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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

5.2.08

'Cuba vai mudar, mas do seu jeito'. Entrevista com Ignacio Ramonet

O espanhol Ignacio Ramonet, diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, talvez seja o não-cubano que melhor conheça Fidel Castro e as entranhas de Cuba. Autor do livro Fidel Castro: Biografia a duas vozes (a maior entrevista já concedida pelo cubano), ele descarta transformações abruptas na ilha após a passagem de poder à nova geração. As mudanças, diz, serão diferentes daquelas vistas na China ou no leste europeu. Com a saúde debilitada, Fidel deu sinais que poderá abrir mão da presidência neste ano. O jornalista espanhol amigo de Fidel diz quem são e o que farão os líderes cubanos da nova geração. A reportagem e a entrevista são de Ricardo Mendonça e publicadas pela revista Época, 18-01-2008.
Eis a entrevista.
Fidel está com 81 anos, afastado poder há mais de um ano e, ao contrário do que muitos previam, principalmente nos EUA, isso não resultou em nenhuma mudança substancial do regime. O senhor tem alguma explicação?
Sim. Acredito que essas análises que os EUA faziam eram baseadas sobre seu próprio desejo, não sobre a realidade. Todos os observadores sérios sabiam que o regime era mais sólido do que dizia a administração dos EUA. A prova disso é o que tem ocorrido agora. Já estamos no pós-Fidel, em certa medida. Ele não está mais governando e, como você disse, não há nada excepcional. A situação é estável, não há protestos, as instituições são sólidas, tivemos eleições municipais, haverá eleições legislativas agora em 2008 e, depois disso, será escolhido o novo presidente.
Não são eleições viciadas?
Há um partido único e podemos pensar que isso não corresponda a uma sociedade sofisticada. Eu comentei isso com Fidel. Cuba é hoje um país com alto nível cultural, um nível educacional muito alto, muitos cientistas, técnicos, engenheiros, médicos. Então o partido único não é suficiente para refletir a sofisticação, a variedade, a pluralidade da sociedade cubana. Mas há um sistema de funcionamento democrático que merece ser bem observado. Os candidatos não podem ser apresentados pelo partido. Eles surgem da sociedade e são votados nas assembléias populares. Essas pessoas podem ser oponentes ao sistema, podem ser membros do partido. Mas muitos não são nem uma coisa, nem outra. São pessoas normais. Há pastores protestantes que são deputados, há sacerdotes, militantes cristãos que não concordam com a pena de morte, com algumas decisões.
Mesmo assim, continua sendo partido único.
O partido único se justifica no contexto de hostilidade que vive Cuba. Sempre que pensamos na evolução que poderia ocorrer em Cuba, temos que perguntar como irão evoluir os EUA com relação a Cuba. Irão suprimir o embargo econômico? Irão suprimir a pressão diplomática? Irão suprimir a ameaça militar, com invasões, terrorismo e apoio aos grupos que cometem atentados e sabotagens? Se pensarmos nisso, veremos que, apesar de tudo, em Cuba há um processo eleitoral muito interessante.
Raúl Castro, o irmão de Fidel que interinamente preside a ilha, tem idade avançada e dificilmente será sucedido por alguém que tenha participado da revolução de 1959. É razoável esperar algo diferente de um dirigente que não tenha participado da revolução?
Certamente. O mais provável é que o próximo presidente seja Raúl. Mas Fidel mesmo disse que Raúl não é a verdadeira sucessão, é a continuidade. O mais importante para a revolução é quando a nova geração assumir o poder. Mudanças evidentemente irão ocorrer, pois o contexto político não é mais o mesmo, Cuba não está mais isolada. Tem excelentes relações com Brasil, Argentina, Venezuela, Equador, Bolívia e Chile, entre outros.
Quem são esse possíveis substitutos da nova geração?
Carlos Lage (atual vice-presidente) tem uma trajetória interessante, pois vem da direção da juventude estudantil. Felipe Perez Roque (atual ministro das Relações Exteriores), foi presidente da federação de estudantes universitários e secretário pessoal de Fidel por muito tempo. Os dois têm excelentes relações com Raúl e Fidel. Há outros: Abel Prieto, ministro da Cultura, Ricardo Alarcón (presidente da Assembléia Popular), um homem muito culto. Todos são conscientes da necessidade de proteger a identidade e a independência de Cuba. Não estou falando de modelo econômico, mas filosófico.
E do ponto de vista econômico?
Há muita gente especulando se Cuba irá adotar o modelo chinês ou vietnamita. Desde 1959 Cuba tem tido aliados indispensáveis para resistir a pressão dos EUA. Mas separe que Cuba nunca adotou um modelo de maneira mimética: nunca foi semelhante à União Soviética. A organização da economia foi diferente, o setor agrícola foi preservado em cooperativas voluntárias, nunca de maneira violenta. Em muitos setores foram conservados os proprietários privados, como o de tabaco. Cuba sempre foi por uma via particular. Estou convencido que nessa nova etapa Cuba tratará de definir também uma via singular.
O senhor acha que o regime pós-Fidel, mesmo conduzido por pessoas de sua confiança, responderá às reivindicações reprimidas por mais participação democrática e oportunidades econômicas?
Isso é verdadeiro, Cuba tem muitos problemas na vida cotidiana. Problemas com alimentação, habitações e também com o transporte público. Mas neste momento, esses três problemas são os temas sobre os quais está trabalhando o governo. Num contexto geopolítico diferente, a sociedade irá evoluir. As novas gerações são conscientes que estamos em outra época.
Em Cuba há pena de morte, dissidentes presos, restrições para deslocamentos, inexistência de organizações independentes. Por tudo isso, o senhor não classifica Fidel como ditador?
Há pena de morte, é verdade, mas não é aplicada mais há cinco anos. Há uma moratória. O próprio Fidel me disse que, filosoficamente, é contra. Com relação aos dissidentes, é preciso ser prudente. De fato, há pessoas detidas, mas não pelo que pensam, mas pelo que fazem: organizar grupos financiados pela embaixada dos EUA. Fora isso, todas as personalidades importantes da dissidência estão em liberdade e têm suas atividades, como Martha Beatriz Roque, Vladimiro Roca e Oswaldo Payá. Quando você fala em penas altas, é preciso levar em consideração que Cuba é um dos países que mais sofre com o terrorismo. Grupos anti-cubanos de Miami já fizeram 3.500 mortos nos últimos 40 anos. E com relação a Fidel, ele se manteve muito tempo no poder, mas porque Cuba está sob muita hostilidade. Fidel é produto da história, fundador do Estado cubano, teórico da revolução, além de líder carismático. Ele é a estratégia da resistência cubana. Mas o sistema não está pensado para que outro dirigente fique 40 anos no poder.
Logo no começo da biografia-entrevista de Fidel, o senhor descreve o gabinete dele e cita um busto de Abraham Lincoln. Não lhe pareceu estranho a presença da estatueta de um presidente americano naquele local?
Fidel Castro, curiosamente, tem grande admiração por Lincoln. Não sei se você se lembra, mas a primeira viagem de Fidel após a revolução de 1959 foi para os EUA. Ele foi visitar o Congresso e se inclinou na frente da imensa estátua branca de Lincoln. É porque Lincoln foi o libertador dos escravos. Para Fidel, foi uma figura muito importante. Mas Fidel nunca escondeu sua admiração por John Kennedy, Jimmy Carter ou Bill Clinton. As relações sempre foram difíceis com Ronald Reagan e Bush filho.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz