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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

17.12.17

MBL, a Disneylândia da direita

POLÊMICA

MBL, a Disneylândia da direita

por Flavio Ilha
    Curador da exposição Queermuseu, Gaudêncio Fidélis, fala na CPIMT dos Maus Tratos, ao lado senador José Medeiros (Pode-MT), relator, e do senador Magno Malta (PR-ES), presidente da CPIMT

    Curador da exposição Queermuseu, Gaudêncio Fidélis, fala na CPIMT dos Maus Tratos, ao lado senador José Medeiros (Pode-MT), relator, e do senador Magno Malta (PR-ES), presidente da CPIMT

    Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

    O ponto fora da curva, que ameaça marcar a derrocada do movimento, parece ter sido a intervenção na exposição Queer Museu – Cartografia da Diferença na Arte, cancelada pelo Santander Cultural depois de uma enxurrada de manifestações de cunho moralista. A mostra, inaugurada em Porto Alegre no dia 15 de agosto, reunia alguns dos artistas brasileiros mais célebres do país, como Adriana Varejão, Cândido Portinari, Ligia Clark, Leonilson e Alfredo Volpi, em temáticas que exploravam a liberdade sexual

    O curador da mostra, Gaudêncio Fidélis, resume a abordagem policialesca e abusiva do grupo para gerar um fato social. "Não havia critério. Os integrantes do MBL entram no espaço expositivo de câmera em punho e filmaram tudo, crianças, adolescentes, visitantes, até eu em determinado momento virei alvo, assim como os monitores do projeto educativo. Tripudiaram o tempo todo. Os seguranças os arrastavam para fora a cada 5 minutos, mas eles voltavam e aumentavam a carga de enfrentamento verbal e físico para tentar uma reação. Foi uma ação extremamente violenta", relembra.

    O ideário desse grupo é a violência, pura e simplesmente a violência: defendem a revogação do Estatuto do Desarmamento, comemoram assassinatos de supostos bandidos, debocham de políticas de gênero e detestam as feministas, além de se autointitularem machistas. A intervenção nas redes sociais é intensa, seja com o uso de robôs ou mesmo por replicação em páginas com grande número de seguidores – caso do blog Joselito Müller, um perfil fake no Facebook especializado em parodiar figuras públicas da esquerda com notícias falsas. O personagem é uma invenção do advogado Emanuel de Holanda Grilo, que se diz independente na política (chegou a militar no PCR nos anos de 1990, hoje se declara um conservador apolítico) mas acaba servindo de apoio à disseminação de informações inverídicas.

    O professor da USP Pablo Ortellado, coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, explica que a disseminação de notícias falsas é a grande arma para a popularização de grupos como o MBL. "Depois da TV, o Facebook é a principal fonte de informação do brasileiro. Como não há uma organização hierárquica das notícias, o leitor simplesmente abre e vai clicando. O papel editorial é feito pelo logaritmo. Então, quem entra no jogo da polarização, das manchetes fortes e com informação não verificada acaba tendo mais compartilhamentos", diz.

    Segundo o professor, não é preciso muito dinheiro para manter um site desses em atividade – o que explica a proliferação de experiências com fake news – seja com milhões ou centenas de seguidores. Todos fazem diferença. "A gente sabe que tem aposentado, estudante, gente comum criando notícia assim. Trata-se de difusão de informação não verificada como instrumento político. O que temos são 'soldados' produzindo informação de combate. E essas notícias são compartilhadas porque elas confirmam posições apaixonadas que o eleitor já tem. Claro, durante um período eleitoral, as regras mudam, existe o trabalho pago. Mas, em período não eleitoral, acho que não é significativo, o que piora o quadro", afirma.

    Militantes do MBL gaúcho protegidos pela polícia diante do Santander Cultural, em agosto

    Militantes do MBL gaúcho protegidos pela polícia diante do Santander Cultural, em agosto

    Foto: Ricardo Stricher

    Marketing do moralismo caça-likes

    A pauta moralista do MBL, entretanto, nem sempre foi predominante. "A grande massa da população brasileira é conservadora, somos um país muito punitivo, com muitos problemas de classe, de racismo. O MBL começou suas ações, lá em 2013, em uma linha muito neoliberal, então o discurso era do Estado mínimo, do neoliberalismo de gabinete. Mas isso não cola no Brasil, as pessoas não querem isso. Então o MBL mudou a estratégia e passou para uma pauta moralista, que tem muito mais eco. Você sempre vai encontrar setores muito grandes da sociedade que te apoiam quando o foco passa a ser a sexualidade, porque são pautas que ainda têm questões transversais de racismo e classismo que são complicadas de vencer", observa a cientista política Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

    Muitos desses ativistas criticam até mesmo as alas mais moderadas do MBL – Rafinha BK e Felipe Diehl, por exemplo, se dizem independentes do Movimento, embora "prestem serviços" a seus integrantes, como ao youtuber Arthur Do Val. Na manifestação contrária à censura da exposição Queer Museu, em setembro, tanto Rafinha quanto Felipe lideraram as agressões aos manifestantes, se prestando também ao papel de "escudo" dos militantes mais ideológicos e refinados.

    Rafinha BK é um trabalhador braçal. Começou sua militância a partir de 2013 e descobriu que podia angariar adeptos a seu canal no Youtube com vídeos toscos sobre as jornadas de junho. Sem obter muita repercussão, começou suas intervenções com gravações simples de celular e obteve uma câmera semiprofissional apenas em 2017 depois que foi auxiliado numa vaquinha eletrônica por um site armamentista. Foi em 2016, porém, que o ativista ganhou notoriedade ao adotar a mesma tática de Do Val, que inclui provocações e baderna.

    Em junho deste ano, Márcio Cannibal e Rafinha BK protagonizaram diversas agressões contra servidores municipais que se manifestavam em frente ao Paço Municipal contra o parcelamento nos salários. Cannibal usou um bastão retrátil, uma arma considerada ilegal, e desferiu golpes contra o professor Geovani Ramos Machado. Embora adepto das teorias do Estado mínimo, Cannibal tentou sem sucesso uma carreira pública ao prestar concurso – e ser desclassificado – para agente de combate a endemias na prefeitura de Porto Alegre, em 2008.

    Lojinha de produtos non sense

    Para quem não conhece, a loja virtual do MBL é recheada de produtos "vintage" – tem até uma camiseta com o que o designer chamou de "três gerações de um sonho", vinculando o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM-SP) à luta antirracismo de Martin Luther King. Não é a única aberração: há mais de uma versão de T-shirt com a expressão "Eu derrotei o PT" e outras peças com Kim Kataguiri e Arthur Do Val, do canal Mamãe Falei.

    Esse é o tripé mais conhecido do MBL, mas a máquina do movimento tem entranhas bem mais obscuras que essa face pública e comportada. No Rio Grande do Sul, ativistas como Rafael Silva Oliveira, o Rafinha BK ou Rafinha Black, Felipe Diehl, Adriano Costa e Márcio Gonçalves "Cannibal" Strzalkowski formam a linha de frente do MBL violento e militarista.

    Integrante explícito do MBL, o deputado estadual Marcel Van Hattem (PP) defende o grupo e se diz "vítima" da agressividade da esquerda. "Estou acostumado a sofrer ataques de representantes e seguidores da esquerda, assim como o MBL também está. Durante muito tempo essas pessoas que hoje nos atacam foram tidas como autoridades que não poderiam ser confrontadas, mas agora que a população conseguiu identificar que esse discurso é uma falácia a agressividade passou a única ferramenta capaz de convencer a militância dos partidos comunistas a seguirem narrativas fantasiosas como a de que houve um golpe no país", diz.

    http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2017/12/mbl-a-disneylandia-da-direita/

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    Cancion con todos

    Salgo a caminar
    Por la cintura cosmica del sur
    Piso en la region
    Mas vegetal del viento y de la luz
    Siento al caminar
    Toda la piel de america en mi piel
    Y anda en mi sangre un rio
    Que libera en mi voz su caudal.

    Sol de alto peru
    Rostro bolivia estaño y soledad
    Un verde brasil
    Besa mi chile cobre y mineral
    Subo desde el sur
    Hacia la entraña america y total
    Pura raiz de un grito
    Destinado a crecer y a estallar.

    Todas las voces todas
    Todas las manos todas
    Toda la sangre puede
    Ser cancion en el viento
    Canta conmigo canta
    Hermano americano
    Libera tu esperanza
    Con un grito en la voz