Votando no pior (por Marino Boeira)
Vendo e ouvindo um dos debates entre Tarso Genro e José Ivo Sartori ficou claro para mim porque o candidato do PMDB venceu com tanta facilidade o primeiro turno das eleições para o Governo do Estado do Rio Grande do Sul: os eleitores escolheram deliberadamente o pior candidato.
Você pode ter horror ao PT, achar o Tarso um tanto pernóstico, mas não pode deixar de concordar que ele é incomparavelmente mais inteligente e preparado para governar o Estado que o seu oponente.
Enquanto Tarso responde a todas as questões de uma forma lógica e embasada em argumentos racionais, Sartori só faz generalizações e responde com obviedades a todas as questões propostas.
Ensinado pelos seus marqueteiros a criticar as pesquisas eleitorais, ele produziu uma frase que repete ad nauseam, aquela de ouvir o coração, sem se dar conta da pieguice que impregna tal dito.
No primeiro momento pensei que, as pessoas que estivessem vendo ou ouvindo as perguntas e respostas dos candidatos, logo fariam a opção mais racional, escolhendo o candidato mais inteligente, mais preparado, o que tivesse projetos mais factíveis, no caso, obviamente Tarso Genro.
Foi então que me dei conta de que Sartori ganhou no primeiro turno e tem chances de ganhar no segundo, exatamente pelos seus defeitos e não pelas suas qualidades de seriedade e honestidade.
Sérios e honestos os dois candidatos são. Só que o Sartori se revela um medíocre quase assumido. Durante todo o debate, ele não externou nenhuma idéia nova, nenhum pensamento original, nada que o diferencie daquelas opiniões que pontuam uma discussão de bar sobre futebol ou de donas de casa tradicionais sobre o último capítulo da novela da Globo.
No primeiro turno, os eleitores votaram no Sartori pela sua mediocridade, que talvez seja apenas um recurso de marketing e não sobre a sua apregoada capacidade de administrador municipal.
O brilho e a inteligência de Tarso podem causar admiração, mas também afastam muitos eleitores – principalmente aquele representante típico da classe média que fica sabendo do que ocorre no mundo através da Rede Globo e da RBS – que não gostam de medir seus talentos por figuras políticas.
É o voto da classe média ressentida com o brilho de um político identificado com um partido operário. Caso Tarso fosse candidato de um partido mais elitizado, o PSDB, o PP ou mesmo PMDB, o seu brilho pessoal ficaria bem colocado e seria motivo de admiração. Do candidato de um partido fundado por um metalúrgico, ela espera uma linguagem mais chã, mais próxima dela.
Então, ela vota num candidato – Sartori – que se posiciona como um "gringo" sério, mas sem qualquer brilho pessoal.
A esperança é de que este voto de solidariedade na mediocridade, possa ser mudado no segundo turno, com as pessoas se dando conta de que por trás desses dois candidatos, existem projetos políticos opostos. Um, o do Tarso é o aprofundamento das políticas de desenvolvimento econômico e social que realizou nos seus quatro anos de governo e o outro, o do Sartori, é a volta a um passado de privatizações e arrocho salarial.
PS - Aécio certamente é bem diferente do Sartori como ser político, mas no final acaba defendo propostas muito semelhantes. Um dos poucos jornalistas isentos da Folha, Janio de Freitas, lembrou outro dia a dualidade de imagens entre ele e Dilma. Um representa a Bolsa de Valores e Dilma, a Bolsa Família.
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Marino Boeira é professor universitário.
http://www.sul21.com.br/jornal/votando-no-pior-por-marino-boeira/
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