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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

6.10.14

O Sartori que José Ivo não mostra

O Sartori que José Ivo não mostra

outubro 6, 2014

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O candidato do PMDB, José Ivo Sartori, foi o grande vencedor do primeiro turno das eleições ao governo do Estado do Rio Grande do Sul. Na verdade, uma grande parte do eleitorado de Sartori provavelmente não sabe que ele é candidato do PMDB, uma vez que o candidato passou todo o primeiro turno dizendo: "meu partido é o Rio Grande". Não é. José Ivo Sartori é filiado ao PMDB. Na campanha do primeiro turno, o candidato peemedebuista também resumiu a sua trajetória política à sua passagem pela prefeitura de Caxias do Sul. Apresentou-se, assim, como um gringo simples do interior, o "Sartorão da massa", ex-prefeito de Caxias e, supostamente, sem filiação partidária nem passagens por governos além da prefeitura. Esses ocultamentos foram – e seguem sendo – vitais para a estratégia de Sartori.

Durante os debates do primeiro turno, Sartori chegou a se irritar com o governador Tarso Genro pelo fato deste tê-lo chamado de "José Ivo" e "Ivo" em alguns momentos. A irritação parece ter uma justificação que vai além de um incômodo pessoal. A mistura e ocultamento de identidades não são um detalhe na estratégia do candidato. Além de dizer que seu partido é o Rio Grande e apontar a prefeitura de Caxias do Sul como a origem de sua trajetória política, Sartori também procurou pegar carona nos protestos de junho de 2013, apresentando-se como o "candidato da mudança". Na verdade, Sartori e o PMDB tem tanta intimidade com os protestos de junho quanto o deputado Luiz Carlos Heinze tem com a agenda de direitos humanos.

O sucesso de Sartori, portanto, é alimentado, entre outras coisas, por uma série de pequenas – e não tão pequenas assim – falsidades ideológicas e identitárias. Resumindo a série: seu partido é o Rio Grande, foi prefeito em Caxias ("nunca fui a outros lugares"), faz política com o coração, não é anti-ninguém e representa o desejo de mudança expresso nos protestos de junho. É assim que Sartori se apresenta ao povo gaúcho.

Na verdade, Sartori é um antigo quadro dirigente do PMDB gaúcho, já governou o Estado várias vezes e é responsável por escolhas que se revelaram desastrosas para o Rio Grande do Sul, como a renegociação da dívida realizada pelo governo Antônio Britto (do qual foi secretário do trabalho), as privatizações de empresas públicas, planos de demissão voluntaria de servidores públicos e o modelo de pegágios adotado por este mesmo governo. Sartori também esteve no governo com Germano Rigotto e é responsável, entre outras coisas, pela gestão de José Otávio Germano (PP) na Secretaria de Segurança Pública.

Em nenhum momento de sua propaganda eleitoral, Sartori faz referência a esses pontos de sua biografia política. Também esconde que apoiou o governo de Yeda Crusius que sucateou o Estado e arrochou os servidores públicos. Em que sentido, ocultar a própria trajetória política, suas escolhas e responsabilidades quando esteve em governos, significa "fazer política com bom coração" ou "fazer política de um modo diferente"?

Também não é verdade que Sartori não é "anti-ninguém". A sua propaganda eleitoral no primeiro turno produziu várias peças repetindo o mais rançoso discurso "anti-PT" reproduzido pela direita gaúcha. O candidato do PMDB buscou com isso tirar votos da Ana Amélia repetindo o bordão "o único capaz de tirar o PT do poder". Mas ele não é o candidato do "bom coração", que "não é contra ninguém"? Não vai "unificar" e "pacificar" o Rio Grande que, supostamente, estaria em guerra? A julgar pela sua propaganda, a vontade política dos mais de 2 milhões de eleitores de Tarso Genro tem que ser "tirada do poder".

Sartori é dirigente de um dos principais partidos do Rio Grande do Sul, que já governou o Estado várias vezes e tem responsabilidade por um conjunto de decisões políticas que foram tomadas nestes governos. Ele tem todo o direito de adotar a estratégia que quiser na campanha eleitoral, mas não tem o direito de ocultar a sua identidade e seu passado político do eleitorado, apresentando-se como representante do novo e da mundaça. Não há nada mais atrasado e típico da "velha política" do que esse tipo de falsidade identitária e ideológica.

Foto: Galileu Oldenburg (PMDB-RS)


http://rsurgente.wordpress.com/2014/10/06/o-sartori-que-jose-ivo-nao-mostra/


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz