Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

9.6.16

"É VIOLÊNCIA ATRÁS DE VIOLÊNCIA. Silenciamento atrás de silenciamento. Marginalização atrás de marginalização."

A cultura do estupro descansa sob a sombra da nossa leitura bíblica…

09/06/2016 at 09:43 

Por: Ronilso Pacheco
A cultura do estupro está presente quando a gente passa por um texto que fala do estupro coletivo covarde de uma jovem, entregue a tantos homens, pelo seu próprio pai, e não torna isso um ponto de partida para discutir a fragilidade e condição vulnerável da mulher na nossa tradição judaico-cristã (Juízes 19,24-29).
A cultura do estupro está presente quando a gente consegue ignorar a história de uma mulher como Agar, negra, escrava de Sara e de Abraão, que é não só violentada pelo patrão, a pedido de sua patroa, como é expulsa por Sara, com o pequeno Ismael nos braços, por causa do ciúme desta que é nossa matriarca da fé cristã, ao lado de Abraão, pai da fé. Somente Deus intervém por ela. Nós invisibilizamos a sua história, porque a de Sara e sua família perfeita é mais importante (Gênesis 16,1-16; 21,1-21).
A cultura do estupro se manifesta quando a gente continua exaltando Davi como homem segundo o coração de Deus e menospreza o fato dele ter coisificado, sexualizado, objetificado uma mulher, Betsabeia, companheira de um soldado seu, a ponto de armar para este homem uma armadilha de morte, para ele, como rei, ficar com essa mulher. A mulher coagida por um homem do poder, seduzida e abusada (2 Samuel 11,2-3).
A cultura do estupro é quando a gente continua lendo o livro de Oseias com essa mesma ilustração machista e medíocre, em que Oseas, homem, é o sujeito honesto e puro, que se relaciona com Gomer, mulher, prostituta, que serve para ilustrar a infidelidade do povo de Israel. A gente não entende que o que se contrapõe a Deus não é a vida de Gomer, mas a condição a que ela chega, fruto do contexto social conduzido pelo próprio estado e a religião, que juntos, usam a prostituição. O Estado usava as festas religiosas para tal (Livro de Oseias).
A cultura do estupro está quando a gente continua culpabilizando a mulher no capítulo 8 do Evangelho segundo João, assumindo a fala de sua acusação de adultério, mesmo o texto mostrando o machismo violento e arrogante dos homens, velhos e jovens, que a trouxeram para cumprirem com satisfação a lei que os livrava de qualquer responsabilidade de violação contra as mulheres, mas puniam esta por qualquer reivindicação de decisão sobre o corpo (João 8,1-11).
A cultura do estupro está no arcabouço dessa leitura que não nos choca, e não nos serve de nenhuma ilustração, o fato do grande sacerdote Esdras, ter proposto como solução para recuperação da fidelidade do povo de Israel a Deus, a expulsão de TODAS as mulheres estrangeiras junto com os seus filhos, para purificar o povo. Matrimônios desfeitos, mulheres largadas solitariamente para fora do território, para que o povo (na verdade os homens) fosse purificado. Coisa que Hitler fez, e achamos um absurdo (Esdras 9 e 10).
A cultura do estupro descansa sob a sombra da interpretação em que continuamos nos digladiando discutindo o protagonismo das mulheres na Igreja. Homens decidindo se elas devem ou não ter, devem ou não falar, etc. E continuamos com essa medíocre subalternidade da mulher justificada, de maneira não só machista mas também prepotente, pela leitura arcaica das palavras de Paulo (algumas duvidosamente atribuídas a ele) como em Coríntios (1 Coríntios 14,33-35).
A cultura do estupro justifica a gente não problematizar nos nossos sermões, situações como a vivida por Tamar, jovem não apenas abusada, violentada, sem direito sobre o próprio corpo, como impedida até de partilhar do prazer e do gozo da relação que tinha (Gênesis 38).
É VIOLÊNCIA ATRÁS DE VIOLÊNCIA. Silenciamento atrás de silenciamento. Marginalização atrás de marginalização. Mas a gente não vai ficar procurando isso na Bíblia. A gente não vai aceitar que digam que a Bíblia é lida sob a lente da mesma cultura machista e legitimadora do estupro diário sofrido por tantas mulheres e adolescentes. As histórias estão ali, mas a gente não aprendeu a discutir nada, a gente não pergunta. Mas afinal, são só mulheres. Nós vamos continuar passando por cima das violências por elas sofridas, e dizendo amém, mesmo que nossa hermenêutica machista contribua sutilmente para o arcabouço desta cultura. A cultura do estupro. É forte, mas é isso.

 

Fonte: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=877091055734047&id=100002994815262

https://cebirs.wordpress.com/2016/06/09/a-cultura-do-estupro-descansa-sob-a-sombra-da-nossa-leitura-biblica/

Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz