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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

24.1.10

A guerra e a paz na Colômbia



06/01/2010

Em um pequeno espaço de tempo – desde o Natal – a Colômbia presenciou cenas como o seqüestro e morte do governador de Caquetá e uma ofensiva militar contra a organização guerrilheira que - segundo o governo, com dados sempre inflacionados, que costuma esconder a morte de população civil -, teria provocado cerca de 45 mortes de guerrilheiros, entre eles três dirigentes. A primeira ação foi muito audaz, dado que o governador já tinha sido seqüestrado algumas vezes e era um alvo óbvio da guerrilha. A segunda demonstra a disposição do governo de atuar de forma rápida e fulminante para demonstrar capacidade de ação.

Ambos os fatos confirmam a caracterização de que a Colômbia é cenário de uma guerra interna, que se prolonga por décadas, com o maior número de vítimas e de população deslocada – esta, já de mais de 4 milhões – que o continente já conheceu. Essa situação de guerra foi reconhecida pelo próprio governo Bush, que incluiu a Colômbia na sua lista de focos da "guerra infinita" em que os EUA estão envolvidos, fazendo da Colômbia o terceiro país em ajuda militar norteamericana, apenas atrás de Israel e do Egito. E do orçamento militar colombiano o maior da América Latina, equivalente ao do Brasil, que tem 4 vezes mais população.

No entanto, Uribe insiste em dizer que se trata apenas de uma "luta contra o terrorismo", para a qual utiliza todos os meios para militarizar os conflitos – das 8 bases militares norteamericanas à eventual declaração de uma "situação de emergência", que possibilitaria adiar a data das eleições deste primeiro semestre do ano, passando por assustar com a possibilidade de uma invasão venezuelana.

Seu objetivo maior, agora, é conseguir mudar novamente a Constituição colombiana – como já havia feito há quatro anos, com o mesmo objetivo -, para conseguir um terceiro mandato presidencial, em um país que se orgulhava de nem ter reeleição. A decisão está em mãos da Justiça. Caso seja positiva para Uribe, será convocado um referendo para consulta à população sobre a possibilidade do terceiro mandato, para a qual a decisão favorável teria que ter pelo menos 7 milhões de votos. Seria um terço dos votantes, em um país acostumado a altas abstenções, a ponto que Uribe, tendo sido reeleito nas eleições anteriores no primeiro turno, obteve apenas 28% dos votos do total do eleitorado.

Se conseguir a decisão da Justiça, a oposição pretende fazer boicote sobre a consulta eleitoral, tentando impedir que o Uribe consiga os votos necessários. Caso este logre, vai enfrentar um arco variado de muitos candidatos, nenhum com possibilidade de derrotá-lo, provavelmente nem de levá-lo a um segundo turno, de tal forma sua política de "segurança democrática", em nome da qual militariza o país, tem apoio da população. Há candidatos do uribismo, que discordam de um terceiro mandato – como a candidata do Partido Conservador -, há candidatos de centro, que tentam fugir à polarização uribismo/anti-uribismo - como o candidato do Partido Liberal - e há candidatos de esquerda, entre eles o do Polo Democrático, que chegou em segundo lugar há quatro anos, mas que está dividido e com possibilidade de eleger apenas dois senadores, dos 18 que tinha anteriormente.

A única liderança que pode se enfrentar a Uribe é a da senadora Piedad Cordoba, da esquerda do Partido Liberal. Piedad se notabilizou por personificar a saída política, negociada e pacífica à crise colombiana, sendo a peça essencial nas libertações de presos das Farc, demonstrando que as negociações podem frutificar. Diabolizada pelo governo, que tenta desqualificá-la como representante de Hugo Chavez e das Farc, sua popularidade resiste e é impressionante, como se constata caminhando por ela pelas ruas das cidades colombianas.

Sua figura de filha de negro com branca, vinculada aos movimentos negros e outros movimentos populares, se projetou como a maior liderança popular do país. Depois de rejeitar intermediações, de fora ou de dentro do país, confiando que possa repetir a operação militar de libertação de Ingrid Bettancourt e dos três militares norteamericanos presos pelas Farc – possível pela infiltração e recrutamento de um dirigente da organização guerrilheira -, Uribe foi obrigado a aceitar novamente que Piedad fizesse a intermediação numa nova libertação de presos das Farc, com apoio do Brasil e agora em novo processo de libertação de dois novos presos.

Ao mesmo tempo, Piedad propõe uma troca humanitária de todos os detidos das Farc e do governo, para superar definitivamente o problema. Enquanto isso, como membro da Comissão de Direitos Humanos do Senado, tem viajado regularmente aos EUA, para entrevistar-se com paramilitares e narcotraficantes extraditados por Uribe, que queria vê-los fora de qualquer possibilidade de fazer declarações que comprometam ao governo – evidentemente vinculado a uns e a outros. Esses materiais comprometem ainda mais Uribe com esses vínculos. Piedad propõe o retorno deles – que se sentem traídos por Uribe – à Colômbia, para esclarecer à Justiça os incontáveis casos de violência e corrupção em que estão envolvidos, junto com o governo.

Um eventual terceiro mandato de Uribe será muito mais problemático que os anteriores. Não terminará o clima bélico, as contradições dentro do uribismo aumentam, pelas resistências a esse terceiro mandato, além de que a situação econômica – para um país que não diversificou seu comércio internacional, não desenvolveu o mercado interno de consumo e sofre as duras conseqüências da ruptura de relações com a Venezuela, com a diminuição substancial das importações desse país. Tempos conturbados para o país, com um provável enfraquecimento do uribismo, com ele ou com candidato alternativo.

Piedad Cordoba aparece como a única liderança que pode, no futuro próximo, com o apoio popular com que conta – que deve levá-la à reeleição como senadora com votação recorde, muito superior a muitos candidatos à presidência – e com a proposta de solução política, negociada e pacífica para a crise, questionar Uribe e propor uma superação positiva da crise em que a Colômbia continua imersa.

Postado por Emir Sader às 08:10

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz