outro o que é nosso. Nesse caso, o trabalhador entrega a riqueza produzida pelo seu próprio trabalho ao capitalista, que se apropria dela, remunerando o trabalhador não pelo que ele entrega, mas que necessita para sobreviver como trabalhador, para ter forças para voltar no dia seguinte para apertar, alienadamente, as mesmas porcas da mercadoria em que ele não se reconhece e que não pode comprar.

É um mecanismo fundamental para compreender que o capitalismo não é apenas um sistema de produção de riquezas, mas inerentemente um sistema de exploração dos trabalhadores, o que faz com que estes, que produzem toda a riqueza existente na sociedade capitalista, apenas sobrevivam, enquanto os capitalistas, que apenas administram o processo de exploração, enriqueçam.

Esse o tema do "Tempos Modernos", obra prima do cinema, de Charles Chaplin. A TV contemporânea, máquina de alienação, que não respeita nada, usa o nome "Tempos Modernos" para mais uma novela global - o máximo de alienação, que esconde ao invés de revelar, os mecanismos essenciais da nossa sociedade.

Postado por Emir Sader às 03:02

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz