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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

12.8.09

Noite escura e as estrelas

José Antonio Somensi (Zeca)

Somos uma sociedade em crise e esta afirmação não traz nenhuma novidade. Vivemos tempos difíceis e nos descobrimos despreparados para enfrentá-los e quando achamos que sabemos e aprendemos, já virou passado porque surgem outras situações mais difíceis neste mundo globalizado - 'quando tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas' nos lembra Eduardo Galeano. A globalização mercantilizada que trouxe tantos avanços tecnológicos se recusa a matar a fome das pessoas, se recusa a salvar o planeta Terra, se recusa a distribuir as riquezas, se recusa a gerar emprego, alimenta as guerras cada vez mais sofisticadas fruto de novas tecnologias, nos manipula e nos convida a consumir cada vez mais, a nos isolar atrás de grandes muros e grades altas, a alimentar a solidão e por mais contraditório que possa parecer nos convida a buscar a transcendência, mística, espiritualidade, o sagrado ou qualquer outro nome que queiram dar restando saber ou descobrir que transcendência esta globalização tem a nos oferecer.

A sociedade globalizada, como nos diz o Prof.Dr. José Roque Junges, "tende a mercantilizar tudo, transformando até a religião num supermercado de diferentes produtos à escolha" e as igrejas preocupadas em não perder fiéis vão se tornando meras prestadoras de serviços atendendo as demandas de seus clientes - batizados, casamentos, bênçãos especiais - e tendo o maior cuidado de não tocar em assuntos polêmicos ou espinhosos com medo de perder fiéis/clientes. Criamos estrelas pop para atrair multidões com espetáculos emotivos, mas vazios de conteúdo e não raramente vazios de conhecimento da história das Igrejas, mas como atraem público (fieis/clientes) tudo bem, que continuem mesmo que alimente um público cada vez mais individualista e que busca apenas a emoção, uma grande catarse.

A globalização cria um 'individualismo que enfraquece os vínculos comunitários e propõe uma radical transformação do tempo e do espaço' (DA44) onde costumamos pedir perdão coletivo, pelos pecados e apontar as falhas dos outros e bênçãos individuais, para meu trabalho, minha saúde, minha família porque no pensamento do cardeal Carlo Maria Martini, "não há mais uma visão do bem comum. O sentimento dominante é o de defender o próprio interesse particular e o do próprio grupo. Talvez pensem serem bons cristãos, porque às vezes vão à missa e aproximam seus filhos aos sacramentos". Com isso não se quer mais compromisso e defesa de interesses da humanidade, salvo as questões envolvendo a ecologia (se não for modismo), mas ações individuais e individualistas numa comprovação daquilo que, no século passado, Margareth Thatcher vaticinou 'não existe sociedade, o que existe são apenas indivíduos'.

Cada vez mais valorizamos ritos formais, rígidos e fundamentalistas, verdadeiras ideologias, como querendo resgatar um tempo em que a Igreja tinha um poder absoluto e uma verdade única e negamos certa espontaneidade que pela fé poderíamos dizer que seria uma ação do Espírito Santo e não me surpreenderei se logo aí adiante começarmos a ouvir gritos acusando as pessoas de hereges e ameaçando com fogueira, uma fogueira tecnologicamente mais avançada - se isso já não está acontecendo- ao contrário de buscarmos 'novo céu e nova terra' e aqui lembro o padre Johan Konings que nos faz uma alerta: "se o veículo desta tradição é uma instituição que apenas quer se continuar a si mesma, corremos o perigo de não termos nada a dizer" e o cardeal Carlo Maria Martini vai mais longe ao afirmar: "é sabido que por esse caminho das prescrições não se ganha ninguém, no máximo se oprime".

A situação aparece sombria, uma 'noite escura' ou 'noite no mundo', mas não podemos deixar de ver as estrelas que tornam a noite bela, acreditar nas pessoas reconhecer a caminhada que foi feita e continuar fazendo o caminho. Como os estudiosos afirmam crise é momento de decisão e encaminhamentos e é preciso definição do que queremos se é esta volta ao passado que no fundo significa ter alguns determinando o que temos que fazer e como fazer, ou se de fato avançaremos para um 'mundo de participação, sem medo, sem evasões, com as grandes causas da justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos, reino adentro' como sonha Dom Pedro Casaldáliga em sua carta-circular de fevereiro de 2009. O Documento de Aparecida nos convida a sermos discípulos e missionários neste mundo onde se tem 'experimentado luzes e sombras' (DA5) com as alegrias e tristezas, com os desafios e dificuldades que se apresentam para que possamos nos tornar 'homens e mulheres novos, protagonistas de uma vida nova' (DA11) e quando caminheiros buscando realizar esta missão "brilhar como as estrelas no mundo" (Fl 2,15).
 

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz