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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

23.10.14

Tristes subtrópicos

23/out/2014, 8h50min

Tristes subtrópicos

Estimados compatriotas gaúchos: vocês ensandeceram? Houve alguma queda coletiva de metade do estado com todo mundo batendo a cabeça no chão ao mesmo tempo e passando a achar que isso aí é o Paraná, ou Santa Catarina? Vocês sofrem coletivamente de alguma alucinação na qual José Sartori incorpora Leonel Brizola, e por isso a confusão na hora de declarar a intenção de voto? Em bom português, What´s the matter with Kansas?

Aliás, esse é o título de um ótimo livro sobre como o tal Kansas, terra de redemoinhos e do Mágico de Oz, se transforma de um lugar progressista em um território dominado pelo horrível partido Republicano.

What´s the matter with you, Rio Grande del Sur? Não aprenderam nada com as besteiras sequenciais de eleger Britto, Rigotto, Yeda, todos representantes da mesma ausência de projeto que alimenta o nobre e estimado Sartori? Não estão satisfeitos ao ver que entregar governo a quem quer observar pássaros é o que atualmente desmonta Porto Alegre? Vocês estão brincando com o futuro de vocês e dos seus filhos?

Porque isso é o que se faz quando se escolhe o isopor como símbolo pátrio. Governantes precisam ser gente com visão de alguma coisa que seja um pouco mais do que uma grande Festa da Uva, se é que isso ainda existe.

Sabem como o Kansas se transformou em um grande deserto de pessoas, Bruxas Más do Oeste e ideias? Quando o partido Republicano, perdedor de todas as grandes lutas do século 20, virou o Partido do Homem Comum, da pátria amada, da torta de maçã e do ódio aos gays. Quando o tal Homem Comum passou a acreditar que uma plutocracia realmente sentia amor por ele. Quando ele passou a acreditar que seria mais feliz em um mundo onde outros como ele, igualmente sem noção do que faz o mundo girar, estivessem no comando. Melhor um desmiolado como George W. Bush do que um sujeito pensante como Al Gore. Melhor um esquisito como Mitt Romney do que um intelectual e (relativamente falando) humanista como Obama, porque Romney era Um de Nós – apenas com alguns bilhões a mais na conta.

Obama era um esnobe que queria ajudar todo mundo, especialmente os mais pobres, a irem pra faculdade. Romney sabia que ser Um de Nós era desprezar a educação, essa fonte inesgotável de problemas.

Se você pede a Homem do Povo para especular sobre a natureza das coisas, ele vai lhe dizer para procurar a horta mais próxima, onde existem várias formas de natureza. Se você pede a ele para solucionar algum problema, ele vai lhe dizer para tomar uma aspirina e comer frango com polenta, que sempre dá certo. O Homem Comum do Kansas adora, acima de tudo, uma boa simplicidade, mesmo que ela não signifique coisa alguma.

O problema, sempre, é que a simplicidade não apenas não resolve como não existe. O mundo, especialmente esse em que a gente vive, ou vai viver, tem como maior fator de diferenciação com os mundos anteriores a sua extrema complexidade e velocidade de mudança. Basta ficar no mesmo lugar por alguns anos para ocupar o final da fila.

E é isso que acontece, rapidamente, com o nosso querido e estimado RS, terra de falta de contrastes. Sério. Eu sou gaúcho, vivi muitos anos na linda Serra, muitos outros na leal e valerosa, e vejo a velocidade com a qual estamos perdendo o bonde.

Meses atrás eu tentei desenvolver um projeto simultaneamente, aí e aqui em SP, onde vivo. Eu não vou descrever a vocês todas as diferenças que eu encontrei, porque não gosto de tragédia antes do almoço, mas posso garantir a vocês que o projeto está já na rua aqui, e eu desisti dele aí.

A diferença de um governo que tenta reformar, mudar, avançar, é que ele tenta. Para isso, em um lugar travado como o nosso amado rincão, é preciso, acima de tudo, tempo, continuidade. Mudar agora, e trocar um governo que acredita por um que parece acreditar que o mundo é um grande galeto, é mais do que maluco, suicida. E é o que estamos fazendo, aparentemente.

A causa? Deve haver alguma, ou muitas. Mas, se um povo escolhe um Sartori como ícone, ele quer se ver espelhado ali, ou quer mostrar ao restante do povo quem é que manda.

O Homem Comum daí está me parecendo muito, mas muito parecido como o do Kansas, que é, como tem que ser, um dos mais atrasados estados americanos.

E qualquer semelhança, como se sabe, só pode, tem que ser, mera coincidência. Tristes nós.

Marcelo Carneiro da Cunha é escritor.


http://www.sul21.com.br/jornal/tristes-subtropicos/


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz