Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

14.4.08

Desertos verdes: homens de governo ou empregados das empresas?

Althen Teixeira Filho, professor titular do Instituto de Biologia, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), enviou a seguinte carta ao jornalista Lasier Martins, da RBS:

"Caro Senhor, ontem tive a oportunidade de assistir ao seu programa na TV-COM, o qual debatia o projeto denominado de "silvicultura". Inicialmente gostaria de elogiar a iniciativa, uma vez que entendo, assim como muitos, que este projeto realmente poderá modificar drasticamente o perfil do Rio Grande do Sul.

Cito o nosso estado como um todo, uma vez que esta denominação de "metade sul" não me parece adequada, mesmo por que aprendi, ainda no colégio, que as fronteiras gaúchas são outras. Também, se "metade sul" fosse, eu não sei se algum dos seus ilustres convidados representava esta região, ou este preconceito já avançou ao ponto de entender-nos débeis não só financeiramente, mas também mentalmente. Para que não paire dúvidas, a crítica que faço não tem qualquer lasca de pessoalidade.

Mas, entre muitos, no meu ponto de vista, dois fatos chamaram muito a atenção. Em primeiro lugar escutar HOMENS DE GOVERNO dialogando e argumentando como se empregados das empresas fossem!? Foi admirável verificar com que clareza, e com que falta de cuidado, um projeto de governo confunde-se com as intenções de uma empresa particular. Aliás, a atenção daqueles senhores com as informações repassadas também foi vexatória e várias delas formalizam-se como mera propaganda gratuita para as empresas de celulose. Por exemplo, não é verdadeiro que as denominadas audiências públicas referendaram o projeto da "silvicultura". Estive presente em todas aqui em Pelotas e não foi isto que aconteceu, assim como em outras cidades.

Por outro lado, o caráter excessivamente técnico do debate em alguns momentos não espelhou a realidade do que se passa "in loco", como se as empresas respeitassem as leis, desde constitucionais às infraconstitucionais.

Para que o Senhor saiba, e como exemplo, o EIA-RIMA da VCP não passa de burla científica, materializando-se num amontoado de informações contraditórias, elaborado para impressionar tão somente pela dimensão final. Aliás, toda a documentação que corrobora estas afirmações já foi entregue na RBS-TV Pelotas e aguardo, ainda aguardo, que isto possa ter interesse jornalístico, mas não só aquilo que favorece às empresas. Para que também não paire dúvida, não acho errado, muito pelo contrário, que esta ou aquela pessoa ou emissora defenda uma posição ou opinião, mas tem obrigação de declarar este fato sem titubeios aos informados.

Por fim, mesmo com todos os milhões gastos em propaganda, ao final do programa foi possível verificar que as intenções das papeleiras não estão conseguindo "frutificar" na dita "metade sul" e os gaúchos mostraram que estão críticos e contrários aos oceânicos eucaliptais, que causam desemprego, subdesenvolvimento, miséria, destruição da terra, entre outros. Cordialmente e ao seu dispor".

.......................................

"SEMA está em desvio de função, voltada para a liberação dos licenciamentos das papeleiras"



O Rio Grande do Sul já foi referência nacional na defesa do meio ambiente. Hoje, a (por assim dizer) "política ambiental" do Estado é definida pelas grandes empresas de celulose que mandam e desmandam nos órgãos ambientais. A aprovação, ontem, do Zoneamento Florestal da Silvicultura (devidamente "flexibilizado") foi mais um triste capítulo dessa história.

Os professores Paulo Brack (Biologia/UFRGS) e Flávio Lewgoy, conselheiro da Agapan no Conselho Estadual de Meio Ambiente, e o ex-presidente da Agapan, Celso Marques, resumiram, assim, à EcoAgência, o que aconteceu ontem:

Paulo Brack: “É uma situação vexatória para o governo, fica escancarado assim que temos, na verdade, uma intervenção na Sema e na Fepam. É uma secretaria em desvio de função, voltada para a liberação dos licenciamentos das papeleiras, somente, sem nenhum tipo de programa de proteção ambiental”.

Flávio Lewgoy: “O governo tem maioria automática no conselho, a composição dele desde o início foi distorcida, botaram onze representantes de secretarias e mais alguns que automaticamente votam com o governo, é uma sopa aprovarem o que quiserem. No Conselho Estadual da Saúde, a representação é paritária: 25% dos representantes apenas são do governo, 50% da sociedade civil e 25% das entidades empresariais do setor 25% (hospitais e outros)”.

Celso Marques: “A Agapan tem participado no Conselho Nacional do Meio Ambiente, na CTNBio e temos visto, realmente, o totalitarismo do grande empreendedor, do grande capital, em relação à sociedade, nestes conselhos somos sistematicamente derrotados. Se pegarem as atas deste conselho vão ver que os ambientalistas são derrotados sistematicamente, estamos aí por compromisso com a sociedade, fazendo muitas vezes o papel de vaca de presépio. Mas se a gente não comparecer nestas instâncias nos cobram ou não ficamos sabendo o que está sendo decidido no Estado. Estamos vivendo uma farsa de democracia".

Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz