Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

20.4.16

O espetáculo dantesco da Câmara pode matar o golpe.

O espetáculo dantesco da Câmara pode matar o golpe. Por Paulo Nogueira

Postado em 19 Apr 2016

"Sim, sim, sim": no dia seguinte, o marido foi preso por roubalheira

"Sim, sim, sim": no dia seguinte, o marido foi preso por roubalheira

Uma coisa que não estava absolutamente nos planos dos golpistas acabou se tornando a mais letal propaganda contra o golpe: a sessão da Câmara que aprovou o impeachment.

Nada poderia ser mais revelador sobre o espírito do golpe.

Deputados e deputados, nos escassos segundos em que estiveram à frente de microfones, compuseram um teatro do absurdo, da vergonha, da indecência.

Parecia uma festa no hospício, comandada por um psicopata.

Até a imprensa internacional está, nestes dias, fazendo piada dos motivos invocados na Câmara para o sim.

Pela família quadrangular, pela minha mãe Lucimar, pela minha neta, por remotas cidades Brasil afora, por Deus, por Deus, por Deus.

Isso sem contar Bolsonaro, que votou por um torturador de quem se diz que chegou a colocar ratos em vaginas de presas políticas.

Só faltou quem dissesse: "Por Eduardo Cunha! Por mim!"

Registre-se ainda o espetáculo de uma deputada que gritou aos pulos "sim, sim, sim" e citou como exemplo seu marido, prefeito de Montes Claros, preso no dia seguinte por desviar dinheiro de hospitais públicos.

Nas redes sociais, este voto saltitante viralizou.

Foi o mais acabado retrato não só da Câmara que temos, comprada pelo dinheiro das grandes empresas via financiamento de campanhas, mas do golpe em si.

É inevitável que este espetáculo dantesco tenha efeitos imediatos na opinião pública, que já se dividira antes mesmo que os bufões declarassem seus votos ridículos abraçados a bandeiras do Brasil usadas da maneira mais baixa possível.

A grande sentença do intelectual inglês Samuel Johnson foi provada exaustivas vezes no plenário-picadeiro: "O patriotismo é o refúgio do canalha."

Não.

Não é possível que o Brasil esteja à mercê de um grupo daquela espécie. Nas redes sociais, muitos apoiadores do impeachment confessaram seu choque ao ver quem defendia a causa deles – e como.

O desconforto dos que esperavam o sim acabaria sendo ampliado logo depois pelas informações que começaram a circular segundo as quais, fortalecido, Eduardo Cunha seria anistiado da roubalheira que promoveu.

Mesmo antipetistas convictos não contavam com essa: vestir a camisa da seleção, sair às ruas em nome do combate à corrupção, bater panelas – para depois ver como grande vencedor do movimento o maior corrupto da história da República. Não poderia haver final mais infame.

A sessão da Câmara haverá de ser um fator importante, talvez decisivo, nos próximos passos do processo de impeachment.

A mobilização pela democracia crescerá. Já está desfeita a falácia propagada pelas empresas de jornalismo de que o impeachment é uma unanimidade nacional.

Não é. É, sim, uma unanimidade entre os donos da mídia, que enxergam aí uma chance de meter a mão no dinheiro público.

Temer, caso o golpe se realize, vai imediatamente satisfazer a sede de dinheiro público da Globo, da Abril, da Folha.

Isso ficou claro numa mensagem do presidente da Abril aos funcionários da casa por causa da sessão infame da Câmara. Nossa vida vai melhorar, bradou ele. Numa tradução livre e fiel, ele estava dizendo: "Os anúncios do governo vão voltar."

Às 23 horas de domingo, quando o voto que deu a vitória ao impeachment foi anunciado, a sensação geral era que a história do golpe terminara.

Hoje, vistas em detalhe as cenas da sessão, está evidente que não.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz