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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

4.10.12

O voto de Joaquim Barbosa contra José Dirceu

3 de Outubro de 2012 - 19h22

No envelope de Joaquim Barbosa lê-se Last Act - Bribery ou, em português, “Ultimo ato - corrupção ativa"

O voto de Joaquim Barbosa contra José Dirceu


O ministro do STF segue o roteiro traçado pela mídia conservadora e pela direita e usa, no envelope de seu voto, o idioma dos antigos dominantes, o inglês. Lá está escrito Last Act - Bribery que, em português, significa “Ultimo ato - corrupção ativa”

Por José Carlos Ruy

Foi com certeza involuntariamente que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acabou deixando escapar a ansiedade da mídia conservadora e da direita em torno do julgamento da Ação Penal 470, chamada de “mensalão”. Ele torce para que haja repercussão na eleição do próximo domingo, favorecendo, é claro, a direita e os conservadores. "Não sei. Isso aí as urnas dirão se haverá alguma repercussão. A meu ver, era bom que houvesse", deixou escapar para um repórter, em Brasília.

É uma confissão clara: o esforço todo tem natureza política e busca conseguir alguma repercussão eleitoral. Nesse sentido, a mídia conservadora (o PIG, Partido da Imprensa Golpista, como é conhecida) deve estar exultante. O script longamente acalentado começou a ser cumprido na tarde desta quarta-feira (3), quando o ministro relator do processo, Joaquim Barbosa, começou a ler o seu voto e cumpriu o roteiro esperado, acusando José Dirceu e outros quadros políticos, como o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares. Joaquim Barbosa confirmou a acusação feita pela Procuradoria Geral da República (PGR), indicando José Dirceu como o chefe de uma quadrilha de compra de apoio político no Congresso.

Ele viu, nos autos, provas de reuniões e contatos entre o ex-ministro da Casa Civil do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, com outros acusados naquele processo. “Tudo dependia de Dirceu”, foi a acusação de Gurgel ecoada por Joaquim Barbosa. O próprio envelope entregue por um assessor ao ministro Barbosa recende a pré-julgamento: nele estava escrito não em português (como se espera em atos oficiais no Brasil, cumprindo aliás a Lei de Defesa do Idioma), mas Last Act - Bribery, em inglês (Último ato - corrupção ativa, em português) (veja a foto acima).

O relator Joaquim Barbosa acusou José Dirceu de ter sido "o principal articulador político" do esquema de compra de apoio no Congresso, "e se ocupou dessa função de modo intenso". E deu uma pista da origem de sua convicção: afirmou ser "fato público e notório" o envolvimento direto de Dirceu na articulação, embora se refira também ao "conjunto das provas” que, em sua opinião, “coloca o então ministro em posição central, (...) como mandante das promessas de pagamentos indevidos aos parlamentares". Estas provas seriam reuniões realizadas entre o então ministro e outros acusados, baseando sua decisão de acusá-lo também na observação da sequência dos fatos no tempo. Ele detalhou, em seu voto, encontros que teriam ocorrido na Casa Civil entre Dirceu, Valério, Delúbio e outros acusados, como representantes do Banco Rural. E justificou: "O problema não é o ministro receber diretores de instituições financeiras, mas sim o contexto com que se deram essas reuniões", disse. Ele se referiu a negociações ocorridas antes de votações importantes para o governo, como reforma tributária. Elas ocorreram, disse, logo depois de empréstimos firmados pelas agências de Marcos Valério, acreditando existir uma relação direta entre estas negociações e o resultado das votações no Congresso. E disse: “No meu sentir, essa cronologia, também evidencia ter havido promessa de repasses a líderes que, posteriormente, receberam vultosos repasses”, uma frase que deixa claro o subjetivismo em seu julgamento (“no meu sentir”, disse).

São acusações que a defesa de José Dirceu nega. Nega que tenha sido o "chefe" daquele suposto esquema, que tenha existido a compra de votos e diz não haver “prova, elemento, circunstância que incrimine" para acusá-lo. Em artigo publicado nesta quarta-feira (3) no jornal Folha de S. Paulo, os advogados de defesa de José Dirceu, José Luis Oliveira Lima e Rodrigo Dall'acqua, sustentam a "improcedência das acusações relativas a alguns dos episódios utilizados pela acusação”. A defesa de Dirceu repudia, "com base em sólidas provas, cada uma das acusações apresentadas contra o ex-ministro pela Procuradoria Geral" e que sendo o STF o "guardião da Constituição", deve zelar “pelo princípio da fundamentação dos atos decisórios, o que pressupõe que os indícios acusatórios devem ser adequadamente confrontados com as provas apresentadas pela defesa".

Os advogados lembraram ainda a afirmação da ministra Carmem Lúcia, de que "para a condenação, exige-se certeza, não bastando a grande probabilidade". E também a conclusão dos advogados Oliveira Lima e Dalla'acqua segundo a qual, "ao final de uma ação penal em que o próprio procurador-geral da República reconheceu dispor de 'provas tênues' contra o ex-ministro da Casa Civil, a justa absolvição de José Dirceu não é pleiteada com base no princípio in dubio pro reu, mas sim na certeza que existem provas mais do que suficientes da sua cabal inocência".

A leitura do voto de Joaquim Barbosa é motivo de festa para o PIG, a direita e os conservadores que se expressam através dele. Mas é uma festa frágil, que só tem consistência quando se leva em conta que o que está ocorrendo em Brasília não é um julgamento que segue ao pé da letra o que está determinado nos códigos que regem o sistema judiciário, mas é um julgamento de exceção, cujo roteiro de processo, validação das provas, condenação e execução foi predeterminado pela direita e por sua imprensa conservadora.

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=195417&id_secao=1

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz