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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.4.08

O Brasil da mídia e o Brasil real

O Jornal Valor publicou nesta quinta-feira um artigo do Ministro da Justiça, Tarso Genro. No texto, o ministro fala da contradição entre o Brasil retratado na mídia e o Brasil real. Segundo Tarso Genro, são duas realidades bem distintas. "De um lado, na mídia, uma agenda de crise interminável e, de outro, o Brasil retratado pelo otimismo e pela ascendente relevância do país no cenário mundial". Leia abaixo a íntegra do artigo. Em artigo publicado recentemente, o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, apresentou suas impressões sobre a atual situação brasileira. Soares esteve no Brasil em fevereiro e percorreu três das mais importantes cidades brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte e Brasília). Na ocasião, encontrou-se com o presidente Lula e com algumas de nossas mais expressivas lideranças oposicionistas - FHC, Aécio Neves e José Serra. O líder português constatou a existência de duas "realidades" bem distintas: uma encontrada nas páginas de nossos principais jornais e nas imagens da TV (que parece retratar um país "à beira de um colapso"); e outra verificada no cotidiano dos brasileiros (que percebem que seu país "está a dar certo"). São dois "brasis" que não se comunicam e se estranham: um certo Brasil da mídia e o Brasil real. De um lado, na mídia, uma agenda de crise interminável e, de outro, o Brasil retratado pelo otimismo e pela ascendente relevância do país no cenário mundial. É o Brasil, segundo Soares, da "inflação baixa" e "controlada", no qual o "emprego tem subido espetacularmente e a pobreza diminui de forma sensível". Naquele primeiro Brasil, o governo Lula é retratado com ironia, agressividade e parece não ter orientado um espetacular aumento das reservas internacionais (US$ 162,9 bilhões nos últimos 12 meses) ou uma expansão recorde das exportações. E menos ainda parece ter algum mérito a passagem do Brasil à condição de credor no mercado internacional, resultado obtido pela atual equipe econômica. A crise da dívida, deflagrada há quase três décadas, encerra-se sob o governo Lula sem que a maioria dos cronistas credite este fato ao acerto do presidente na condução da política macroeconômica. Para o ex-presidente Mário Soares, onde Stefan Zweig enxergava um "país de futuro", hoje é possível identificar uma "incontornável realidade" positiva. Não se trata, por óbvio, de supor a existência um governo sem defeitos, mas sim de enfrentar um falso nivelamento, através do qual parte da mídia torna-se o centro de elaboração intelectual de um oposicionismo extremo. Vejamos, então, alguns dos principais argumentos que circularam nos últimos dois anos, cuja síntese podemos organizar em alguns breves postulados: De um lado, uma agenda de crise interminável e, de outro, o Brasil retratado pela ascendente relevância do país no cenário mundial. 1. "O Brasil vai bem porque o cenário internacional é favorável": acadêmicos e técnicos - das mais distintas vertentes ideológicas - são categóricos ao afirmar que o país nunca esteve tão preparado para enfrentar uma turbulência externa como agora. É um cenário decorrente diretamente da redução da vulnerabilidade externa e da ampliação de nossas reservas internacionais - resultado obtido pelo atual governo. 2. "A política internacional de Lula vai fracassar": a postura do Brasil, não apenas no que se refere às relações com o G-8 ou com os EUA, mas também em relação aos demais países de nosso continente, nos situa em uma posição destacada de referência política na América Latina. A posição do Brasil, por exemplo, diante dos incidentes diplomáticos envolvendo o Equador e a Colômbia, bem como os resultados da última reunião do Conselho Permanente da OEA, confirmam o acerto da política externa brasileira, que transforma o país em peça-chave do equilíbrio regional e em importante interveniente no cenário global. 3. "Lula segue fazendo o mesmo que FHC na área econômica, por isto estabilizou a economia": este, sem dúvida alguma, é o mais visivelmente inverídico dos argumentos. A política de recuperação do valor real do salário mínimo, de reestruturação do setor público e a ampliação dos investimentos em infra-estrutura e em políticas sociais posta em prática pelo atual governo levaria, segundo a ortodoxia neoliberal, à elevação da inflação, do desemprego e da informalidade nas relações trabalhistas. Erro: de 2003 a novembro de 2007, foram criados no país 6,6 milhões de empregos com carteira assinada e o salário mínimo teve um aumento real de 46,7%. O país cresce há 23 trimestres consecutivos. O atual desempenho do PIB só encontra paralelo nos anos do "milagre econômico" do regime militar, com a diferença fundamental, agora, de associar crescimento econômico com distribuição de renda e respeito às instituições democráticas. 4. "O governo Lula é conivente com a corrupção": omitem que o combate aos crimes de colarinho-branco teve um grande incremento no atual governo. Somente no ano de 2007, a Polícia Federal totalizou 457 capturas por suspeitas de improbidade, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, além de realizar outras 40 grandes operações. É possível afirmar que o país jamais combateu a corrupção como agora. Dezenas de investigações e operações que buscam "pessoas" - e não "partidos" - em ações delituosas foram promovidas e estão em andamento, cumprindo orientação direta do presidente, de combater sem tréguas à corrupção. Por fim, cumpre informar que a opinião de Mário Soares encontra eco em outras análises realizadas por diferentes órgãos da imprensa internacional. A revista britânica "The Economist", há algumas semanas exaltou em suas páginas o sucesso do programa Bolsa Família. Da mesma forma, o periódico londrino "Financial Times" dedicou-se, recentemente, a analisar o excelente momento econômico vivido pelo país. O jornal "The Guardian" não poupou elogios ao governo Lula, recentemente. Estas análises contrastam com artigos, veiculados no Brasil recentemente, que inclusive expressam "indignação" diante do fato de que beneficiários do Bolsa Família, com sua renda familiar, adquiram eletrodomésticos. Seria um consumismo absurdo! Neste ritmo, provavelmente, nossos futuros historiadores terão de recorrer à imprensa internacional caso pretendam analisar, com alguma profundidade, o que sucede atualmente no país. É forçoso reconhecer, no entanto, que somente a liberdade de imprensa nos salva da treva absoluta da desinformação, ainda que as luzes estejam hoje concentradas em alguns periódicos ou páginas e blogs na internet, e mesmo em poucos espaços da chamada grande mídia, como prova a manchete deste jornal no dia 3 de março deste ano, citada como epígrafe. Tarso Genro é ministro da Justiça Artigo originalmente publicado no site da Liderança do PT na Câmara (www.ptnacamara.org.br)

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz