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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

3.10.14

A união para acabar com o PT

3/out/2014, 14h54min

A união para acabar com o PT

Debate na Rede Globo:  o pior de todos, reproduzindo uma das características da política brasileira: a união conveniente entre opositores no intuito de estilhaçar uma vidraça, a de Dilma | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Debate na Rede Globo: o pior de todos, reproduzindo uma das características da política brasileira: a união conveniente entre opositores no intuito de estilhaçar uma vidraça, a de Dilma | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Maria Wagner*

Lutei bravamente para não perder o bom-humor ao longo da semana. Mas agora espero que algo de bom aconteça, porque ele morreu vitimado pela overdose de debates na televisão, se é que podemos dar esse nome – próprio de uma sociedade democrática e civilizada – a esse quadro surrealista que a maioria dos candidatos à presidência e ao governo do Estado pintou ao longo de toda a campanha eleitoral do primeiro turno, que levará o povo às urnas neste domingo.

A dose foi realmente cavalar, reproduzida em uma sequência de quatro episódios dantescos: na sexta-feira (26 de setembro), a disputa estadual; e no domingo (28), a nacional. Ambas pela TV Record. Na terça (dia 30), os concorrentes ao governo do Estado protagonizaram uma sessão de tapas e beijos – Estivalete, Ana Amélia, Robaina, Sartori, Humberto Carvalho e Vieira da Cunha unidos contra Tarso Genro, um servindo ao outro como degrau, pela RBS; e na quinta (dia 2 de outubro), foi a vez de os presidenciáveis usarem essa estratégia de combate. Desta vez na Rede Globo. Foi o pior de todos, reproduzindo uma das características da política brasileira: a união conveniente entre opositores no intuito de estilhaçar uma vidraça. No caso, Dilma Rousseff.

Programa de governo… Que bicho é esse? Aécio e Marina, disputando a possibilidade de enfrentar Dilma no segundo turno aproveitaram todas as perguntas como oportunidade para catapultar mais uma pedra contra o PT e sua candidata à reeleição. A situação chegou às raias do absurdo no bloco de temas determinados, quando o pastor Everaldo, sorteado para fazer sua pergunta ao tucano sobre Previdência, resolveu saber a opinião dele sobre o PAC. Mas, ao contrário do que se vê nas ruas do País, onde o desrespeito às regras é quase uma norma e por muita gente aplaudida como esperteza, a tolerância dos assessores dos candidatos é zero nos debates. Por isso, o galope acusatório de Aécio foi interrompido pelo mediador, William Bonner, que, na verdade, demorou a intervir. Aliás, nem deveria ter permitido que a pergunta fosse completamente formulada. De qualquer maneira, a intervenção desorientou o pastor e ele, sem argumentos, presenteou a plateia e os telespectadores com um momento circense quando lascou "O que tem a me dizer sobre a Previdência?" E Aécio não se vexou. Afinal, PAC ou Previdência, que diferença faria a troca de assunto quando o único objetivo era desmerecer o governo Dilma?

Nesse jogo, os programas de governo são como bola jogada para o escanteio. E isso foi observado em uma das edições do Jornal da Pampa desta semana, quando o ex-governador Germano Rigotto falou sobre a ausência deles nos debates, em consequência de fatores estruturais: um deles é o excesso de candidatos; o segundo é a necessidade, decorrente desse excesso, de a produção estabelecer regras para que todos possam falar; o terceiro é a distribuição justa do tempo que, novamente em consequência do excesso de personagens em cena, não permite aprofundamento nas perguntas e respostas. Concordo com Rigotto. Mas acredito em mais um motivo: os candidatos unidos na briga contra Dilma e Tarso – que têm muito a mostrar do trabalho feito – não falam de seus programas de governo, simplesmente porque não os têm. Por isso se refugiam nas acusações, sempre com os olhos voltados para o passado, quando deveriam focar no futuro. Se estiver errada, me desculpem, mas a impressão que passam é exatamente essa.

No debate estadual realizado na Record, Ana Amélia começou dizendo que era hora de parar com os ataques e falar de propostas. Depois se desmentiu ao longo de todo o programa. Bateu à vontade no candidato do PT, sempre contando com a solidariedade dos demais. Marina Silva, em resposta a Aécio Neves na quinta-feira (2), afirmou que "temos um plano de governo para melhorar o salário mínimo do trabalhador", mas esqueceu (?) de explicar o conteúdo desse plano. No fim, o que se vê como propósito atrás dos discursos é um só: tirar o PT do poder. Apenas isso. Na disputa nacional, inclusive Luciana Genro (PSOL) embarcou nesse trem. O problema é que a viagem não termina bem para quem se vê obrigado a ouvir que "está sendo leviana". E foi essa a reprimenda que o tucano lhe endereçou e para a qual não teve como se defender. Faltou tempo.

É fato que as perguntas e respostas de Luciana criaram momentos interessantes nos debates, mas o desembarque desse trem terminará neste domingo, quando a volta à realidade vai mostrar que eles não alteraram a aprovação popular de forma significativa. Ela ganhou destaque durante a campanha – principalmente nas redes sociais –porque se posicionou sobre temas considerados polêmicos, como casamento entre homossexuais e aborto. Foi sincera? Acredito que sim. Corajosa? Nem tanto. Afinal, quem pouco tem a perder acredita que pode gritar aos quatro ventos o que pensa disso e daquilo, provocando o sincericídio de incautos como Levy Fidelix. Provocadores como Luciana e Robaina ganham aplausos, porque desopilam fígados. Votos? Não o suficiente agora. Talvez no futuro.

Em Brasília, a jornalista norte-americana Anna Edgerton está acompanhando a campanha eleitoral. Ouvida em programa da Band FM nesta quinta-feira (2), ela disse que a animosidade entre os candidatos não lhe causa espanto. Inclusive porque não é uma exclusividade dos brasileiros, afirmou a correspondente da agência de notícias Bloomberg. Nos Estados Unidos, onde apenas dois partidos disputam o poder – republicanos e democratas – as acusações mútuas também são componente importante da estratégia do jogo. E lá, como aqui, a homoafetividade e a legalização do aborto são questões que continuam causando polêmicas.

Anna está no Brasil desde 2013 e cobriu as manifestações de junho. Na Bloomberg, suas matérias se destinam ao mercado internacional, mas também ao brasileiro. Se pudesse votar aqui quem escolheria? "Jornalista só cobre os fatos para o leitor", respondeu. Mas acrescentou que essa imparcialidade não é a regra nos Estados Unidos, onde jornais abrem seu voto e encaram isso como uma prestação de serviço ao leitor. Ela não disse, mas sabe que no Brasil a posição a favor de um candidato é vista como jornalismo sujo e, por isso, a mídia tenta posar como imparcial mesmo quando não é. Esse comportamento é preventivo. Evita que o leitor desatento à aposta refletida no uso da vírgula estranhe quando Eliane Cantanhêde – de hábito combativa na GloboNews em relação ao governo da candidata do PT e cética quanto à reeleição dela – acaba dizendo que "não é provável, mas não é impossível que Dilma ganhe no primeiro turno". Melhor ouvir o que as urnas têm a dizer. Elas falarão no domingo.

*Jornalista


http://www.sul21.com.br/jornal/a-uniao-para-acabar-com-o-pt/


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz