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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

14.7.07

A vaia do Rio de Janeiro branco

"Onde estavam os negros na linda festa do maior templo do esporte mundial? Onde estavam os pobres que todos os dias atormentam os motoristas nos sinais de trânsito, esmolam nas esquinas, balançam nos trens e nos ônibus lotados?", pergunta David Coimbra, jornalista, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 14-07-2007.

Eis o artigo.

"A vaia do Maracanã ao presidente Lula foi maciça, foi pesada e foi humilhante. Mas há um aspecto nessa vaia que não se pode deixar passar: foi a vaia do Rio de Janeiro branco. Onde estavam os negros na linda festa do maior templo do esporte mundial? Onde estavam os pobres que todos os dias atormentam os motoristas nos sinais de trânsito, esmolam nas esquinas, balançam nos trens e nos ônibus lotados? Quem atravessou a cidade da Barra da Tijuca ao Maracanã viu onde eles estavam: nas favelas pingentes, nas malocas infectas, vivendo no fedor do mangue, entre balas perdidas e papagaios empinados.

Isso não desmerece nem desautoriza a vaia do Maracanã. Os bem nascidos e bem alimentados também têm direito à vaia, e foram 90 mil bem nascidos e bem alimentados que vaiaram o presidente. Mas foram, sim, os bem nascidos, os bem alimentados.

Eu estava no Maracanã. Eu vi: eram todos limpos, corados, vestidos de acordo com a moda, caminhando sorridentes com seus filhos pela mão. Repito: não havia pobres no Maracanã. E repito: isso não torna a vaia menor. Mas isso deixa exposta a maior chaga do Brasil. O Brasil são dois: o Brasil branco, que trabalha, ri, se diverte e protagoniza uma festa tão magnífica como a de ontem. E o Brasil que vive à margem, subnutrido, revoltado, muitas vezes de fuzil na mão, como nas favelas do Rio.

Lula veio deste Brasil. Do Brasil negro. Provavelmente mereceu a vaia. Mas quem o vaiou vem de um lugar do qual ele jamais pertenceu. E talvez tenha sido esse o motivo de ter sido a vaia tão maciça, tão pesada, tão humilhante."

As vaias no Pan
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A abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio, ontem no Maracanã, teve um show de vaias: a Argentina, eterna rival do Brasil, foi poupada no desfile das delegações, mas sobrou para os atletas dos EUA, da Bolívia e da Venezuela. No entanto, quem mais foi apupado não era esportista: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou vaiado todas as vezes em que apareceu no telão ou teve seu nome anunciado. E, em uma quebra de protocolo, Lula não fez o pronunciamento de abertura oficial dos Jogos - desde a primeira edição, em Buenos Aires, em 1951, os chefes de Estado são responsáveis pelo anúncio. A notícia está nos principais jornais do País, hoje, 14-07-2007.

Lula teria sido vítima de uma gafe do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Co-Rio, Carlos Arthur Nuzman. Afinal, o presidente estava com o texto e o microfone à mão na tribuna de honra, e foi anunciado pelo presidente da Organização Esportiva Pan-Americana (Odepa), o mexicano Mario Vasquez Raña. Mas Nuzman se antecipou e acabou dizendo:

- Em nome de todos, declaro abertos os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.
Para a manhã de hoje, estava prevista a presença do presidente na praia de Copacabana para entregar as primeiras medalhas do Pan do Rio, na prova de maratona aquática.
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Desabafo indignado
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Assisti a abertura do PAN pela televisão, e li os textos publicados no IHU On-line de 14/07/2007 - "As vaias no Pan" e "A vaia do Rio de Janeiro branco", e diante disso, gostaria de expressar minha opinião sobre os fatos ocorridos, intitulados como "quebra de protocolo" ou a "gafe do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Co-Rio, Carlos Arthur Nuzman".
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Acho ingênuo acreditar que em um evento como o PAN possa ter havido "quebra de protocolo" ou "gafe", mas na verdade o que ocorreu foi mais uma demonstração do "ódio de classe da burguesia brasileira", como já bem se pronunciou Jorge Borhausen (DEM), cuja declaração foi muito bem analisada pelo sociólogo Emir Sader (em artigo publicado na Agência Carta Maior, em 28/8/2005), a quem respeito e admiro pela clareza de idéias.
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Como descreve David Coimbra (artigo "A vaia do Rio de Janeiro branco"), as pessoas que estavam presentes no Maracanã no dia 13/07/2007 eram as que formam "o Rio de Janeiro branco", os "bem nascidos e bem alimentados". Não haviam pobres, negros, e todos os excluídos do sistema capitalista mundial..., nem na platéia e muito menos no Comitê Olimpico Brasileiro.
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Por isso, reitero que não acredito no que a mídia oligárquica ousa chamar de "quebra de protocolo" ou "gafe". Mas, os fatos que marcaram a abertura do PAN como uma "festa" excludente e burguesa, devem-se a divisão do Brasil em dois: "o Brasil branco, que trabalha, ri, se diverte e protagoniza uma festa tão magnífica como a de ontem. E o Brasil que vive à margem, subnutrido, revoltado, muitas vezes de fuzil na mão, como nas favelas do Rio", como definiu Coimbra.
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mfernandams
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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz