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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

9.1.13

Aos 94 anos, estudante é a mais velha a concluir ensino médio no RS | Portal Aprendiz

Aos 94 anos, estudante é a mais velha a concluir ensino médio no RS

Quando provou pela última vez o vestido de formatura, um modelo preto com estampa de rosas brancas, Maria de Oliveira Costa, a dona Benta, experimentou uma emoção adolescente aos 94 anos. Ao pedir os últimos ajustes no traje, sentiu o orgulho de realizar um sonho desejado há mais de oito décadas.

Impedida de estudar na infância e alfabetizada aos 85 anos, a moradora de Capão Bonito do Sul, no Norte, é a aluna mais velha do Estado a concluir o Ensino Médio este ano. No município, alçaram-na ao posto de celebridade pela persistência e superação.

Quando nasceu, em Vacaria, na Serra, foi chamada de Maria Benta, em homenagem à avó paterna. Apesar de parte do nome ter se perdido no registro, carregou o Benta como apelido pela vida afora, como herança de família.

Mais velha de oito irmãos, foi a primeira filha a trabalhar na propriedade da família — as tarefas na lavoura começaram aos 10 anos. Benta lembra, achando graça, que os Costa usavam arado de boi na terra e tinham pavor quando o instrumento enroscava em alguma raiz. Para suportar o sol forte, a família confeccionava os próprios chapéus, trançando a palha do trigo. A gurizada também costumava brincar na lavoura depois das queimadas. As crianças voltavam completamente sujas de carvão, para desalento da mãe, que chegava a lhes dar três banhos até vencer o encardido de braços e pernas.

Nos finais de semana, a sala de chão batido era adaptada para receber pequenos bailes. Uma das irmãs, que contraiu meningite na infância e ficou impossibilitada de andar, responsabilizava-se pela trilha sonora: com uma gaita de boca, botava o restante da turma para levantar poeira do piso, sempre em ritmo gauchesco. Atravessavam madrugadas dançando. O passatempo da meninice despertou o gosto tradicionalista cultivado até a maturidade. A filha Nadir Costa da Silva, 63 anos, que mora com a mãe, conta que a Semana Farroupilha é a data mais aguardada do ano por Benta:

— Era um pé de valsa. Hoje já não aguenta mais um baile inteiro, mas continua escutando em casa.

Durante a infância na Serra, o desejo de estudar floresceu. Entre os irmãos, apenas o mais velho dos rapazes frequentou o colégio. Por medo, ela nunca chegou a expressar diretamente a vontade ao pai, mas recorda com clareza quando soube o motivo que a afastou dos estudos. Certo dia, o professor do irmão foi visitar a família e perguntou o porquê de as meninas não estudarem. O pai de Benta respondeu temer que elas escrevessem cartas aos pretendentes.

— Nem tinha essa vontade, só queria aprender — lamenta.

Quando a mãe resolvia ajudar o irmão nos estudos, a menina costumava ficar escutando, escondida. Também tinha o hábito de pegar os cadernos dele e copiar o que via nas páginas, tamanho era o desejo de decifrar as letras.

Depois de casar, aos 28 anos — ainda muito nova, segundo ela —, seguiu trabalhando na lavoura, mas manteve a esperança de um dia aprender a ler. Quando se mudou para o Norte, há quatro décadas, dona Benta se dedicou a criar os quatro filhos: Valdir, Nadir, Vanir e a caçula Vaniza, que morreu com um ano e sete meses. Nadir conta que o xodó da mãe sempre foi Vanir.

— Ele teve paralisia com menos de um ano — lembra a filha, justificando o extremo cuidado da mãe.

Há 16 anos, Benta enfrentou a perda do companheiro, que não resistiu, aos 79 anos, a um infarto. Transformou o lamento em motivação para estudar. Aos 85 anos, teve a primeira experiência como aluna, durante a alfabetização. Do longo período em que ignorou o significado das letras, recorda a vergonha sentida ao ter de depender de quem nem sempre estava disposto a ajudar.

— Tinha gente que olhava estranho, sei que pensavam mal porque eu não tinha aprendido. Agora leio o que pegar na mão. É livro, é jornal, leio tudo — comenta, animada, acrescentando que poesia é a distração preferida.

Quatro anos depois, em 2007, dona Benta concluiu o Ensino Fundamental cursando o programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Estadual Dr. Abelardo José Nacul. Um ano antes, teve de enfrentar a morte do filho Vanir.

— Ela sofreu tanto que nem caminhava mais. Achamos que não iria vencer — lembra Nadir.

Quando a mesma instituição abriu a primeira turma de Ensino Médio no turno da noite, a professora Neura Lucia Lima Fabiane, 46 anos, sabia exatamente onde buscar uma aluna:

— Fui visitá-la. Quando fiz o convite para voltar a estudar, ela aceitou na hora.

A oportunidade de concluir os estudos deu novo vigor à rotina. A aprendiz tardia era a alegria da turma de adultos na faixa dos 30 anos. Sentava sempre na primeira fila, no centro da sala, para ficar mais perto do quadro e ouvir melhor as explanações. Quando a mão cansava de copiar os conteúdos do quadro, uma colega tomava a caneta. Em um ritmo mais lento do que os demais, conseguia preencher até duas folhas.

— Não consigo escrever rápido — protestava quando a lição era ditada.

A colega Andréia Maria de Matos de Lima, 31 anos, conta que todos ajudavam como podiam. Benta era conhecida por ser estudiosa e “perguntadeira”. Em casa, retomava o conteúdo sentada no sofá. Como resultado do empenho diário, notas sempre acima da média cinco. Em matemática, a disciplina preferida, costumava tirar seis ou sete.

— Só não gostava quando o cálculo envolvia letra. Aí complicava — lembra.

Para o baile de formatura, no último sábado, dona Benta economizou R$ 10 por mês ao longo de 2011 e R$ 15 este ano. A formanda recebeu o diploma ao som de O Vento, do grupo Os Monarcas, um de seus favoritos. Da oradora, mereceu uma homenagem no discurso, definida como a “menina da turma”.

— Vou sentir saudade. Se fosse dar um conselho para os jovens, diria para que estudem o quanto conseguirem. O que aprendemos é uma herança que ninguém pode nos roubar.

Benta cogitou ser professora quando jovem e até pensou em frequentar curso superior. Não levou o plano adiante, convencida de que o corpo não suportaria, além das limitações da idade, outros quatro anos sobre os cadernos. Entreter-se não será problema: ao lado de seis netos e 13 bisnetos, vai dar continuidade às peças em crochê e bordado que colorem a casa. Não será professora, mas lições já deu de sobra.

http://portal.aprendiz.uol.com.br/2013/01/03/aos-94-anos-estudante-e-a-mais-velha-a-concluir-ensino-medio-no-rs/

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz