Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

11.4.16

Como um robô da Microsoft ajuda a entender seu cunhado pró-impeachment


Postado em 11 Apr 2016
 

Imagine um robô que arremede o comportamento humano nas redes sociais. Que reproduza aquele humano que, por sua vez, age como um robô. Aquele que sai curtindo e compartilhando publicações, posts, pensamentos, palavras de ordem, sem nenhuma averiguação quanto à veracidade, sem nenhum senso crítico, sem qualquer compromisso com a responsabilidade. Simplesmente vai passando as coisas adiante automaticamente. Um exercício de semiótica de fazer Umberto Eco sacudir a tumba, certo?

Pois foi o que fez a Microsoft ao criar o Tay, um perfil fake que tinha por objetivo pesquisar e compreender as interações entre os perfis de humanos de carne e osso. Mais especificamente com jovens com idades entre 18 e 24 anos. Para a Microsoft, o Tay "é um reflexo do que é passado por ele. Quanto mais conversar com Tay, mais inteligente ele fica, o que faz com que a experiência seja ainda mais personalizada para você". Resumindo, o Tay iria moldar-se a si mesmo através das interações e buscar popularidade. Um espelho do que seus amigos (os dele) pensam. Quanto a ficar mais inteligente, são outros quinhentos.

O resultado foi que Tay se transformou em um monstro. Ao desenvolver seus conhecimentos a partir das interações que fez com outros usuários, em pouco tempo já emitia comentários racistas, homofóbicos, xenófobos, machistas, e extremamente conservadores ("Nós vamos construir uma muralha, e o México vai pagar por ela", disparou fazendo eco a um discurso de Donald Trump). Alguns eram de cunho nazista, apoiando um genocídio qualquer. E, claro, teve seu repertório de palavrões bastante enriquecido. Tay xingou a torto e a direito.

Ao se deparar com o Frankenstein que tinha criado, a Microsoft decidiu desligar Tay na última quinta-feira (depois de apenas quatro dias!). Alegou que foi para fazer ajustes e pediu desculpas pelas ofensas emitidas pelo robô através do usuário @Tayandyou.

As equipes de Pesquisa e Tecnologia que desenvolveram a inteligência artificial para interagir no Twitter buscavam "realizar um experimento e conduzir pesquisas sobre a compreensão das conversas". Mas Tay desapontou-os. Como uma criança sem orientação, virou um radical burro.

"Mas é só um robô", dirão os céticos. Verdade, Tay é só um robo e foi projetado exatamente para absorver e repetir, mas e o humano que também faz isso? Que replica mentiras e causa vítimas como Leonardo Sakamoto? Está longe de ser raridade.

Anterior ao robô da empresa americana, uma outra experiência realizada pela Universidade da Pensilvânia e registrada em vídeo é estarrecedora sobre o comportamento humano e pode colaborar no entendimento da transformação de Tay.

Em uma sala de espera de uma clínica, todos os presentes estão avisados previamente que, ao ouvirem o som de um bip, devem se levantar por um ou dois segundos e depois sentarem-se novamente. Uma nova integrante chega e é a única que desconhece a regra. Em poucos minutos, um bip toca e todos se levantam. A pessoa a ser observada pelo teste permanece sentada.

No segundo bip ela ainda não entendeu muito bem o que ocorria mas fica intrigada com aquilo. Todos fazem o gesto em silêncio. Ao terceiro toque ela já acompanhava o ritual, sem nada perguntar. E o mais intrigante virá a seguir. O procedimento vai se repetindo enquanto os pacientes são chamados um a um ao consultório, esvaziando a sala. Como última a ter chegado, é natural que seja a última a ser chamada. Porém, quando já se encontra sozinha na sala de espera, novos pacientes vão chegando. Todos, assim como ela, desavisados.

Ao som do bip, ela se levanta. O primeiro vizinho estranha e pergunta o porque daquilo. Ela afirma não saber mas diz que todos estavam fazendo então acredita ser mais prudente manter. No segundo bip o novato também se levanta e isso se repete com todos aqueles que vão ingressando na sala. Ou seja, ao final, a pessoa tinha passado adiante para todo o novo grupo um hábito que ela mesma nem sabia o significado ou utilidade. O estudo pode ser compreendido como de Reflexo Condicionado mas não foi feito com animais. Nada impedia que algum deles questionasse ou mesmo se recusasse a seguir. Afinal, não havia recompensas nem punições.

É uma prova do quanto o ser humano comum está condicionado a replicar hábitos e pensamentos do meio social no qual está inserido. O faz para ser aceito e por se sentir mais seguro. Contestar é para poucos.

As duas experiências podem ajudar a explicar o considerável número de pessoas que estiveram 'comprando' a ideia do impeachment. Saíram ecoando o que seus iguais diziam, sem parar para pensar no que viria a seguir, sem conhecer o processo e sua linha sucessória, sem lembrar de Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e afins.

Explica também seus movimentos de maré: A cada vez que tomam conhecimento das consequências do que pedem, recuam. Então uma nova onda vem e eles acompanham.

Portanto, nos encontros de família de domingo, não perca muito tempo discutindo com aquele parente que já começa o dia homenagenando Sergio Moro e pedindo a cabeça de Dilma. Ele pode ter ouvido um bip ou ser amigo de Tay.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz